quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Investidores à beira de um ataque de nervos

Hoje acompanhei com particular interesse as movimentações no PSI20. A forte subida da Sonaecom e da Sonae SGPS logo no início da sessão indiciava que o mercado tinha aceite bastante bem a última proposta da Sonaecom. Más notícias para os senhores da PT. Mas a reacção não tardou: a meio da manhã, a maioria dos órgãos de informação financeira começaram a dar voz e a soltar comunicados dos Granadeiros, Salgados, Berardos, Vasconcellos, e Bavas. Apesar de tudo, e em contra ciclo com o PSI20, a Sonaecom acabou o dia em alta (+5.32%). O próprio Henrique Granadeiro não conseguiu disfarçar o seu nervosismo na entrevista que concedeu esta noite no Telejornal.

No final da sessão, a Sonaecom, pela voz do seu administrador executivo, Luís Reis, declarou à Lusa que «a Sonaecom está absolutamente tranquila», e que não consegue «conceber que qualquer agente de mercado responsável e que se reja por princípios éticos e de transparência possa opor-se a uma desblindagem de estatutos».

Estou completamente de acordo. Também me parece que a desblindagem dos estutos da PT são do interesse do mercado. Depois… o mercado que decida. Embora desconfie que se a OPA da Sonae não for para a frente, o PSI20 vai ressentir-se o resto do ano. Os pequenos investidores é que ficam a perder.

Apesar de já passar das 22:00h, a PT e a Sonaecom continuam a largar comunicados com uma cadência impressionante. Esta noite há muito boa gente que não vai pregar olho.

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on the road

Isto de andar na estrada a "rodar" o carro até um congresso tem que se lhe diga, chegamos, fazemos de conta que estamos ligeiramente em dissonância e depois, evidenciando uma muito má gestão da comunicação, vamos "confessando" uns desajustes por aqui e outros por acolá, na tentativa de sermos ouvidos, de alguém nos dar atenção, tudo muito pouco premeditado, enfim...
Falstaff poderia ter andado por lá...
Considero sempre interessante assistir a certas e determinadas exibições públicas.
Num dos intervalos eis-me perante uma novidade à qual só aqui consigo demonstrar o meu verdadeiro espanto: sabiam que existe um electrodméstico apelidado, muito elegantemente, de vassoura eléctrica?
Estou entusiasmadíssima com estas invenções em prole da eficiência doméstica e, no meio disto tudo, como andará o país?
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a rua das galerias...

Miguel Bombarda é (no Porto) a rua das galerias. Liga Cedofeita à Boa Nova (que vai dar em frente à entrada do Palácio de Cristal). Só para terem uma ideia, uma pequena busca diz-nos que, das 61 galerias de arte do distrito do Porto listadas nas páginas amarelas, 12 ficam na R. Miguel Bombarda ou, das 69 galerias da cidade referidas no site da Câmara, 17 ficam na R. Miguel Bombarda. Resta esclarecer que a rua deve ter pouco mais de 500m!!!

Não é muito larga, está ladeada de prédios que lhe tapam a luz, (ainda!) tem trânsito rodoviário, com carros estacionados na rua e no passeio a dificultar a passagem de automóveis e de peões… Ou seja, não é, à primeira vista, o passeio ideal, mas... adiante!

Esta semana, estando eu livre no Porto às 18h30 e a ter de fazer horas para o jantar, decidi – finalmente! – espreitar as galerias de Miguel Bombarda. Descobri que só fecham às 19h30 – o que é bom e deu um finzinho de tarde diferente. Mas senti-me um bocado intimidada... São lojas pequenas, onde além dos quadros/esculturas há apenas uma mesa com uma pessoa sentada (nem sei se seria o artista ou não...). Não havia mais visitantes, eu tive as salas só para mim... Em pouco mais de meia hora, vi meia dúzia delas. Também não me senti confortável com o tempo (reduzido) que passei em cada uma... Não que eu precisasse de mais, mas por consideração ao artista (ou não...) que naquele momento só me tinha a mim dentro da sala. Apesar do desconforto – é falta de hábito! –, acho que um bocadinho de cada vez, esporadicamente, quando se está por perto e se tem meia-horinha livre não é um mau programa… e retira a solenidade formal do “vou ao museu ver uma exposição”. Ah, para além de a visita ser gratuita...

foto: wikipedia

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terça-feira, fevereiro 27, 2007

Faz hoje um ano...

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O meu Zeca é melhor que o teu!

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o meu telemóvel novo...

Tenho um telemóvel novo há quase um mês mas ainda não me dei ao trabalho – não tive tempo! - de passar os olhos pelo manual... Perdi uma/duas horas a memorizar contactos, a definir toques, a experimentar as mensagens e a explorar a agenda – as restantes 4996 funções decidi ignorar... Há, no entanto, uma outra função que me é bastante útil, pois é ela que me acorda – ou devia acordar! – de manhã, que é o despertador. Mas aqui o meu telemóvel tem certamente vontade própria, pois só desperta quando lhe apetece! Ou então, num processo avançado de osmose, assume a vontade nula da dona de se levantar... Ou isso, ou haverá algures no manual – que ainda não li – uma nota dizendo que entre as 6h30 e as 7h00 a função despertador é completamente aleatória... Alguma coisa há-de ser! - estou a precisar urgentemente de ler o tal livrinho...

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segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Mezzotints

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Aqui há gato!


Com tanta substância, não consigo entender a manifesta falta de inspiração que tomou conta dos Gatos Fedorentos nas últimas semanas.

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Felizes coincidências

Lisboa, 23 de Fevereiro, 2007

Apesar da selecção musical ser deplorável, considero a informação da Antena1 a melhor de todas as rádios. Por este motivo, lá vou fazendo o sacrifício de me manter sintonizado na estação pública. Mas na última sexta-feira foi-me impossível resistir. A meio da manhã, depois de já ter ouvido mais de uma dúzia de canções do Zeca, e ter acabado de “levar” com a versão de Amália da «Grândola, vila morena», senti de imediato o chamamento da Rádio Comercial.

Por outros motivos, todos os anos, a 23 de Fevereiro, tenho encontro marcado com um grupo de amigos de longa data. Este ano, mais um principesco jantar regado pelo som dos grandes hits dos anos 80 e 90. Zeca Afonso e a música portuguesa não fazem parte do cardápio.

