sexta-feira, novembro 30, 2007

jorge palma no coliseu (do porto)

O Coliseu do Porto esgotou para ouvir Jorge Palma. Os ecos das noites de Lisboa não eram os mais animadores e o rescaldo de um concerto supostamente bem alinhado para gravação de um DVD em Lisboa fazia temer em palco uma possível descompressão... em demasia... Mas o músico cumpriu, o público respondeu e a boa disposição do palco e da sala misturaram-se de tal forma que não se distinguia o começo.

Tivemos 2h30 de concerto, sob o pretexto de apresentação do novo CD, mas onde não faltou - e ainda bem! - uma viagem pela restante obra musical. O público acompanhou e aplaudiu e o músico descontraído parecia desfrutar o momento.

Pelo palco passaram alguns convidados, dos quais destaco o acordeão de Gabriel Gomes (um dos fundadores dos Madredeus e forte impulsionador dos Danças Ocultas), que eu não sabia que colaborava neste novo CD - sim, (ainda!) não tenho o dito cujo... Então, dizia eu que o acordeão deu uma nova sonoridade à "Gaivota dos Alteirinhos" - que eu tinha apenas ouvido (e gostado!) no concerto de há uns tempos (só com piano e guitarra) e apresentou-me a "Casa do Capitão" - um instrumental que me hipnotizou de imediato.

Continuo nas notas soltas pessoais e refiro apenas alguns mais alguns momentos. Agradeço profundamente o "Disse Fêmea" - apesar da confusão da letra ;) Agradou-me a serenidade da "Estrela do Mar" ao piano que me absorveu completamente. E tenho de confessar que também me diverti com aquela aceleração do refrão da "Canção de Lisboa" - um dia aquilo havia de ser tocado tão depressa, tão depressa que nem daríamos por ele, ficava só o resto da música (que merecia outro refrão...).

Jorge Palma é um músico transversal, no mais pleno sentido da palavra. E basta um olhar em volta na sala para o confirmar: homens, mulheres, novos, menos novos, aprumados, descontraídos,... A intemporalidade das canções e o acompanhamento dos tempos, sem nunca perder o espírito de jovem rebelde... E, no Porto, tivemos um Jorge Palma de voz esforçada mas pleno de espírito... aconchegado por um público reconhecido.

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Sócrates, bchbchbchbchbchbch

Uma professora no Sudão foi condenada a 15 dias de prisão e à expulsão do país por ter dado o nome de Maomé a um animal de pelúcia. Ver se me lembro disto e não chamar Sócrates ao próximo bichano que me vier parar às mãos. Nunca se sabe o que poderá acontecer. Provavelmente a expulsão do país seria um mal menor.


foto: minha
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Posts fêmea


posts fêmea.
Posts que têm a capacidade de se desdobrar em outros, de se reproduzir, portanto.
Foi o caso deste que se mutiplicou aqui pela mão da Carlota, que tanto estimo. Obrigada, Carlota.




Imagem daqui

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quarta-feira, novembro 28, 2007

Vitória procura-se

Já não me lembro da última vez que o [meu] Sporting ganhou um jogo. Tenho de confessar que estou de tal forma desesperado que ando a pensar [seriamente] deslocar-me a Alvalade para ver o jogo da Taça com o Louletano. E caso a coisa teime em persistir [cruzes canhoto!] também já tenho um plano de contingência [quase] infalível: desloco-me a Alcochete para assistir a um jogo de treino entre os jogadores do Sporting - com alguma sorte à mistura tenho esperança que uma das facções acabe por vencer a outra.

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Texto procura-se

O dia para trás das costas finalmente, o caminho tranquilo na direcção do ocaso laranja, uma tarja de mar inesperada no equinócio de Inverno iminente, o ziguezaguear pelas ruas da aldeia e, de repente, eis que me salta um texto ao caminho, pequeno é certo, as primeiras três palavras apenas, mas era um texto. Reconheci-o pela forma inesperada com que me surpreendeu. Sem aviso. Os textos não primam pela deferência. Aparecem sem se anunciar e saltam-me ao caminho em alturas pouco oportunas. Os textos fazem-me isto muitas vezes. Depois de passar as hortênsias do lado esquerdo, recompus a frase inicial, juntei-lhe mais uma palavra, agora com vírgulas a separar e, antes de chegar aos penachos do lado direito, já lhe tinha acrescentado um outro substantivo, características, talvez ou particularidades. Pisca para a esquerda, o ocaso alaranjado, viro à esquerda. Quando passei o chorão do lado direito ainda o sentia preso na imaginação, bem agarrado, como quando se segura um pássaro nas mãos, as asas em linha recta com o corpo distendido ao ritmo da respiração. Estava vivo, portanto. Chego a casa. Abandono-me ao ritmo que largo os livros me cima da mesa. Um suspiro profundo a recompor-me do dia e o texto soltou-se-me à primeira distracção. Ainda tentei agarrá-lo mas quando lhe deitei mão tinha-se libertado pela porta da sala entreaberta contra o crepúsculo lá fora. E foi assim que fiquei sem ele, esse tal texto que tinha na mão e em mim, esse que leriam agora caso não fosse tão rebelde e não me tivesse fintado ao pôr-do-sol.
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O amor é o "cagarra"

As tarefas diárias enferrujam-lhe os pensamentos, entre 2 paletes de tinta, uma ou outra encomenda de verniz, as dívidas dos clientes, a desarrumação no computador.
O dia a dia em etiqueta.
As horas em características.
Os segundos em aplicabilidade.
Jesus Cristo é um sólido em peso, uma espécie de massa volúmica: «não penseis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas a espada. Porque vim separar o filho do seu pai, a filha da sua mãe e a nora da sua sogra; de tal modo que os inimigos do homem serão os seus familiares."
Meu Deus, uma espessura seca? que pretendeis com isto? Jesus veio ou não para nos salvar? E, mais uma vez, almoça sozinha, novamente seca e húmida. O marido num tempo de secagem indiferente, o filho sobrepintado, a filha superficial na sua profundidade.
Meu Deus, com quem tactearei as minhas interrogações?
Os pensamentos corroem-na como o brilho de uma película, dissolvendo a sua compatibilidade e a sua base de aplicação.
Dali a pouco, novamente, uma hora de almoço invulnerável.
Almoça sozinha, desembrulha lenta e morosamente a sua viscosidade, numa ou noutra consistência administrativa.
Arruma mais um pouco, um móvel opaco aderente ao pó, uma nódoa indelével na toalha, uma migalha de pão, uma teia de aranha.
Chega ao emprego reabilitada.
Enquanto arruma o balcão, a impermeabilização instala-se entre ela e os papeis e com ela convive durante toda a tarde, nenhum cliente lhe comprara a dúvida.
Ao final da tarde, a sua aparência era uma espécie de camada de tinta depois de seca.

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terça-feira, novembro 27, 2007

!èrdnA snèbaraP

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domingo, novembro 25, 2007

7 dias, 7 pecados

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Dez textos sobre Economia(s) (iv)

