sábado, dezembro 31, 2005

Surrealismos: Wojtek Siudmak

Partilhar

sexta-feira, dezembro 30, 2005

Passeando pelos media

Pacheco Pereira, na Sábado desta semana:

«Os chineses já fazem correr rios de tinta, mas ainda vão fazer correr mares de tinta. (...) É assim quando se perde, e perder poder é o que acontece hoje na Europa todos os dias. (...) O poder dos chineses está à vista na mais remota aldeia de Portugal (...). Agora são as iluminações e enfeites de Natal, depois serão os electrodomésticos, os automóveis, os aviões, os satélites, as viagens espaciais. Nós ficamos com o nosso glorioso "modelo social"».

Não há dúvida, o regime chinês é um caso de sucesso ideológico. Os liberais louvam-no pelo crescimento económico e a competitividade; os comunistas não se atrevem a beliscar os camaradas do Partido Comunista Chinês. Já agora: o nosso modelo social pode ser mau e é seguramente reformulável. Mas eu prefiro-o a um regime de partido único, censura e prisões políticas, mesmo que isto faça com que a economia suba a 10 ou 15% por ano. Mas o problema deve ser meu...
- Ainda de Pacheco Pereira, é fundamental o seu artigo desta semana, no Público (transcrito no Abrupto), sobre Bento XVI, o Papa que está a devolver à Igreja a fundamental dimensão ideológica e intelectual.
Partilhar

Vídeo de Ano Novo: Hung Up


Madonna: Hung Up Vídeo

Bom ano a todos!
Partilhar

O mais e o menos de 2005

É obviamente muito díficil escolher o que de melhor e pior aconteceu no decorrer do ano de 2005, mas como a praxe oblige, deixo aqui a minha subjectivíssima opinião, meio a brincar, meio a sério:

Livros:
(+): José Gil, «Portugal, Hoje: o Medo de Existir»
(-) Mário Soares, «Mário Soares ¿ O que falta dizer»

Desporto:
(+): A demissão de Dias da Cunha do meu Sporting.
(-): O Benfica Campeão

Musica:
(+): Live 8
(-): Pedro Abrunhosa, «Eu estou aqui»

Política:
(+): As derrotas de Carrilho em Lisboa e de Avelino em Amarante
(-): José Sócrates, Jorge Coelho, Fátima Felgueiras, Valentim Loureiro e Mário Soares.

Imprensa:
(+): Vasco Pulido Valente
(-): Vasco Pulido Valente :)

Televisão:
(+): As séries «CSI», «Donas de Casa Desesperadas» e «O Sexo e a Cidade»
(-): A injecção diária de telenovelas e as entrevistas de Judite de Sousa

Cinema:
(+): Crash de Paul Haggis
(-): A qualidade sonora dos filmes portugueses.

Publicidade:
(+): BES: Neve no Marquês, e o Outdoor “vivo” da Mitsubishi/Lisboa/Dakar na segunda circular em Lisboa.
(-): Cartaz de campanha de Mário Soares «MP3, Não há duas sem três» , anúncio televisivo «Entra na onda!, pede o 'Peido Rap», Campanha «Eu estou Aqui» do Millennium BCP.

Blogosfera:
(+): O nascimento do «Geração Rasca» :)
(-): O fim dos comentários no «Bichos-carpinteiros» e o fim do «BdE II»

Diversão Nocturna:
(+) Casa de Paço d’Ilhas na Ericeira, BBC em Lisboa.
(-) Os acidentes na 24 de Julho e arredores

Gastronomia:
(+) Restaurante Olivier
(-) Os ovos mexidos da minha mulher
Partilhar

Surrealismos: Rafal Olbinski (4)

























Clique na imagem para a observar pormenorizadamente este quadro de Rafal Olbinski: "Star of Bethlehem".
Partilhar

Atenção! "Post" altamente polémico!

Por esta altura, arruma-se a casa e elaboram-se tabelas dos mais e dos menos do ano. O exercício é interessante, mas não o consigo fazer. Omitiria muito e hesitaria demais. Escolheria umas coisas e daqui a uns dias, outras. Mas, desta vez, há algo sobre o que não hesito. Trata-se do pior momento: a vitória do Benfica no campeonato. Não tanto pelo Benfica, mas pela prosápia de muitos dos seus adeptos; pelo quebrar da rotina de dez anos sem os ouvir; pelas carradas de sms com que me torturaram; por terem conseguido dizer, sem se desmancharem a rir, que tinham a melhor equipa da Europa; por não ter sido a melhor equipa, mas apenas a menos má; pela absurdamente enorme colónia de benfiquistas que há no Norte (da qual até o meu pai faz parte). E, claro, por Luis Filipe Vieira.
Partilhar

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Um teste... e mais dois

Partilhar

Surrealismos: Rafal Olbinski (3)

























Clique na imagem para a observar pormenorizadamente o Cartaz "Jenufa" pintado por Rafal Olbinski
Partilhar

Mónica, disse ela

Acabei de ler o Bilhete de Identidade, de Maria Filomena Mónica. Li-o em dois dias, de tal forma me apaixonei por ele.
Não concordo com quem pense que este é o livro português do ano. Mas dou-lhe grande crédito pela coragem da autora em se expor desta forma. Era, aliás, tempo de alguém o fazer. Neste livro podemos olhar Maria Filomena Mónica em estado puro: as suas aristocracias, as suas convencionalidades e as suas rebeldias. Este é um livro que se distingue pela crueza do que é dito. Maria Filomena Mónica "despe-se" perante quem lê. João Pedro George tem razão em relação à pobreza da linguagem da autora.
Pouco me espanta naquele livro: as relações da socióloga com a mãe são semelhantes a tantas relações mãe-filha; o sexo é encarado como algo natural e ainda bem; as traições de Maria Filomena Mónica são uma reacção ao facto de se sentir traída e seria de muita hipocrisia não expô-las e não dizer "foi bom"; a forma como fala de si mesma e dos outros é antológica: não esconde que nem sempre teve os melhores pensamentos e sentimentos pelas pessoas; Maria Filomena Mónica não se coloca grandes questões teóricas e acho que seria uma estupidez fazer isso: aquela é a sua vida.
Partilhar

Passeando pela blogosfera e pelos media

- Um blogue sobre a Universidade Portuguesa (o que é, o que deveria ser, o que podemos mudar?), aqui.

- Um blogue que reflecte sobre a Comunicação Social, aqui.

- Um regresso à blogosfora, a solo, que se saúda: Pedro Lomba

- Luciano Amaral, antecipando, no DN, um ano politicamente interessante, aqui.
Partilhar

Ambiente

Programa muito interessante, na SIC-Notícias, sobre mudanças ambientais. Eis algumas das conclusões:

«É falso dizer que as catástrofes naturais nunca foram tão violentas. É falso dizer que o aquecimento global afecta toda a Terra [o Sul da Gronelândia, por exemplo, está a arrefecer]. Permanece uma certeza: a Terra, globalmente, aqueceu na última década. Resta saber: qual a causa desse aquecimento? Para os ambientalistas mais radicais, não há dúvida: o Homem. Mas, será? Uma coisa é certa: a quantidade gás carbónico triplicou na era industrial. Contudo, não se pode estabelecer com segurança uma relação entre isso e as alterações climáticas. O clima da Terra está sempre a mudar. Nada é seguro quanto ao papel do Homem nas mudanças climatéricas. Há 4500 anos, a temperatura era mais elevada do que actualmente.»

Ou seja: muitas dúvidas para tanta gritaria
Partilhar

How evil are you?



How evil are you?

Não há volta a dar! Eu... nem nestas coisas tenho sorte.


Via: Bomba Inteligente
Partilhar

quarta-feira, dezembro 28, 2005

Jornalismo e presidenciais

Bastante interessante o levantamento do número/nome dos jornalistas que fazem parte integrante das listas dos candidatos presidenciais e que está disponível no blogue
«Jornalismo e Comunicação».

Resultados finais:

Cavaco Silva - 0
Francisco Louçã - 0
Jerónimo Sousa - 7
Mário Soares - 26
Manuel Alegre - 35
Partilhar

Não é bonito e... é uma pena

Partilhar

Autoridade Internacional

Ouço D. Januário Torgal Ferreira, falando na 2, sobre a ONU, a guerra e a paz. A dada altura, D. Januário Torgal alinhou, e bem, na posição tradicional da Igreja Católica sobre a guerra: há guerras que são, não só justas, como, digamos, necessárias. Porque, lembra D. Januário, caso contrário, cairíamos na cobardia. É bom lembrar que a ortodoxia Católica nunca disse que nenhuma guerra era justa. Cite-se a passagem do Catecismo da Igreja:
«Cada cidadão e cada governante deve trabalhar no sentido de se evitar as guerras. No entanto, enquanto subsistir o perigo de guerra e não houver uma autoridade internacional competente, dotada dos convenientes meios, não se pode negar aos governos, uma vez esgotados todos os recursos de negociações, o direito de legítima defesa. Devem ser ponderadas com rigor as estritas condições duma legítima defesa pela força das armas. (...) Os poderes públicos têm, neste caso, o direito e o dever de impor aos cidadãos as obrigações necessárias à defesa nacional". (p. 491, 492)
É uma posição com que sempre concordei. Há guerras justas e até necessárias. O que é preciso é ponderar muito bem, caso a caso. O problema está na questão da autoridade internacional. D. Januário também foi por aí, patinando um pouco. Segundo ele, a ONU devia ter independência militar em relação aos Estados, sobretudo em relação à super-potência. Mas, pergunto eu: como é que se concebe, na prática, um exército da ONU completamente independente dos Estados? Esse exército seria pago por quem? Comandado por quem? Controlado por quem? E iriam os Estados abdicar dos efectivos do seu exército, em prol de um exército colectivo que poderia, no Futuro, entrar em conflito esses Estados? Um verdadeiro exército internacional pode ser muito bonito ou muito despótico no mundo das ideias. Na prática, é irrealizável e potencialmente perigoso. Mesmo sendo, como é, uma antiga aspiração de parte da Humanidade.
Partilhar

É a língua, estúpido!

Bernardo Soares, num passo do seu magistral Livro do Desassossego, disse que não percebia como é que os ocultistas sabiam as causas últimas do universo, e desconheciam a Língua Portuguesa. Há cavaquistas parecidos. Sabem como resolver os problemas do País. o que não sabem é escrever em Português: Haverão razões sérias para tamanho alvoroço?
Não. Nada que uma gramática não resolva.
Adenda a 29/12/2005: o "post" foi alterado. Este fica desactualizado.
Partilhar

Exclusivo «Geração Rasca»: Escuta telefónica a José Sócrates/Mário Soares

Como tenho alguns "bons" contactos, tive o privilégio de ter acesso a esta escuta efectuada na passada noite de Natal a um telefonema do Primeiro-ministro José Sócrates para Mário Soares, e que dada a sua relevância sinto-me na incumbência de o transcrever na íntegra, num rigoroso exclusivo «Geração Rasca»:

Mário Soares (MS): Está?