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domingo, fevereiro 25, 2007

No direction home

Aquele Fevereiro não foi muito cortês com os visitantes. Frio e dias cinzentos intercalados com umas réstias de sol azul.
Quando saímos do
Guggenheim, já de tarde, caíam uns farrapitos de neve. Alguns dos turistas lusos rejubilaram e eu lá me conformei, sabido é que a neve, tal como o frio, seria liminarmente eliminada da minha existência e do próprio mundo, isto se o criador me tivesse consultado naqueles tais seis dias. Dali até ao hotel distavam ainda alguns quarteirões, muitos, por acaso, nada que não se calcorreasse com satisfação, caso as condições atmosféricas não fossem tão adversas. Quinta Avenida abaixo, por exemplo, e depois umas cortadas à direita e estaríamos no hotel. As cidades querem-se corridas, calcorreadas, sentidas nas solas dos pés, arrastados pelos quilómetros, percorridos na curiosidade de ir sempre mais além, ver mais, sentir mais. Assim é com a cidade que nunca dorme, evidentemente. Mas não naquele dia, outro talvez. Atravessar o Central Park, virar à esquerda e depois seguir em frente seria outra das possibilidades mas não com o friozinho cortante na nuca, o nariz a pingar da humidade, os olhos lacrimejantes do vento e o entardecer a aproximar-se vertiginosamente para envolver o parque na absoluta escuridão. Que fazer então? Apanhar um táxi pois. Então, hail a cab, please e aí vamos nós. Lá me entalei na parte de trás do amarelito e quem de direito saca do seu inglês bem polido, aprendido a preceito, sem mácula, longe do rectângulo lusitano, ausente de sotaque ou entoação que lhe denunciasse a proveniência lusa. Os rs finais indeléveis, quase inaudíveis, os ls enrolados, uma perfeição, em suma. Eu cá por mim, meti logo no saquito dos postais adquiridos no museu onde consegui ver e guardar na alma até hoje cinco guerreiros de terracota numa exposição temporária sobre a China Milenar, o meu humilde inglês, aprendido em terras lusas. E lá fomos rua acima. Era final de tarde e o trânsito acumulava-se nas artérias da Big Apple, caía uma morrinha suave que trazia o crepúsculo anunciado.
O taxista não era rapaz de grandes falas. Não encontrei nunca nenhum em Nova Iorque que o fosse, contrariamente ao fogareiro alfacinha, um rapaz que pode falar pelos cotovelos, regra geral, mal dizendo os outros condutores e o trânsito lisboeta ou a situação política nacional. A noite descia pouco a pouco sobre a cidade. Luzes aqui e ali que se acendiam, o néon ainda mais estridente, os faróis dos automóveis em trânsito mais rubros pelo contraste com o escurecer e o trajecto, que se sabia não tão longe, alongava-se sem explicação, particularmente, na direcção oposta. Não tardaria muito e estaríamos no Harlem, já não tão perigoso aos dias deste episódio mas ainda assim não era, de todo, o nosso destino.
Não, aquilo não estava bem. Um dos ocupantes do yellow cab, também ele um rapaz tido por si próprio como douto nestes linguajares anglófonos, inquiriu o taxista, afinal onde íamos nós? e, uma vez dadas as coordenadas da zona da cidade onde o hotel se situava, no inglês menos sofisticado do segundo douto, o taxista soltou uma expressão de surpresa. Entendera algo diferente da primeira vez. Afinal, não é todos os dias que dentro de um yellow cab em Nova Iorque se podem praticar os numerais ordinais a que as ruas e avenidas nos obrigam, num inglês oxfordiano, directamente saído de uma personagem de uma série britânica, provavelmente um gentleman de stiff upper lip. Soa bem e é bonito, de nada nos servirá, contudo, se ninguém nos entender.
Falar uma mesma língua é também partilhar as linguagens subjacentes a essa mesma língua. Havia alguém dentro daquele táxi que não sabia disto, houve alguém dentro daquele táxi que, sabendo disso, refilou incessantemente pelas voltas desnecessárias e pelo taxímetro bulímico em hora de ponta na cidade que nunca dorme e houve alguém dentro daquele táxi que, entalada no lugar do meio, tudo observou para que a estória pudesse ser contada. Há voltas que nunca são dadas em vão.

imagem: minha
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Os melhores efeitos borboleta


Na Madeira, Alberto João Jardim recandidata-se; no continente, Daniel Oliveira embrulha-se com Ferreira Fernandes.

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dear sunday

poderás dar-me licença?
hoje pretendo fazer algo do especial.
sentar-me num canto
observar Mary e Ann
e ouvi-las filosofar sobre nicotina.
olha que não é uma nicotina qualquer!
detalhes, pequenos, apenas detalhes
e alguma assertividade temporal.
Mary é tridimensional
esbugalhadamente imensa,
os seus braços asfixiam o oxigénio
em seu redor.
Ann é dimensional
extraordinariamente correspondente,
os seus repousam inertes
derrubando a chávena melodiosa
enquanto tamborilam
no tampo da mesa de plástico.
ambas à mesa do café
impondo a sua presença
como o cinzeiro repleto de cinza.

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sábado, fevereiro 24, 2007

notas soltas sobre Zeca

[retiradas de Retrovisor - uma biografia musical de Sérgio Godinho escrito por Nuno Galopim, com citações de Sérgio Godinho, para quem o Zeca é o seu «herói» p.121]

«Nunca fui muito dado ao fado de Coimbra e fazia mesmo uma certa recusa àquele tom meio empolado a que o próprio Zeca chamava jocosamente "voz de ovo estrelado para o quarto andar".» p.27

[...] musicalmente, o Zeca foi um inventivo nato, sempre extremamente solto em relação às formas, embora os seu padrões fossem a música popular (entendendo aí o fado de Coimbra e a música beirã, da qual se reivindicava muito, até a nível rítmico e da qual ele, curiosamente, até dizia que tinha semelhanças com certos tipos de música africana) e a própria música africana, que ele tinha conhecido in loco nos seus anos de Moçambique. p.28

«[...] em disco, o Zeca era [...] um perfeccionista. Eram sempre discos cuidados e com muitas ideias próprias [...]. Não tolerava desafinações. Tinha uma espécie de rigor caótico no estúdio, com exigências pessoalíssimas e subtilezas luminosas.» p.64

«Chegou ao estúdio e estava muito contente a cantar aquela quadra, mas depois tinha aquelas aflições em que lhe faltava o ar... Era extremamente hipocondríaco... E ao mesmo tempo, um tipo muito atlético. Tinha jogado futebol, era praticante de judo [...]» p.81

«Ele achava que era preciso estar sempre presente, fossem as condições o que fossem. Desvalorizava a música, mas era uma falsa modéstia, porque ele sabia bem do valor das suas canções, tanto que a sua atitude em disco era bem diferente, de grande sofisticação instrumental.» p.64

«o primeiro LP dele [...] eu comprei "debaixo da mesa", naquele esquema de o lojista dizer, primeiro que não tinha o disco e, depois de saído outro cliente da loja, me chamar de volta e me vender o disco já devidamente embrulhado», um esquema, de resto, muito em voga para discos difíceis e indesejados pelo regime. p.27

«[...] ele tinha uma grande admiração pelo Camilo [Mortágua], porque ele chegava às sessões e punha as pessoas a pensar e a mexer. Deixava sementes locais de coisas que seriam muitas vezes concretizadas... Sempre foi um teimoso da concretização...» p.64

«O Zeca veio de propósito a Paris para cantar nesse espectáculo, e distribuíam-se uns folhetos à porta onde o criticavam violentamente, chamando-o conciliador, quase um traidor à causa. [...] O Zeca era, aliás, criticado também em Portugal por uma corrente esquerdista que se recusava a perceber a sua riqueza criativa. E estava revoltado.» p.60


«[...] ele dizia [...] coisas de uma maneira muito engraçada, era muito malicioso. Não estava de facto a menosprezar as suas canções, porque ele sabia bem o que valia. [...] O Zeca sempre soube o que valia. [...] Ele não era nada um tipo ingénuo.» p.45

[... o] solavanco inesperado que em muito contribui para a definição de toda uma nova atenção para com a canção e a palavra em português. O responsável desse «abalo» foi um doutor de Coimbra, que com o tempo deixou cair o «Dr.» da capa dos discos para se apresentar como José Afonso, ganhando uma tal familiaridade, que para o imaginário português se transformou apenas em Zeca. p.27


[Desculpem a extensão, mas andei à pesca no livro, e foi tão proveitosa que não consegui deitar novamente os peixes à água. =) Achei cada excerto relevante à sua maneira, abordando diferentes aspectos de diferentes formas, com tons de intimidade também diferentes.]

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Bloco de Notas

1 - Não há dúvida: Paula Teixeira da Cruz é um animal político, defensora da clareza e da responsabilidade política, driblou, a seu bel prazer, Maria Flor Pedroso (hoje na antena 1, das 12h-13h).
2 - Árvores, árvores e árvores. Uma paixão de longa data, não sei se o digníssimo leitor sente o mesmo, mas existem árvores que parecem trocar segredos connosco. Como compreendo a cena de Pocahontas, quando a rapariga nativa da Disney troca impressões com a deusa árvore.
3 - Um condutor idiota "quase" me fez sair do sério na minha viagem diária de X kms. Eu até admito que ando na estrada com "bastante" precaução, mas atrapalhar os outros é comportamento ao qual sou completamente avessa!
4 - Delicioso, fantástico, "outsider", irreverente, não chegam os atributos, juro! não chegam! é tão querido, queridíssimo que tão depressa não esquecerei: Indy, com Anthony Hopkins. Já viu? Num vídeo clube perto de si.
5 - Ah... sou adepta incondicional do meu clube de vídeo! Não tenho paciência para me deslocar não sei quantos kms até ao cinema, e depois porque o cinema deixou de ser um lugar intimista. Como era eu que estava mal, mudei-me. A vantagem do clube de vídeo é que eu vejo bastantes pérolas, como a que referi anteriormente. Quanto à velha questão da dimensão do écran? Ultrapassei-a de uma maneira bastante interessante.
6 - Eu até acho bastante piada ao sarcasmo e ironia de Carlos Magno, mas, por vezes, irritam-me as suas constantes referências à sua "ousadíssima" rede de contactos, e associo-o, sem querer, a uma das personagens mais corriqueiras de Gil Vicente.
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sexta-feira, fevereiro 23, 2007