Os dois problemas económicos mais graves são o desemprego e a inflação. O primeiro diminui a receita fiscal do Estado, aumenta os gastos do mesmo com o pagamento de subsídios, não permite que as empresas escoem os produtos tão bem devido à quebra do poder de compra, o que faz diminuir ainda mais a receita do Estado, e, mais importante do que isso, é passível de gerar convulsões sociais e coloca a maioria os cidadãos por ele afectados com problemas de auto-estima, desinteresse geral pela vida, mais sujeitos a depressões e a possibilidade de conflitos e rupturas familiares aumenta.
O aumento da inflação, por outro lado, corrói o rendimento das famílias, o seu efeito de encarecimento dos produtos faz com que estes não se escoem tão bem, a moeda desvaloriza, retrai a economia, porque as taxas de juro tendem a subir, provocando menos investimento por parte dos empresários, menos consumo e mais poupança por parte das famílias e exige dos governos políticas de contenção que vão agravar a desaceleração da economia.
Temos portanto aqui dois males a evitar. Contudo, e estudos de Phillips, Fisher, Sollow e Samuelson provam-no, não se podem evitá-los simultaneamente. É fácil deduzir tal conclusão: com mais desemprego o poder de compra desce, há menos procura, logo, menos pressão sobre os preços e estes tendem a estabilizar. Com mais emprego, há mais inflação porque como o rendimento é maior, há maior propensão para o consumo, mais pressão sobre os preços.
Os políticos sabem desta armadilha económica. Nunca se deram ao trabalho de dizer aos cidadãos que tinham de escolher uma das hipóteses - mais desemprego ou mais inflação. Prometem menos desemprego e menos inflação. Enfim, querem tentar contrariar pessoas, como as que acima referi: lá por terem ganho uns Nobel´s da economia, não têm o direito de exigir que eu deixe de prometer uma utopia económica ou o Paraíso na Terra.
Por outro lado, os jornalistas, cada vez com mais formação na área económica, nunca lhes perguntaram como é que iriam resolver esse contra-senso. Um exemplo: numa entrevista da campanha para as legislativas que deram a vitória a Sócrates estavam dois jornalistas: um da área política e outro da área económica. Sócrates, muito determinado, anuncia que vai criar 150 mil empregos até ao final da Legislatura. O jornalista pergunta «Como?», e o futuro PM responde algo que já não me recordo. Mas não pergunta aquilo que é essencial: e como vai combater o efeito inflacionista que a diminuição do desemprego vai gerar?
O problema económico que hoje aqui explanei não é nenhuma tese de doutoramento: aprende-se no décimo primeiro ano. Os portugueses, como noutras áreas, também na Economia têm pouca cultura. Ou seja, por maior que seja a barbaridade que os políticos prometam, os portugueses têm mais propensão a acreditar nela.
No meu caso particular, sou sempre a favor da descida do desemprego mesmo sabendo que isso tem como consequência o aumento inflação: é que entre o aumento do preço de um produto e tirar o emprego a uma pessoa a escolha até nem é assim tão difícil de fazer. Tanto mais para quem tem orgulho em pertencer à escola que defende que a Economia é uma ciência social, que visa em primeiro lugar o bem-estar da sociedade, e só depois e como consequência, o equilíbrio dessa coisa chamada "mercado".

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O pecado mora ao lado


Vale a pena ler, no Público de ontem, a crítica de Vasco Pulido Valente ao "Rio das Flores" de Miguel Sousa Tavares.
Dedicar quatro páginas de um jornal a uma crítica "literária" é a cereja em cima do bolo, pelo menos para quem aprecia o género. Parabéns ao "Público" pelo facto jornalístico.

Notas em relação a Vasco Pulido Valente:
- é intelectualmente arrogante e como qualquer intelectual arrogante pressupõe que a sua especialização profissional é de importância vital para a humanidade, quem não sabe tão intensamente sobre determinada época histórica é um "iletrado", consultar P2, página 9, coluna dois, segundo parágrafo, diz VPV: "Imagino que um iletrado (a maioria dos leitores) acredite piamente em Sousa Tavares". Suponho que um "iletrado" para VPV sejam todos os leitores de MST e não os seus (VPV).
- gostaria de perguntar a VPV se considera que não existem outras especializações interessantes, outras áreas culturais dignas de apreço, outros estilos de vida, outras experiências profissionais, outras trocas, outras qualquer coisa.
- os leitores de MST, não pretendem discutir história com quem quer que seja a partir da leitura de um romance histórico. É que têm plena consciência de que um romance histórico é apenas um romance e não uma biografia.
- esclarecimentos de VPV acerca da sua crítica: "Numa entrevista ao Expresso, MST, contou um caso, inteiramente imaginário, da minha suposta desonestidade (teria criticado o Equador sem o ler) (...) Como é natural desmenti. Isto bastou para que ele anunciasse por SMS à minha mulher e, a seguir, no Diário de Notícias que "ia dar cabo de mim". (...) Ficou pelo insulto e pela injúria; e pela ameaça implícita de que, se quisesse revelaria episódios da minha vida pessoal (cinco ou seis) para liquidar a minha figura pública. Nestas digressões MST não falou uma única vez de um livro meu ou do meu jornalismo.", Introdução ao artigo do Público, P2, p.6,
"quando aqui me refiro a Miguel Sousa Tavares deve ser claro que me refiro ao narrador", idem, p.7, coluna 1, parágrafo 1, ou
"uma última observação: discuti neste artigo um livro e um autor, não estou disposto a discutir a pessoa ou a pessoa de Sousa Tavares", idem, último parágrafo do artigo, p.9.
Não se está a discutir a pessoa? Serei uma ignorante em artifícios de linguagem?
- VPV deverá ter consciência do seguinte: os leitores do Público aceitam a sua crítica histórica, quanto à literária seguem em frente. Há sempre um "gosto" "não gosto" a gritar dentro de nós e esse grito é incomensuravelmente livre e não permeável aos "gritos" particulares de cada um.

Em relação a Miguel Sousa Tavares:
- MST é tão arrogante quanto VPV, tem um pequeno problema não possui a densidade de um especialista, daí as suas crónicas e os seus romances serem "eivados" de "preconceitos" ideológicos, generalidades e "irrealidades" (a sua crónica do Expresso da semana passada é disso um excelente exemplo).
- a falta de densidade das personagens de MST, com a qual eu concordo em relação ao "Equador", pois ainda não li "Rio das Flores", residirá na sua míngua de generosidade em relação ao que o rodeia? (Tolstói dixit: se queres tornar-te Universal começa por pintar a tua aldeia).
- a sua estratégia: "a melhor forma de defesa é o ataque" foi, decididamente, um tiro no pé.

Tanto VPV como MST recrearam em muita gente o não óbvio: ora bolas, até os "opinion makers" são permeáveis às fraquezas humanas.

De resto, os leitores de ambos são pouco generosos e irão comprar o romance de um, ora aí está uma óptima prenda de Natal e a biografia de outro, uma excelente prenda para o primo licenciado em história, mas ainda bastante iletrado.

E no fundo, no fundo, seremos todos muito felizes e para sempre.

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sábado, novembro 24, 2007

Mário de Carvalho decididamente

Estava a premir a tecla F 11, quando um homenzinho magro, de fato escuro completo e chapéu fora de moda emergiu atrás do teclado e começou a fazer esforços para se içar para o tampo superior, onde se agigantam monitor e impressora. Assim começa Mário de Carvalho o conto de abertura de Contos Vagabundos. Personagens e narrador interagem no espaço privilegiado pelo escritor para o labor da escrita. O narrador adianta não ter sido esta a primeira vez que foi assediado por personagens, mesmo longe do espaço referido inicialmente, e uma vez que o assédio se prolongara das formas mais variadas e as personagens continuavam a surgir e a atormentar incessantemente, o narrador decide recorrer aos conselhos de um escritor sábio, provavelmente mais vetusto, madrugador É um escritor dos diurnos, nove às cinco, que para felicidade dos amantes da literatura, apesar da sugestão inicial Atira-as pela janela, lhe dá o conselho dos conselhos Faz o seguinte: aprisiona-as ao texto. E este conto podia muito bem ser autobiográfico: o escritor que, depois do chamamento das tantas personagens, decide prendê-las pela escrita e dar-lhes uma existência entre páginas e uns passeios prolongados pelas (re)leituras sucessivas de quem mergulha no livro. Mário de Carvalho é detentor de uma escrita bem-humorada, rica, irónica, fantasiosa, muito imaginativa e muito divertida, e, pese embora a diferença entre a crónica e o conto, o único escritor que conheço no panorama nacional capaz de ombrear com Mário Prata, Pedro. Obrigada pela resposta ao repto aqui lançado.
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The show must go on



Freddie Mercury
5 Setembro 1946 - 24 Novembro 1991

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sexta-feira, novembro 23, 2007

o bilhete... ah! o bilhete!!!...

Toda a gente sabe que quando se vai a um espectáculo convém confirmar se o respectivo bilhete (previamente comprado) está na carteira...

Mas, depois disso, é preciso não esquecer de levar a carteira!!!...


[Tudo de resolveu, mas não sem uma dose de stress que não recomendo... Quanto às impressões do concerto em si, fica para um próximo post, porque acho que este inédito merece um post de pleno direito.]

