quinta-feira, maio 31, 2007

Colecções de Cromos [2]

Imagem via: Web site da atleta Vanessa Fernandes

«Além de tudo, este senhor dá-me bastante confiança naquilo que poderá vir a fazer. Além de tudo, é um partido com que eu sempre simpatizei e tenho gostado das coisas que tem vindo a fazer.»

Vanessa Fernandes, 21 anos, Campeã mundial de triatlo, Mandatária para a Juventude da candidatura de Fernando Negrão para a CML, Oeiras, 31 Maio de 2007

PS. "Além de tudo", posso afiançar que Vanessa Fernandes conseguiu dizer isto tudo sem se rir.

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Colecções de Cromos [1]

«Vale a pena ler um "livrinho", publicado pela candidatura do dr. António Costa, que revela a lista dos nomes que integram a sua comissão de honra. (…) Uma pessoa começa a ler o tal "livrinho" e lá estão os mesmos nomes de sempre, os escritores consagrados, os jornalistas do costume, os empresários de sucesso, os advogados do poder, os artistas mais variados, o grão-mestre da Maçonaria, alguns políticos necessitados e o mais que vier à rede, numa lista que está, ao que parece, em actualização permanente. Se o resultado das sondagens se mantiver, é natural que, em Julho, o dr. António Costa possa publicar a sua comissão de honra, em fascículos, depois de ter reunido à sua volta todo o jet set do regime.
Como é óbvio, nenhum destes apoiantes conhece o programa do candidato que apoia. Por uma razão simples: o candidato ainda não tem programa. Em contrapartida, tem sérias hipóteses de vencer - o que facilita a adesão e faz subir o entusiasmo. Poder-se-ia dizer que, independentemente, do programa, a personalidade do candidato, só por si, oferecia as garantias necessárias. Infelizmente, a personalidade do dr. António Costa é um enigma. Ninguém sabe bem por que é que resolveu sair do Governo, onde se notabilizou pelo poder que conseguiu concentrar. Muito menos o que vai fazer para a Câmara de Lisboa, onde pretende ficar nos próximos seis anos. Porque tem um projecto para a cidade? Não se conhece. Porque se cansou de ser ministro? Não é provável. Porque pretende substituir o eng. Sócrates à frente do partido quando a oportunidade surgir? Não é suficiente.(...)»


Constança Cunha e Sá, O jet set do regime, Público, 31 Maio 2007

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Estudo para ida de governo à Assembleia da República

Uma grande harmonia de gravata amarela, com matizes de bocejo de diferente luminosidade, constitui o espaço do quadro, em que os objectos se diluem como num fluido. Sobre este fluido, à maneira de um baixo contínuo, vibram as notas contrapostas, com economia de fundo.

Adaptação de texto descritivo de Estudo para Inverno II, 1910-1911, Kandinski, p. 19, Grandes Pintores do Século XX, Globus, 1994

Foto

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Cinemax

Não queria deixar acabar o mês sem referir um programa sobre cinema que – pelo ajuste da hora – tenho ouvido com alguma frequência: “Cinemax” da Antena1. Como eles dizem: «O maior ecrã da Rádio portuguesa. As estreia... as rodagens... um outro olhar sobre os filmes.» Resumos, comentários, entrevistas, curiosidades, ante-visões e retrospectivas em 40 minutos semanais (mais coisa menos coisa)...

Para quem não conhece actores, não percebe nada de estilos de realização, não viu os grandes clássicos, não sabe avaliar a qualidade dos efeitos,... há programas interessantes que são muito úteis! E para os que sabem tudo isso... também! Pertencendo eu, claramente, ao primeiro grupo, gostei de, há umas semanas (2007-05-11), aquando de uma retrospectiva sobre Cannes, ter ouvido a referência a “Dancer in the Dark”... «Olha!... eu falei disto há uns dias lá no blog!» – pensei, sentindo-me logo toda importante, achando que tinha feito uma boa escolha! E, de mãos no volante e olhos na estrada, fixei atentamente os ouvidos na telefonia... «Deixa cá ver se eu disse muita asneira...» ... Parece que não! Dentro do pouco que eu conhecia, que não englobava, obviamente, informações sobre a carreira e estilo do realizador, até acho que não foi uma má descrição. E sabem que mais?... Até a música eles passaram! inteirinha! «Eh pá, até parece que eu percebo disto!!!» E, chegada a casa, ainda com a música na cabeça, quase que não passava na porta... tal era o tamanho do meu ego!... Mas, descansem, que isso passou-me rápido! :)


Na Antena1, na madrugada de 5a para 6a depois das notícias da meia-noite, com repetição ao Sábado às 5h e às 13h.

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Entre o crepúsculo e a alvorada

Diz Wolfgang Becker que Good Bye Lenin! não é um filme sobre a Ostalgie - mais uma das palavras difíceis de traduzir e em que nenhuma outra língua me soa tão bem como em alemão - a nostalgia dos tempos da Ex-RDA e que surge do casamento entre as palavras Ost e Nostalgie.
Sobre o que é então Good Bye Lenin!? Sobre o amor, o desmoronar de um sistema, uma cidade em mudança, sobre o fim do comunismo, sobre o assalto impiedoso do capitalismo? Certamente sobre tudo isto. Good bye Lenin! é também um filme sobre a mudança que se opera na esfera pública e privada e sobre a mudança que se repercutiu na Europa e no mundo desde 1989.
Da sinopse sabe-se que a Christiane Kerner, mãe de Alex, entra em coma depois de ter sofrido um ataque cardíaco quando se preparava para participar no 40º aniversário da RDA. Oito meses depois regressa da ausência a que a obrigou o estado de vacuidade temporário. Durante esses oito meses, a RDA deixou de existir, um golpe duro para quem vestia com convicção a camisola do seu país. Alex, filho extremoso, tenta a todo o custo manter viva a RDA dentro dos 79m² a que estava confinada a mãe, com o intuito de lhe prolongar a vida e evitar o desgosto, demasiado penoso para o seu coração debilitado, de ver o seu país adquirir todas as cores da paleta capitalista com cadeias de fast food a crescer como cogumelos, a água suja do capitalismo a correr como um rio e as marcas ocidentais repentinamente omnipresentes em Berlim, provavelmente a mais emblemática cidade do século XX.
Os episódios oscilam entre a comicidade e a tragédia da angústia de um filho para salvar a sua mãe, pervertendo e invertendo o fluxo da mudança nos simbólicos 79m² do seu apartamento de Berlim – tanto haveria a dizer sobre Édipo entretanto – e mesmo Wolfgang Becker refutando que este não é um filme sobre a Ostalgie, a verdade é que todos os objectos característicos da RDA e que se transformariam em culto e negócio anos após a sua dissolução estão presentes: os pepinos de conserva do Spreewald, o café Mocca Fix, o Sandmännchen, os Trabant, por exemplo.
Salientar o desempenho de apenas um actor seria injusto. No filme tudo parece perfeito e cada uma das personagens, desempenhando não só o seu papel mas também contendo a carga simbólica intimamente ligada ao tempo histórico, deambula com excelência num percurso volátil e volúvel na senda do seu lugar num mundo tão excitante quanto incerto ao som da música de Yann Tiersen, enquanto Lenine sobrevoa o céu de Berlim para desaparecer no crepúsculo que se anuncia na cidade, na vida de Christiane e na própria RDA.