ExcelentíssimoDoutorPresidenteCoordenador

Eis que o Ministério da Educação nos brinda com o documento que irá separar o trigo do joio, ou seja, aquele que irá permitir o acesso à carreira de professor titular.
Depois de lido e relido o documento verifiquei que, por exemplo, em lugar algum é tido em conta a formação do professor, excepto a obtenção de graus académicos como Mestrado e Doutoramento. Nada a dizer neste último ponto, mas é importante que se saiba que a avaliação que se quer criteriosa e rigorosa, que segundo o Ministério vai trazer justiça ao mundo ímpio da classe docente, não contempla a qualidade do desempenho do professor ao longo de apenas seis anos da sua carreira, muito pouco, portanto, se tivermos em conta que todos os professores que se encontram na possibilidade de transitar para a nova carreira têm no mínimo dezoito anos de serviço. Podemos esquecer os outros doze e podemos até ter sido umas nódoas ou excelentes, não serve rigorosamente para nada. Podemos deitar para o lixo a experiência adquirida, as acções de formação frequentadas e se se teve o azar de ter de faltar por morte de um familiar ou pelo nascimento de um rebento fica-se para lá de Marraquexe, metafórica e literalmente.
O que é aviltante também é que se detenham apenas pelos cargos que foram ocupados e desempenhados. O facto de se ter sido, por exemplo, Presidente do Conselho Executivo, não é condição sine qua non para a excelência ou competência. Conheço alguns que terão neste item os seus nove pontos, muito, tendo em conta o restante, mas que são incompetentes, que o foram quando ostentaram a patente enquanto passeavam o cargo. O mesmo é válido para outros cargos. Quem avalia isso? Ninguém. Importante é que tenham sido algo. Cargos, cargos e mais cargos. É disto que o meu povo gosta e o Ministério da Educação também.
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José Afonso on the road

Vinte anos após a sua morte, José Afonso é tema de capa dos media, da outra esfera.
Com o mais famoso e digno cantor de intervenção já vivi alguns momentos conturbados.
Logo após o 25 de Abril em pleno, depois comecei a considerá-lo propriedade de uma certa esquerda, com a qual não me identificava, durante alguns anos um longo afastamento e agora, finalmente, capaz de perceber o quanto a sua contribuição foi importante, a todos os níveis, para a música portuguesa.
[A maturidade também se alcança].
Em José Afonso a letra quer dizer infinitamente muito mais do que o que aparentemente lá está, ao mesmo tempo que a música passeia pelas raízes populares.
Nos dias de hoje não tenho dúvidas: José Afonso é um dos maiores acervos musicais do nosso país e deve ser "festejado" por todos os quadrantes.
Apesar de hoje ter ouvido alguém, na Antena 1, dissertar sobre a intemporalidade e não alinhamento de José, pretendendo torná-lo só seu. Não percebendo, enfim, que das suas palavras (do comentador) apenas se retiram ideologias e muito contrariamente ao apregoado, José está para lá de qualquer "encaixe" ideológico: ele é "apenas" património da humanidade!

Deixo-vos com uma das minhas preferidas:

Fui à beira do mar
Fui à beira do mar
Ver o que lá havia
Ouvi uma voz cantar
Que ao longe me dizia

Ó cantador alegre
Que é da tua alegria
Tens tanto para andar
E a noite está tão fria

Desde então a lavrar
No meu peito a Alegria
Ouço alguém a bradar
Aproveita que é dia

Sentei-me a descansar
Enquanto amanhecia
Entre o céu e o mar
Uma proa rompia

Desde então a bater
No meu peito em segredo
Sinto uma voz dizer
Teima, teima sem medo
letra
foto
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quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Post's de continuidade

Como antigamente existiam as locutoras de continuidade (referência só para maiores de vinte cinco), no tempo da web 2.0 existem os post´s de continuidade. Analogamente às locutoras, os post´s de continuidade aparecem para cumprir os serviços mínimos de postagem que qualquer blogue que não se deseje vetado ao esquecimento necessita. Para além disso, servem de ponte entre um texto bem conseguido e um outro que teima em nascer.

Normalmente, estes posts surgem porque atravessamos uma fase da nossa vida em que temos a “agenda tão sobrecarregada que nem há tempo para morrer”(Gore Vidal), ou porque não temos assunto, ou porque nos falta a inspiração para desenvolver determinada ideia que julgamos sublime demais para o arrazoado que estamos a verter no ecrã (ia escrever «papel»…snob!). Ou então, e não raro, as três hipóteses em conjunto.

Os posts de continuidade são, exemplificando, a poesia que se coloca sem um único comentário, o vídeo do YouTube a dizer que o novo dos Arcade Fire vem aí, o quadro de um imortal com um verso de um outro imortal como título, a chalaça/trocadilho/aforismo fáceis ou a foto com a legenda indicando apenas o local a que se refere. Mas, melhor do que exemplos estereotipados, a principal característica de um post de continuidade é que se distingue assim que se lê/vê.
Chegados aqui, e isto já não vai curto, peço-vos que não me interpretem mal: também eu coloco os meus posts de continuidade. Acho-os um mal necessário e até existem certos blogues em que os mesmos são mais estimulantes que os post´s, como hei-de chamar-lhes?, programados. Porque sobre este assunto só tenho uma imensa certeza: comparativamente às locutoras de continuidade, os post’s de continuidade são infinitamente mais interessantes.
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Cenas de gajas na blogosfera

Foto: Mike Skelton

A entrevistada desta semana no programa de Pedro Rolo Duarte na Antena1 foi a Princesa sissi. Entrevista completa aqui.

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on the road

1 - henrique puertas explica como descarregar vídeos do you tube e do google vídeo.
2 - em termos de cartazes publicitários ainda temos muito que inovar, hoje não vi um único anúncio abalrroante.
3 - e quanto a nomes de empresas? existem designações verdadeiramente arrebatadoras: coimbra conta, coimbra car, coimbra alimentar, ...
4 - há cerca de um mês que o enfrento e hoje não tenho dúvidas: gosto do estádio de Aveiro!
5 - e o prémio calmaria do ano vai direitinho para maria josé nogueira pinto. quem me dera ter a sua incapacidade comunicativa, é-me difícil travestir a arrelia!

foto

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quarta-feira, fevereiro 21, 2007

A outra tese

No início existia o Criacionismo que advogava que Deus era o criador do mundo. Depois foi a vez do Evolucionismo, defendido por Darwin no seu tratado «A Evolução das Espécies», um título que só por si já diz tudo quanto ao seu conteúdo. Muito se escreveu, debateu e lutou pela apologia de cada uma das teses. Há, porém, uma outra teoria, muito pouco divulgada, e pela qual eu desde já me constituo como fiel adepto e defensor: o «Simismo». Desta tese pouco existe para dizer, porque está mal documentada - apenas umas frases -, não se conhecem seguidores e não tem cultos que a venerem.
Mas, se do «simismo» não se conhecem tratados, ensaios e não há nenhuma religião que o adopte, o que é afinal o «simismo»? O «simismo» é um conceito que inventei, baseado na leitura das primeiras linhas de «A Hora da Estrela», de Clarice Lispector: «Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. (...)»

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O Horto do Jacinto

O líder do PS-Madeira, Jacinto Serrão, classificou, hoje, a demissão de Alberto João Jardim como uma "traição à Região".

"Esta atitude representa uma traição aos madeirenses e porto-santenses que lhe confiaram uma maioria para governar e não para tremer perante a primeira contrariedade"

Este mesmo senhor, no passado dia 8 de Fevereiro, na sequência da promulgação da Lei das Finanças Regionais, desafiava Alberto João Jardim a demitir-se.