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quinta-feira, novembro 22, 2007

500.000

E porque hoje o Corta-fitas, um dos blogues imprescindíveis na blogosfera lusa e que visito quotidianamente com prazer, completou meio milhão de visitantes, aqui ficam as felicitações e votos para que continuem a cortar fitas.
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mais baixinho, ó faxabor!...

8h da manhã à saída da estação de metro da Trindade:

... e os trabalhadores... e os direitos... e os trabalhadores... e as reivindicações... e os trabalhadores...

Pois claro! Não tem jeito nenhum! Há que continuar a apoiar a greve dos transportes! E tudo e tudo e tudo!

Ó 'migos! Tudo muito bem, eu até posso concordar com tudo isso... mas esse megafone tem de estar assim tão alto, logo de manhã, mesmo ao lado da minha paragem de autocarro?!

Era agora tudo de novo, mas mais baixinho, ó faxbor!...

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E as crianças, senhor?

Dizem os pedopsiquiatras que a decisão recente de entregar Esmeralda ao pai biológico põe a criança em risco. Neste caso mediático, mais uma vez envolvendo crianças, ainda não consegui vislumbrar comportamento por parte dos adultos que não tenha posto a criança em risco. Desde lhe ter sido mudado o nome, ter sido sequestrada pelos próprios pais afectivos, estranho comportamento para quem ama uma criança e privada do seu ambiente natural, supostamente seguro e familiar, até andar como bola de ping-pong entre os tribunais, os pais afectivos e os biológicos, todo este circo me parece ter um único móbil: satisfazer os direitos e frustrações dos adultos a quem esta pobre criança foi infelizmente entregue ou de quem se encontra dependente afectiva e biologicamente. Se dúvidas houvesse, a mais recente tirada do pai afectivo é ilustrativa do desequilíbrio que grassa neste caso infindável, agravado por um penosamente longo e pouco sensato processo judicial. Não é, pois, ser preciso ser psiquiatra, pedopsiquiatra ou ter um QI acima da média para perceber que, neste caso, a criança é quem conta menos. O coração aberto chegará.
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quarta-feira, novembro 21, 2007

Diário de Bordo

O leme ficou por conta do marinheiro Chávez, infelizmente foi preciso intervir atempadamente, pois o Rei dos mares fartou-se de ouvir os seus protestos.
Olhem que acalmar o Rei Tritão (?) e Chávez é tarefa digna de deuses.
Depois de tudo já se abraçam amiúde, cada um dá ideias ao outro, enfim para ambos a tarefa é semelhante: travar os "boticários", amansar os "sensocomunitários", acalmar os "politicários" e, acima de tudo, dar de comer aos "comunicários", depois é simples, governar dando a mão a uns pela frente, a outros pelos lados e aos derradeiros por detrás. É óbvio que cada um adoptou os lados, o detrás e o da frente com perspectivas ligeiramente diferentes.
Enquanto tudo isto avança e recua, o capitão está em crise existencial de comando.
Ora barco com capitão existencialista não me parece que vá a bom porto.
O capitão apropriou-se do termo considerando-se um ser que sofre, trabalha e ama.
Não sei porquê mas tenho a sensação que o combate razão / emoção não dará bons resultados é que o objectivo é atracar em Buenos Aires.

"A Testemunha

O homem no seu sonho vê o gigante
De outro sonho sonhado na Bretanha,
Prepara o coração para a façanha
E crava esporas no seu Rocinante.
O vento faz girar as laboriosas
Cruzes com que esse homem logo avança.
Segue o cavalo; mas quebrou-se a lança
E agora é só uma coisa entre outras coisas.
Jaz sobre a terra o homem da armadura;
Vê-o cair o filho de um vizinho
Que não sabe o final dessa aventura
E às Índias levará o seu destino.
Perdido nos confins de outra planura
Dirá que foi um sonho, o do moinho."

BORGES, Jorge Luís. (1998). Obras Completas, 1975-1985. Lisboa: Editorial Teorema. p. 115.

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terça-feira, novembro 20, 2007

Validação de Competências

A rapariga, de ar levemente citadino, fotografava a paisagem ambiental com o seu telemóvel topo de gama. Do lado de lá da estrada um homem de aspecto maduro, alto e de roupas "sucatadas" grita em tom agressivo:
- olhe que não é permitido tirar fotografias.
A rapariga observa o homem surpreendida e continua a fotografar a paisagem emoldurada de carros velhos, qual deles o mais embevecido e ingenuamente autoritário perante a permissividade da mãe natureza, sempre a mesma mãe galinha, sempre a mesma pose de protecção perante os seus filhos, alguns já em idade de reforma. Enfim, uma mãe é sempre uma mãe.
- veja lá se quer qu'eu lhe parta a máquina fotográfica dizia, aproximando-se, o homem socialmente maduro.
A rapariga citadina olha o homem de frente, do lado de cá da estrada, e responde:
- ouça lá, o senhor pensa qu'eu tenho medo de agressões verbais?
O homem com voz estridente responde:
- ouça lá ó seu monte de merda, você pensa qu'eu não vou atrás de si? Olhe qu'eu vou saber de onde é que você é, olhe que você tenha cuidado!
A rapariga encaminha-se em direcção ao carro sorridente enquanto pensa: quem sabe se estou perante um futuro formando de um Centro de Novas Oportunidades. Quem sabe se depois das competências validadas eu passe de um monte de merda a um monte de esterco.

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segunda-feira, novembro 19, 2007

Direito de Admissão (Reservado)

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O país que temos III

O Tribunal da Relação deu razão à entidade patronal num processo judicial que opôs um cozinheiro à dita entidade, que o despediu por ter HIV. Alega-se no acordão que "ficou provado que A. é portador de HIV e que este vírus existe no sangue, saliva, suor e lágrimas, podendo ser transmitido no caso de haver derrame de alguns destes fluidos sobre alimentos servidos ou consumidos por quem tenha na boca uma ferida". Ficamos pois a saber que o HIV se transmite da forma descrita, uma descoberta importante para a comunidade científica certamente, e que, a avaliar pelo mesmo texto, as condições de higiene são execráveis, uma vez que existe derrame dos fluidos citados sobre os cozinhados. Só notícias boas, portanto.

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domingo, novembro 18, 2007

O Pecado Mora ao Lado




Prestações da culpa:
- «Escrita em dia» de 14/11/2007, Rita Ferro, Rosado Fernandes (?) e Francisco José Viegas, efabulação acerca do eterno retorno: guerra dos sexos. Curioso o "inofensivo" separador musical: «eu quero você do meu jeito»;
- «Entrevista a Miguel Sousa Tavares», Revista do Expresso, data ?, tema de fundo: novo livro de MST, guerras de alecrim e manjerico: MST versus VPV;
- «Entrevista a Vasco Pulido Valente», Revista do Expresso, data 17/11/2007, tema de fundo: novo livro de VPV, agradecimentos de passagem: o conselho a Cavaco, já que o meu voto também contribuiu para a eleição do actual PR, guerras de alecrim e manjerico: VPV versus MST;
- Segundo o enviado da antena 1 à Ucrânia, as minas ucranianas são as mais perigosas do mundo devido à sua profundidade - chegam a 1 km de profundidade - e à sua desactualização tecnológica - muitas continuam a laborar com métodos arcaicos. Razões invocadas: investimento incompatível com a competitividade das matérias-primas. Enquanto isso a carne para canhão continua a mesma de sempre. É caso para se dizer: "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades".

Quotas do pecado:
- «O Sol» está para Sócrates como «O Independente» esteve para Cavaco? Parece que sim, André.
- José Saramago, Oitenta e Cinco Anos, uma obra literária de vulto, universalmente falando, Nobel dixit, e permanecem as controvérsias acerca da obra literária e do autor? Uma obra literária e o "palanfrório" extra-literário de um escritor são contribuições definitivas para a legitimidade de certas posições?
Quanto à questão dos pobres de espírito Leonor, é muito discutível. Considerar as pessoas que votaram contra a atribuição da medalha a Saramago de pobres de espírito entra num terreno conflituoso pouco pedagógico. Se eu os considero "pobres de espírito" legitimo o seu pensamento no mesmo sentido e se somos todos "pobres de espírito", pois temos noções contrárias acerca da vida, quando é que aprendemos que a atribuição de uma medalha é um sinal de tolerância e reconhecimento independentemente da ideologia do "medalhado"? A posição de conflito é, só por isso, discutível e pouco pedagógica.
- MST alcançará que a sua noção de "povo" não se desembrulha da míngua de fé e da escassez de religião? Leia-se crónica de Expresso, 17/11/2007.