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Porque é que Toy Story permanece na minha vida

1 - Esta história de traçar objectivos no início da semana tem muito que se lhe diga. Então vai daí toca de exercitar o físico com umas voltas de bicicleta. Então vai daí estou com uma certa dificuldade em me sentar. Não! Eu não quero trocar de exercício. Gosto imenso de andar de bicicleta. Mas ao que parece, também o traseiro é um ser de hábitos.
2 - Pink Martini, Hey Eugene, é dos cd's mais incoerentes dos últimos anos. A incoerência é ao nível da influência em todos os sentidos e mais alguns: há por ali vestígios de: música de baile, pop, cabaret, vaudeville, Edit Piaf, Marianne Faithfull, a Exma Sra Dona Marlene Dietrich, enfim, uma festa.
3 - Já encontrei um substituto para Machado de Assis: Mrs Dalloway, de Virginia Wolf.
4 - A chuvinha que tão bem faz aos nossos campos, começa a chatear, ligeiramente.
5 - De como se nasce com ouvido para a música:
Criança de oito anos - Nancy, isso que estás a ouvir é música de cowboys.
Nancy espantada - sim, é uma senhora que canta música country, Gillian Welsh, pode dizer-se que é música de cowboys. Mas como é que tu sabes que isto é música de cowboys.
Criança de oito anos - O Woody, Nancy, do Toy Story é cowboy.
Nancy engolindo em seco - pois é!

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quarta-feira, maio 30, 2007

Reputação arruinada

O episódio remonta já ao ano lectivo anterior. Depois de em conjunto ter visto com os meus alunos Supersize Me a propósito dos hábitos alimentares e no âmbito do programa, foi-lhes solicitado, entre várias outras coisas, que seleccionassem uma cena que tivessem gostado e outra que não tivessem gostado e, claro, a devida justificação para promover o debate. A selecção não foi muito variada, quase todos referiram como a pior cena aquela em que Morgan Spurlock regurgita o menu Big Mac, depois de uma sucessão de MacSons pouco edificantes, acredito que o próprio Morgan saberia disso, se não ter-nos-ia poupado à visualização do regurgitanço propriamente dito. Duas alunas em situações diferentes elegeram uma outra cena. Não estavam propriamente pacificadas com o que ouviram e viram e afirmaram convictamente que a cena que menos tinham gostado tinha sido aquela em que Alex, a namorada de Morgan Spurlock, refere que na sequência da MacDieta o seu desempenho sexual tinha sofrido um decréscimo qualitativo. Coitado do rapaz, afirmou uma, dizer uma coisa daquelas em frente de toda a gente… e por mais que se tentasse esclarecer que o objectivo de Alex seria mais o de alertar para os efeitos secundários de uma dieta desequilibrada e perigosa do que desvelar a sua vida sexual com o coitadito do Morgan, àquela hora completamente desprovido do seu orgulho viril, nada as fez demover. Remataram Ela não tinha nada que contar aquilo, coitado! Há coisas que não se devem dizer, muito menos em frente de toda a gente.

imagem daqui

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ganhámos ou não?...

- Não acho bem que distribuam folhetos destes na fábrica, enquanto duram as negociações!
- Aí vem o Alves... Sempre quero ver o que ele conseguiu...

- Colegas, chegámos a um acordo!
- Que espécie de acordo? Ganhámos?

- Apresentámos os nossos cálculos ao patrão e demonstramos-lhe que com a redução dos nossos 800 salários ele ia meter ao bolso 2000 notas por ano. Tínhamos de impedí-lo custasse o que custasse. E conseguímo-lo! Após uma batalha de 4h!
- Ganhámos ou não?

- Colegas, a lixeira à entrada da fábrica representa um perigo constante!
- Ganhámos ou não?...

Sempre que se rompe o casaco do pobre
Aparecem uns doutores que descobrem
Que assim não pode ser
Há que achar remédio
Seja lá como for

Vão então negociar com os senhores
Enquanto cá fora os trabalhadores
Ao frio esperam que eles voltem triunfantes com
Um belo remendo

Remendo sim pois bem mas onde é que ficou
O casaco todo?
[...]

José Mário Branco, "Remendos e Côdeas" (1978)
o diálogo inicial antecede a música no álbum "A Mãe" (associado à peça do teatro da Comuna)


Esta foi uma das músicas ouvidas no espectáculo do mês passado na Casa da Música - espectáculo que eu até louvei pela actualidade da mensagem. Mas ainda não me consegui decidir da actualidade desta música... Parece-me, simultaneamente, adequada, um passo atrás e um passo à frente!... Vejamos... É certo que as condições de trabalho já não são o que eram há uns anos e, portanto, a necessidade dessa luta não é tão forte. Por outro lado, para nos queixarmos do pouco que trazem as negociações, é preciso que elas tragam alguma coisa e, antes de mais, é preciso que, efectivamente, elas existam! Quanto aos trabalhadores que esperam cá fora ao frio... saberiam eles o que se queria ganhar?... Hoje continuam sem saber, e, além disso, não têm o empenho que tinham nas lutas da altura, porém também acho que não lhes cobram tanto: se na altura se limitavam em querer saber se tinham ganho, hoje acho que nem isso...

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Comunicado

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Há dias assim

E porque por trás das estórias, conversas, relatos, desabafos, críticas, sons, observações e palavras que aqui deixamos, estão rostos e pessoas que lhes dão corpo, hoje é dia não de apenas contar, relatar, criticar, observar, ouvir ou escrever.
Hoje é dia de felicitarmos o Carlos pelo seu aniversário.
Parabéns Carlos!

imagem composta a partir daqui

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A lei do desejo, Pedro Almodóvar

"A Lei do Desejo" de Pedro Almodóvar é um dos filmes que eu já revi algumas vezes. Há meia dúzia com os quais acontece isso. "A Lei do Desejo" é um desses.
A primeira vez que vi este filme fiquei chocada, um choque eléctrico.
A homossexualidade, até ali, era espelho de sentimento passageiro, frivolidade, relações pouco duradouras, vivências adolescentes. Funcionavam um pouco como um circo, cheias de cor e alegria, espalhando jovialidade à sua volta, mas, no máximo, durando a estadia da tenda na cidade.
Quando vi a referida obra de Almodóvar foi como se deixasse de ver apenas as sombras na caverna.
Afinal, as relações homossexuais, são como as heterossexuais: fartas de ansiedade, dor, infelicidade, felicidade, jovialidade, tristeza, alegria, depressão, vida, morte.
Afinal, as pessoas que amam pessoas do mesmo sexo vivem os mesmos sentimentos que as outras.
Afinal, o ser humano, sejam quais forem as suas opções sexuais, sente o mesmo perante o amor, vestido de paixão.
Afinal, não há nenhuma diferença emocional, entre os seres humanos, sejam eles homossexuais ou heterossexuais.
Afinal, uma rapariga da província também precisa, de vez em quando, de ser abanada nas suas crenças.
Almodóvar escancarou-me as portas para esta realidade e contribuiu definitivamente para a certeza desta ideia:
afinal, um homossexual é um heterossexual com mais sentido de humor.