José Sócrates (JS): Dr. Mário Soares?

MS: Claro… quem haveria de ser?

JS: Lá está o doutor Soares com as suas brincadeiras…

MS: Mas quem fala?

JS: Sou eu… o Sócrates.

MS: Ah! Então… está tudo bem?

JS: Vai-se indo, vai-se indo. E o doutor?

MS: Eu? Eu estou sempre em forma!

JS: Pois…

MS: Mas diga lá… precisa de alguma coisa?

JS: Bem… estava-lhe a ligar por um motivo um bocado… delicado.

MS: Ai é????? O quê?

JS: Bem… é sobre aquelas declarações que prestou sobre o Ribeiro e Castro, o líder do PP... CDS/PP. Lembra-se?

MS: Claro que me lembro! Só que ele não é o líder do PP é o líder do CDS.

JS: Pois…

MS: Ele diz aquilo... ele é, ainda por cima, deputado do Partido Socialista... um dos grandes grupos do Partido Socialista é o Partido Socialista... o Partido Socialista Europeu...

JS: Bem…

MS: Imagine lá como é que ele vai entender-se com os colegas do parlamento a dizer dessas coisas aqui no plano interno... E é feio, não é bonito e... é uma pena que seja um dos mais entusiásticos, senão o mais entusiástico, apoiante do dr. Cavaco nesta eleição

JS: Pois… é precisamente por isso que lhe estou a telefonar. É que o Ribeiro e Castro é mesmo líder do PP.

MS: O Fidel Castro é líder do PP? Você está louco?

JS: Não doutor! Não é o Fidel Castro… é Ribeiro e Castro!

MS: Claro que Ribeiro e Castro é líder do PP... você já me está baralhar homem…

JS:?????

MS: Mas diga lá o que me quer dizer que tenho a família toda à espera e o bacalhau a arrefecer… desembuche.

JS: Bem… queria-lhe dizer que as suas declarações foram um bocado confusas e…

MS: Confusas? As minhas declarações?

JS: Pois… até disse que o Ribeiro e Castro era do partido socialista…

MS: Eu disse uma coisa dessas?

JS: Disse! E até disse mais…

MS: Ó homem…não se preocupe mais com isso... aquilo foi simplesmente um pequeno lapso. Acontece a qualquer um.

JS: Ai foi?

MS: Claro que foi!

JS: Assim já fico mais descansado…

MS: E pode ficar mesmo descansado!

JS: Bem… então aproveito para lhe desejar um bom Natal e dê também os meus cumprimentos à Dona Maria Barroso.

MS: Muito obrigado Sócrates, serão entregues… e já agora…

JS: Sim…

MS: Mande aí um abraço meu de boas festas ao Platão.

JS: ?????
Partilhar

Opções

Nas décadas imediatas ao pós- 25 de Abril, o discurso ideológico do nosso País esteve dominado pela Esquerda. Tanto e de tal forma, que o próprio PPD se declarava favorável à construção de uma Sociedade sem Classes (eufemismo epocal). Em parte devido a meio Século de uma ditadura de Direita, em parte devido ao fascínio dos intelectuais por ideias mais ou menos colectivistas, em parte por isto, em parte por aquilo. A partir daqui, a Esquerda criou uma espécie de maniqueísmo operacional: ser bom era ser de Esquerda, ser mau ser de Direita. O processo foi de tal forma eficaz que, ainda hoje, muitos jovens se veêm presos neste esquema simplista. Entretanto, a Direita deste Pais foi reagindo. E, sobretudo nos últimos anos, fê-lo de duas maneiras. A primeira dessas maneiras tem sido pensar, discutir, argumentar e ponderar. É a via seguida, por exemplo, por Jaime Nogueira Pinto, Adriano Moreira, ou, de entre os mais novos, alguns blogues que, com eficiência, trouxeram ideias para a praça pública. A segunda dessas maneiras tem sido a via terrorista. Que consiste em fazer à Direita o que, normalmente, se fazia à Esquerda. Onde o "terrorismo" de Esquerda dividia o mundo entre bons (Esquerda) e maus (Direita), vai este "terrorismo" de Direita dividir o mundo em bons (Direita) e maus (Esquerda). Se antes era pecado ser de Direita, agora parece que é pecado ser de Esquerda. Se antes a Direita era monstruosa e a Esquerda, simplesmente, "cometia desvios", agora é a Esquerda que é monstruosa, e a Direita que "comete desvios". Se a Esquerda sabia salvar o mundo, agora é a Direita quem sabe como salvar o mundo. Se antes o Socialismo era o Futuro Éden, agora o Capitalismo é o Futuro Éden. Se antes os profetas estavam à Esquerda, agora os profetas estão à Direita. Esta segunda maneira observa-se em certo PP, em certos blogues e em certas revistas mais ou menos semi-clandestinas. Mas é profundamente grotesca. Em primeiro lugar, porque a maior parte das pessoas, pura e simplesmente, está-se nas tintas para saber se tal ou tal política é mais de Lenine, Burke, Reagan ou nórdica. Havendo sol no Verão e chuva no Inverno, 60 e muito % da população mundial passa bem sem discussões intelectuias sobre o neo-liberalismo ou o socialismo democrático. E, vejamos: o comunismo ruiu, as teocracias ruiram (vão ruindo...), o capitalismo, provavelmente, vai ruir. Quem nos pode garantir o que quer que seja? Em muito que pese aos velhos profetas de Esquerda, ou aos novos profetas de Direita, a humanidade patenteia uma imprevisibilidade desconcertante, de mistura com uma acentuada propensão para a mudança. Claro que, em tudo isto, o Sr. Ribeiro e Castro é só uma peça insignificante num Pais já de si insignificante. Mas, nos limites do nosso quintal, cabe ao PP do Sr. Castro uma opção de fundo: ou a primeira ou a segunda via. Ou o debate inteligente, ou o bloquismo em segunda mão.
Partilhar

terça-feira, dezembro 27, 2005

Foie gras: comida para sádicos



























Os bem conseguidos cartazes do grupo belga de activistas dos direitos dos animais GAIA, a alertar para os inqualificáveis maus tratos por que têm de passar estas aves para nós podermos saborear algumas gramas de foie gras.

Via: AD HUNT
Partilhar

Passeando pelos media

- A Rússia do “czar” Putin, 14 anos depois , aqui

E, falando no Diário de Notícias (para mim, o melhor diário português), noto algumas alterações desde a mudança de direcção. Uma é-me particularmente desagradável: o DN tem, agora, menos espaço dado a artigos de opinião. Manuel Lucena, António Ribeiro Ferreira e as crónicas televisivas de Miguel Gaspar, por exemplo, desapareceram. E várias das minhas manhãs, com o DN como companhia na viagem de comboio, ficaram mais pobres. Eu sei que isto é discutível, mas, para mim, um bom jornal faz-se também com Opinião. Boa e muita.
Partilhar

Memória Futura (act.)

"A esquerda democrática teve no século XX um programa geral que hoje, em função de fenómenos inelutáveis como a globalização ou a baixa natalidade, mostra as suas debilidades. Mas a esquerda (ou certa esquerda, como a dos presentes candidatos) acha que ser de esquerda é não reconhecer estes problemas... apesar de eles estarem, de um modo ou de outro, na cabeça da maioria dos eleitores"
Henrique Monteiro

A esquerda portuguesa vive de criticar a direita e não olha para dentro de si. É claro que existem sempre pontos de oposição à direita (disso, aliás, vive o binómio esquerda / direita) , mas de facto as esquerdas têm de olhar mais para dentro de si e repensar os problemas. A globalização, por exemplo (aprofundarei este assunto outro dia). É algo inevitável. Se queremos uma globalização alternativa há que construir algo - ter ideias - e não ser somente do contra porque sim. Há que ir ao fundo das questões e ver o que está efectivamente bem e mal e agir em conformidade. Porque não há razões para ficarmos presos às ideias de algum tempo atrás, por mais válidas que estas possam ter sido.
Partilhar

Hilariante, Trágico, Grotesco

Quando vi este vídeo de Mário Soares pela primeira vez, comecei por o achar simplesmente hilariante. Mas, depois de o observar com mais atenção, a situação pareceu-me bastante trágica e deprimente. Quando tomei consciência que Soares não se encontra nada bem, a primeira ideia que me veio à cabeça foi que alguém [um familiar ou amigo próximo] deveria fazer algo [qualquer coisa] por Mário Soares. Deveriam arranjar uma qualquer desculpa airosa para Soares desistir da sua candidatura.

Passado um dia sobre o triste “episódio”, comecei a achar estranho que não se falasse no assunto. Pensei, ingenuamente, que porventura os seus apoiantes estariam a tentar encontrar a tal fórmula airosa. Entretanto, fui visitando o «Super Mário» e observando os comentários pró soaristas que se iam escrevendo sobre o vídeo no «Pulo do Lobo». Uns diziam que os “cavaquistas” tinham medo do Soares e que se ele estava “cácá” não se deveriam preocupar; outros, diziam que o dito episódio não teria passado de um simples lapso de Soares; outros diziam ainda que o preocupante era a declaração de Ribeiro e Castro. No «Super Mário», até hoje… nem sequer se toca no assunto.

Bem… o argumento do “medo” parece-me ser pouco inteligente, pois é preferível para Cavaco ter Soares como adversário do que Alegre. Soares tem uma longa carreira repleta de erros políticos, incongruências e situações, no mínimo, obscuras. Com o avançar da campanha Soares iria sempre ser um alvo fácil de críticas bastante contundentes. Nesta fase, este tipo de críticas ainda não se justificam, pois as sondagens continuam a ser bastante favoráveis a Cavaco Silva e há muita gente [mesmo na esquerda] que não vê com bons olhos esta nova candidatura de Mário Soares aos 81 anos de idade.

Já é mais preocupante quando se defende que tudo aquilo não passou de um simples lapso. Ou não viram o mesmo vídeo que eu vi, ou então estão mesmo a querer atropelar as evidências.