Pois…

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a dançar, sempre a dançar!!!

Estou de regresso de um fim-de-semana folião: ENTRUDANÇAS 2007!!! Oficinas de danças tradicionais, de música e canto alentejano, de máscaras e fatos de Carnaval, passeio de tractor pelos campos em busca das abetardas, voluntariado na recuperação de paredes de nidificação para os peneireiros e, à noite, bailes, dança, muita dança! Valsa, polca, mazurca, tango, bourrée, schotish, passo-doble, chotiça e também o vira, o malhão, o corridinho e mais e mais e mais, a dançar, sempre a dançar!!!

Diz assim no Rodobalho: Sei que há 10 anos atrás iria rir e gozar com alguém que me dissesse que havia jovens de 20 anos a dançar o vira num festival de verão, e durante o ano, com um sorriso profundo nos lábios. Hoje isso acontece.. tantas vezes!!!

Para mim essa descoberta deu-se apenas há dois meses... Mas, tirando o lapso temporal, subscrevo inteiramente.

Próxima paragem:
ANDANÇAS 2007
30 de Julho a 5 de Agosto em S. Pedro do Sul

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Das cidades e dos livros

E, porque me encontrava ausente, perseguindo a espaços o trajecto de Gustav Aschenbach na Sereníssima, não pude a seu tempo agradecer a referência elogiosa. O ímpeto dos trilhos a que os livros me subjugam provou-se incompatível com a cortesia devida. Aqui fica o agradecimento tardio mas sincero.
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Colisão (on the road)

O cinema é um dos meus hobbies preferidos.
Gosto da sala escura e da imensidão da tela. Já por lá vivi alguns momentos inesquecíveis.
- António Variações vestido de verde alface no Apolo 70.
- O salto intempestivo da cadeira num momento de Apocalipse Now, ainda no Apolo 70.
- A impressão irrealista do neon em "One From the Heart" e Waits a cantar "Broken Bycicles".
- O primeiro filme da minha vida "A filha de Ryan" no Monumental.
- Alguns momentos intrigantes visualizando "A Amante do Tenente Francês".
- Neil Young e "Rust Never Sleeps" no Quarteto e a corrida meterórica em vias de um LP.
- "Era uma vez na América" no Tivoli de Coimbra e a companhia de uma velhinha para quem a irrealidade de uma história é difícil de suportar.
- "Ray" e a elasticidade mental de ouvir numa língua e ler as legendas noutra.
- A solidão de "Meryl Sreep" em "Prada"
e muito recentemente a tensão, já por mim experimentada, de viver numa cidade onde o multiculturalismo é antónimo de integração. Essa tensão é extremamente bem retratada em "Colisão". O desconforto, o stress, a correria, a desestruturação da sociabilidade, esbarram nas crenças de cada personagem e, infelizmente, ninguém é inocente.
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De volta

Poucos são os instantes da vida mais libertadores do que esses em que um avião sobe em direcção ao céu, diz Alain de Botton em A Arte de Viajar. Nada mais certo. Para trás ficaram o novo Estatuto da Carreira Docente, o referendo à Interrupção Voluntária da Gravidez, Fátima Felgueiras e Alberto João Jardim, enfim, o país todo.
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terça-feira, fevereiro 20, 2007

Pró ano é que é!

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Textos recomendados: «Na cabeça de Sócrates»

«(…) um homem egocêntrico, que se gosta de ouvir mas que gosta pouco de ouvir os outros; um homem calculista, estratego sofisticado, que utiliza armas perigosas para se evidenciar e silenciar a oposição; um político autoritário, que não admite contestação, ardiloso na relação com a imprensa. Mas este seria um perfil demasiado simplista. Mesmo alguns dos seus detractores admitem que o seu pulso firme, a sua intransigência, o modo aguerrido e arrogante como defende as suas posições - os seus defeitos - decorrem também de uma obsessão executiva, em benefício do país. Os seus indefectíveis, por sua vez, vão ainda mais longe: nessa sua cruzada, José Sócrates soma ganhos políticos, mas queima a sua imagem pessoal, como cidadão.(…) Competência e lealdade, duas condições essenciais para valer a confiança de José Sócrates. Mas que só são uma mais-valia, se estiverem associadas. O primeiro-ministro dificilmente nomeia alguém apenas por ser qualificado: se a pessoa der sinais de que fala de mais, ou que pode contrariar a disciplina e a hierarquia impostas pelo Governo ou pelo partido, é um candidato proscrito. E, simultaneamente, também não basta ser fiel para lhe conquistar uma fatia do poder. Por uma razão simples: a fidelidade não implica, por si, bons resultados; e, como já se disse, José Sócrates é um homem de resultados, que construiu a sua imagem nesta ideia, um pouco por oposição a António Guterres.(…)»

Ricardo Dias Felner, Na cabeça de Sócrates, Público

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Há "posts" que não deveriam ter títulos, como este.

1- O caríssimo leitor também não está cansado de ler na imprensa portuguesa os digníssimos "opinion makers", jornalistas, escritores, profissionais da palavra, argumentarem tão asfalticamente sobre os indigníssimos "fina flor" da Europa, os portugueses?
Miguel Sousa Tavares é um desses exemplares, há quem lhe gabe o dom da crónica, eu gabo-lhe, cada vez mais, o dom do romance.
Das suas últimas crónicas sobressai um mau-estar, tão altruisticamente repetitivo...
Caso, algum dia, fosse submetida a tortura, confesso que as últimas crónicas de MST seriam bastante eficazes enquanto método delator.
Porque estarão os pertinentes e jovens "opinion makers" jogados para as últimas páginas do semanário? João Pereira Coutinho, por exemplo.
Fico com bastante pena por tanto desperdício de talento.

2- José António Saraiva também descobriu a blogosfera. Se repararem é esse o timbre da sua crónica nas últimas páginas da Tabu. Mas as sucessivas referências ao Mercedes ocasionam-me, por vezes, a seguinte reflexão: JAS terá algum complexo quanto a tamanha manifestação exterior de riqueza?

3- Gostei de ouvir Ana Gomes, na antena 1, no sábado passado.
Gosto de pessoas que acreditam em causas e, acima de tudo, que conheçam os seus pontos fracos e não se importem de falar "desempoeiradamente" sobre eles.

4- Ser mãe profissional anónima é, desmesuradamente, uma extraordinária vantagem.

5- João Lisboa é o meu crítico de música preferido, mas discordo bastante das suas opiniões. Quando contrapõe: também existe excelente folk britânico!, eu discordo. Quando sussurra: Amélia Muge! franzo o nariz. Mas quando escreve sobre Dylan ou novidades vou a correr saber de... para ver se... Apesar de nos desconhecermos somos um caso de amor, pela música, incondicional.

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Pátria ou mouerte, venceremos!

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Estórias da K.A.P.I.T.A.L.

«Por muito que custe, o histórico recente do PSD na CML é o seguinte: Pedro Santana Lopes ganhou a Câmara e criou as condições para que o PSD a mantivesse. Carmona, sob o alto patrocínio de Marques Mendes, desbaratou esse capital e entrega, de mão beijada, Lisboa à coligação PS/PCP. Brilhante».

Pedro Marques Lopes


1. Se bem me lembro, o PSL venceu as eleições autárquicas em Lisboa porque foi subestimado por João Soares, que tinha acabado de fazer um péssimo mandato à frente da autarquia. Porém, a curtíssima passagem de PSL pela liderança do governo foi mais do que suficiente para desbaratar todo o capital que até então tinha angariado – que nem sequer era um capital por aí além.

2. Marques Mendes jogou uma cartada de mestre quando decidiu apoiar Carmona para a CML. Se não o tivesse feito o PSD dificilmente teria conseguido manter Lisboa.

3. Apesar de Carmona não ser [ainda] arguido em nenhum processo, ao contrário de outros Presidentes de Câmara que por esse país fora continuam a exercer as suas funções como se nada fosse, é impossível disfarçar que a CML está mergulhada num lamaçal de suspeitas e de mal-entendidos.

4. Depois dos últimos acontecimentos, quem desbaratou todo o seu [já escasso] capital político foi o próprio Marques Mendes. E o mais provável é que o PSD venha a pagar bastante caro por este erro infantil do seu líder.