Piensa en Mi, é uma melodia Almodovariana de excelência, pertence à banda sonora de "Tacanos Lejanos".

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terça-feira, maio 29, 2007

«Leaving Las Vegas»

É um retrato dostoievskiano de Las Vegas e de duas vidas. O contraste entre a ofuscante miríade de neons que saturam as ruas e o desejo de duas almas perdidas, mas dispostas a atingir os seus objectivos. Uma ambiciona beber até morrer. Outra viver a vida de prostituta. Quando se cruzam, prometem não julgar nem interferir com as escolhas de cada uma. Gozam um pouco da vida para desforrar o que pensam que a vida gozou com elas. No final, ambas conseguem alcançar os seus objectivos.
Um filme sombrio, melancólico e nocturno na incandescente, faustosa e nocturna Las Vegas, de Mike Figgis, com excelentes interpretações de Nicholas Cage e de Elisabeth Shue.

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Desplaneamento familiar

Foto: Frank Uyttenhove

A DECO solicitou a um grupo de jovens entre os 15 e os 20 anos para procurarem uma consulta de planeamento familiar em 85 estabelecimentos de saúde pública. Apesar da Lei n.º 120/99 determinar que mesmo que os jovens se dirijam a estabelecimentos de saúde fora da sua área de residência estas instituições deverem em qualquer caso garantir os serviços de planeamento familiar, a verdade é que 49 das utentes nem sequer conseguiram passar da recepção; e das 36 felizardas que foram recebidas, 14 não tiveram direito a métodos contraceptivos porque os estabelecimentos não os tinham para fornecer.

O coordenador nacional para a Infecção VIH/Sida, Henrique Barros, ficou naturalmente perturbado com os resultados deste estudo divulgado pela DECO. Mas como sou optimista por natureza, presumo que qualquer jovem utente que no futuro possa vir a ter alguma dificuldade similar na obtenção de uma consulta de planeamento familiar poderá sempre ser devidamente compensada com uma facilidade especial no acesso a um estabelecimento hospitalar para solicitar uma interrupção voluntária da gravidez.

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Debilidades semânticas

Os meus alunos são alunos como os demais, e como os demais, suponho, têm uma falta de vocabulário pungente. Coloquial, corrosivo, pudor, pudico ou magnânimo são entradas a que tive de dar significado no seu dicionário. Se deixados ao acaso escreverão livremente em linguagem sms. A questão é a de sempre: a que se deve esta ausência de pressupostos outrora tidos como garantidos? Não sendo nem mais nem menos capazes do que os alunos de outrora, algo se terá passado ao longo do caminho que terá determinado esta lacuna lexical e semântica, transversal a todas as disciplinas e, de resto, uma ferramenta fundamental de orientação, relação e contacto com o mundo exterior.
Partindo do princípio de que a escrita e a leitura andam definitivamente de mãos dadas, não posso deixar de constatar o que já tivera antes como certo, que o Ministério também terá as suas culpas no cartório ao permitir que nas provas de aferição os erros de ortografia não sejam penalizados. É certo que de acordo com os objectivos assim os critérios de correcção, não é novidade, qualquer professor saberá disso, mas, exactamente pela mesma razão, urge a penalização dos mesmos em gradação diversa à de uma tarefa de desenvolvimento das competências de escrita. E se na compreensão poderão escrever como lhes aprouver, como exigir que na produção escrevam com correcção e rigor? A escolha múltipla não deverá ser usada como fond de teint miraculoso para ocultar os sinais da incapacidade. Certamente os resultados serão menos desastrosos, a taxa de insucesso menos dramática e o Ministério poderá então alardear os números de que tanto gosta. Quantidade e qualidade são duas entradas no dicionário do Ministério de Educação que conviria clarificar, ao que parece as debilidades semânticas não se ficam pelos alunos.

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Uma Verdade Inconveniente

A AeP (Agência de Energia do Porto) associou-se à nossa festa e montou nos Aliados umas cadeiras e um ecrã gigante para exibição de um filme. O contemplado é "Uma Verdade Inconveniente" e está, então, em exibição contínua hoje das 9h às 24h na Avenida dos Aliados (Porto). Admitindo a remota hipótese de o pretexto não ser uma mera demonstração de apoio à festa aqui da casa! resta dizer que esta iniciativa surge no âmbito das comemorações do Dia Nacional da Energia, que se assinala hoje.

Quanto ao filme, vi no cinema. É um documentário que nos mostra sobretudo o conteúdo das conferências de Al Gore um pouco por todo o mundo. O aquecimento global... Uma inconveniência – sem dúvida! Quanto à verdade... pessoalmente, acredito que está lá. Dir-me-ão alguns que mostra uma visão exageradamente catastrófica, que veicula uma reacção marcadamente política, que "a" verdade não está lá toda, que há aspectos "esquecidos"... convenientemente... Não digo que não, mas a importância do que lá está suplanta o que lá falta!

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Acerca do ser e do parecer

Recebi um dia destes um email de um amigo que gentilmente me enviou parte de uma crónica de António Barreto, parece que foi publicada n'o Público.
Nessa crónica AB traça um retrato negro do nosso "primeiro" actual.
Depois de ler o artigo fiquei com a vaga sensação que o perfil que serviu de base à construção daquele "primeiro" de AB é um perfil maquiavélico.
Terá AB lido recentemente "Maquiavel"?
O nosso "primeiro" é manipulador, obsessivo, teimoso, controlador, etc.
No final existe uma espécie de conclusão apocalíptica da argumentação:
falta de dedicação, de todos nós, à liberdade.
Ainda bem que AB desconhece o mundo paralelo da blogosfera, é que assim temos razões de sobra para escrever e para considerar a sua argumentação digna do mais luxuoso estrume*.

* - o caríssimo leitor deverá ter em conta que este adjectivo não pretende adjectivar nem AB, nem o nosso "primeiro", com este recurso gramatical forte, apenas pretendo sugerir que o estrume é um adubo biológico, portanto natural; daí que faça todo o sentido utilizá-lo como metáfora; assim fico de consciência tranquila, afinal também contribuí, um tanto ou quanto libertariamente, para fomentar o aparecimento de novas teorias.

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Perfumes

- Seu filho está doido – disse ela, de noite na varanda, sem saber que eu estava escutando.
- Ele não larga os livros. Hoje ele estava os livros daquela estante que vai cair para cheirar.
- Que é que tem isso? É normal, eu também cheiro muito os livros daquela estante. São livros velhos, alguns têm um cheiro óptimo.

João Ubaldo Ribeiro, Um Brasileiro em Berlim, Editora Nova Fronteira


É normal, claro, que é normal. Apanho-me sozinha, numa livraria ou em casa e o cheirinho dos livros é como perfume para alma. Pelo cheiro se identificam: se são novos, ou mais vetustos, se acabaram de sair da gráfica ou estão encafuados num local recôndito, se foram à praia, assim cheirarão também, se estiveram ao sol, assim libertarão o odor das páginas secas. Os livros não são apenas letras, os livros são também cheiros e os cheiros são a memória de quem somos.