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Que é como quem diz…

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sábado, novembro 17, 2007

Realpolitik Reloaded [Pesadelo em Lisboa]

Imagem via: P@rtes

Sugiro que se monte a tenda do Kadafi no tal deserto da margem sul. E espero que o “nosso” Primeiro não se tenha esquecido de telefonar ao Luís Marinho a marcar a visita guiada de Chávez à RTP.

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Os pobres de espírito

Conta Saramago nos Cadernos de Lanzarote datados de 1994 “Pergunto-me se estarei a sonhar: a maioria social-democrata da Assembleia Municipal de Mafra votou contra uma proposta da CDU para que me fosse atribuída a medalha de ouro do Concelho, alegando que «estraguei o nome de Mafra» e que o Memorial do Convento é «um livro reprovável a todos os títulos» ”. E neste excerto dos escritos autobiográficos não existe a menor efabulação do Prémio Nobel português, contrariamente à imaginação desenfreada que pulula nos seus livros de ficção.
Recusada a medalha, sucederam-se argumentos característicos dos ignotos e pobres de espírito, dominados pelo obscurantismo medieval recheado de demónios arquetípicos de foice e martelo em punho. Tornou-se quase mítica a afirmação de que não tinham lido, que não leriam mas que reprovavam, obviamente. A questiúncula alargou-se à atribuição do nome à Escola Secundária, quando o então Conselho Directivo propôs o nome de Saramago. Entretanto, Saramago foi laureado com o Nobel e o Ministério da Educação, detentor da palavra última em matéria de atribuição dos nomes às escolas, à míngua de argumentos válidos e dignos que justificassem a recusa, acedeu a que assim fosse.
E assim é neste concelho. Vinte e cinco anos volvidos sobre a publicação do romance que não só deu o Nobel a Saramago, mas colocou Mafra definitivamente no mapa da literatura internacional, a edilidade continua corrompida pelos demónios rubros que só eles conseguem ver e a negar a si própria a evidência de que foi Saramago quem deu a Mafra a visibilidade além fronteiras que o betão, estradas e pavilhões desportivos com o nome do presidente da Câmara não conseguem dar.
Os números são, por si só, elucidativos, caso não bastasse a observação empírica da quantidade crescente de turistas, ao longo destes vinte e cinco anos, envergando máquinas fotográficas e que se detém frente ao Palácio, muitas vezes, em frente à enorme pedra de sete por três metros que compõe a varanda de onde o rei abençoava os pobres, acima do poder espiritual, materializado na magnífica Basílica com vista privilegiada da Sala da Bênção. Não será por acaso. Quem leu o Memorial do Convento ter-se-á deleitado com a narração e sofrido com os trabalhadores que acarretaram a pedra de Pêro Pinheiro até Mafra por um percurso sacrificialmente sinuoso. Mas disto só sabem os que leram. Dos números sabe-se, mesmo sem ler, que, no ano de 2006/2007, 24.986 jovens em idade escolar visitaram o Palácio e consequentemente Mafra.
Enquanto Saramago ficará na História pela obra, a edilidade mafrense permanecerá pelo seu obscurantismo e tacanhez. A contrapartida será o reino dos Céus. Diz-se que os pobres de espírito terão lá lugar cativo.

Palácio Nacional de Mafra
foto: minha

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é natal, é natal, la la la la laaaa...


E o Natal no Porto começa hoje, oficialmente, às 20h.
[Toda a gente sabe que o Natal começa a 17 de Novembro!!!]

Não achava piada à ideia em Lisboa e, muito menos, acho no Porto... Ostentação desmesurada e sem necessidade... Em Lisboa, na altura, cheguei a passar pelo Marquês pela Praça do Comércio e deu para ver o bicho... e, tenho de confessar, que nem o achei bonito... Quando, no mês passado, soube que «a maior árvore de Natal da Europa está a crescer no Porto» estarreci, por momentos. Para que querem eles aquela aberração?! Só porque é grande?!!!...

Mas o que é facto é que a criatura já cresceu - mede tanto como a Torre dos Clérigos (76m) - e está pronta para se mostrar... Se tivermos o vendaval que tivemos há uns anos - que interrompeu a montagem das iluminações natalícias dos Aliados - estou para ver como se vai segurar em pé...

Contudo, mal dizências, reclamações e receios à parte, tanto metro de luz há-de trazer nova côr à Avenida, o que é positivo. E, para além disso... ainda acalento a esperança de que seja mais bonita que a outra... ;)

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sexta-feira, novembro 16, 2007

you don´t say...

Eis a prova, se provas faltassem, de que a titular da pasta da educação, Maria de Lurdes Rodrigues, vive alheada da realidade. Como pode alguém surpreender-se ainda com a ignorância de George W.?

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Os não-praticantes

Numa coisa o Papa Ratzinger [como gosto de lhe chamar] tem toda a razão. Só se devem declarar católicos aqueles [escassos] que acreditam e praticam o catolicismo no seu dia-a-dia. Esta coisa [muito portuguesa] de andarmos sempre a dizer que somos e acreditamos numa coisa mas não a praticamos não tem qualquer lógica. A não ser que queiramos reduzir o catolicismo ao simples sacramento baptismal; tal como o “nosso” primeiro-ministro vem reduzindo o socialismo à compra na FNAC de um ou dois livros de Karl Marx para ornamentar uma prateleira mais vazia lá do escritório.

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Realpolitik

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quando fores grande...

Amanhã é Dia do Não Fumador e, para assinalar a data, houve hoje umas sessões de esclarecimento numa escola primária, que foram alvo de reportagem radiofónica, no noticiário da Antena1. No final, a jornalista falou com algumas das crianças, surgindo a pergunta:

- Quando fores grande, vais querer fumar?

À pergunta idiota tivemos duas respostas negativas e um «Não sei...» Ao que se seguiu um: «Não sabes?! Porquê?...» E perante a inconclusividade da criança, a jornalista ajuda: «Gostavas de experimentar, é?...» A criança acede à insistência e a conversa fica por ali...


Serei só eu a achar este momento jornalístico, no mínimo, infeliz?!...


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85 anos

Parabéns, Saramago!


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Memória

Um dia, aproxidamente por esta mesma época, fui de excursionista a Mafra. Tinha nascido na Azinhaga, vivia em Lisboa, e agora, quem sabe se por um cúmplice aceno dos fados, uma piscadela de olhos que então ninguém poderia decifrar, levavam-me a conhecer o lugar onde, mais de cinquenta anos depois, se decidiria, de maneira definitiva, o meu futuro como escritor. Não recordo que os Baratas tivessem ido connosco. Tenho mesmo a ideia vaga de que nos levou de automóvel um conhecido qualquer de meu pai que, tanto quanto sei, não deixou outro sinal de passagem nas nossas vidas. Dessa breve viagem (não entrámos no convento, apenas visitámos a basílica) não guardo mais viva lembrança que a de uma estátua de S. Bartolomeu colocada, e aí continua, na segunda capela do lado esquerdo de quem entra, a que chamam, creio, em linguagem litúrgica, o lado do Evangelho. Andando eu, pela minha pouca idade, tão falto de informação sobre o mundo das estátuas e sendo a luz que havia na capela tão escassa, o mais provável seria que não me tivesse apercebido de que o desgraçado Bartolomeu estava esfolado se não fosse a parlenga do guia e a eloquência complacente do seu gesto ao apontar as pregas de pele flácida (ainda que de mármore) que o pobre martirizado sustinha nas suas próprias mãos. Um horror. No Memorial do Convento não se fala de S. Bartolomeu, mas é bem possível que a recordação daquele angustioso instante estivesse à espreita na minha cabeça quando, aí pelo ano de 1980 ou 1981, contemplando uma vez mais a pesada mole do palácio e as torres da basílica, disse às pessoas que me acompanhavam: «Um dia gostaria de meter isto dentro de um romance.» Não juro, digo só que é possível.