5. Carmona Rodrigues nunca chegou a ter capital político que pudesse ser desbaratado.

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domingo, fevereiro 18, 2007

Surrealismos Literais

Na semana passada, através do Público, fiquei a saber que foram roubados trinta e cinco desenhos do pintor surrealista Cruzeiro Seixas da Biblioteca Nacional. A BN, quando inquirida sobre o assunto, afirmou que estava a tomar providências, mas que ainda não tinha instalado câmaras de vigilância por estar a aguardar autorização da Comissão de Protecção de Dados. Cabe-me informar que na papelaria onde comprei o referido diário, estava afixado um cartaz a dizer «Sorria, você está a ser filmado.». Certamente autorizado pela referida Comissão.
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Os coerentes do costume

«The decision follows the publication of a book by Carolina Salgado, the former girlfriend of Pinto da Costa, the president of champions and current league League leaders Porto, in which she alleged the club had often paid bribes to referees».

Reuters - UK

Com o aproximar do FCP – Chelsea, os tablóides ingleses andam num autêntico frenesim para tentar obter uma entrevista com Carolina Salgado. Com tantas "trapalhadas" que envolvem directamente Pinto da Costa, estranho que alguns seres só consigam continuar a vislumbrar analogias entre os casos EPUL e Metro do Porto.

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Prognósticos só no fim do jogo

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Avanços civilizacionais

«A transposição da linha que separava a vida e a morte foi um passo tremendo. Porque legitimou todas as intervenções: a vida no útero pode ser interrompida, os vivos poderão ser mortos antes de morrerem, o suicídio é tolerado, a pena de morte poderá voltar a ser discutida, quem sabe?»

JAS, A Caixa de Pandora

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Sobressaltos jornalísticos

«O Instituto Nacional de Estatística (INE) surpreendeu ontem o País ao anunciar um forte crescimento do desemprego no último trimestre de 2006. De 7,4% no terceiro trimestre, a taxa de desemprego passou para 8,2%, e acima da que se verificara um ano antes - 8%. »

Manuel Esteves, DN

Sempre atento a estes prodígios do jornalismo nacional, Paulo Gorjão detectou mais um simpático “brilharete” no DN. Já nesta notícia que dá conta que o “desemprego dispara para o nível mais alto dos últimos 20 anos”, é interessante constatar que o jornalista considera que o INE “surpreendeu” o País.

O que me parece é que no DN já há jornalistas demais a serem surpreendidos...

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Complicadex

Foto: Oskari Hellman

Durante a campanha ambas as partes andaram a bradar aos sete ventos que a questão do aborto não era política. Apesar de não partilhar desta visão apolítica, a verdade é que se observaram diversos personagens da direita a fazer campanha pelo Sim, e de esquerda pelo Não. Aliás, nesta matéria, ainda estão por traduzir as representações de alguns silêncios particularmente misteriosos.

Porém, apesar da axiomática vantagem do Sim, o referendo, como esperado, acabou por não ser juridicamente vinculativo.

Face à pergunta que foi colocada, e às dúvidas semânticas que, extraordinariamente, só agora parecem começar a fazer sentido para os defensores do Sim, um referendo não vinculativo seria uma oportunidade única para se preparar uma lei apoiada nas orientações mais moderadas da facção "vencedora". O discurso de “vitória” de José Sócrates parecia apontar nesse sentido, mas bastaram algumas horas para que alguns dos Sins mostrassem as suas verdadeiras pretensões: o aborto livre.

Como com o passar do tempo as clivagens entre os diferentes Sins vão ter tendência para se acentuar, e como o melhor do Carnaval ainda está para vir, vou-me entretendo a observar as evidentes dificuldades em que os defensores dos diferentes Sins se encontram por se terem apressado a anunciar uma estrondosa “vitória” que, como se nota, não passa de uma intricada vantagem política.

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sábado, fevereiro 17, 2007

Demitem-se?

Ontem estive durante algum tempo expectante.
A dúvida era: demitem-se/suspendem-se?
A dúvida instalou-se, bem como as sucessivas reportagens, repetições exaustivas, entrevistas na hora.
Às tantas deixei-me levar pela imaginação e os senhores vereadores da Câmara de Lisboa conduziram-me até ao extraordinário filme da Pixar "A fuga das galinhas".
Não sei se o caríssimo leitor se recorda do tema do filme, mas as galinhas uniram-se em torno de um objectivo: fugir a um destino drástico, primeiro a panela do "repelente" humano e depois o forno, em forma de tarte.
É, por isso, de saudar o comportamento de todos os vereadores, todos, à excepção de Sá Fernandes*, mantiveram na mira o único objectivo para que foram eleitos: desgovernar Lisboa.

* foi o único que manteve uma postura digna.

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RG Studios: Polar Bear - Running Machine

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sexta-feira, fevereiro 16, 2007

As agruras de um post (on the road)

Ultrapassada a questão principal: que rádio ouvir quando se conduz?, passou-se para a análise das hipóteses, foi necessária alguma ginástica intelectual, uma vez que as conclusões foram:
- é importante saber as notícias
- é importante, acima de tudo, ouvir música.
Mas insistiu-se, o ego é bastante combativo, numa hipótese irrefutável:
acima de tudo a música, dado que as notícias, em geral, pecam por excesso de falta de humor.
Bem a esta belíssima e ousadíssima conclusão, tinha eu chegado hoje às 8h20 da manhã, acrescentaria, caríssimo leitor, não se tratou de uma tarefa fácil.
Contudo, ainda bem que existem palavras como contudo, às 8h35 da manhã, mais coisa menos coisa, a minha extraordinária visão das ondas hertzianas, sofreu uma cambalhota inestimável.
Ouço o jornalista de serviço da antena 1 soletrar, muito seriamente, algo de semelhante a:
"Alberto João Jardim afirmou que os portugueses não têm testículos para dizer que o referendo não é vinculativo".
E eu na esperança de hoje escrever um post cujo título seria:
It's friday and i'm in love ou qualquer coisa mais séria, do género, quero que você me aqueça nesse Inverno e que tudo mais vá pró inferno.

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quinta-feira, fevereiro 15, 2007

Pré-flexisegurança

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Livros com cidades

E de regresso à minha estante está Perseguido de Luiz Alfredo Garcia-Roza, após uma passagem breve pela minha mesa-de-cabeceira. Finda a última página de mais um romance policial, termina também um périplo pela Cidade Maravilhosa. Há quem defenda que o delegado Espinosa da 12º DP do Rio de Janeiro, bibliófilo que não dispensa uma ida ocasional aos sebos, a personagem central em torno da qual se desenvolvem seis dos seus sete policiais, não é um grande detective na senda dos clássicos, que os policiais de Garcia-Roza carecem de mais densidade e suspense, que é óbvio o desfecho e que o criminoso, assim é nos policiais, se torna evidente desde muito cedo na trama. Que seja.
Na verdade, há algo inscrito naquelas páginas que perdurará muito após a leitura da última palavra, algo que deixa o leitor inquieto, ofegante, tranquilo, descontraído ou deleitado, consoante percorra, nos passos das várias personagens, os trajectos descritos com exactidão extrema, passíveis de serem localizados em qualquer mapa do Rio de Janeiro.
Ruas, praças e morros, Copacabana e o
Bairro Peixoto, o Calçadão e o mar de Ipanema, Zona Sul e Zona Norte, fundem-se no momento em que o livro se abre como o Atlântico e as personagens nos carregam, nos levam lado a lado, secretamente sussurrando-nos para embarcar na viagem encetada. Há dias, por exemplo, fiquei extenuada depois da corrida no Parque do Flamengo com Berenice, nada que a vista da Baía de Guanabara não tenha conseguido compensar. Certo é que Augustão me cansara também nas ladeiras de Salvador e me deixara expectante nos terreiros de candomblé. Intrépidos e incansáveis, estes detectives...
Nos livros com cidades existem roteiros ocultos emergentes do calcorrear das personagens pelos recantos mais recônditos das urbes, respeitando os seus ritmos únicos, e que, ora fugindo, ora flanando nos revelam a alma e a intimidade ausente nos áridos guias de viagens.
foto: minha

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Agora é que vão ser elas!!!