Passo a transcrever o que Mário Soares disse aos jornalistas quando questionado sobre as declarações do líder do PP, Ribeiro e Castro:

«Mário Soares: Não, não foi o líder do PP que disse isso. E aquela coisa que me referi, do terrorismo, foi o líder do CDS que disse isso, dr. Ribeiro e Castro, que é uma coisa inaceitável e impossível. Ele diz aquilo... ele é, ainda por cima, deputado do Partido Socialista... um dos grandes grupos do Partido Socialista é o Partido Socialista... o Partido Socialista Europeu... Imagine lá como é que ele vai entender-se com os colegas do parlamento a dizer dessas coisas aqui no plano interno... E é feio, não é bonito e... é uma pena que seja um dos mais entusiásticos, senão o mais entusiástico, apoiante do dr. Cavaco nesta eleição.»
(transcrição retirada do «Pulo do Lobo»)

Isto não é, obviamente, um mero equívoco.

Aqueles que acham que o problema está nas declarações do Ribeiro e Castro, estão no direito deles, mas o problema é que uma coisa nada tem a ver com a outra.

Ontem à noite assisti na SIC Notícias a um «Frente a Frente» onde participava o João Soares, e fiquei na expectativa do que ele iria dizer. O problema é que não disse nada do que eu estaria à espera, e defendeu em todos os momentos, intransigentemente, a candidatura do seu pai à presidência da república.

É evidente que depois de verem o vídeo, a maioria dos apoiantes da candidatura de Mário Soares vão tomando consciência gravidade da situação, mas também já me parece evidente que haverá um núcleo deles que irá continuar a fingir que nada se passou.

Este arrastar da candidatura de Mário Soares é um acto, simplesmente, grotesco.
Partilhar

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Homem não chora [Especial de Natal]

Estou verdadeiramente orgulhoso da minha pessoa. Este ano, finalmente, consegui-me baldar a todas as tarefas que por “neo-tradição” natalícia passaram a ser da incumbência dos homens. Fiz a coisa tão bem feita... que nem a malfadada árvore de Natal montei. Eh, eh, eh.

Claro que tive de recorrer à minha extensa lista de truques de ocasião, mas deu resultado.

Na noite marcada [pela minha mulher] para montar a árvore de Natal [ecologicamente artificial] mais a gaita das luzinhas [os outros enfeites têm usualmente mão feminina] disse que tinha de ir comprar as prendas de Natal, pois estava cheio de trabalho e ainda não tinha tido tempo para as [des]ditas. Isto das “compras” é para as mulheres uma palavra mágica. Fui logo dispensado... não fosse alguma prenda dela estar em risco. Quando cheguei a casa já a arvorezinha estava toda montadinha, e nem sequer tive de a ir buscar à arrecadação. Como convém, fartei-me de elogiar o excelente trabalho dela e dizer que a árvore estava lindíssima e muito bem montada. Por acaso a coisa até não correu mal. Pelo menos, até hoje, a árvore mantém-se de pé. Felizmente que nesse dia ela não me apareceu à frente com os braços no ar. Como todos sabem, mulheres com mãozinhas no ar significa que tiveram a pôr verniz nas unhas, o que implica que nesse dia estamos lixados porque elas não vão querer nem levantar a mesa, quanto mais montar uma árvore de Natal. Nestas coisas a sorte conta um bocado, e também tive a felicidade de nenhuma das 250 lampadazinha dos enfeites estarem fundidas, senão, lá teria à minha espera a árdua tarefa de ter de encontrar as que não funcionavam no meio de todo aquele emaranhado de fios. Acabei por dar graças ao dinheiro que gastei o ano passado num novo conjunto de luzinhas de Natal.

Sou obrigado a confessar que, no início, me senti um bocado mal [comigo próprio] por ter recorrido àquele subterfúgio das compras, mas depois de cinco caipiroskas [três para mim e duas para ela] para comemorar a montagem da árvore, o mal ficou remediado. Apesar de ter uma paixão especial por cães, é por estas - e por outras - que eu costumo dizer que o melhor amigo do homem é o álcool.

Na época natalícia, eu, como muitos outros homens, temos ainda uma outra missão [pouco máscula] a cumprir… na cozinha. É o nosso momento de humilhação anual perante as nossas sogras, que parecem achar muita graça ao facto das filhinhas delas não saberem estrelar um ovo, e vêm embirrar com a forma como nós elaboramos os nossos carismáticos cozinhados. Até os sogros, sentadinhos na sala a ler os jornais, parecem achar graça à situação. Traidores!

Eu até gosto de bacalhau, mas não sei bem porquê, para a consoada prefiro fazer [nem que seja só para mim] outra coisa. Normalmente é o polvo frito [passado previamente por farinha e ovo] com um arrozinho de polvo malandrinho [como manda a tradição em Trás-os-Montes]. O problema é que quando um gajo está a cozinhar, a cozinha fica, necessariamente, num completo chavascal. As limpezas ficam, tradicionalmente [na minha tradição pelo menos] para… mais tarde, e sempre que possível, para a D.Ausenda [empregada doméstica]. Só que as nossas sogras gostam de entrar na cozinha quando está tudo revirado, e enquanto nós estamos plenamente concentrados na nossa arte culinária. Elas fazem isto de propósito, só para fazerem olhares de desaprovação e fazerem-se enojadas sempre que o polvo salta, naturalmente, das nossas mãos para o chão e o voltamos a meter, espontaneamente, na panela. Até parece que não conhecem o ditado, «o que não mata engorda». Para não ter de aturar estas merdas, este ano fiz o sacrifício e comi, na consoada, o bacalhau feito pela minha sogra.

Como não dispenso a escolha do vinho, para me baldar totalmente, só faltava livrar-me da preparação e confecção do Peru.

Todos os santos anos a minha sogra, umas duas ou três semanas antes do Natal, começa a chagar-me o juízo com o recheio do Peru. Precisa de saber qual é a receita de peru que vou confeccionar e qual o recheio que vou optar nesse ano. Claro que ela não está nada preocupada com o facto da filhinha dela considerar o recheio do peru como algo inerente ao próprio bicho [não quero jurar, mas até desconfio que na ideia da minha mulher até existam criações de perus, de peruas, e de perus com recheio]. Como manda a minha tradição, este ano, uma semana antes [convém fazê-las sofrer até à última sem por em risco a nossa refeição] informei-a da minha opção e dos ingredientes adicionais que ela deveria encomendar no “seu” talho para fazer o recheio. Não sei se já repararam, mas não há sogra que não tenha o “seu” talho de estimação. É aparentemente uma característica comum a todas as sogras. Parece que ainda não descobriram a secção talho dos hipermercados, e nem sequer sabem o que são compras on-line, pois têm sempre os mouros dos genros para lhes acartarem com as compras mais pesadas. Fazem isto tudo só para complicar as vidas dos genros. E por falar em complicar... porque é que temos de ser sempre nós [homens] a ter de carregar sempre com a porra dos pacotes de leite, as garrafas de óleo de cinco litros, os pacotes de arroz, de massas, os filhos, etc., e as nossas amadas esposas levam sempre o papel higiénico, os guardanapos e outras coisas similares? Quer dizer, andam a gastar uma pipa de massa a irem todos os dias para os ginásios cuidar do físico, mas quando é para carregar qualquer coisinha com mais de 100 gr… calha sempre aos "bois"[de carga]. Isto simplesmente... não é justo!

Voltando à minha estória natalícia… como na sexta-feira tive de ir trabalhar, antes de voltar para casa telefonei à minha mulher a dizer que estava com uma ligeira dor de cabeça, e que ela dissesse à mãe dela para ir adiantando o “arranjo” do bicho pois, ainda tinha de ir fazer umas comprinhas de última hora quando saísse do trabalho. Aqui utilizei duas palavras mágicas: “dor de cabeça” [coisa habitual no sexo feminino] e “comprinhas”. O certo é que ela foi bastante compreensível comigo. Quando cheguei a casa, a minha sogra já tinha tratado de temperar o peru, e estava todo arranjadinho. Só faltava [tarefa para o dia seguinte] fazer o recheio e metê-lo no forno. Num momento de pura distracção, e em virtude dela ter “arranjado” [completamente] o peru, fiz um elogio à minha querida sogra e, naquele preciso momento, ia deitando tudo a perder. Se há coisa que as sogras desconfiam logo é quando um gajo lhes faz elogios. Tenham sempre isto em atenção e nunca cometam este erro básico. Felizmente, porque achei que não convinha abusar da sorte, tive o discernimento de ter passado antes pelo Fonte Nova [Centro Comercial em Benfica] e ter trazido duas orquídeas [uma para a filha e outra para a sua querida mãezinha] e consegui-a desta forma convencer que, neste ano, eu estava completamente imbuído do tal de espírito natalício.

Como só faltava livrar-me de fazer o recheio, na véspera de Natal, mal me levantei, disse à minha mulher que tinha que ir ao Colombo, sem falta e com muita urgência, levantar uma prenda [para ela] que tinha encomendado no dia anterior. Antecipando-me a qualquer questão, informei-a logo que não valia a pena preocupar-se porque eu ainda vinha a tempo de fazer o dito recheio. Lá sai e, tal como já tinha pré-programado, telefonei-lhe passado uma hora a dizer que o melhor era a rica mãezinha dela ir adiantando o recheio porque o Colombo estava “de morte” e não sabia a que horas me iria conseguir livrar daquela “confusão” toda. Claro que aproveitei aquelas duas horinhas livres para vasculhar a FNAC de uma ponta à outra.

Mal cheguei a casa fiz um ar muito cansado e simultaneamente bastante desapontado por não ter sido eu, este ano, a fazer o peru. Enquanto ia inventando o meu "filme de horror" no Colombo, e como as expressões delas não pressagiavam nada de bom, em simultâneo, fui tratando logo de começar a servir as bebidas [alcoólicas] para o pessoal todo, de forma ao meu “lamentável” atraso ser rapidamente esquecido. Aproveitei para dizer que elas estavam as duas lindíssimas [também costuma dar bons resultados]. Em vez dos habituais dois dedos de gin Gordons e o resto de água tónica, espetei-lhes dois dedos de água tónica e o resto de gin. No início queixaram-se que estava muito forte mas eu disse-lhes que deveria ser impressão delas por ainda estarem de estômago vazio. Afiancei-lhes que os tinha feito fraquinhos como habitualmente. Passados cinco minutos já nem eu me lembrava do Colombo... quanto mais elas.

Como o bacalhau até não estava mau, o peru ficou delicioso, e como a coisa correu bastante bem, não podia deixar de partilhar esta minha experiência com os meus leitores habituais, na esperança que esta estória vos venha a ser útil num futuro próximo.