José Saramago, As Pequenas Memórias, Caminho. pp 77-79

S. Bartolomeu, Basílica do Palácio Nacional de Mafra
foto: minha

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quinta-feira, novembro 15, 2007

espaço em disco insuficiente...

Diz-me ultimamente o computador, com alguma insistência:

Está a ficar com pouco espaço em disco local. Para libertar espaço nesta unidade eliminando ficheiros antigos e desnecessários, clique aqui...


Porque é que não temos um aviso interno deste género, também com a opção de ajuda para nos libertarmos de memórias desnecessárias?!... Sinto que a nossa auto-filtragem interna nem sempre é feita como devia ser...

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Receitas de Leitura II

DOSE DE AMOSTRA

Na família Diogo cada vez mais se desenhava diferença de atitude em relação a Carnaval da Vitória. Os dois miúdos tratavam o porco como membro da família. Limpavam o cocó dele, davam-lhe banho e, todos os dias, passavam nas traseiras do hotel a recolher dos contentores pitéus variados com que o bicho se jibóiava.
O suíno estava culto, quase protocolar. Maneirava vénias de obséquio com o focinho e aprendera a acenar com a pata direita, além de se pôr de papo para o ar à mínima cócega que um dos miúdos lhe oferecesse na barriga.
Pai Diogo aferia o porco de maneira diferente. Para ele era tudo carne, peso, contabilidade no orçamento familiar. Indisposto de engolir o peixe frito, os olhos dele bombardeavam direito no porco para um balanço da engorda: «Estás-te a aburguesar mas vais ver o que te espera», e com a mão no pescoço mostrava-se aos filhos na forma de como se corta uma goela, «faca! é o fim de todos os burgueses!».


Manuel Rui, (2007), Quem me dera ser onda, Lisboa, Caminho.

Composição
Quem me dera ser Onda de Manuel Rui é uma novela em torno da existência urbana de uma família em Angola pululante de episódios rocambolescos. Pai, mãe, dois filhos e um porco partilham o sétimo andar do apartamento, mau grado a oposição dos vizinhos.

Indicações
Este livro está indicado para quem gosta de viajar no tempo e no espaço. Recomenda-se no caso de indivíduos com gosto pela fantasia, por prosas coloridas, por metáforas e que sejam atreitos à sedução das leituras que não se esgotam numa primeira vez. É muito bem tolerado por quem tem apreço pelas letras de expressão portuguesa com o calor dos trópicos e a cor da paisagem africana, ainda que urbana.

Precauções
Não se recomenda a indivíduos sem capacidade de dar umas boas risadas ou que tenham alicerces demasiados profundos em quotidianos sombrios e realidades lineares desprovidas de imaginação, humor e sátira. Está desaconselhado para amantes de romances longos. Podem verificar-se pontualmente episódios de ansiedade. Caso comecem a ocorrer sonhos frequentes com o Carnaval da Vitória ou pensamentos inquietantes sobre o seu destino, a leitura deve ser descontinuada imediatamente.

Posologia
Recomenda-se a leitura diária de algumas páginas não se conhecendo efeitos de sobredosagem. Desconhecem-se efeitos secundários de uma segunda ou terceira leitura.

Outras apresentações
Caso tenham sido observadas melhorias com a leitura de Quem me dera ser Onda recomenda-se a incursão em Estórias de Conversa do mesmo autor e em Os da minha Rua de Ondjaki.

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Sugestões de Leitura

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quarta-feira, novembro 14, 2007

Quando a esmola é muita...

José Sócrates revelou hoje a intenção de alargar o programa e-escolas. O que José Sócrates não revelou foi que os programas instalados provocam uma incompatibilidade no sistema e que as reclamações têm chovido para as entidades competentes.
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Diário de Bordo

Andar em alto mar sem tecnologia de ponta tem que se lhe diga.
O problema reside, essencialmente, no analfabetismo funcional, isto no que diz respeito à análise do conteúdo das mensagens.
Essas mensagens são aparentemente claras.
O eufemismo "aparentemente" é plenamente assumido.

A vantagem/desvantagem do navegar reside apenas no facto de ser uma espécie de exílio empirista, uma nadinha racional.
Esclarecimento importante, navegar no sentido de aprender a conduzir um barco sem:
- chocar com icebergs,
- ir ao fundo,
- abalroar petroleiros,
- ser abalroada,
- conhecer o sentido da palavra "critérios".

Ora bem, é muito importante fazer-me entender.
Racionalismo no sentido em que é importante conhecer as técnicas de navegação, mas por favor, não me expliquem a "teoria das cebolas voltaicas" nas aulas de "Técnicas de Navegação", a malta apenas quer aprender a navegar. Enfim, queremos aprender a navegar navegando. Quanto ao racionalismo, assumimos que somos suficientemente inteligentes para lermos a interessantíssima "teoria das cebolas voltaicas" futuramente. O mar é um excelente veículo para a aprendizagem forçada.

De todos os conhecimentos futuramente importantes, parece-me evidente que, depois das aulas ministradas através da tele-escola "parlamento", ficámos um nadinha "baralhados" com o significado da palavra: "critérios".
Quando o prof "definiu" a palavra pretendeu dizer-nos o quê?
Critérios de navegação são metodologias de avaliação das seguintes formas de navegação:
- navegar sem noções de navegação;
- a navegar é que aprendemos a pensar sobre a melhor forma de navegar;
- a pensar é que aprendemos a navegar;
- o capitão sabe navegar e mais ninguém precisa de saber ler as estrelas;
- as estrelas estão ali para baralhar a navegação;
- o mundo já foi todo descoberto e não venham cá ensinar missa ao prof.

A esta altura do campeonato, depois da ligeira "indisposição" no campo mais aquecido do planeta, é perceptível o estado deplorável em que me encontro?
O Carroll* faz, por tudo isto, todo o sentido!


* - "A Caça ao Snark" de Lewis Carroll, uma obra prima do non-sense e da imaginação, sem esquecer a extraordinária criatividade das palavras-mala: Snark (caracol/cobra + tubarão). Existe uma tradução portuguesa publicada pela Assírio & Alvim.

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terça-feira, novembro 13, 2007

O país que temos II

O Ministro da Justiça, Alberto Costa, esclareceu que a aquisição de viaturas novas topo de gama para o Ministério que tutela se deu dentro da legalidade. Ao que parece, legal e moral são dois conceitos opostos no momento presente.

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segunda-feira, novembro 12, 2007

"¿Por qué no te callas?" [parte 3 de 2]

Clicar na imagem para visualizar a nova mensagem que Don Juan Carlos de Borbón enviou para Hugo Chávez depois de ter tomado conhecimento dos graves problemas auditivos do espirituoso presidente Venezuelano. Uma fonte [segura] que não se quis identificar mas bastante bem relacionada na Casa Real Espanhola afirmou esta noite que Don Juan Carlos de Borbón também já encomendou uma tradução em braille na tentativa desesperada de procurar evitar mal-entendidos com o Daniel Oliveira.








Imagem gentilmente cedida pela minha pessoa.