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Visão estratégica

Foto: Jaap Vliegenthart

Ora aqui está uma boa conjuntura para o Mega Ferreira poder desamparar finalmente a superintendência do “Museu Berardo”.

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planos para o Carnaval?...

No Fim d'Ano foi assim.

Dizem que no Carnaval é parecido...

Os interessados podem consultar o site da PédeXumbo.

ENTRUDANÇAS
17, 18 e 19 de Fevereiro em Castro Verde


[cartaz retirado do site da Câmara Municipal de Castro Verde
]

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on the road

A Antena 1 é uma espécie de resgate de uma certa TSF.
Ainda não consegui recuperar de um choque: às sete e trinta da manhã ouço alguém no ar, uma voz estranha, desgastada, e questiono-me: será mesmo quem eu estou a pensar?
É! Afinal, também António Macedo se mudou para a Antena 1.
Só que a voz de AM perdeu a frescura de outrora e é agora uma voz noctívaga e não matinal.

O IP3 é um percurso automobilístico aterrador.
Ontem a fila, no sentido inverso, apresentava uma configuração de alguns kms. O acidente era fantasmagórico: um autocarro de passageiros tinha ardido e na estrada ainda se encontravam vestígios de espuma.
Sempre que conduzo neste itinerário sinto um arrepio um tanto ou quanto semelhante ao experimentado nalguns "thrillers".

Parabéns ao novo "Público" um visual colorido, atraente, renovado, a explorar de forma diferente a utilização das fotografias. Parabéns ao jornalista que assinou ontem a reportagem sobre o aciedente em Mirandela. Um artigo extremamente bem escrito, imparcial, informativo, objectivo.

Este fim-de-semana gostaria de estar bem mais disponível para poder dar um salto até Madrid. Por lá irá decorrer uma das feiras de arte mais interessantes da Europa: "ARCO", de 15 a 19 de Fevereiro.
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quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Dia de S. Valentim

Na celebração do S. Valentim, aqui fica um excelente vídeo de Tim Burton, para uma igualmente soberba música dos «The Killers», onde, a propósito, há cenas de amor em nu integral. Não resistam.


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delí siôzo...

antes murrêr
q’teu amôr perdêr

saudade
amôr lial

É tão serto eu t’amár
cumó lenso branco ser
i só deixarei de t’amár
cándo u lenso a cor perder
i
Ninguém me bai pribir
de te amár meo amôr
de xurár ou de surrir
i de te dar uma felor

lembransa 14-2-1910
Lenso dus Namorados

[bordado em lenço por Rosa Pereira, certificado n.º 702]

No passado fim-de-semana, "tropecei" numa exposição de Lenços de Namorados... Diverti-me imenso a (tentar) ler as quadras! Achei este... delí siôzo =)

Para saber mais sobre a tradição, a arte e a certificação dos Lenços de Namorados, podem espreitar os sites da ADERE-MINHO e da Aliança Artesanal.

[imagem retirada do site da ADERE-MINHO]

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O Amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.

Alberto Caeiro, Poemas, Edições Ática, Lisboa.
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São Valentim on the road


Na A25, decorando a sinalética indicativa, sentido Norte, duas cegonhas aconchegam a sua futura descendência e retocam afabilidades:

dom cegonha - meu bem, cê sabe, 'temos de zelar p'lo futuro de nosso rebento, não dá, hoje não dá.
dona cegonha, fazendo cafoné nele - benzinho, não seja casmurro, hoje é dia internacional de namorar.
dom cegonha - meu bem, 'cê sabe, Nandinha também precisa de sapecar, cê não tem coragem de lhe telefonar, tem?.
dona cegonha - claro que não! mas... benzinho, dona Cecília não se importa de vir "apeçonhentar" seu futuro neto.
dom cegonha - meu bem, 'cê pode convocar até a liga de defensores de dia de São Valentim agora... dona Cecília pra "deseducar" meu futuro rebento? Nunca!

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terça-feira, fevereiro 13, 2007

E...

Foto: Benjamin Kanarek

... bastaram dois dias para que Alberto Martins já afirme que não vai existir qualquer aconselhamento obrigatório na lei para as mulheres que queiram abortar até às dez semanas. Talvez convenha recordar que há três semanas Maria de Belém Roseira defendia um «período de aconselhamento obrigatório», tal como o que está consagrado na lei alemã. Esta ideia foi também defendida pelo obstreta do hospital de Santa Maria Miguel Oliveira da Silva, defensor da despenalização da interrupção voluntária da gravidez, que chegou a afirmar que não faria «abortos apenas porque as mulheres pedem».

Pois…

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A blogosfera como acto de cidadania

Imagem: Amelies Welt

O convidado desta semana no programa na Antena1 de Pedro Rolo Duarte foi um blogger nado no Verão de 2003: Paulo Gorjão. Toda a entrevista aqui.

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on the road

confesso, desisti da tsf, para além de me provocar alguns indigestões reflexivas, sejam lá quais forem, fartei-me da falta de música.
os cd's no automóvel sempre servem para, nomeadamente, serem ouvidos.
hj a música q não me sai do ouvido é a extraordinária recriação de jeff buckley, halleluhaj.
é intimista, maravilhosamente cantada, dá-nos alento e ajuda-nos a enfrentar o dia.
leonard, leonard, só por esta criação entra direitinho para a "tal" play list.

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segunda-feira, fevereiro 12, 2007

No campo dos links...


... os blogues individuais da Zazie (Cocanha) do maradona (A Causa Foi Modificada), da Catró (Dreams), da mão que escreve (O Quadro Branco), do the one you know (Contra Tudo e Contra Todos), do Rui Cardoso (Viandante), do Pires (Espreitador), do Tiago Knoch (Psicologia Inversa), da Alice (A Tradução da Memória), e do Leão da Estrela; e ainda, os blogues colectivos Tretas & Letras, e A Taberna dos Inconformados.

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O homem que não gostava de ser sequestrado

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porque sim e porque... SIM

Disse fêmea
Mulher feita
Disse fêmea
Disse cresce
Disse muda
Perde a estúpida inocência
Dia após dia
Para aonde ia
Disse fêmea
Mulher feita

Mal eu sabia
Que a vida rouba os sonhos
Mal eu sabia
Que o mundo nos desmama
De paixões surdas,
Cava na cara
Sulcos secos,
Sulcos secos

Disse fêmea
Mulher feita
Faz-te fêmea
Ama-te a ti mesma
O mundo espera
Cheio de tudo
Come-o, feliz, sã, gloriosa, cheia
Diz-te fêmea
Mulher feita

Eu não sabia
Que nascemos sombras
Eu não sabia
Que todos têm medo
De falhar, de perder
Não há braços de fêmea
Para embalar
O mundo

Disse fêmea
Mulher feita
Acabou-se o que era doce
Acabaram-se os amantes
O preço da mão estendida é
A pagar, a pagar,
Mais cedo ou mais tarde
Não repitas os meus erros
Menina feita mulher
[...]

Arnold Wesker / musicado por Jorge Palma (2001), "Disse Fêmea"


Porque sim, porque me apetece, porque gosto da música. O poema não é de Jorge Palma, mas encaixa-se-lhe muito bem e o acompanhamento ao piano, esse sim, de Jorge Palma, dá-lhe a profundidade de sentimento que convida à audição refexiva - tão característica na obra do músico. Gosto da música e pronto!

Porque SIM, porque... sim!

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Desígnios

... e a terra tremeu.
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domingo, fevereiro 11, 2007

Imageworks - The ChubbChubbs

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Análise Exaustiva dos Resultados

Portugal é, a partir de hoje, um país um pouco menos injusto.
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Remate

Não vale a pena quererem escamotear a verdade. O Sim só venceu este referendo porque a nação benfiquista não saiu hoje de casa depois da vergonha que passou ontem na Póvoa do Varzim.

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Agora...

... só me resta esperar que o Valentim cumpra o que prometeu.