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segunda-feira, maio 28, 2007

Agenda: The Police

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Descubra a diferença

Há uma diferença entre um telejornal português do canal público e o de Espanha. Não há um sub-secretário de Estado a falar para os industriais de um qualquer ramo, não há reportagens sobre o corte de fita de uma ponte, não há directos marcados para as oito para desalinhar o alinhamento inicial do noticiário. As notícias duram dois minutos, e são dadas sempre na óptica do acontecimento.
Dois exemplos: este fim de semana, realizaram-se as eleições regionais em Espanha. Na sexta-feira, durou cerca de três/quatro minutos o «fecho de campanha» no telediário da televisão pública espanhola. E é bom não esquecer que a Espanha, além dos municípios, tem as regiões. Em Portugal, nunca em menos de meia hora se faz um fecho de campanha num telejornal: directos em todas as capelinhas, com todos os partidos, coligações, independentes, previsões sobre o fecho da campanha, ver se os pavilhões onde os mesmos se realizam já estão cheios, enfim, um sem número de minudências que acabam por desviar do espectador do essencial para se centrar no acessório.
Um outro exemplo: durante este fim de semana, morreu um soldado espanhol no Afeganistão vítima de acidente rodoviário. Em dois minutos, disseram o que se tinha passado, uma breve biografia do sinistrado e passou-se a outra notícia. Em momento algum apareceu um político a dizer, como em Portugal é hábito, que o País tudo fará para trasladar os restos mortais com a dignidade que merece alguém que arriscou a vida pela Pátria (como se se estivesse a fazer um favor ao malogrado por trasladar «com dignidade»).
Como dizia no início, há uma diferença entre um telejornal português e um espanhol. Parece mínima e, em meu entender, é abissal: no de Espanha, o Poder não entra.
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Let freedom ring

Cannes viu também o mais recente documentário de Michael Moore, Sicko, sobre o sistema de saúde americano e que foi recebido entusiasticamente. Entretanto Michael Moore está a ser investigado pelo Departamento do Tesouro Americano por alegadamente ter viajado para Cuba e violado o embargo. Nada que não tivesse acontecido antes a Ry Cooder e Oliver Stone. Michael Moore pôs o documentário a salvo na Europa, não fosse algo suceder. Quase todos os países são livres mas uns são mais livres do que outros.

Imagem daqui

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E a Palma de Ouro

...do Festival de Cannes foi para o filme romeno 4 meses, 3 semanas e 2 dias.

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Uma semana diferente

1 - Esta minha semana vai ser ligeiramente diferente.
Vou começar uma actividade qualquer, é ponto assente, quando falo em actividade qualquer, quero dizer uma actividade desportiva. Não! Não é para agradar a troianos é porque me sinto cansada fisicamente e nada melhor que o cansaço psicológico para espevitar o físico.
Caríssimo leitor, a frase anterior denota alguma incapacidade intelectual para a coerência.
Contudo, a frase anterior quer apenas significar que o meu pensamento, por vezes, dá nós dificeis de descortinar, até para mim.
Não vou explicar o porquê.
Uma pessoa também precisa de cultivar uma certa áurea de mistério, é chique!
2 - Outro aspecto marcante da semana é eu hoje de manhã ter descoberto que quando se apagam ficheiros de música da directoria «iTunes Music» os mesmos desaparecem, como por magia, do iPop. Quer dizer que as 1293 músicas passaram a 112, o que é uma resposta intransigente e parcial a uma das dúvidas existenciais que troco, amiúde, com o aparelhinho branco.
3 - Aspecto intelectual da semana: acabei de ler um livro genial: As Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, necessito urgentemente de outro. O romancista brasileiro elaborou um dos narradores mais canónicos da literatura Universal. Segui uma recomendação do FJV, no dia Mundial do Livro, não sei se ouviram ao longo do dia as suas pequenas crónicas. Só ouvi três crónicas: Madame Bovary, Brás Cubas e Moby Dick, mas penso que houve mais. Estarão disponíveis em poadcast? Tenho de investigar.
4 - "Começo a arrepender-me deste livro. Não que ele me canse; eu não tenho que fazer; e, realmente, expedir alguns magros capítulos para esse mundo sempre é tarefa que distrai um pouco da eternidade*. Mas o livro é enfadonho, cheira a sepulcro, traz certa contração cadavérica; vício grave, e aliás ínfimo, porque o maior defeito deste livro és tu, leitor. Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda devagar; tu amas a narração direita e nutrida, o estilo regular e fluente, e este livro e o meu estilo são como os ébrios, guinam à direita e à esquerda, andam e param, resmungam, urram, gargalham, ameaçam o céu, escorregam e caem...", p.172
* - o narrador está morto, o que se sabe logo no primeiro capítulo:
"Algum tempo hesitei se devia abrir estas memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.", p. 19
5- Ao invés do presente livro poder parecer, principalmente com este
começo, mórbido, é dos livros mais hilariantes que eu li nos últimos anos.
A minha edição:
ASSIS, Machado de, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Lisboa, Livros Cotovia,
Col. Curso Breve de Literatura Brasileira, 2005, p. 336
6 - Quanto aos outros "piriquitis" da semana? Bem, trabalho, sorrisos, cansaço e projectos.
Uma boa semana para todos!

Foto de Machado de Assis
(1839-1908)

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O Estranho Mundo de Jack

"O Estranho Mundo de Jack" ou, originalmente, "The Nightmare Before Christmas" – alguém me explica quem adapta os títulos dos filmes?! – é uma animação de Tim Burton dos Estúdios Disney! Não vi no cinema; não conhecia; vi há dois ou três anos em DVD em casa de uns amigos. Muito bom!

«Apesar de ser uma animação da Disney, é um filme de Tim Burton!» – dizem-me como que alertando para uma potencial incongruência. E, numa animação manual em stop-motion, monstros, vermes e esqueletos ganham vida em cenários simultaneamente dantescos e divertidos. É uma espécie de humor negro... para crianças.

Jack, o tal do "Estranho Mundo", é o protagonista desta história que gira em torno de dois mundos paralelos que Jack acaba por cruzar: o Natal e o Halloween. A Cidade do Halloween é o reino de Jack, que vive cada ano em contagem decrescente para os festejos do seu dia. Acidentalmente (?), o esquelético Jack fica a conhecer a Cidade do Natal, comandada por aquele gorducho das barbas brancas, que vive também cada ano como preparação do seu dia festivo. Ora, Jack, desconhecedor de qualquer das tradições natalícias, observa tudo aquilo, tentando compreender tão estranhos comportamentos e acaba por mobilizar a sua cidade naquele ano a adaptar os seus festejos. "The Nightmare Before Christmas" relata, então, as comemorações do Natal pelos habitantes da Cidade do Halloween. Não digam que não ficaram curiosos!...