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Esvaziar a alma

Carteiros. Sempre vi algum encanto nos carteiros, uma espécie de Mercúrios contemporâneos trazendo novidades de casa a casa, e, mesmo que o correio electrónico tenha tomado conta de uma parte substancial das comunicações interpessoais escritas, continuo a admirar estes emissários que nos dias que correm abandonaram maioritariamente as caminhadas a pé e se deslocam em veículos motorizados. Duvido que este carteiro se deslocasse através de qualquer outro meio que não fossem os seus próprios pés, não sei se por fazer jeito à ideia romanceada de carteiro que me ocupa o imaginário, se por assim ser quando se lê um texto alheio e se lhe vão juntando peças e preenchendo os espaços naturalmente deixados em branco por quem escreve para quem lê.
A pé ou de motociclo, a verdade é que este era um carteiro especial. Maldizia o peso dos livros e, certo dia, encetando conversa com o narrador em virtude da quantidade de livros que lhe deixava, descobriu para seu desencanto que não, o destinatário de todas as cartas e livros não os lia sempre e nem os lia completamente e que, além da falta pela ausência de leitura, redistribuía as encomendas por amigos, assim mesmo, se lhes ler o miolo, vocábulo usado para o conteúdo dos livros. Delicioso. O carteiro não se conformava. Como não ler? Se entrega, tem de ler. A não leitura constituía um pecadilho imperdoável, um desrespeito para com o remetente. O narrador não cede e argumenta que para o escritor é igual a leitura ou não das obras colocando um ponto final na contenda e postulando lacónico que o esvaziamento de alma a que a escrita obriga será por si só suficiente. O carteiro riposta, o narrador riposta, o carteiro surpreende o narrador com uma revelação velada acerca do ofício que lhe preenchia a vida além dos afãs de carteiro, apontando na direcção de outro carteiro também a braços com um escritor de renome, Pablo Neruda. Se Carlos Drummond de Andrade esvaziou a alma não se deixa adivinhar, espero, não obstante, que sim, a contrapartida mais do que merecida para a crónica brilhante com que nos brinda, uma das muitas que habitam nas páginas de Boa Companhia.
E como sei que o Pedro é um admirador confesso deste género em geral e apreciador deste livro em particular, lanço-lhe o repto para esvaziar a alma e nos contar sobre uma das suas crónicas preferidas.

imagem: Van Gogh

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"¿Por qué no te callas?" [parte 2]

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Talento mortal

Imagem via: joseluispeixoto.net

José Luís Peixoto, indiscutivelmente [digo eu] o melhor escritor português da minha geração [rasca], deu hoje uma entrevista no Jornal da :2 a propósito do lançamento do seu último livro [Cal]. Fiquei bastante preocupado por saber que o Zé Luís [para os amigos] faz um piercing por cada momento inolvidável da sua vida. Se considerarmos que o Zé [para os amigos ainda mais íntimos] já não tem [aparentemente] muitos mais locais livres para colocar piercings, temo que o seu enorme talento ainda o acabe por matar.

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domingo, novembro 11, 2007

MIAAAAAAAAAAAAAUUUUUUUUUU!!!!!

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do caos e da ordem...

Rodeiam-me montes
E montes vejo...
Por sobre os montes
Mais montes crescem,
Para cá dos montes
A vida pára,
Para lá dos montes
A vida corre.

Os montes protegem
Os montes confortam
Os montes acolhem
Os montes...
Afastam, dividem e encerram...

Andando por sobre os montes
Não sei que rumo tomar:
Tombando para dentro
Anseio sair,
Correndo para fora
Desejo entrar.

Rodeiam-me montes
E montes vejo...

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sábado, novembro 10, 2007

hoje, em Coimbra...

Hoje desço um bocadinho no mapa, para vos falar das Oficinas de S. Martinho que vão decorrer no Jardim da Sereia (Coimbra). Lembram-se, com certeza, das danças tradicionais de que tenho falado com alguma frequência... [Se não se lembram, avisem, que eu falo mais um bocadinho :) ] Pois bem, o espírito é o mesmo, mas desta vez as estrelas não são as danças, mas sim os instrumentos: cavaquinho, gaita de foles, concertina, flauta e tamboril, percussão e sanfona. A tudo isto acresce também uma oficina de pauliteiros e ainda (a pedido de muitas famílias) uma de danças tradicionais europeias (sem necessidade de inscrição).


As oficinas (que pediam inscrição prévia) começam a partir das 10h e prolongam-se até à hora de jantar. À noite, há magusto, projecção de vídeo, música e... dança para toda a gente! É só aparecerem!

cartaz

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sexta-feira, novembro 09, 2007

Maioridade

João Ubaldo Ribeiro, 66 anos, brasileiro, natural de Itaparica, escritor, membro da Academia Brasileira de Letras. Wladimir Kaminer, 40 anos, russo, natural de Moscovo, escritor, jornalista, animador de rádio, fundador da Russendisko. Embora vinte e dois anos de vida e um continente apartado pelo Atlântico os separem, estes dois homens partilham entre si, além do labor da escrita, uma mesma cidade. Não há evidência de que alguma vez se tenham encontrado, desconhece-se se algum dia se terão cruzado na Ku´damm ou em qualquer outra rua da urbe mais emblemática do século XX. E, mesmo sem se saber o seu paradeiro durante o longínquo ano de 1990, altura em que ambos partilharam a cidade, Berlim une os dois escritores. Assim conta a história de João Ubaldo Ribeiro, que a convite do DAAD passa quinze meses em Berlim e que a partir da sua vivência na cidade e do confronto com uma realidade que o esperava com todos os estereótipos do brasileiro da Amazónia, escreve um livro delicioso, cheio de humor e peripécias narrando as aventuras desses quinze meses em território germânico. Enquanto isso, Wladimir Kaminer, recém-chegado da Rússia politicamente em escombros e socialmente desvalida, talvez habitando já no Schönhauser Allee, também o título de um dos seus livros iniciais, vive Berlim de forma tão intensa e estranha quanto Ubaldo Ribeiro. O mesmo olhar de fora, crítico, irónico, sarcástico, focado na cidade em pleno processo de mudança, engalanada com todas as cores da liberdade, exuberante na esperançada transmutação.
João Ubaldo Ribeiro regressa ao Brasil, para trás a experiência de Berlim e a rua Storkwinkel, a morada berlinense que admite ter-lhe deixado saudades, e brindou-nos com um belíssimo livro, breve, mas prenhe das impressões de um brasileiro em Berlim e que acabaria por emprestar o título à obra.
Kaminer ficou. Berlim torna-se, entretanto, o cadinho fervilhante de que são feitos quase todos os seus livros. Kaminer assume-se como não berlinense no único livro que dedica abertamente à cidade, Ich bin kein Berliner, a paródia evidente a uma das afirmações mais simbólicas do século passado. A dúvida persiste, no entanto, e para saber fica, se este estatuto de forasteiro serve à escrita, à figura pública do escritor ou ao real sentimento de inadaptação que provou ser um dos ingredientes imprescindíveis e de sucesso nas obras de Kaminer, mais ainda se pensarmos que tem intenções de candidatar-se a Burgomestre da cidade.
E Berlim não é cidade mãe, materna e acolhedora. Não tem regaço nem colo. Não nos canta canções de embalar nos crepúsculos agitados. Berlim é o oposto da mãe: dispersa, áspera, desigual, imensa e indiferente. Em Berlim podemos ser anónimos eternamente, um entre muitos na multidão frenética, multicolor, multicultural, lançados à mercê dos humores da sua altivez e intensidade que congrega a ironia e contradição dos acontecimentos históricos e sociais mais transformadores da Europa do século XX. E duma cidade assim, a história inscrita em cada pedra e a espreitar a cada esquina, só podiam brotar muitos livros, possíveis pela comunhão com a cidade que 9 de Novembro de 1989 permitiu.

foto daqui

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hoje, no Porto...

Saber "o que é feito do antigo colega de carteira", sentir os anos que passaram pela sala de aula que se conheceu de cor, voltar a entrar no café "Piolho" e noutros espaços habituais da vida académica, são alguns dos objectivos deste 1º Encontro/Festa de Antigos Alunos. [UP, newsletter]

Não sei bem há quanto tempo não vão ao edifício da Praça Gomes Teixeira (Porto), vulgo, Leões. O edifício albergou a antiga Academia Politécnica que deu origem às Faculdades de Ciências (tendo sido o seu edifício central durante muitos anos) e de Engenharia. Mas, se lá vão procurar as salas de aula de outrora, desenganem-se... Tudo (ou muito) foi fortemente remodelado de forma a receber os serviços da Reitoria. Anfiteatros destruídos, deram lugar salas de reunião e escritórios, tudo muito cheio de cabos de rede que agora passeiam assumidamente os tectos dos corredores. Isso não tem de ser mau... Mas eu fui acompanhando algumas das obras e, ver as cadeiras da LW (sala Louis Woodhouse) amontoadas, estilo lixeira, ou os seus seis quadros encostados a um canto, trouxe-me uma nostalgiazinha... A minha primeira aula!...