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sábado, fevereiro 10, 2007

on the road

Durante o mês de Fevereiro passo cerca de duas horas e meia ao volante, já há algum tempo que tal não me acontecia. Contudo o desgaste ocorrido durante a semana, sente-se particularmente à sexta-feira, o trajecto para casa torna-se deveras penoso.
Mas o interessante neste percurso é, acima de tudo, o sair fora de portas e observar outros locais e outras paisagens do nosso país, ah! e ouvir bastante mais rádio do que o habitual.
Que rádio ouve o caríssimo leitor nos seus percursos automobilísticos? Eu viro-me para a actualidade informativa e largo, muito contrafeita, a minha habitual abstinência. Ouço então a TSF.
Da rádio informativa, ideologicamente mais à esquerda, guardo gratas recordações, também já me moveu, um dia, o bichinho da rádio, é por isso uma ligação aparentemente afectiva, dirá o caríssimo leitor, e com absoluta razão.
A afectividade não me impede de ter considerado hilariante, algures a meio da semana, o sindicato, porta-voz ou qualquer outro senhor do género, a preocupar-se infinitamente com os doentes das urgências, vítimas malfadadas do ministro Correia de Campos. Curioso verificar, agora, como os médicos e os seus sindicatos se preocupam tanto, agora, com a espera dos doentes, agora, nas urgências dos hospitais.
Também são dignas de nota as intervenções do nosso ex-PGR. Souto Moura, demonstrou, bastante entusiasticamente, que continuamos a acreditar em milagres. Se ele não sabia, se os investigadores não sabiam, como teria sabido o jornalista do "24 horas"? Interrogo-me, muito, cautelosamente, terá, a aparição de Nossa Senhora de Fátima, provocado tamanha consternação?
A loja "Cogumelo Mágico" em Aveiro é, em termos informativos, uma pérola em galhofa. Os cogumelos são inofensivos, mas o basco trata de ir explicando, com uma voz límpida, que "tal + tal" proporciona uma "treep" de duas a três horas, ali e coisa e tal só se vendem substâncias autênticas. Da peça informativa destaco o humor, contrafeito, do repórter.
Mega Ferreira se soubesse o que sabe hoje não teria aceite o convite para o Centro Cultural de Belém. Apetece-me ir a correr a Lisboa e lamentar, solidariamente, a sua mágoa. Efectivamente, gerir sem dinheiro, exige talento.

Foto

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Plano B

Deve fazer-se o possível por levar os mandatos até ao fim. Num País em que tanta gente não cumpre os mandatos, eu gosto de os cumprir. Mas se me perguntar: se eu soubesse que isto iria acontecer teria aceitado? Provavelmente, não.

O director do “museu Berardo” anda desgostoso. Mas, enquanto não arranja mais nada com que se entreter, continua determinado a “carregar” o seu mandato até ao fim.

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Egghunt - Paul Yan

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em reflexão...

Auguste Rodin, "O Pensador"
[retirado daqui]


Apoiando na mão rugosa o queixo fino,
O Pensador reflete que é carne sem defesa:
Carne da cova, nua em face do destino,
Carne que odeia a morte e tremeu de beleza.

E tremeu de amor; toda a primavera ardente,
E hoje, no outono, afoga-se em verdade e tristeza.
O "havemos de morrer" passa-lhe pela mente
Quando no bronze cai a noturna escureza.

E na angústia seus músculos se fendem sofredores.
Sua carne sulcada enche-se de terrores,
Fende-se, como a folha de outono, ao Senhor forte

Que o reclama nos bronzes. Não há árvores torcida
Pelo sol na planície, nem leão de anca ferida,
Crispados como este homem que medita na morte.


Gabriela Mistral, "O Pensador de Rodin"
[encontrado aqui]



A minha ideia inicial era pôr apenas a imagem, mas, no meio da busca, apareceu-me o poema - que eu não conhecia... Eu sei que o tempo é de reflexão - aliás era essa a ideia inicial da imagem - mas achei que o poema, de alguma forma, também se adequava... Hesitei... Poderia estar a tomar partido - e não era essa, agora, a minha ideia... Li e voltei a ler... Achei que podia publicar: sendo todos nós pela vida, a reflexão em consciência - aquela que se pretende, pelo menos neste último dia -, esteja ela inclinada para onde estiver, torna-se crispante porque, de alguma forma,... «medita na morte»...

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Penso, logo sou hipócrita

Voto Não por tantos motivos que nem sequer saberia por onde começar. Motivos passionais, fúteis, profanos e altruístas; libidinosos, hidrofóbicos, religiosos e egoístas; nobres, odiáveis, conservadores e intimistas; culturais, experimentais, criminosos e vanguardistas; familiares, casuísticos, sociológicos e absolutistas; políticos, comunicacionais, revolucionários e machistas; psicológicos, espirituais, materiais e surrealistas…

Sou um ser único!

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sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Passeando pela blogosfera

Recomendo vivamente a leitura completa deste excelente post do Jacinto Bettencourt, e do qual deixo aqui dois pequenos fragmentos:

(...) É um facto: o feto tem um rosto, tem face, uma cara que nos permite reconhecê-lo naquilo que todos temos em comum, mas também na sua singularidade. Nesse momento, o feto surge-nos como um semelhante. Transforma-se, subitamente, em alguém, e não no quid, no algo, que o «sim» ostensivamente ignorou. Não há, desde modo, nada de mais concreto para a discussão neste referendo que a imagem de um feto de dez semanas: nada há de mais verdadeiro, real e profundo, do que a constatação de que estamos perante uma pessoa, uma verdadeira pessoa, em desenvolvimento, é certo, dependente, com certeza, mas pessoa, que, no sentido clássico, representa já um certo papel perante nós. É, pois, no momento particular em que encamos o rosto daquilo a que queremos negar tutela, que compreendemos muito mais, e muito para além dos conceitos abstractos em debate. Nomeadamente que ele ou ela, o feto, é já sujeito numa relação - com a mãe -, da qual nasce uma responsabilidade para esta. (...)

Existem inúmeros argumentos técnicos para justificar o «sim». Mas afinal, como definiu Buber, uma pessoa é o entre que está face a face. Uma pessoa não é algo de técnico, matemático, abstracto, biológico. Não é um conceito que depende do ligar e desligar de afectos de terceiros. A vida não explicamos, não condicionamos: compreendemos. Posto isto, domingo não referendamos somente o destino das vidas que as mães carregam consigo, mas a própria ousadia de virarmos a cara ao rosto que compreendemos, em nome de argumentos que apenas explicamos.

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Arcade Fire: Rebellion (Lies)

Estava a pensar em fazer uma última declaração de voto, não a combater os argumentos do «Não», mas a afirmar os argumentos do«Sim». Tinha pensado em dizer que as condicionantes propostas na pergunta mereciam todas a minha aceitação: que «por opção da mulher» porque se evitariam as IVG's «fortemente aconselhadas» por pais e namorados e porque se não se consegue acreditar que uma mulher tem o senso necessário para recorrer à IVG só em último caso, então como educará essa mulher uma criança?
Tinha, igualmente, pensado em dizer que até «às dez semanas» e em «estabelecimento autorizado» dava, às mulheres e à sociedade, as garantias que a IVG era feita em condições mínimas de dignidade para as primeiras e de saúde pública para a segunda, dentro de prazos razoáveis. E o mais importante de tudo e o que está em causa no domingo: é claro que concordo com a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.
Também, finalmente, pensei em falar acerca dos meus receios dos resultados de domingo: a sociedade portuguesa já deu muitas mostras de hipocrisia e não me admirava nada que alguns daqueles que estão pelo «SIM» o estejam só porque é politicamente correcto estar deste lado, mas que no momento do voto...; e que os votantes do «SIM» são menos militantes do que os do «Não». Espero estar enganado, mas não estive há 8 anos.
Estava a pensar dizer isso tudo, mas preferi não fazê-lo. Vim aqui, apenas e só, para anunciar a boa-nova: os senhores aí de baixo vão editar o segundo álbum já em Março, intitulado «Neon Bible», gravado numa igreja que eles compraram para o efeito e que já está diponível o single de avanço intitulado «Intervention» .
Era isto o que eu queria dizer.