É um musical e, mais uma vez (como em todos os filmes que trouxe a esta festa), a música tem uma importância incontestável e um enquadramento enriquecedor. As músicas simultaneamente reflectem e criam o ambiente das cenas, sintetizam e fazem avançar a história – o que mais se pode querer de uma banda sonora [ouvir excertos (daqui)]?... Danny Elfman – mais um dos meus ilustres (e indesculpavelmente!) desconhecidos – tem aqui – explicam-me! – uma das suas mais frutíferas colaborações com Tim Burton.

Um filme de Natal... hilariantemente alternativo!
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domingo, maio 27, 2007

Taça de Portugal 2006/2007

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como é possível???!!!...

Enquanto na RTP1 vão desfilando entrevistados na Festa do Futebol, na RTP2 está uma criança caída no Pavilhão de S. João da Madeira... Joga-se a final da Taça de Portugal... de Hóquei em Patins entre o Cambra e o Braga. A pouco mais de 3 min. do final da partida, uma criança caíu do varandim das bancadas para o interior do campo. Qualquer coisa como 2m de altura. O jogo parou de imediato e ambas as equipas médicas acudiram prontamente. Não parecia grave, pedia-se apenas uma maca para transportar a criança. A maca demorou 7 min. a entrar em campo! 7 min.!!! Como é possível???!!!... 15 min. depois a criança sai em maca transportada pelos bombeiros sob uma chuva de aplausos do pavilhão. Parece maior a precaução que a gravidade... Assim seja! Mas... 7 min. para entrar uma maca em campo???!!!

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Esperando os bárbaros









Mas que esperamos nós aqui n'Ágora reunidos?


É que os bárbaros hoje vão chegar!


Mas porque reina no Senado tanta apatia?

Porque deixaram de fazer leis os nossos senadores?


É que os bárbaros hoje vão chegar.

Que leis hão­‑de fazer os senadores?

Os bárbaros que vêm, que as façam eles.


Mas porque tão cedo se ergueu hoje o nosso imperador,

E se sentou na magna porta da cidade à espera,

Oficial, no trono, co'a coroa na cabeça?


É que os bárbaros hoje vão chegar.

O nosso imperador espera receber

O chefe. E certamente preparou

Um pergaminho para lhe dar, onde

Inscreveu vários títulos e nomes.


Porque é que os nossos dois bons cônsules e os dois pretores

trouxeram
hoje à rua as togas vermelhas bordadas?
E porque passeiam com pulseiras ricas de ametistas,

e
porque trazem os anéis de esmeraldas refulgentes,
por
que razão empunham hoje bastões preciosos
com
tão finos ornatos de ouro e prata cravejados?

É que os bárbaros hoje vão chegar.

E tais coisas os deixam deslumbrados.


Porque é que os grandes oradores como é seu costume

Não vêm soltar os seus discursos, mostrar o seu verbo?


É que os bárbaros hoje vão chegar

E aborrecem arengas, belas frases.


Porque de súbito se instala tal inquietude

Tal comoção (Mas como os rostos ficaram tão graves)

E num repente se esvaziam as ruas, as praças,

E toda a gente volta a casa pensativa?


Caiu a noite, os bárbaros não vêm.

E chegaram pessoas da fronteira

E disseram que bárbaros não há.


Agora que será de nós sem esses bárbaros?

Essa gente talvez fosse uma solução.


Konstantinos Kavafis
(1863-1933)

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iPop

Prestes a rodar no iPop:

Pink Martini - Hey Eugene
Dirty Three - Horse Stories
Gorky's Zygotic Mynci - Spanish Dance Troup
Karen Dalton -In my own time
Marianne Faithfull - Blazing Away
Tricky - Maxinquaye
Be your own pet - Be your own pet

Quem permanecerá?
Quem será apagado?
Eis as questões!

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sábado, maio 26, 2007

o trio maravilha

Eu tenho uma dificuldade tremenda em reconhecer pessoas e nomes e no cinema isso nota-se por demais!... Quem me conhece sabe desta minha... dislexia, e, assim como eles já se habituaram à minha ignorância, também eu já me habituei ao gozo que me dão. No entanto, nos últimos tempos, tenho iniciado uma espécie de terapia e vou-me esforçando por fixar algumas caras famosas, associando a alguns filmes essenciais. Actores, claro está, porque realizadores e afins é um nível muito mais avançado! E maioritariamente homens, porque estava a afectar a minha feminilidade social! Entre essas caras está... o trio maravilha!

Três meninos bonitos do cinema, louros e de olhos azuis – como deve querer toda a rapariga que se preze... Pois bem, só há pouquíssimo tempo me senti capaz de os distinguir. Primeiro, Matt Damon – o Bom Rebelde que vi (e gostei muito!) na televisão. Depois, DiCaprio – a carinha laroca do "Titanic", que só vi passado uns anos na televisão! E por último – a minha maior falha como fêmea nesta sociedade! – Brad Pitt. Não sei se estão bem a perceber o gozo que eu levava por não saber quem era Brad Pitt! Mas aí tentavam explicar-me... "Seven" – não vi! "Sete Anos no Tibete" – (está a dar agora na RTP1) não vi! "Doze Macacos" – não vi! "Thelma e Louise" – não vi! Apenas "A Entrevista com o Vampiro" – filme que até guardo na memória, mas já não me lembro da cara dos actores... Não vi, não vi, não vi, não lembro! Como querem que eu saiba quem ele é?!!! Tudo se começou a resolver há dois anos com os "Ocean's" – também na televisão... Então, para mim, Brad Pitt é o louro de olhos azuis dos "Ocean's" que não é o Matt Damon! Está a chegar aí outro "Ocean's"... Vamos a ver se eu ainda não esqueci...

imagens adaptadas (1) (2) (3)