Quanto ao "Piolho" (de seu nome Café Âncora d'Ouro) foi durante muitos anos lugar de tertúlias de outros tempos e o ponto de encontro quase obrigatório dos estudantes. Sem dúvida, um símbolo da tradição académica portuense. Mas "O Piolho" também mudou... Mais arejado, mais luminoso, com casas de banho novas!!! Cresceu o número de placas de homenagem e comemoração de cursos passados. Mas continuam as pequenas mesas e cadeiras alinhadas sem espaço de circulação :)

E, no meio de tanta divagação, acho que me perdi... Ora bem, hoje, no Porto, na Praça Gomes Teixeira, das 18h às 24h:



cartaz

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Há vícios que nunca se perdem

Os sindicatos marcaram uma greve da função pública para dia 30 de Novembro. Não discuto as razões. Mas com tantos dias passíveis de serem eleitos, vão logo escolher um que servirá, acima de tudo e aos olhos da opinião pública, para substituir um feriado que este ano ocorre num Sábado. O resultado é fácil de apurar: todo o capital de confiança e simpatia que tinham ganho aquando da manifestação de 200.000 pessoas é atirado pela janela fora. Não é só o Governo que dá tiros no pé.

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quinta-feira, novembro 08, 2007

Porque amanhã é Sexta

Foto: Tarja Official website

Tarja Turunen, cantora lírica finlandesa e fundadora da banda de heavy sinfónico Nightwish. Em Outubro de 2005 tomou conhecimento do seu “despedimento” através de uma carta que lhe foi entregue em mão pelos restantes membros da banda no final do último concerto da digressão End of an Era [gravado em DVD]. A carta foi tornada pública, nessa mesma noite, no site oficial dos Nightwish.

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educadamente...

Sentada no teatro do Batalha (Porto), assisto a (mais um) espectáculo de Tunas académicas. Estou junto à porta do fundo... Sinto um cheiro... Atrás de mim havia entrado gente a fumar...

- Olha, não podes fumar cá dentro?

- Ah, eu sei. - responde o rapaz educadamente.

Faço tenções de me virar para a frente e continuar a apreciar o espectáculo, mas reparo que o rapaz educado continua impávido e sereno atrás de mim de cigarro na mão...

- Podes, então, ir lá para fora?... - pergunto serena, contendo um: então que raio estás a fazer aqui dentro???!!!

- Ah... claro... - acede o moço, afastando-se educadamente, deixando, no entanto, transparecer um: estás a falar a sério?!... é só um cigarrinho!...


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50 Jahre Trabi


Imagem daqui
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Dez textos sobre Economia(s) (iii)

O Euro é o mais bem sucedido projecto da UE e será a moeda planetária do futuro. Em termos económicos, e sem cansar muito o leitor com miudezas técnicas, é fácil justificar a afirmação. Está menos sujeito a oscilações bruscas, por serem quinze economias que o sustentam e não apenas uma (caso do dólar ou do iene). Embora sejam países mais pequenos do que os EUA ou o Japão, existem sempre economias que estão mais saudáveis do que outras, fazendo com que o Euro tenha pontos de apoio que não o deixam desvalorizar ou valorizar repentinamente. Certo é que a política monetária do BCE pode decidir uma valorização (pelo aumento da taxa de juro) ou uma desvalorização (pela descida) por via administrativa, mas esse efeito é sempre mais suave e mais consistente do que se fosse o banco central de uma economia isolada a fazê-lo. Por outro lado, cada país da UE que integra o projecto tem numerosas relações comerciais privilegiadas (África, América do Sul, Ásia,...; no caso de Portugal, Brasil e alguns países africanos) que permitem que o Euro se generalize rapidamente como moeda de negociação. Para além deste efeito directo de disseminação, existe outro, que chega indirectamente, fruto de uma política monetária mais calma do BCE em relação ao custo do dinheiro comparativamente aos congéneres japonês e, principalmente, norte-americano. Isto é, uma vez que é uma moeda mais estável, os países terceiros têm cada vez mais tendência a adoptar o euro como moeda de troca. Dois exemplos: há uma corrente de opinão cada vez com mais peso dentro da OPEP que deseja que o custo de petróleo seja fixado em euros e não em dolares. [O outro exemplo vem no fim do texto].
Resumindo, o Euro é o mais conseguido projecto europeu, porque todos o que o integram têm de fazer sacrifícios para o poderem adoptar como moeda - e como ninguém gosta de fazer sacríficios em vão, todos dão o seu melhor por ele -, porque é o projecto que todos os cidadãos dos Quinze estão em contacto e participam nele quotidianamente e sobre qual recaem as expectativas económicas das suas vidas. E será a moeda global do futuro porque é mais estável, porque entra num cada vez maior número de economias por via das importações/exportações, e porque, vem agora o outro exemplo da força do Euro, a Gisele Bundchen gosta de ser paga em Euros. Querem melhor futuro do que este?

Gisele - mais uma entusiasta do Euro

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quarta-feira, novembro 07, 2007

Diário de Bordo

O mar alto está agitado, ventos de leste, GPS com problemas de ligação ao satélite, não se vislumbram silhuetas ou imagens disformes.
Terra nem vê-la.

Perguntas de principiante, em navegação, sobre o que se passa em terra:
- os nativos da AR sabem qual é a sua missão?
- os nativos que os elegeram sabem quais os objectivos do seu voto?

Respostas de leigo:
- quando um projecto de lei (?) é discutido na AR importa-me que lhe sejam levantadas questões pertinentes. E o que são questões pertinentes? Quais são as principais contradições? Quem favorece? Quem desfavorece? Como poderá ser pervertida?
- os objectivos do meu voto são, para mim, claros: eleger um representante que se especialize em alguma área, de forma a que na AR existam especialistas que discutam os PL com conhecimento de causa.

Entre a questão e a resposta:
- há um periclitante Universo de ingenuidade.

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terça-feira, novembro 06, 2007

O país que temos

Sugiro a leitura desta crónica da Carlota sem mais comentários.

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Do que não vem nas receitas

Reabro o suplemento do jornal deixado ao acaso sobre o sofá na certeza de ser relido uma ou duas vezes mais. Percorro pela segunda vez as paragens sugestivas, viagens low-cost, e os olhos focam quase nas últimas páginas uma receita de ginjinha: 1 kg de açúcar, 1 kg de ginja, 2,5 l de aguardente, 1 pau de canela.
A melhor ginja artesanal que terei bebido foi feita pela mão da minha tia, corria então o longínquo ano de 1995, há mais de uma década, portanto. O aroma desprendia-se de imediato no contacto do néctar rubro com o cálice de dimensões generosas, assim me cutuca a memória presente da mescla do perfume da canela com a cor densa de textura licorosa, ou não fosse ginja, com os frutos mínimos esféricos no fundo da garrafa bojuda que julgo ainda existir em casa dos meus pais. E vem tudo isto a propósito das receitas de cozinha. Podem incluir o mais sofisticado e rigoroso modo de preparação, ingredientes de qualidade excelsa, exóticos, raros, frescos, biológicos, mas caso sejam ausentes e desvalidos do toque mágico e alquímico de quem os une, casa, funde e mistura, qualquer cozinhado potencialmente perfeito e opíparo transformar-se-á numa sensaboria inodora e insípida. E, também por isso, nunca entendi quem aferrolha a sete chaves segredos de cozinha, guarda para si receitas e toques especiais que, teoricamente e aos olhos dos avaros e zelosos guardiães dos mistérios de sabores, transformam um simples prato num manjar divino. Qualquer receita é potencialmente um desastre ou um sucesso, assim a mão de quem a labora e prepara. Por isto também tenho a certeza de que jamais provarei ginja como a da minha tia.