Boas Festas!
Partilhar

Passeando pela Rede

Conservadores americanos / Conservadores europeus: encontros e divergências. Aqui.
Partilhar

Tempo

Ao ver Soares nesta campanha, sinto o mesmo que senti quando, há alguns anos, Michael Jordan voltou à NBA para jogar nos Washington Bullets / Wizards.
Partilhar

Sobre Soares

Sempre simpatizei com Mário Soares. Simpatia não é adoração: penso que ele cometeu alguns erros no pós-25 de Abril por causa da descolonização. Pelo que tenho lido, esses erros aconteceram num momento particular da história portuguesa em que seria difícil fazer melhor. Mesmo assim, Mário Soares deveria admitir que errou. Mas ele não é nem nunca será para mim má moeda.
Soares desenvolveu à volta de si uma imagem de "pai" da pátria que o tempo tem mostrado ser uma construção, como todos os mitos políticos portugueses (e mitos não faltam).
O tempo e as circunstâncias para uma candidatura a um terceiro mandato presidencial não foram as mais felizes e Soares vem dando "tiros no pé" quase diariamente. A tentar controlar tudo e todos, enquanto não se conseguia controlar a si mesmo.
No caso particular do debate com Cavaco Silva saber se Soares venceu ou não o debate é o menos importante. O essencial é que a táctica estava errada: tratar daquela forma qualquer adversário é um erro crasso para qualquer político. O adversário muito dificilmente deixará de usar essa táctica a seu favor. E assim fez Cavaco Silva.
Por tudo isto, não vou votar Mário Soares, embora o homem me mereça respeito.

ADENDA: Têm-se feito a Soares inúmeras críticas que eu considero injustas. Mas concordo totalmente que ele seja criticado por arrogância cultural. Soares teve como mestres alguns dos grandes intelectuais do século passado. Mas isso não lhe dá o direito de achar que é o único com direitos para vencer estas eleições.
ADENDA (2): André: Inicialmente concordei contigo. Mas agora pergunto: Não perguntaram ao João Soares o porquê de Mário Soares reagir daquela maneira? Deviam ter perguntado. Tem de haver uma razão objectiva para o homem ainda não ter desistido.
Partilhar

"Vaidades irritadas e irritantes"

No seu texto de despedida do Expresso da semana passada, José António Saraiva disse que a sua coluna foi das mais lidas e influentes dos últimos anos. Tanto bastou para que um coro de indignações se fizesse ouvir, à mistura com adjectivos a raiar o ataque pessoal. Na pena de um articulista sem importância, ninguém gastaria duas linhas com o assunto. Por isso, as indignações e as piadas são prova de que o Arquitecto Saraiva tem razão: a sua coluna foi um caso sério da imprensa portuguesa dos últimos anos. E, sem ela, os fins-de-semana ficam mais pobres.
Partilhar

Inimputável... ou algo de similar

No decorrer desta pré-campanha presidencial tenho vindo a alertar, aqui no «Geração Rasca», para o facto de considerar que Mário Soares não se encontrar nas melhores condições psíquicas [nem físicas] para fazer uma campanha presidencial, e muito menos para vir a exercer o cargo de presidente da república.

Depois destas declarações, sem qualquer nexo, prestadas a diversos órgãos de comunicação social, torna-se óbvio que Mário Soares pode ser considerado, sem qualquer esforço, inimputável... ou algo de similar.

Desconfio que Soares já nem sequer tem capacidade de desistir, pela sua própria “razão”, de querer ser candidato. Os seus amigos e familiares, têm de o tentar convencer a desistir de tal “devaneio” e evitar que ele se continue a arrastar, ingloriamente, pelos palcos políticos nacionais. Esta decisão tem de partir daqueles que o têm vindo irresponsavelmente a apoiar, pois o senhor não se encontra, evidentemente, em condições de decidir nada. Provavelmente no mundo dele, o seu “ami Mitterrand” ainda é o Presidente da República Francesa, a Thatcher ainda é a primeira-ministra Inglesa, e o muro de Berlim ainda está de pé.

A ser verdade o que Mário Soares disse depois do chorrilho de asneiras e ofensas pessoais que debitou no último “debate/entrevista” com Cavaco Silva, o mais grave é que ainda existam pessoas como o primeiro-ministro José Sócrates que lhe telefonem a felicitar pelos seus tristes “desempenhos” televisivo; Jorges Coelhos a conseguirem encontrar indícios de inteligência no meio de todas aquelas tolices desconexas; e Jerónimos a achar que o Soares está… fresco.

Depois destas declarações só resta mesmo a desistência do candidato e o recolhimento para um descanso, prolongado. Se os Sócrates e os Coelhos ainda tiverem a desfaçatez de querer continuar com o apoio a esta candidatura, então, terá de ser a família mais próxima do candidato a fazer algo para que a dignidade de Mário Soares seja preservada.

Não vejo outra saída.
Partilhar

Deitar Contas à História

Recentemente, Pires Veloso veio a público desmentir Ramalho Eanes e dizer que foi Costa Gomes quem comandou o 25 de Novembro e que foi o Comando da Região Militar do Norte e não o da Amadora que teve o papel fundamental.
Por sua vez, Miguel Portas escreveu no Diário de Notícias um artigo muito interessante sobre as relações de Pacheco Pereira com o marxismo, quer como historiador quer enquanto fazedor de opinião. Por sua vez o PCP veio desmentir as afirmações do 3º volume da biografia de Álvaro Cunhal (como era, aliás, esperado).
A história vai-se fazendo e refazendo no tempo, com múltiplos testemunhos contraditórios, que é preciso confrontar. E a história recente de Portugal só agora começou a ser escrita. E nunca vai agradar a todos.

REFERÊNCIAS: "O que fez a Região Militar do Norte no dia 25 de Novembro de 1975?" (Público, 20/12/2005); Pires Veloso acusa Eanes de "mentira" (Diário de Notícias, 21/12/2005); Ódios de estimação (Diário de Notícias, 17/12/2005).
Partilhar

domingo, dezembro 25, 2005

Se isto não é Alzheimer, o que é?

Partilhar

Pop art daliana
















«Desde sempre que tenho o hábito de olhar os jornais ao contrário. Em vez de ler as notícias, olhos-as e vejo-as. Já adolescente, via, piscando apenas os olhos, jogos de futebol como na televisão, por entre os serpenteamentos tipográficos. As peripécias do jogo fatigavam-me de tal maneira que muitas vezes era obrigado a descansar antes mesmo de acabar a primeira parte. Hoje vejo nos jornais ao contrário coisas divinas e tomadas de um movimento tal que decido repintar - num arrebatamento sublime de pop art daliana - os pedaços de jornais que frequentemente contêm tesouros estéticos dignos de Fídias»

Salvador Dali
in Journal d'un Génie

Partilhar

A Ler


Sendo a Idade Média ainda vista, em larga medida, como uma época de obscurantismo e trevas , é de louvar cada nova iniciativa que venha mostrar todo o brilho intelectual, artístico ou cultural de uma época que não foi nem mais nem menos rica do que qualquer outra. É o caso de Filosofia Política Medieval, de Paulo Ferreira da Cunha, o mais recente dos volumes da colecção "O essencial sobre...", da Imprensa Nacional Casa da Moeda, colecção que alia o rigor de especialistas à concisão destinada a largos públicos. Neste caso, Paulo Ferreira da Cunha leva-nos a percorrer um milénio de pensamento político, de Agostinho a Ockham. De recensão à obra não se trata aqui, que para tal não temos escopo. Contudo, seja-me permitido notar uma sua característica, não propriamente criticável, mas potencialmente desconcertante. É que, em várias ocasiões, o autor salta do pensamento medieval para a nossa época, assim operando uma como que actualização de problemas, a que junta a sua visão pessoal,o que poderá ser o seu tanto discutível. Veja-se este passo, a propósito da noção de Justiça em S. Tomás de Aquino, autor que ocupa(e bem) grande parte da obra:

«Nos tempos modernos, a igualdade foi pervertida pela ideia de uma igualdade concebida como "mesmidade" ou identidade (a que alguns adjectivam de aritmética), quando deve pensar-se como igualdade proporcional, de forma subtil, em termos hábeis. O igualitarismo é sempre quimérico ou semente de desigualdade violenta e despótica» (p. 45, itálicos meus).

Em todo o caso, um livro indispensável. Pela qualidade, pela clareza, pelo encanto da escrita, pelo preço: 5 euros.
Partilhar

sábado, dezembro 24, 2005

A Visit from St. Nicholas

A personagem do Pai Natal baseia-se em S. Nicolau, mas a ideia do velhinho de barba branca que conduz um trenó puxado por renas foi introduzida por Clement Clark More, num poema intitulado de "A Visit from St. Nicholas" mas que se tornou mais conhecido por "An account of a visit from Saint Nicolas":

He was dressed all in fur, from his head to his foot,
And his clothes were all tarnished with ashes and soot;
A bundle of toys he had flung on his back,
And he looked like a peddler just opening his pack.

His eyes—how they twinkled! his dimples how merry!
His cheeks were like roses, his nose like a cherry!
His droll little mouth was drawn up like a bow,
And the beard of his chin was as white as the snow;

The stump of a pipe he held tight in his teeth,
And the smoke it encircled his head like a wreath;
He had a broad face and a little round belly,
That shook, when he laughed like a bowlful of jelly.
He was chubby and plump, a right jolly old elf. . . .

O primeiro desenho com uma figura do Pai Natal, foi elaborado por Thomas Nast e publicado no semanário “Harper’s Weekly” no ano de 1866.

Partilhar

sexta-feira, dezembro 23, 2005

Consumismo

É inevitável: no Natal, critica-se o consumismo. Tanto e com tanta intensidade, que não sei se estaremos rodeados de místicos, se de hipócritas...

(Com ou sem consumo, com ou sem bacalhau, com ou sem isto ou aquilo: Feliz Natal a todos!)
Partilhar

A Ler


Cada novo livro de Eduardo Lourenço é um acontecimento. Mas este é particularmente adequado ao tempo que vivemos. Num momento em que o populismo radical de Esquerda parece dominar a América do Sul e o Ocidente se confronta com as suas fronteiras mentais, Eduardo Lourenço dá aos prelos A Morte de Colombo - metamorfose e fim do Ocidente como Mito, conjunto de ensaios cujo fio condutor passa pelo conturbado processo de des-europeização da América do Sul a que estaremos a assistir.

«Não é por acaso que nos Estados Unidos «a festa de Colombo» é festejada sem complexos culturais. É como «super-europeus» que os americanos se pensam e vivem, e como herdeiros culturais da mesma Europa (e até do mundo). Na sua arca de novos Noés cabe a Europa toda e algo mais, como o seu poeta-profeta Walt Whitman com tanto génio o cantou. Onde «Colombo» morreu pouco a pouco e o índio imortal ressuscitou foi no Canto General de Pablo Neruda, e de uma maneira geral, se exceptuarmos Borges, todos os seus pares na literatura latino-americana se voltaram à invenção de uma América antes de Colombo, no esplendor da sua natureza e da sua humanidade não devastada nem submetida.»
Partilhar

Carta aberta ao Pai Natal

Querido Pai Natal,

Peço-lhe encarecidamente que este ano interceda directamente junto do menino Jesus pois já não sei mais a quem hei-de recorrer. As minhas queridíssimas tias continuam-me a oferecer todos os anos carradas da bela da peúga branca, e até o padre Freire já foge de mim depois da Missa do Galo.