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As verdades do marketing

N, director de marketing, tem conhecimento que a revista X, está prestes a publicar um dos seus importantíssimos artigos anuais:
as 20 melhores empresas para se trabalhar em Portugal.
N, um homem que defende a máxima: o que é verdade hoje, não é verdade amanhã, resolve fazer uma busca na Internet e chega à conclusão que é aconselhável um perfil um nadinha idêntico à empresa Y, top 20, do ramo, na Conchichina. Nada de copy/paste da tal empresa Y, da Conchichina, afinal o perfil da sua empresa é um perfil revolucionário.
Para já, a sua empresa, de lucros nada exorbitantes - diria até mesmo, pouquíssimos perante a escala mundial do ramo - tem a virtude de não explorar os seus colaboradores - trabalhadores ou funcionários são termos fora de moda - pois dá-lhes a possibilidade de gozarem, por ano, 28 dias de férias - bem, quando falamos em 28 dias de férias, são 28 dias úteis, não seja cínico, Caríssimo Leitor - e para além dos 28 dias de férias - úteis, não esqueça - possibilita-lhes uma vida de família normal, bem como a possibilidade do fortificante "imersão de trabalho em família", ou ainda o extravagante subsídio de incentivo à Natalidade de indivíduos nada individualizados, ou até a obrigação de desinibições individuais no ambiente de trabalho: 5 minutos de "esbofeteamento", ou a inevitável obrigação - esta arrumará com os concorrentes - de todos os colaboradores praticarem Ioga.
Depois das ideias individualizadas passou a pasta ao embeiçador da coisa, o individualista mor: E, webdesigner, e toca de enviar a Newsletter para a revista X.
O título era deveras eclesiástico: X, a empresa que abre as portas ao descanso.
N sentiu-se um homem feliz, e pelas 21h30, partiu, de consciência limpa, para mais um fim-de-semana em indivíduo.
Terça-feira de manhã, acordou bem-disposto, disse a si mesmo: hoje, apesar de tudo, vou ser feliz! e, depois dos individualismos resolvidos, sai de casa com a sensação que o mundo é um lugar compensador.
E, em cima da mesa de escritório, lá está ela, a revista X, e um título tão inesperado: as 20 melhores empresas para se trabalhar em Portugal.
Sim, a sua empresa, era uma das individualizadas e o engenho era todo seu.
TOC, TOC, TOC
- Entre - disse um tanto enfadado.
B entrou, sentou-se e exclamou:
- Escuta lá, onde é que estavas com a cabeça? Tu sabes quantos emails já recebi hoje?
A directora de Recursos Humanos, hoje, particularmente, parecia-lhe uma indivídua ligeiramente individualizada.
- Que queres dizer com isso?
- Para a próxima, quando nos colocares em rankings, avisa, p'ra eu tirar férias. Sabes quantos indivíduos perguntaram se já tinha aprendido a última posição de Ioga? E quantos perguntaram se podiam tirar férias o resto do ano? E imaginas quantas se tinham direito ao subsídio da Natalidade em caso de trigémeos?
Mas, naquele dia, nada o faria perder as estribeiras, naquele dia o mundo era um indivíduo perfeito.
- querida, fecha o email e diz à Margarida que durante esta semana vais estar em formação, vais ver que toda a gente se acalma. E agora desculpa, mas tenho uma reunião importante com o Lucas, parece qu'o homem precisa de um produtor para uma nova trilogia: o Indivíduo das Estrelas.

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sexta-feira, maio 25, 2007

Dona Melancia consultando Tarot

DAMA DE COPAS entediada - Meu bem, você parece evidenciar fadiga diante de rotina, o que pode levá-la a...

QUATRO DE OUROS presente - Ah… mas existem fortes probabilidades de presentes inesperados, recompensas financeiras e bons negócios…

DONA MELANCIA desinteressada – M’explique essa história de bons negócios com mais pormenor, benzinho.

SEIS DE ESPADAS declarativo – ‘Cê tem tendência a evitar crise espiritual, meu pedaço.

QUATRO DE OUROS oferecendo - Não se prenda ao conservadorismo, bem.

DONA MELANCIA levemente indisposta – Ei, ‘cê aí, 'tou falando! Como é qu’é memo essa história de negócio?

DAMA DE COPAS enjoada – Você sabe eu ando provando esquentamento…

SEIS DE ESPADAS explicativo - Não! Não se prenda ao conservadorismo, pois sua vida, bem, aponta para incremento e reiteração.

QUATRO DE OUROS meio ausente - …até estrelinha sorri diante de você...

DONA MELANCIA desconversando – Benzinho, ‘cê escusa d’esnobar, ‘cê não passa de quina adiada!

SEIS DE ESPADAS assertivo – É! e madurando acontecimento...

DAMA DE COPAS irresoluta - E se um acontecimento?

QUATRO DE OUROS inquisitivo - O quê, meu bem? um reconhecimento? um testamento?

DONA MELANCIA partindo p’ra outra – Esses cara, tão numa de faz de conta, tem carta esquisitinha por aí, xi.

DAMA DE COPAS zombeteira - Oh, quem sabe, diploma lhe abrindo algumas portas.

QUATRO DE OUROS candidamente - Sua perseverança sempre botou você p'rá frente.

SEIS DE ESPADAS assertivo – Ah e suas peças? sempre a favor.

DAMA DE COPAS em banho magia – Ah, parem, possível iminência de problema tipo!

SEIS DE ESPADAS categórico - Ou até aborrecimento e desgaste sensacional.

QUATRO DE OUROS ironizando – Mas, benzinho, descuide da saúde e subestime suas descomplicações.

DAMA DE COPAS entediada - Você sabe como poderá ser grave, sua vida poderá congestionar.

DONA MELANCIAEi gente, tenho pena de cortar seus barato, mas 'tou no indo! Assim não tem jeito não! essas carta ´tão numa de molequear gente.

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Mil e tal razões para se gostar de Cinema

A primeira impressão é importante. A maioria das vezes é mesmo determinante. Se não gostamos de alguém no primeiro contacto que estabelecemos, dificilmente alteramos a nossa opinião. Mas como em [quase] tudo: não há regra sem excepção.

Até ter protagonizado o Titanic em 1977 – filme que detestei –, já o tinha visto em algumas “películas”, mas nada que me convencesse. Depois de Titanic comecei a evitar visionar todo e qualquer filme em que ele participasse. Em 2002, após muita insistência de um amigo, acabei por ir ver o Gangs of New York – e comecei a achar que afinal também não era assim tão mau como eu o pintava. O The Aviator e o The Departed provaram que o rapaz até tem algum jeito para a coisa. Em Blood Diamond… convenceu-me completamente: o filme é extraordinário e a interpretação de Leonardo Wilhelm DiCaprio, soberba.

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quinta-feira, maio 24, 2007

The bright side of life

Look, you've got it all wrong! You don't NEED to follow ME, You don't NEED to follow ANYBODY! You've got to think for your selves! You're ALL individuals!

Brian in The Life of Brian

E, todos os anos, a época anunciava-se. No tempo dos dois canais de televisão, Internet inexistente, não havia como fugir do peso que se nos instalava na alma sempre que, findo há um tempo o Carnaval, a Páscoa se anunciava deprimente. Música soturna e filmes que se repetiam até à exaustão: a vida de Cristo, a vida e a paixão de Cristo, a vida, a paixão e a ressurreição de Cristo. O Estado é laico, já o era então, mas os canais de televisão não se reconheciam como tal talvez e, caso o fizessem, impunha-se a contenção da época, eventualmente o gosto e fervor dos espectadores por estas coisas da fé. Muito embora se apregoe que quando não se gosta de algo, pode sempre fechar-se os olhos, desligar a televisão, o rádio, ou virar-se as costas, tal nunca surgiu como opção nesses tempos remotos dos dois canais e de uma idade de pouca autonomia e diversidade à escolha.
O meu filme da Páscoa chegou uns anos mais tarde, não sei exactamente quando, nem interessa para a história, sei que veio para ficar e Páscoa que se quer Páscoa por estes lados é certamente celebrada com A Vida de Brian. Lado a lado com o pão-de-ló e o queijo da serra – há hábitos que não se perdem nunca – ouve-se always look on the bright side of life. Pode até ser blasfemo, censurado pelos mais fervorosos cristãos com ou sem sentido de humor, porém poucos filmes me divertem tanto como a Vida do pobre Brian, na Páscoa ou fora dela. Tomado pelo Messias desde o dia em que nasceu, o mesmo do Messias e no estábulo imediatamente ao lado, Brian vai experimentando as agruras de viver com a aura do Salvador numa sátira hilariante do implacável e corrosivo humor inglês à boa maneira Monthy Python. Estar no sítio errado à hora errada nunca foi tão verdade, pobre Brian, contudo, há sempre que olhar para o lado mais sorridente da vida e, com este filme, não há como não fazê-lo.