Imagem a partir daqui
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segunda-feira, novembro 05, 2007

Bárbaros

são os que permitem isto.
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O direito à indignação

Depois de Pedro Santana Lopes perder as estribeiras em directo na SicNotícias e abandonar o estúdio nas mãos da jornalista de serviço, Sarkozy seguiu-lhe o exemplo, também em directo, na CBS, quando lhe fizeram perguntas que considerou pessoais e, a avaliar pela reacção, descabidas. E como não há duas sem três, chegou também a vez de Seinfeld, desta feita indignado com o entrevistador, Larry King. Apesar de não ter seguido o exemplo dos anteriores ao abandonar o estúdio, Jerry Seinfeld não foi parco na demonstração da sua indignação. Acabaram-se os tempos do politicamento correcto, das meias palavras, do desagrado manifestado por uma expressão de rosto menos serena. Ao que parece, a partir de agora, ninguém terá de suportar o que não gosta, mesmo em directo, e caso se sintam desrespeitados, palavras podem não bastar. Há que pegar na trouxa e deixar os jornalistas e entrevistadores a falar sozinhos. The times they are a-changin´*.
*Bob Dylan
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Norberto Lobo

Desconhecia por completo até há meia dúzia de dias atrás. Apanhei, por acaso, parte da entrevista e sons num Portugália da Antena3... Guitarra acústica, só! Gostei daquilo. Parece que acabou de lançar um álbum... Entretanto, soube que ia estar no Passos Manuel (Porto)... Decidi experimentar...

Em palco, apenas uma cadeira e os microfones iluminados por focos de luz sóbrios em fundo preto. O músico sobe ao palco de guitarra na mão e, sem palavras, começa a tocar... Lentas e algo solitárias, as primeiras notas parecem procurar familiarizar-se com o espaço, ganhar uma confiança, um propósito para as restantes... O concerto – muito curto! – decorreu com poucas palavras e explicações... apenas música na sua forma mais simples... pronta para ser apreciada... Fez-me lembrar Carlos Paredes... outra guitarra e outro tempo, mas uma proximidade na beleza sonora...

Norberto Lobo: [site] [myspace]

Conhecendo-o apenas deste curto – muito curto! – concerto, fui procurar alguma coisa mais consistente para dizer... E esta a descrição encaixa na perfeição com o que eu alguma vez pudesse querer dizer:
[...] a assunção elementar do instrumento, com as suas potencialidades e limitações, e a alegria primeira de produzir som e de o sentir no corpo como vibração física parecem transmitir-se ao ouvinte e comunicar com ele a esse nível de fruição que diríamos haver-se perdido, ou pelo menos adormecido, pela forma como nos habituámos a ouvir música: consumindo-a, mais do que a apreciando. Não que esta música seja “difícil”; pelo contrário, a forma como é trabalhada – os baixos alternados, o vigor das harmonizações, a densidade dos arpejos, o brilho das linhas melódicas – põe a sua apreciação num patamar anterior ao da avaliação intelectual pura [...]. Nela indistintamente convivem elementos de pendor mais contemplativo com outros reveladores de uma alegria e humor vitais [...], assim como elementos de tradição com outros de inevitável - e desejável - modernidade. [...]

foto: Nuno Mendes (Bor Land)

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domingo, novembro 04, 2007

Livros sobrepostos

Não tendo completa certeza quanto ao livro que se encontrava mais perto de mim quando tomei conhecimento do desafio lançado aqui pelo Carlos Malmoro, opto por transcrever as quintas frases [mais coisa menos coisa – com o intuito de procurar dar algum sentido às proposições] das páginas 161 dos dois livros que me vêem acompanhando nesta última semana:

«Em El Greco, em Soutine, há verdes onde o desespero está em gestação. Em suma, os elementos, os ingredientes de toda a criação artística são na realidade preexistentes; em certos casos, veiculam uma sobre determinação (surdétermination).»

George Steiner, 2001, Gramáticas da Criação, Lisboa: Relógio D’Água Editores, p.161


«Vamos agora falar de amor. Mas de amor não correspondido. Trata-se de referir o reflexo mais perdente do investidor de Bolsa: o apego ao papel e a fixação no preço de compra, quando as cotações começam a cair.»

Fernando Braga de Matos, 2005, Ganhar em Bolsa, Lisboa: Publicações Dom Quixote, p.161

PS. Como já não deve haver mais ninguém para desafiar… pela parte que me toca, dou por finda esta corrente blogosférica.

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As boas ideias não têm preço

Na cultura não há dinheiro que substitua uma boa ideia. Por mais que se tente encher um ecrã com efeitos especiais de última geração, cenas épicas ou majestosos grandes planos, nada é mais eficaz que uma ideia bem conseguida. O vídeo abaixo é um exemplo disso. Um bom conceito e um técnico de efeitos especiais. São quanto basta para se fazer um magnífico videoclip.


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sábado, novembro 03, 2007

O pecado mora ao lado

É um dos filmes mais conhecidos de Marylin Monroe, realizado por Billy Wilder.

Não é o o meu filme favorito, prefiro sem dúvida Some Like it Hot, uma comédia hilariante e o tristíssimo e visionário The Misfits.

O que me atrai na tradução portuguesa do The Seven Year Itch é a sua ironia risonha, a que encontramos bem etiquetada nas prateleiras da realidade.

O pecado mora ao lado, título de crónica de fim de semana, assume a componente irónica do título português e pretende olhar a realidade apenas e só com um sorriso.

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a ouvir zeca...

Já não é a primeira vez que, perante uma notícia de morte, me dá para ouvir Zeca... Não sei bem o que é, mas há alguma coisa de reflexivo e apaziguador...

Morreu ToPê Borlido, um dos professores responsáveis por tantos dos sorrisos do fim-de-semana... As alpinas e as bourrées são danças animadas, passíveis de interacção de grupo em grandes rodas familiares e de olhares fortes em paragens e cruzamentos de pares. Nos workshops de ToPê reinou, sem dúvida, a boa disposição...

...

Ainda no domingo dançávamos todos...

Um velho voltou
E disse-lhe adeus
Cantando e dançando
Debaixo do céu
"Que é pena que é mágoa
que uma ave de penas
não possa voar"

Zeca Afonso, «Fura Fura» (1979)


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sexta-feira, novembro 02, 2007

Ora agora escutas tu

Preocupa-me a veleidade de certas afirmações de alguns responsáveis, principalmente aqueles cujos cargos comportam visibilidade e protagonismo mediático.
O facto de Pinto Monteiro dizer que até ele pode estar a ser escutado, é uma afirmação de circunstância num artigo de jornal, mas que foi explorada como facto político.
No fundo, provavelmente o que o procurador pretendeu dizer foi: ninguém é imune às escutas. Mas o ruído de fundo é: toda a gente anda a ser escutada.

No tempo da outra senhora censurava-se o artigo, chamava-se a atenção do procurador para a "inocência" praticada e ficava tudo entre aspas.

Agora o PGR vai à AR, juntamente com o ministro e vai tratar de clarificar o que é para todos evidente.

Entre um procedimento e outro venha o diabo e escolha.

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obrigado pelos sorrisos...

No fim-de-semana passado, o Teatro da Luz (Lisboa) recebeu mais um FEST-i-BALL. Estou a falar, mais uma vez, das músicas e danças tradicionais (predominantemente) europeias – música folk, como parece dar mais estilo dizer... Da minha parte, workshops e bailes... dança, dança e dança toda a tarde e pela noite dentro. Partilhas, cruzamentos, olhares, sorrisos, cumplicidades,... Como diz a organização em jeito de balaço: «foi um evento fantástico» – sem dúvida! E ainda nos perguntavam admirados se tínhamos ido do Porto de propósito!... Sim... e não fomos só nós! O que não falta em Lisboa é gente, mas há quem não perceba a sorte de ter um festival assim à porta de casa...

Em jeito de agradecimento, da parte da organização, ficou um singelo «obrigado por tudo, obrigado pelos vossos sorrisos. e carinho!»

Delicioso! De facto, os sorrisos, mais soltos ou mais tímidos, que por lá andaram são a reacção imediata e sincera de toda a atmosfera que rodeia estes eventos. A simplicidade do sorriso é demasiadas vezes sub-valorizada...


Ah, é bom sorrir um pouco
Descontrair-me um pouco
Eu sei que tu compreendes bem

Jorge Palma, «Bairro do Amor» (1989)
[relembrado pela amok]

foto: Hugo Lima (Marquês - Passagem de ano 2006/2007)

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