O ano passado, ainda o consegui apanhar quando ele ia a sair, de fininho, pela porta traseira da Igreja de Benfica e, nessa altura, o senhor padre avisou-me, que era a última vez que aceitava os meus donativos para os pobrezinhos no Natal. Segundo ele, já não há pobrezinhos em Lisboa a necessitar de meias brancas e que a Igreja também já não tem mais espaço disponivel em armazém, na secção das peúgas. Foi o senhor padre que me deu esta ideia de escrever ao Pai Natal, e até me disse que podia dizer que vinha da parte dele.

Para que entenda bem o meu problema posso-lhe dizer que no ano passado, enquanto estava a abrir as minhas prendas, não me consegui conter, e as lágrimas escorreram-me dos olhos quando reparei que tinha, mais uma vez, mais de três dezenas de packs com a bela da peúga branca. Passei toda a santa noitinha da consoada a chorar. As minhas tias ficaram muito preocupadas comigo e espalharam pela família toda que eu estava com problemas. Desde então, é rara a semana que não me telefonam para saber se já estou melhor. Temo, que este ano, devido a saberem que ainda ando bastante fragilizado, sejam ainda mais generosas do que têm sido até agora. E temo ainda mais... temo que o padre Freire me excomungue de vez da Santa Igreja quando me vir chegar à Missa do Galo acompanhado dos meus já habituais 15 sacos cheios das belas das peúgas brancas.

Diga ao menino Jesus que se ele fizer o obséquio de acabar com este meu sofrimento, prometo que este ano vejo todo o discurso de Natal do Presidente Sampaio na TV, sem me rir.

Espero que, apesar do buraco do ozono, ainda haja neve no pólo norte, e que se encontrem todos [o Sr. Pai Natal, os seus ajudantes e as Donas Renas] bem de saúde.

Desde já lhe agradeço toda a sua atenção para este meu pedido.

Muito obrigado.

PS. Se, em vez das cândidas peúgas, as minhas ricas tias me oferecerem umas garrafas de Dom Perignon (magnum) 1988, desde já, também me posso comprometer [com muita pena minha], a nunca mais gozar com os jeitinhos amaricados do nosso Primeiro-ministro José Sócrates.

André
Partilhar

Batalhas pelas palavras

Até meados da década de 80 do século passado havia a Guerra Fria, em que o mundo estava dividido em dois. Havia uma paz podre, havendo uma corrida às armas da parte das duas grandes potências: União Soviética e Estados Unidos. Com o final da Guerra Fria as guerras não acabaram. E para além das batalhas com armas apareceram as batalhas com as palavras. O politicamente correcto passou a ser mais uma guerra, desta vez entre a esquerda e a direita. Se à partida era bom é hoje algo mau porque é usado exageradamente: quer-se acabar com a diferença e tem-se tanto cuidado com a linguagem que passam a haver novos “esquecidos” desta vez das supostas maiorias. E a batalha entre aqueles que querem impor o "politicamente correcto" (ou seja, transformar tudo em ecologially frienly e minority friendly) e aqueles que querem impor o "politicamente incorrecto" (ou seja, querem que fique tudo como está e não querem ser postos em causa) continua, levando a mais exageros. Esta é, aliás, a nova guerra fria.
Eu quero viver num mundo sem ter medo das palavras nem de ser eu mesma. Porque é isso que eu sinto que está a ser construído por ambas as facções: um mundo onde as pessoas tem medo de ser e de estar.

REFERÊNCIAS: Politicamente nulo (no Sobre Tudo e Sobre Nada); Politicamente Correcto (no Semiramis)
Partilhar

Leituras recomendadas (com brindes para quase todos)

- Insuflável e descartável (um outro olhar sobre o Natal num dos meus blogues femininos favoritos);

- O amor entre parêntesis. Dá (-te). (ou o essencial é invisível aos olhos);

- Central Nuclear (Blogue onde se discute a energia nuclear);

- Europeus querem iniciar reflexão constitucional (a discussão sobre a Constituição Europeia vai voltar à ordem do dia)

- A Arte do Plágio "criativo" (quando a imprensa plagia os blogues)

- A pobreza de África e as recriminações entre Direita e Esquerda (fragmento lúcido de Rodrigo Adão da Fonseca)
Partilhar

Breve vídeo de Natal: Merry Christmas


The Ramones: Merry Christmas (I Don't Want to Fight Tonight)

Boas Festas para todos! :)
Partilhar

Natal

Inverno lactescente, adormercido
Querer, noite encantada
Já não sinto, porém, aquele amor,
Nem a vida sonhada.

Tudo se foi, pouco nos resta,
Ilhas não há. Montanhas só no espírito
Se elevam, distantes e coroadas
Pela solidão.

No muro da minha alma há uma fresta.
Por ela entra o vento e a multidão
Das vozes e dos signos.

Quando a certeza chega, o coração
Lança de si trajes mais indignos
E entra, sorrindo, na festa.

Rui Cinatti

Um Feliz Natal para todos!
Partilhar

Receita de peru com whisky

Nesta altura do ano esta receita dá sempre jeito.

Ingredientes:

1 Garrafa de whisky - do bom, é claro!!
1 Peru de aproximadamente 5 Kg
Sal, pimenta e molho verde a gosto
350 ml de azeite extra-virgem
500 g de bacon em fatias
Nozes moídas

Modo de preparar:

Envolver o peru no bacon e temperá-lo com sal, pimenta e molho verde a gosto. Massajá-lo com azeite.

Pré-aquecer o forno durante aprox. 10 minutos.

Beber uma boa dose (dupla) de whisky enquanto aguarda.

Colocar o peru numa assadeira grande.

Sirva-se de mais duas doses de whisky.

Ajustar o terbostato na marca 3, e, debois de uns binte bidutos, bonha para assassinar. Digu, assar a ave.

Beber bais uba dose de whisky.

Debois de beia hora, formar a baertura e controlar a asssadura do pato.
Tentar zentar na gadeira, zervir-se de uooooootra dose boa de whisky.

Gozer (?), gosturar(?), gozinhar (?), sei lá, f***-se o beru.

Deixááár o vilho da buta no vorno bor ubas 4 horas.

Tentar tirar a berda do beru de lá.

Bandar bais uba boa dose de whisky pa dentro, dendar nobabente tirar cabrããão do beru do vorno, borgue na bribeira denndadiiiva dãão deeeeeeeuuuu.

Begar o beru que gaiu no jão, e enjugar o vilho da buta gom o bano de limparrr o jão e gologá-lo duba pandeja ou galguer outra borra, bois, avinal, vozê nem gossssssssta buito dessa berda de beru.

Bronto!

[texto enviado por e-mail, autor não identificado]
Partilhar

quinta-feira, dezembro 22, 2005

O socialismo sob o ponto de vista dos seus meios de acção

"O socialismo é o fantasioso irmão mais novo do despotismo quase defunto do qual pretende receber a herança; os seus esforços são pois, no sentido profundo, reaccionários. Pois deseja uma plenitude de poderio do Estado tal como, até hoje, apenas o despotismo conseguiu, ultrapassando inclusivamente tudo o que passado nos mostra, porque tende ao aniquilamento formal do indivíduo: é que este surge-lhe como um luxo injustificavel da natureza, que deve ser por ele transformado num órgão útil da comunidade. (...) O socialismo pode servir para demonstrar de modo brutal e evidente o perigo de toda a acumulação de poder no seio do Estado. Quando a sua rude voz se misturar ao grito de guerra:«Tanto Estado quanto possível», esse grito começará por se tornar mais audível que nunca; mas em breve se ouvirá, com não menos força, o grito oposto:»Tão pouco Estado quanto possível»."

Friedrich Wilhelm Nietzsche
in Humano demasiado humano, 1886
Partilhar

Passeando pela blogosfera

Tencionava comentar as declarações do Sr. dr. Ribeiro e Castro. Mas encontrei isto, e como sempre acontece quando encontro alguém que diz o que eu quero dizer melhor do que eu seria capaz, limito-me a subscrevê-lo.
Partilhar

A Hora da Literatura. Efeméride

A 22 de Dezembro de 1969, morreu José Régio. Embora geralmente conhecido como poeta, é como dramaturgo, ficcionista, ensaísta e um dos mentores da presença que merece lugar ao sol nas letras portuguesas do Século XX. Nota pessoal: Régio é um dos meus autores, e escreveu um dos livros que mais me marcaram: Jogo da Cabra Cega. Eis um apontamento do seu diário, que já aqui deixei:

«Coimbra, 4 de Novembro de 1924-Tenho passado noites horríveis. Assisti (e colaborei) a algumas sessões de espiritismo, entre rapazes. O que a eles passou quase indiferente perturbou-me a mim em excesso. Invocámos numa delas o espírito de António Nobre, que disse querer dirigir-se a mim. Transcrevo algumas perguntas:
Eu -Tens alguma coisa a dizer-me?
- Só.-Que queres tu dizer? referes-te a mim, ou a ti?
- A ti.
- Sabes porque gosto tanto de ti?
- Só.
- Queres dizer que sou só como tu? Qual é o nome da mulher que mais amaste?
- Jany.
- Onde a conheceste?
- Mar.
- Qual é a poesia do teu livro que preferes?
- Todas.
-Qual o poeta do teu tempo que mais amaste?
- Eu.
-Quem mora agora na Torre de Anto?
- Eu. etc.
Como se vê, são respostas dignas do meu Príncipe. Este in­errogatório chocou-me até às lágrimas. Deixei de assistir a estas sessões, porque elas me perturbavam extraordinariamente: Tive pesadelos e terrores nocturnos que me fizeram lastimar a ausênc­ia do meu companheiro de quarto.»

José Régio, Páginas do Diário Íntimo

Partilhar

Surrealismos: Naoto Hattori






















Naoto Hattori: Untitled. 16" X 20", Acrylic on canvas, 2000
Partilhar

quarta-feira, dezembro 21, 2005

O tal de... debate

Gostei bastante do tal de... debate. Deu perfeitamente para nos apercebermos - e sem deixar margem para qualquer dúvida - das diferenças abissais existentes entre os dois candidatos.