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E o Oscar….

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Desertos

E o Sahara aqui tão perto.

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o que fazer...

... quando ao nosso lado na mesa de almoço um grupo desconhecido comenta alegremente o filme que vamos ver logo à noite?...

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A inveja

A leitura do artigo da Carla Hilário Quevedo, "A punição à distância" é extremamente interessante em muitos aspectos.
Um texto cujos argumentos se podem comprovar na prática, e quem anda "por aí" encontra, por exemplo, este:
«se B não fosse filha de quem é não tinha conseguido subir na carreira tão depressa»
com alguma frequência.
Ultimamente o tom tem variado um pouco, estamos na onda do melodrama "vítima":
«nunca tive oportunidades na vida, nunca ninguém apostou em mim»
Contudo, quanto ao argumento "banalização" da inveja, não concordo, pois se o alvo da inveja, não a ignorasse, corria um risco sério:
o invejado mais paranóico do Universo, prestes a transformar-se em mais uma das vítimas da inveja.
Ora o invejado não tem culpa das paranóias dos outros, também tem direito a viver a sua vida, daí que deva seguir o caminho da tal banalização.
Quanto à questão: o que é que isso tem a ver com a Internet?
É óbvia, a Internet, apesar de não parecer, é povoada de homens e mulheres, e como é natural, em ambos os casos as nuances mais profundas são transferidas para o mundo virtual, com uma agravante: são ampliadas. É que no mundo real ainda existe um certo prurido em demonstrar este tipo de pensamentos.
Há uma outra questão de fundo com a qual eu também não concordo. A Carla propõe-nos uma espécie de invejoso terminal.
"Iago" de Shakespeare, por exemplo, é um invejoso terminal. E a sua inveja é tão megalómana que destrói todos à sua volta, com um propósito determinado: destruir a vida de Desdémona e a relação desta com Otelo, minando a confiança do guerreiro no amor da filha do senador de Veneza (?). Como é que Iago mina a crença de Otelo? Apresentando-lhe factos que comprovam a infidelidade de Desdémona. E porque é que Otelo se deixa influenciar por Iago? Porque no fundo Otelo sentiu-se um homem bafejado pela sorte. Logo ele, um mouro, alguém cuja cor de pele e religião é desprezada pelos demais, e apenas o consideram pelos seus resultados perante o inimigo, porque é que ele, apenas ele, um "desconsiderado", poderá, um dia, ser alvo da atenção de uma dama tão bela?
Iago, como o invejoso terminal completo, sabia bem como minar o amor de Otelo, atacando as suas fraquezas.
O invejoso terminal é destrutivo e tem um alvo a abater: o invejado.
O invejoso que se encontra no dia-a-dia, é um ser humano. E o ser humano é permeável a qualquer tipo de pecado. Diríamos que há seres humanos que conseguem afastar pensamentos negativos através dos seus valores mais profundos, quem não tem consciência dos seus valores, é, por isso, mais permeável a todo o tipo de pensamentos negativos, mas humanos.
No fundo, bem no fundo, é tudo uma questão de valores.

P.S. Agradeço à Leonor, porque me encaminhou até ao Pedro, e ao Pedro por ter aconselhado a leitura.

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quarta-feira, maio 23, 2007

Serviços de Inteligência Nacionais: Cronologia

Foto: Jaap Vliegenthart

1933/1945 – PVDE (Polícia de Vigilância e Defesa do Estado)

1945/1969 – PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado)

1969/1974 – DGS (Direcção Geral de Segurança)

1974/1975 – COPCON (Comando Operacional do Continente)

1975/1976 - SDCI (Serviço Director e Coordenador da Informação)

1976/1984 – DINFO (Divisão de Informações do Estado-Maior-General das Forças Armadas)

1984/2007 – SIS (Serviço de Informações de Segurança)

2007/… – DREN (Direcção Regional de Educação do Norte)

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Das 1002, escolha 1001 razões para se gostar de cinema

Katherine Heigl
Juliette Binoche
Custo de oportunidade: sacrifício que fazemos ao realizar uma escolha como consequência da escassez de bens.
Fotos: aqui e aqui

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Alguns filmes de raparigas, outros assim assim e outros nem por isso

As raparigas que eu conheço gostam de filmes que as façam reinventar os contos de fadas. Os rapazes que eu conheço são mais onda de reinvenção dos de cowboys, apesar de hoje em dia se lembrarem de reinventá-los de outra forma.

Depois da tal lagrimazita a rapariga vai para casa e senta-se no sofá a reinvestir na história do filme. O rapaz a seu lado murmura romanticamente:

Ele - Querida, vamos jantar à luz das velas?

Ela - Jantar à luz das velas? És mesmo um insensível, não percebes o quanto o filme me tocou? Não vês que a rapariga do filme viveu momentos tão angustiantes? Não percebes nada de cinema.

Ele - ?

Ela -Vou telefonar à Amélie, só ela me entende. Os homens, os homens, só gostam de filmes de pancadaria. Não têm cérebro é o que é. E ainda dizem que mandam no mundo! Bah.

Ele sai descontraidamente, faz um cavalinho com o Peugeot 106, sente-se o rapaz com mais ego do mundo, chega a casa, senta-se ao sofá, e busca um filme de pancadaria. Apesar de ele não ser esse tipo de rapaz que só gosta de filmes de pancadaria. Ele gosta de filmes em geral. Aliás até se considera um cinéfilo.

Alguma filmografia básica das raparigas que eu conheço:
Julia Roberts:
Pretty Woman (1990); My Best Friend's Wedding (1997); Notting Hill (1999); Runaway Bride (1999)

Tom Hanks:
Sleepless in Seattle (1993)

Susan Sarandon:
Thelma & Louise (1991); Dead Man Walking (1995)

Meg Ryan:
When Harry Met Sally (1989); When a Man Loves a Woman (1994); French Kiss (1995); City of Angels (1998); You've Got Mail (1998); Proof of Life (2000)

Tom Cruise:
Top Gun (1986); Eyes Wide Shut (1999); The Last Samurai (2003)

Francis Ford Coppola:
One from the Heart (1982)

Ang Lee:
Sense and Sensibility (1995)

Martin Scorsese:
The Age of Innocence (1993);

Paul Newman:
Nobody's Fool (1994); Cat on a Hot Tin Roof (1958)

Elizabeth Taylor:
Lassie Come Home (1943); Giant (1956); The Flintstones (1994)

James Dean:
Rebel Without a Cause (1955)

Natalie Wood:
Splendor in the Grass (1961)

Alguma filmografia básica de raparigas que eu conheço partilhada com rapazes:

Tom Hanks:
Forrest Gump (1994); Saving Private Ryan (1998); Cast Away (2000); The Terminal (2004)

Tom Cruise:
Rain Man (1988); Jerry Maguire (1996); War of the Worlds (2005)

Russel Crowe
L.A. Confidential (1997); Gladiator (2000); A Beautiful Mind (2001); Cinderella Man (2005)

Francis Ford Coppola
The Godfather (1972); The Godfather: Part II (1974); Apocalypse Now (1979); Rumble Fish (1983); The Godfather: Part III (1990); Bram Stoker's Dracula' (1992)

Martin Scorsese:
Taxi Driver (1976); The Last Waltz (1978); Goodfellas (1990); Gangs of New York (2002); The Avia
tor (2004)

Paul Verhoven:
Basic Instinct (1992)

Alguma filmografia básica dos heterossexuais tolerantes que eu conheço*

Philadelphia (1993), Tom Hanks; Brokeback Mountain (2005), Ang Lee

* Num clube de vídeo da província convém manter as aparências, daí que o aluguer do dvd acompanhe um enfadado: vamos lá ver isto, não é? Ganhou uns óscares.