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on the road

No snack floreado e de comida requentada
O cliente assexuado, ora assumindo a pose feminina quando arranja o cabelo revolto e pronto a levitar na francesinha à moda de; ora reclamando silenciosamente contra a dureza do bife e o apimentado, embora ligeiro, do tempero.
O casal másculo, ela de calça de fato de treino comprada numa promoção e blusa acastanhada ao xadrez, ela de ar sofrido e ténis roto, pedindo a medo, um café!
A Paulinha serigaitando pelas mesas, de avental ligeiramente limpo, olhos engordurados de pintura, calça de ganga justa, saltando pelo laço traseiro, não há luz! - diz envolta em sorrisos - mas há um café de cevada, uma cevadinha.
O cliente de fato maconde, gravata enquadrando as riscas no axadrezado violento da camisa, observando, discretamente guloso, o andar serpenteado de Paulinha.
Enquanto isso, a cliente de óculos ao peito, o motorista de barriga, ligeiramente, tratada, o casal alcoólico e alguém desconhecido, continuando, descomprometidamente, sentados e olhando-se, discretamente.

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quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Aborto: Prevenção

Valentim Loureiro já fez saber que vai distribuir gratuitamente, por todos aqueles que se comprometerem a votar SIM, um aparelho electrodoméstico que pode vir a ser bastante útil na prevenção do aborto.

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Cadeira de educação sexual

Valentim vota SIM... e pediu a introdução de uma cadeira de educação sexual nas escolas básicas. Ora aí está uma daquelas ideias que a criançada toda agradece.

Foto: Mark Holthusen

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“E cá o Valentim, vai votar SIM!”

Num infantário em Gondomar, perante uma plateia de crianças de 3, 4 e 5 anos de idade, Valentim Loureiro revelou, no seu estilo peculiar [aos berros], que vai votar SIM. Vale mesmo a pena ouvir aqui as doces palavras do Valentim que vota SIM. [as crianças, a esta hora, ainda devem estar em estado de choque]

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Comunicado

Foto: Mark Holthusen

A rubrica «Surrealismo da semana» terá de ficar adiada mais uma semana por manifesto descomedimento de candidaturas.

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como desbaralhar as coisas...

... ou as minhas humildes conclusões em vésperas de referendo:

SIM porque:
- não acho que o feto seja já uma pessoa;
- parece que às 10 semanas o feto ainda não tem desenvolvidos sistemas cruciais como o sistema nervoso e ainda não sente dor;
- não acho que seja necessário que nasçam crianças sem condições materiais e afectivas, se aqueles que são, à partida, responsáveis por elas assim não o quiserem.

NÃO porque:
- não havendo certeza científica há sempre a dúvida, e portanto, há hipótese de o feto poder sentir dor;
- acho que os direitos/deveres do pai interessado e responsável são ignorados – mas actualmente também são...
- acho que a mulher fica mais sujeita a pressões, pois o acto passa a ser legal – mas não posso rejeitar uma lei só porque não tenho garantias que vá ser cumprida... e actualmente a mulher também está sujeita a essas pressões, que apesar de serem menos “legais” são mais perigosas...


Falsos argumentos pelo SIM:

- para combater o aborto clandestino – por si só, não é motivo, pois há por aí muita coisa clandestina e não é pelo facto de existir que a vamos descriminalizar. Não tenho de criar condições para algo que considero ser ilegal! O verdadeiro motivo por trás deste é: porque não considero que o aborto seja um crime!

- porque a mulher é dona do seu corpo – não acho que o feto seja uma mera parte do corpo da mulher, é algo que com o desenvolvimento adequado se torna autónomo, mas por enquanto está totalmente dependente dela. Mas, por si só, isso não lhe dá o direito de se desfazer dele. O verdadeiro motivo por trás deste é: porque não considero que o feto seja ainda uma pessoa e a mulher não dever ser obrigada a manter uma gravidez indesejada.

- porque a lei actual não é cumprida e as excepções tornam-se demasiado burocráticas, acabando por passar os prazos – isso não é argumento! Ou concordo que as excepções da lei são suficientes ou não concordo! Não vou aprovar algo com que não concordo só porque a lei actual, com que concordo, é pouco prática. E se concordo com a lei actual, tenho é de lutar para que ela perca as burocracias desnecessárias.

- porque sob a lei vigente não foram criadas verdadeiras/suficientes campanhas, acompanhamentos e apoios à mulher que, com falta de condições, deseja continuar a gravidez e à mulher que, dentro da lei, opta por abortar – isto também não é argumento, principalmente porque esse acompanhamento e apoio também são desejáveis avançando a despenalização. Ou seja, não vou aprovar algo com que não concordo só porque actualmente não se faz algo que eu considero crucial – independentemente de se manter ou não a lei. Isto é, não é a lei actual que impede que esse acompanhamento exista e também não é a nova lei que o vai garantir.


Falsos argumentos pelo NÃO:

- porque isto é uma maneira de desresponsabilizar o Estado e a sociedade – não! É uma maneira de fazer com que o aborto seja uma real opção, caso seja esse o desejo da mulher;

- porque defendo a vida – todos defendemos a vida!!! O verdadeiro motivo por trás deste é: porque defendo a vida do feto, pois considero que é já uma pessoa.

- para aumentar a natalidade – não estamos assim tão mal! Não nos vamos pôr agora a fazer criancinhas sem futuro apenas para combater o envelhecimento da população!

- porque a pergunta não garante que a mulher tenha acompanhamento informativo prévio para poder decidir em consciência – não é isso que está em causa! A lei actual também não garante nada disso nos casos em que já permite o aborto. E se considero esse acompanhamento crucial, tenho é de lutar por ele – independentemente da despenalização avançar ou não!


SÚMULA PESSOAL:

- A base do SIM é - tem de ser! - o considerar que o feto ainda não é uma pessoa e, portanto, não é crime que a mulher aborte.

- A base do NÃO é - tem de ser! - o considerar que o feto é uma pessoa de plenos direitos e, portanto, o aborto, não estando em causa a saúde da mãe, não pode ser uma opção.

- Um facto que ambos subscrevem mas que lhes custa admitir que o outro lado também defenda o mesmo: a necessidade de reflexão, acompanhamento e apoio a quem deseja continuar a gravidez e a quem decide conscientemente abortar.


[anteriormente: como baralhar as coisas I, II e III]

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on the road

Numa estação de serviço da A1
Ele - Havia de haver uma lei que proibisse as pessoas de trabalhar nos dias de chuva
Ela - Se as leis satisfizessem toda a gente, havia de ser cá uma guerra!

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A mais genial dedicatória

...que já li, não foi escrita por nenhum grande poeta ou exímio prosador. Saiu da pena de António Variações. A dedicatória concretiza-se em apenas quatro palavras «A Fernando Pessoa que». E ao não dizer mais nada do que isto, está a dizer tudo o que poderia ser dito para além disto.

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quarta-feira, fevereiro 07, 2007

... e isto é só para contradizer

este livro. passa um dedo pela página, sente o papel
como se sentisses a pele do meu corpo, o meu rosto.

este livro tem palavras, esquece as palavras por
momentos. o que temos para dizer não pode ser dito.

sente o peso deste livro. o peso da minha mão sobre
a tua. damos as mãos quando seguras este livro.

não me perguntes quem sou. não me perguntes nada.
eu não sei responder a todas as perguntas do mundo.

pousa os lábios sobre a página, pousa os lábios sobre
o papel. devagar, muito devagar. vamos beijar-nos.

José Luis Peixoto; "este livro. Passa um dedo pela página, sente o papel", O Amor in A casa, a Escuridão, pág 19


há uma palavra mágica que se diz. essa palavra
é sempre diferente. montanha, precipício, brilho.
essa palavra pode ser um olhar. a voz. um olhar.

essa palavra pode ser o espaço de silêncio onde
não se disse uma palavra. brilho, (..........) , montanha.
essa palavra pode ser uma palavra, qualquer palavra.

há uma palavra mágica que se diz. há um momento.
depois dessa palavra, só depois dessa palavra,
pode começar o amor.

José Luis Peixoto; "Encantamento" , O Amor in A casa, a Escuridão, pág 14

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