Mário Soares teve oportunidade de mostrar a sua verdadeira essência, percorrendo todo o baralho das suas já habituais manhosices de meia-tigela para papalvos. Não esteve mesmo nada bem, e só mesmo os jerónimos deste país é que podem achar que ele esteve... "fresco". Nem sequer se deu ao trabalho de debitar uma ideiazinha própria sobre a forma como pretende exercer a magistratura presidencial. Porventura, porque já nem ele acredita nessa remotíssima eventualidade.

Realmente Soares esteve sempre, sempre ao ataque... só que foi um ataque de baixíssimo nível. Por muito que me esforce, não consigo concordar com aqueles que dizem que o discurso de Soares roçou a injúria pessoal... acho que não só a roçou como a ultrapassou amplamente, e por diversas vezes. Uma vergonha completa! Ainda para mais, quando este discurso parte de um ex-presidente, e quando o seu adversário nunca lhe deu qualquer motivo para tal comportamento... bem pelo contrário.

Soares substituiu completamente os supostos jornalistas da RTP e questionou directamente Cavaco Silva do princípio ao fim do debate. Neste aspecto até se pode dizer que Soares esteve bastante bem... e os "jornalistas" menos bem. Mas melhor que todos esteve Cavaco, que aproveitou todas as questões do seu adversário para explicar aos eleitores quais eram as suas ideias para o futuro, e dando mostras de saber reagir bastante bem à "pressão" que Soares procurava, constantemente, incutir à "entrevista".

Sempre que achou oportuno, Soares criticou o passado de Cavaco Silva. Quando Cavaco rebatia as críticas efectuadas por Soares - obviamente referindo-se ao passado - este dizia que aquilo não tinha interesse nenhum e que seria importante deixar o passado e falar do futuro. Quando Cavaco falava do que pretendia fazer no futuro, lá vinha o Soares com mais qualquer coisa do passado... e andaram nisto o debate todo.

Com aquela pachorra toda para aturar aquele chorrilho de asneiras e ofensas pessoais que Soares foi debitando ao longo do debate, Cavaco Silva, com a sua serenidade, acabou por ter a ocasião de demonstrar, àqueles que ainda teriam dúvidas, que tem o perfil ideal para ser o presidente de todos os portugueses. Admiro francamente a paciência de santo que Cavaco Silva demonstrou ter para com a constante má-criação de Soares. A mim, tinha-me saltado a tampa logo à primeira. :)

Soares, durante todo o debate, não conseguiu disfarçar o seu abespinhamento, e só foi mostrando a dentadura nas suas tentativas, infrutíferas, de morder as canelas a Cavaco Silva.

O pobre coitado esqueceu-se que já não tem dentes para morder nada, e a única coisa que ganhou foi... uma "ganda" gengivite.
Partilhar

A Hora da Literatura. Efeméride

A 21 de Dezembro de 1805, morreu Bocage. Muito mais do que a personagem de anedotas populares, um dos maiores poetas portugueses de sempre. Multifacetado, ei-lo em duas facetas, afinal, complementares e humanas:

Fiado no fervor da mocidade,
que me acanava com tesões chibantes,
consumia da vida os meus instantes
fodendo como um bode, ou como um frade:

Quantas pediram, mas em vão, piedade
encavadas por mim balbuciantes!
Fincado a gordos sessos alvejantes
que hemerróidas não fiz nesta cidade!

À força de brigar fiquei mamado:
vista ao caralho meu, que de gaiteiro
está sobre os colhões apatetado:

Oh Numen tutelar do mijadeiro!
Lever-te-ei, se tornar ao teso estado,
por oferenda espetado um parrameiro.
In Poesia Erótica (organização de Fernando Pinto do Amaral), D. Quixote


A frouxidão no amor é uma ofensa,
ofensa que se eleva a grau supremo;
paixão requer paixão; fervor, e extremo;
com extremo e fervor se recompensa.

Vê qual sou, vê qual és, vê que diferença!
Eu descoro, eu praguejo, eu ardo, eu gemo;
Eu choro, eu desespero, eu clamo, eu tremo,
Em sombras a razão se me condensa:

Tu só tens gratidão, só tens brandura,
e antes que um coração pouco amoroso
quisera ver-te uma alma ingrata, e dura:

Talvez me enfadaria aspecto iroso;
mas de teu peito a lânguida ternura
tem-me cativo, e não me faz ditoso.
In Antologia Poética, Ulisseia
Partilhar

O novo Caravaggio: David Jon Kassan

Partilhar

Essa esquerda da esquerda previsível

Até parece que é um grande segredo os candidatos do PCP e Bloco de Esquerda para as presidenciais saberem perfeitamente que os únicos proveitos que podem alcançar com esta eleição são os proveitos partidários. Com discursos orientados não para a função presidencial, mas para um "Build up" da margem de influencia numas próximas eleições, orientados sobretudo para o seu público. Sim! Porque o Srº Secretário Geral deverá concerteza saber que nem todos os portugueses são operários fabris ou metalurgicos e o SrºLouçã deverá saber que nem todos têm 16 anos para ser cativado pela "rebeldia" daquelas metáforas e que mesmo esses não podem votar... apesar de ajudarem com os jambés nos comícios de rua.
Partilhar

terça-feira, dezembro 20, 2005

Passeando pela blogosfera

"O" debate. Pequena Antologia blogosférica de comentários em cima da hora. Há para todos os gostos:
- O grande vencedor do debate (e, eu arriscaria a dizer, das eleições)
- E, numa sondagem-relâmpago da SIC-Notícias, Soares ganhou (25%). Cavaco fica-se pelos 23.5 % de pessoas que acham que foi ele o vencedor. Claro, a grande maioria (51%) acha que ninguém ganhou, ou não esteve nem aí.
Partilhar

"O" debate

Cavaco, finalmente, esteve bem. À excepção da declaração final, onde largou esta jóia: «Dirijo-me àqueles que ainda não decidiram votar em mim. Talvez tenham as suas vidas organizadas. Mas peço-lhes que pensem nos filhos.» Soares deu um enorme tiro no pé. Os jornalistas andaram aos papéis, mas, pelo menos, deixaram os candidatos falar.
Partilhar

Notícias de um futuro "próximo" (reloaded)

Partilhar

Má moeda (reloaded)

Partilhar

Obrigado, Filipe

Pela tua dica de leitura: A Ideia de Europa de George Steiner. Desde sempre fui eurocéptica em relação à construção da União Europeia mas sinto as minhas raízes presas na Europa e a obra de George Steiner recordou-me e confrontou-me com as minhas ideias. Por outro lado, Steiner deixa atrás de si mais interrogações do que certezas e isso é bom para o debate (haja vontade em fazer-mo-lo). Entretanto vou voltar a reler este livro. Tenho a certeza que uma segunda leitura me mostrará aspectos que descurei da primeira vez.
Partilhar

Imagem pública

Jerónimo de Sousa é, cada vez mais, um case-study. Todos nos lembramos do camarada Jerónimo do final dos anos 90, de olhar flamejante, dureza esfíngica e obstinação cerrada. Vendo-o, não nos custava imaginá-lo com um martelo numa mão e uma foice na outra, pronto a cortar cerce qualquer desvio sectário. Hoje, o camarada Jerónimo é cada vez mais o tipo porreiro com quem se bebem umas cervejas e se lamenta a porca da vida. Acima de tudo, patenteia uma sinceridade verdadeiramente tocante. Ei-lo, hoje de manhã, na TSF, falando da campanha eleitoral para as eleições de 1976:
«Íamos normalmente aos pares. Ía um camarada intelectual que, portanto, teorizava. E ia eu, que, depois, portanto, dava exemplos concretos».
Ouvindo-o, quase nos esquecemos de que este homem acha que os Estados Unidos são uma ameaça maior do que o terrorismo islâmico…
Partilhar

Surrealismos: Travis Louie


















Travis Louie: "Hey Man, You Okay", acrylic on board, 36"x24"
Partilhar

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Cimeira da OMC

Afinal de contas qual é o objectivo dos manifestantes anti-globalização? Será voltar à agricultura biológica, tal como era praticada no século XIX ou antes?

Será que esses mesmos manifestantes são candidatos à eutanásia? É que pelos séculos XVIII, XIX, essa fantástica agricultura biológica tradicional mal conseguia alimentar a população dessa época - basta folhear um livro de história para constatar as fomes periódicas que matavam às dezenas de milhares, mesmo nos países então desenvolvidos. Hoje não conseguiria nem sequer alimentar 20% da população mundial. Quem é que está disposto a morrer à fome em nome da imbecilidade politicamente correcta? Nem sequer os manifestantes de Hong-Kong, quanto mais aqueles cuja vontade os ditos manifestantes apropriam como se, tal como eles, vivessem na abundância que lhes permite deslocar-se nos satânicos jactos do inimigo globalista e neoliberal.
Partilhar

Procura-se

Indivíduo que dá pelo nome de CDS-PP. Estatura média-baixa, a rondar os 6%. Grave perturbação psicológica, visível numa multiplicação da personalidade, em virtude da qual se afirma, simultanea e cumulativemente, democrata-cristão, centrista, liberal, de Direita, de Centro-Direita, conservador, populista, nacionalista e moderado. Dado a períodos depressivos, em virtude de lideranças problemáticas e de uma baixa auto-estima provocada pela falta de sentido para a sua existência. Relações instáveis com o irmão mais velho, de nome PSD. Na última vez que o avistaram, afirmava com convicção a necessidade de cortar com o passado próximo, e apresentava sintomas de esquizofrenia pela forma como se dizia imprescindível nas próximas eleições presidenciais. Há semanas que não é visto, correndo o sério risco de desaparecimento total. Os últimos rumores dão-no como disperso em colunas de jornal, revistas de baixa tiragem e blogues. Pede-se a quem tiver notícias o favor de nos informar.
Partilhar

Homem não chora

Como o prometido é devido, e porque as problemáticas em torno de vida quotidiana dos espécimes humanos masculinos na nossa sociedade, principalmente da subespécie homotuga, tendem a persistir e mesmo a agravarem-se, vejo-me obrigado a trazer aqui ao «GR», semanalmente, todas as segundas-feiras ao fim do dia, esta rubrica. Antevejo que esta será uma das últimas esperanças que ainda nos resta para chamar a atenção aos “outros” sexos para as injustiças de que temos sido alvo nestes últimos tempos, e da verdadeira derrocada social que tais práticas vêm provocando no seio da família tradicional portuguesa. Pudemos até nem chorar, mas que temos imensos motivos para o fazer, temos.