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terça-feira, maio 22, 2007

Clint Eastwood

Hoje, se há realizador capaz de fazer brilhantes filmes em série, ele chama-se Clint Eastwood. Há algo no seu mister que transforma tudo aquilo que realiza em monumentos ao cinema. A fórmula parece simples: tem predilecção por cenas simbólicas, épicas, jogos de sombra/luz, os protagonistas não são heróis que salvam meio mundo, mas apenas pessoas, com algumas forças e imensas fragilidades. Embora não representando o estereótipo de herói, existem quase sempre três qualidades nos actores principais: a dignidade de jogar limpo, a honra de saber perder e a fleuma de saber ganhar.

Um dos aspectos que tem vindo a ganhar importância na indústria do cinema é o argumento do filme. Para se ter uma ideia do que afirmo, basta constatar que há algumas décadas o Óscar para Melhor Argumento era entregue ainda a cerimónia ia a meio, no meio dos chamados Óscares técnicos: sonoplastia, efeitos especiais, guarda-roupa, etc. Actualmente, é o antepenúltimo a ser entregue, imediatamente antes da estatueta para Melhor Filme e Melhor Realizador. Além disso, os bons argumentistas são tão disputados como as grandes estrelas ou os bons realizadores.
Clint Eastwood ancora sempre os seus filmes a memoráveis estórias. Argumentos bem engendrados, simples, com aquela moral de que a vida dói sempre, mesmo aos mais audazes. Filma permanentemente com uma aura de melancolia, de pessoas que já viveram os seus quinze minutos de fama, não da fama vã, mas daquele momento único que acontece quando realizamos um sonho. E é isso que Clint Eastwood essencialmente é: um realizador de sonhos.

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Momento professor Zandinga

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pontuação...

... ou as razões pelas quais eu seria despedida no primeiro dia de trabalho com FJV...

O que eu gosto de reticências... e de pontos de exclamação!!!... É que gosto mesmo!!! E pontos de interrogação?... Montes deles!!!... De preferência... tudo fora do sítio! onde menos se espera... Por outro lado, não acho tanta piada aos parênteses e aos dois pontos, até porque me comecei a apaixonar pelos travessões – foi um namoro difícil, mas acho que está a resultar! Mantenho, no entanto, uma paixão mais antiga pelas frases... «gagas e soluçadas». Ao contrário da paixão jovem e fervorosa pelos travessões, as frases... «gagas e soluçadas» são já uma espécie de amor sereno... omnipresente. Elas compreendem-me e acompanham-me... nos bons e nos maus momentos... na ironia eufórica e na tristeza reflexiva... Como tal, senti-me na obrigação de vir em defesa da minha... dama ofendida: as frases... «gagas e soluçadas»!

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Conclusões científicas debaixo de uma bananeira

1 - Há infinitas razões para eu gostar muito mais da blogosfera, mas uma delas é incontornável: passamos de bestiais a bestas em apenas alguns segundos. O que me parece de todo notável.
2 - Há, igualmente, imensas razões para eu considerar caricata a pronúncia de Cascais, mas uma das mulheres mais inteligentes que eu conheci falava assim, por isso, sempre que gracejam sobre o assunto, ao pé de mim, tenho uma vantagem evidente perante os demais.
3 - Há outras razões para eu concordar quando dizem que os africanos são muito lentos, tenho um na família, e é efectivamente muito mais lento do que os demais seres humanos que eu conheço. Mas é só uma maneira de estar na vida, é certo que incompatível com desportos radicais.
4 - Há, no entanto, uma dúvida Cartesiana que prevalece em mim, é acerca de uma frase de um amigo meu que não posso comprovar, pois não gosto de doces.
5 - A frase é a seguinte: "Eu acho, muito sinceramente, que as pessoas que comem muitos doces fazem pouco sexo. Cheguei a esta conclusão depois de tal ter acontecido com alguém que eu conheço mesmo muito bem".

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segunda-feira, maio 21, 2007

Alice

Vi Alice no cinema. Filme português entre os finalistas em Cannes. Foi muito falado na altura. Ouvi a crítica – que, apesar de nem sempre ser uma boa referência, desta vez acertou! –, vi imagens e reportagens... "Apesar" de português, parecia um filme diferente... E é! O público foi correspondendo e eu também, sendo um dos poucos filmes portugueses que vi no cinema.

A história passa-se em Lisboa, numa grande cidade de multidões incógnitas, numa cidade de rotinas diárias de pessoas que se cruzam indiferentes. E é nesta cidade que um pai busca incessantemente pistas sobre a sua filha desaparecida – qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência! Alice, a criança, está, então, desaparecida e o filme retrata a aflição dos pais, referindo o desespero da mãe e acompanhando de perto a angústia combativa e obsessiva do pai. A figura central é o pai, que, com o passar do tempo, não se liberta das rotinas, que continua a procurar, muito depois de todos acharem (de forma mais ou menos evidente) que é um caso perdido... As pessoas que passam, tantas e tão sós, são a imagem constante do filme... que vive delas mais do que do enredo...

«"Alice" é sobretudo um filme sobre a ausência. Uma história de amor de um pai por uma filha»



«Nunca Lisboa foi vista de forma tão fria como no filme "Alice" de Marco Martins; a cidade branca, como sempre a conhecemos, assim como a imensidão dos seus habitantes, ganham aqui uma nova dimensão, trágica e sombria – figuras humanas caminham, obstinadas, em aparentes gestos de rotina, indiferentes a tudo o que os rodeia. Assim é Lisboa neste filme, cenário por onde Mário se movimenta à procura de Alice, a sua filha misteriosamente desaparecida. Ninguém acredita que é possível mas ele não desiste. Também a solidão é assim retratada: numa grande cidade, aqueles que nos estão mais próximos são, por vezes os últimos a acreditar.»
[Bernardo Sassetti, no CD da banda sonora]

E Bernardo Sassetti é o compositor da banda sonora – que mora na minha estante ao lado de Amélie. Piano, clarinete e contrabaixo em temas «minimalistas e obsessivos». A «representação do vazio e da angústia máxima» tendo sempre como elo de ligação «o sentimento de esperança, essencial para a compreensão da rotina que acompanha os passos, quase em suspenso de Mário pela cidade». Um reflexo perfeito do filme.

Alice é um filme de observações, de imagens, de ruídos e sons... mais do que um filme de histórias, é um filme de sensações e sentimentos.
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