terça-feira, fevereiro 20, 2007

Textos recomendados: «Na cabeça de Sócrates»

«(…) um homem egocêntrico, que se gosta de ouvir mas que gosta pouco de ouvir os outros; um homem calculista, estratego sofisticado, que utiliza armas perigosas para se evidenciar e silenciar a oposição; um político autoritário, que não admite contestação, ardiloso na relação com a imprensa. Mas este seria um perfil demasiado simplista. Mesmo alguns dos seus detractores admitem que o seu pulso firme, a sua intransigência, o modo aguerrido e arrogante como defende as suas posições - os seus defeitos - decorrem também de uma obsessão executiva, em benefício do país. Os seus indefectíveis, por sua vez, vão ainda mais longe: nessa sua cruzada, José Sócrates soma ganhos políticos, mas queima a sua imagem pessoal, como cidadão.(…) Competência e lealdade, duas condições essenciais para valer a confiança de José Sócrates. Mas que só são uma mais-valia, se estiverem associadas. O primeiro-ministro dificilmente nomeia alguém apenas por ser qualificado: se a pessoa der sinais de que fala de mais, ou que pode contrariar a disciplina e a hierarquia impostas pelo Governo ou pelo partido, é um candidato proscrito. E, simultaneamente, também não basta ser fiel para lhe conquistar uma fatia do poder. Por uma razão simples: a fidelidade não implica, por si, bons resultados; e, como já se disse, José Sócrates é um homem de resultados, que construiu a sua imagem nesta ideia, um pouco por oposição a António Guterres.(…)»

Ricardo Dias Felner, Na cabeça de Sócrates, Público

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