Nestes tempos sombrios para o futuro da nossa espécie, todos os cuidados são poucos. Como falei aqui, na última rubrica «Homem não chora», com esta coisa que nos querem impingir de ser "metrosexual", começamos por tirar os pelinhos das perninhas, depois são os do peitinho, depois vem a bela da madeixinha, mais tarde começamos com aquele andar esquisito do nosso Primeiro-ministro e com aqueles jeitinhos de mão, e quando damos conta já fomos convidados para protagonistas de um programa da SIC ou da TVI, ou pior, seleccionados para algum reality-show da moda. Temos de lutar com todas as forças que nos restam contra esta triste sina que nos vem acompanhando nas duas últimas décadas. É imbuído deste espírito que vou procurar todas as semanas, aqui no «GR», investigar profundamente as origens desta maleita e apresentar, sempre que possível, as soluções que me parecem ser as mais eficazes para combater esta praga que vem arrastando para a extinção toda a nossa espécie.

Desta vez vou focar um assunto bastante melindroso, mas crucial para se perceber a actual crise de valores por que passa a nossa sociedade. Como as verdades são para se dizer, e como o tempo das nossas mães e sogras tende a terminar algum dia, a pergunta pertinente que hoje vos trago é, como é que nós [homens] podemos continuar a ser alimentados convenientemente se a sociedade tem gerado nas últimas décadas mulheres que não sabem cozinhar?

Ao longo da existência da humanidade parecia ter ficado determinado [por alguém… algum homem bastante inteligente com toda a certeza] que as mulheres cozinhavam bem e que os homens comiam igualmente bem. Contudo, as nossas mãezinhas traíram-nos. Primeiro habituaram-nos mal, alimentando-nos com papinha caseira da boa, só que com aquela mania de não darem a receita a ninguém, acabaram por deserdar as nossas irmãs desse apetrecho tão fundamental para o bem-estar social como é o de “saber cozinhar”. Para agravar a situação, como as miúdas andam sempre com aquela panca de que comer engorda, não se preocuparam minimamente em aprender a cozinhar, e agora, quem se lixa somos nós.

A verdade verdadinha é que nos foi incutido à força o vício de comer bem, mas agora, se o quisermos fazer, ou temos de ir a casa das nossas mães, ou nos arriscamos a comer algo confeccionado pelas nossas sogras, ou temos de ir a um restaurante com um bom Chef ou onde cozinhe a mãe de alguém, ou então, só nos resta sermos nós próprios a cozinhar. Uma coisa já todos aprendemos com nossas más experiências pessoais, sabemos que nunca, em caso algum, devemos comer algo “composto” pelas nossas mulheres. Se algum dia tivermos de o fazer, que seja por uma causa nobre e que o vinho pelo menos seja escolhido por nós.

Pois é… se pensarem bem nisto, muita coisa fica esclarecida. Senão vejamos, porque é que acham que cada vez há mais mulheres nas universidades e nos lugares de topo das empresas? Já estão a ver? Não? Então eu explico. Já lá atrás falei daquela panca que elas têm de não darem muita importância à alimentação por causa da linha lembram-se? Pois.. isso é que é a morte do artista. Elas, espertalhonas, com o engodo da aparência, todas boas, apanham-nos naquela fase em que estamos com as hormonas aos saltos e simultaneamente vamos sendo alimentados pelas nossas ricas mãezinhas… e quando damos conta, já fomos endrominados. Depois de nos apanharem, dão sempre a desculpa que não sabem cozinhar [ainda] mas que vão aprender quando tiverem tempo. Entretanto não vão tendo tempo, porque estão a estudar para entrar para a faculdade, depois, porque têm de acabar os cursos, de seguida, as pós-graduações, os mestrados, os doutoramentos, etc., e nós temos de continuar na cepa torta, porque nos vemos obrigados a gastar todo o dinheiro que temos a alimentarmo-nos em restaurantes de jeito, ou a perder tempo a cozinhar qualquer coisa que se coma sem ficarmos maldispostos. É claro que ficamos sem qualquer tempo… e não temos disposição, nem dinheiro para estudar porque as nossas "chefas", no trabalho, não nos dão o valor devido.

As mulheres, com as suas manhas naturais, acabaram por nos transformar em duas ou três gerações nuns completos escravos da cozinha. Nos dias que correm, um homem pode-se considerar um sortudo se encontrar uma parceira que pelo menos meta a loiça na máquina depois de comer as deliciosas refeições por nós confeccionadas.

Temos, contudo, de dar graças a Deus por alguns de nós se conseguirem livrar desta completa escravidão masculina, graças a um defeito de fabrico das mulheres, que consiste no facto indesmentível de elas não saberem estar caladas. Assim, enquanto nós confeccionamos arduamente os nossos sempre excelentes manjares, porque com a prática, entretanto, adquirida não sabemos fazer a coisa por menos, as nossas mulheres, por pura inveja de não saberem cozinhar, gostam sempre de meter a colher e de dizer que as mãezinhas delas fazem assim e assado, cozido e grelhado, com molho de escabeche ou que ficava melhor se fosse marinado [como se soubessem o que isso é], e que ou falta sal, ou que tem pimenta a mais, etc., etc., etc. Claro está que Homem que não se sente não é filho de boa gente e se há coisa que um homem moderno não suporta é, que desprezem os seus cozinhados. Logo… sai divórcio.

Não, não é o dinheiro a principal causa. Ainda não tinham pensado nisto, pois não? Mas é a pura verdade! Está mais que provado que, nos dias de hoje, a principal causa dos divórcios é esta rejeição gastronómica que alguns Homens são alvo e que não conseguem continuar a suportar.

A boa notícia disto tudo é que agora está completamente nas nossas mãos a possibilidade de inverter esta tendência. Basta ensinarmos as nossas filhas a cozinhar e em uma ou duas gerações iremos conseguir repor o equilíbrio social. Força! E não se esqueçam, ensinem as vossas filhas a cozinhar.

Nós já não nos safamos, mas ao menos que tentemos salvar ainda os nossos filhos.

Unidos venceremos! :)
Partilhar

Memória Futura

"(...) a conjuntura internacional de crise que vivemos torna as populações vulneráveis aos ataques fundamentalistas (de todas as religiões) que alocam a desvios ao integrismo religioso respectivo as razões da crise. Os grupos seculares de defesa da imprescíndivel para a paz e tolerância laicidade são assim essenciais para que não assistamos a um retrocesso civilizacional, já que os moderados de todas as fés desculpam por norma os excessos cometidos em nome da respectiva religião"
Palmira F. da Silva

Sim, creio que o alerta de Palmira da Silva é justo. Os fundamentalismos de católicos, ortodoxos, protestantes, muçulmanos, etc. têm-se tornado o grande calcanhar de aquiles do progresso civilizacional. Se por um lado existem mecanismos para um avanço, também existem outros de recuo civilizacional. O mal não está na fé, mas naqueles que levam a fé a tal ponto que querem proibir os outros de viverem se não for segundo as leis criadas por si. Daí a importância da laicidade do Estado.
Partilhar

Pelo Direito à Memória

«Exige-se tão-só

A REPARAÇÃO MORAL, AFINAL, A QUE TEMOS JUS
com a

REPOSIÇÃO DA VERDADE
. pela revisão dos manuais escolares de História Contemporânea,
. pela abertura da radiodifusão áudio e audiovisual do Estado à revelação do modus vivendi das distintas comunidades no PERIODO ANTERIOR AO DO ABANDONO,

com a
REABILITAÇÃO de cada um e todos os que nados e criados ou só criados além-mar ergueram sob o signo do trabalho honesto verdadeiros IMPÉRIOS
. por um pedido formal de escusas, pelos altos dignitários do Estado aos representantes eleitos das associações de espoliados.

E, à semelhança do que sucedeu noutras paragens, a consagração de um

DIA NACIONAL DOS REFUGIADOS DO ULTRAMAR.

Daí que formulemos a PETIÇÃO que visa a veicular uma tal pretensão.

A memória de PORTUGAL ETERNO impõe-no, exige-o veementemente, numa revisão de processos, a que a História há-de proceder.»

É isto que pedem um conjunto de ex-regressados das colónias portuguesas. Um pedido justo, na minha opinião. Subscrevam esta petição em Descolonização.net.
Partilhar

A Hora da Literatura. Efeméride

A 19 de Dezembro de 1901, nascia Vitorino Nemésio. Ensaista, professor, ficcionista, poeta e comunicador.

Prece

Meu Deus, aqui me tens aflito e retirado,
Como quem deixa a porta o saco para o pão.
Enche-o do que quiseres. Estou firme e preparado.
O que for, assim seja, a tua mão.
Tua vontade se faça, a minha não.

Senhor, abre ainda mais meu lado ardente,
Do Flanco de teu filho copiado.
Corre água, tempo e pus no sangue quente:
Outro bem não me é dado.
Tudo e sempre assim seja,
E não o que a alma tíbia só deseja.

Se te pedir piedade, dá-me lume a comer,
Que com pontas de fogo o podre se adormenta
O teu perdão de Pai ainda não pode ser.
Mas lembre-te que é fraca a alma que aguenta:
Se é possível, desvia o fel do vaso:
Se não é, beberei. Não faças caso.

In O Verbo e a Morte
Partilhar

Falar de Blogues com Pacheco Pereira, e mais qualquer coisa (Act V)

Entretanto Pacheco Pereira perseverava na sua ideia da importante influência dos blogues nos media e por reflexo [mas não só] também nos centros de decisão políticos e culturais. Evidentemente que esta influência somente poderia ser exercida por alguns blogues [os credíveis]. Considerou ainda que, a não ser pelo seu número e apesar do seu contínuo crescimento exponencial, os blogues ainda não deveriam ser considerados como instrumentos da cultura de massas.

Foi então que José Carlos Abrantes interrompeu o orador e lhe perguntou se este teria a perfeita consciência da credibilidade que o Abrupto teria trazido à blogosfera.

Pacheco Pereira agradeceu a questão a José Carlos Abrantes porque, segundo o orador, um dos principais problemas da blogosfera seria precisamente o da credibilidade.

Naquele momento, um dos lugares na audiência, na perpendicular mesmo à minha frente, ficou vago, e nos escassos segundos em que eu ingenuamente matutava se o iria ocupar ou se me manteria sentado no lugar onde me encontrava, o dito cujo foi ocupado por um gajo. “Bolas!” pensei eu [por acaso pensei outra coisa, mas esta fica melhor aqui]. Contudo, reparei de imediato, que o gajo que se tinha sentado naquele lugar [ex] vago tinha uma gravata cor-de-rosa. Virei-me para o Pedro e em surdina, apontando discretamente para a personagem mesmo à nossa frente, informei-o que aquele era, quase de certeza, o Bruno. Embora também não o conhecendo, o Pedro acenou-me com a cabeça afirmativamente, como que corroborando o que eu lhe acabara de dizer. Como dali não levava nada, virei-me para trás e disse o mesmo à Cristina, que ficou a olhar para mim como que dizendo: “E?… o que é que eu tenho a ver com isso?”. Achei melhor virar-me para a frente, e procurei concentrar-me novamente na palestra.

Pacheco Pereira continuava a sua prédica e dizia, entrementes, que tinha optado para o seu Abrupto pelo layout do mais simples que estaria disponível na altura em que o criou e que assim o pretenderia manter, simples, para que os seus leitores não se sentissem “violentados” com alterações... abruptas. Referiu ainda que muitas vezes lhe perguntavam porque é que não tinha uma frame com links no seu Abrupto, e que o motivo seria o de precisamente pretender manter a tal de simplicidade para o utilizador. Fiquei espantado com todo aquele sentimento de tipologia paternalista que JPP parecia nutrir pelos seus leitores. Como leitor habitual do Abrupto, fiquei com algumas dúvidas que essa afecção fosse mesmo genuína, mas que lhe ficava bem estar a dizer aquilo ali, ficava.

Seguiu-se um momento de [ainda] maior descontracção e, com uma evidente dose de humor, JPP revelou a todos os presentes que fazia um esforço imenso por escrever os seus “early morning” sempre da parte da manhã, na tentativa de fugir ao ridículo de os ter de escrever da parte da tarde, embora, tal já tivesse sucedido por mais de uma vez. No meio de uma gargalhada geral, mais ou menos contida, JPP disse qualquer coisa que não ouvi bem, mais a frase «hoje acordei assim». Mal ele verbalizou esta proposição, José Carlos Abrantes abriu os olhos na direcção do público, sorriu, e apontou para o meio do auditório, indiciando, segundo subentendi, a presença de Carla Quevedo, a tal de Bomba Inteligente. Pacheco Pereira também sorriu, e fez simultaneamente um ligeiro aceno com a mão. O pessoal todo, e em perfeita sintonia, virou todo as cabeças para o mesmo local. Todos... menos eu. Discretamente, levantei-me do meu lugar [sem nunca olhar para o local onde estava a tal de Bomba], fiz um gesto indicativo para a Cristina que ia lá fora fumar um cigarro e cedi, na altura com intuito provisório, o meu lugar ao RAF, que se mantinha, estoicamente, de pé, a assistir à conferência. Pois… imagino que os leitores do «GR» gostassem de saber a minha opinião sobre a jornalista Carla Quevedo mas... há mitos que um homem deve tentar perpetuar, e esta coisa das “Bombas Inteligentes” é um deles. Fosse como ela fosse [mesmo muito bonita e muito inteligente], a verdade é que a Carla Quevedo dificilmente poderia corresponder ao que eu afiguraria, por isso, achei por bem não arriscar olhar. Porque é que haveria de destroçar esta minha fantasia perfeita? Há certas coisas que mais vale manter onde estão… no limbo blogosférico. :)

(continua…)
Partilhar

Impossível esquecer

Daniel, seis anos, Catarina, 30 meses e Joana, oito anos. Três nomes. Por cada um deles muitos mais existirão. Vitimas caladas de uma violência brutal, animal e sem absolvição.
Bem sei que o Natal me devia inundar de amor, fraternidade e carinho para com todos os seres humanos. Que o perdão pode tudo. A uma semana do Natal a maior parte de nós anda num frenesim, como baratas tontas, nas últimas compras, porque queremos e entendemos presentear os nossos familiares e amigos. E isso até nem é mau. Goste-se ou não desta celebração religiosa, é um pretexto legitimo. Amar e ser amado é a melhor coisa do mundo. Mas o Daniel, a Catarina e a Joana (e muitos outros), morreram sem nunca o experimentar…
Partilhar

domingo, dezembro 18, 2005

Passeando pela blogosfera

Memorando: não confundir Registo Civil com Estado Civil...
Partilhar

Notas

- A Sra. Doutora Maria Filomena Mónica, conhecida por vários trabalhos de alta estirpe intelectual, entre eles uma biografia de Eça de Queirós típica de quem percebe muito de Sociologia e pouco de Literatura, debitou, no último "eixo do mal", a poderosa noção de que os jovens deviam sair mais deste País e das saias da mãezinha. Com certeza. Mas eu atrever-me-ia, ainda dentro do mesmo estilo abstracto-conceptual, a um pequeno aditamento: e se, primo, víssemos, de entre as gerações pretéritas, quais os que trabalham e quais os que fazem de conta que trabalham, e, depois, fizéssemos a contabilidade final em termos de razões por que os jovens ficam com as mãezinhas, e as segundas idades agarram-se aos bancos de jardim?
- O Jornal da Noite da TVI passou, ontem, um vídeo humorístico sobre Bush que tem circulado pela Internet. Pergunto: o que leva um jornal televisivo a passar, na íntegra, um vídeo humorístico feito não se sabe por quem? E, já agora, por que não continua o Jornal da Noite a sua alta missão civilizacional, e passa, na íntegra, vídeos ou "sketches" sobre el capitán Fidel, o major Sócrates ou o general Cavaco? A amostra não deve ser pequena...
Partilhar

Gerações...

A expressão "geração rasca" parece começar a ser utilizada outra vez com alguma frequência. Será por receio de revanchismos?

No CM: «A mandatária Katia Guerreiro recusou o epíteto de “geração rasca”, com que foram apelidados os jovens dos anos 90, defendendo que “o tempo separou o trigo do joio” e “os que aqui estão “esperam com o professor um Portugal Maior”.»

O tempo separou o trigo do joio? Já compreendo porque é que a Katia costuma estar calada. Na minha opinião esta tal de Katia foi muito mal escolhida como mandatária para a juventude por Cavaco Silva.

Ainda no CM: «Um dos presentes, Pedro Granger, usou a expressão “geração Cavaco”, para contrapor à geração rasca”»

Geração Cavaco? O Pedro Granger deve andar a comer muito bolo-rei. Eu pelo menos, recuso-me a alterar o nome deste blogue. :)

Entretanto vai-se falando por aí da verdadeira «Geração Rasca»... aqui, aqui, e aqui. E até a Bomba Inteligente destaca o «Geração Rasca» esta semana. Ganda bomba! ;)
Partilhar

sábado, dezembro 17, 2005

Passeando pela blogosfera

Carlos Romão, com a qualidade do costume, relata um pouco da história da Lello, uma das livrarias mais importantes do Porto -e talvez, do ponto de vista arquitectónico, a mais bonita das livrarias portuguesas. Aqui, com o imprescindível acompanhamento fotográfico.
Partilhar

Pensamento pós-tridentino

João César das Neves, o próprio, acaba de dizer, na Renascença, que tem havido, por parte da Esquerda portuguesa, uma estratégia de fazer esquecer os intelectuais Católicos. E cita o exemplo do Pe. Manuel Antunes (sem dúvida, uma grande figura), ou do esquecimento da obra do Pe. António Vieira. Ouvindo César das Neves, julgaríamos que o Portugal do Século XX está cheio de grandes escritores e pensadores Católicos, embora poucos nos ocorram. E quase nos esquecemos de que o Pe. António Vieira, enquanto vivo, foi vítima da Inquisição, que também mutilou a obra de Camões, Gil Vicente ou o Cancioneiro Geral, por exemplo. A memória selectiva é, de facto, um fenómeno curioso...
Partilhar

Freud explica

O governo, numa manifestação de puro bom-senso, recuou na questão dos exames, de modo que o exame de Português continua a ser obrigatório para todos os alunos. Aguarda-se idêntica decisão para a Filosofia. Entretanto, houve quem contestasse este recuo do governo. Quem? Alguma organização libertária que propugne pelo fim de toda e qualquer avaliação em regime de "peace and love"? Talvez. Mas também a Associação de Professores de Português. Está bem...
(O artigo do Público é referido no Blasfémias)
Adenda: Leio no Público de hoje a resposta de Paulo Feytor Pinto, presidente da APP:
«Para a APP, é indiscutível a importância da disciplina de Português, designadamente no ensino secundário, pelo facto de ser a língua materna da maioria, o veículo de ensino em todas as outras disciplinas e um dos alicerces da cultura portuguesa (...). (...) não nos parece aceitável que se considere que um exame nacional seja o instrumento que garante que todo o programa é ensinado pelos professores e que garante que mais programa é aprendido pelos alunos. Melhores garantias parece-nos poderem ser dadas pela diversificação dos instrumentos de avaliação ao longo do ciclo de ensino, por uma formação inicial adequada baseada em perfis pré-definidos, por uma formação contínua de professores regulada pela avaliação das suas necessidades e do impacto dessa formação na aprendizagem dos alunos, pela selecção de manuais complementada pela sua certificação prévia, pelo cumprimento dos programas, por melhores equipamentos, por turmas mais pequenas, entre outros(...). Por outro lado, já nos parece aceitável que, no quadro do acesso ao ensino superior, sejam feitos exames de admissão que garantam que todos os candidatos são sujeitos a um mesmo crivo e que todos têm alguns dos conhecimentos e competências consideradas indispensáveis pelo ensino superior. Neste contexto, se as universidades e institutos politécnicos exigirem um exame de Português para avaliarem algumas competências, a direcção da APP concorda!»
Partilhar

Estórias

Retomando a iniciativa do André, cá deixo mais uma estória do passado. O seu protagonista é o nosso primeiro rei, Afonso Henriques, e vem ela contada no Livro de Linhagens do Conde D. Pedro (Século XIV). Não pode haver certezas quanto à sua veracidade, mas cá vai ela, em modernização linguística minha:
Quando el-Rei D. Afonso, filho do Conde D. Henrique, reinou em portugal, foi hóspede de um homem bom que se chamava Dom Gonçalo de Sousa, que habitava a quinta de Unhom. E quando estavam a acabar de comer, el-Rei foi ver a mulher do seu hóspede, que se chamava Dona Sancha Álvarez, filha do Conde das Astúrias, e começou a doneá-la [ou seja: "fazê-la dona"...]. Naquele momento, Dom Gonçalo entrou pela porta, vio-o e disse-lhe: «Senhor, levantai-vos daí e i-de comer, porque já adubastes o terreno...». El-Rei levantou-se e sentou-se a comer. E, estando ele a comer, Dom Gonçalo pegou na sua mulher, cortou-lhe o cabelo, vestiu-lhe uma roupa às avessas, pô-la em cima de um cavalo, virada para trás e mandou-a para a terra do Rei. Dom Afonso Henriques achou-se desonrado, e disse-lhe: «Dom Gonçalo, por menos disto o meu avô cegou sete Condes!». E Dom Gonçalo respondeu-lhe: «Senhor, cegou-os e fez mal. E consta que morreu por causa desse erro...»
Partilhar