domingo, fevereiro 18, 2007

Complicadex

Foto: Oskari Hellman

Durante a campanha ambas as partes andaram a bradar aos sete ventos que a questão do aborto não era política. Apesar de não partilhar desta visão apolítica, a verdade é que se observaram diversos personagens da direita a fazer campanha pelo Sim, e de esquerda pelo Não. Aliás, nesta matéria, ainda estão por traduzir as representações de alguns silêncios particularmente misteriosos.

Porém, apesar da axiomática vantagem do Sim, o referendo, como esperado, acabou por não ser juridicamente vinculativo.

Face à pergunta que foi colocada, e às dúvidas semânticas que, extraordinariamente, só agora parecem começar a fazer sentido para os defensores do Sim, um referendo não vinculativo seria uma oportunidade única para se preparar uma lei apoiada nas orientações mais moderadas da facção "vencedora". O discurso de “vitória” de José Sócrates parecia apontar nesse sentido, mas bastaram algumas horas para que alguns dos Sins mostrassem as suas verdadeiras pretensões: o aborto livre.

Como com o passar do tempo as clivagens entre os diferentes Sins vão ter tendência para se acentuar, e como o melhor do Carnaval ainda está para vir, vou-me entretendo a observar as evidentes dificuldades em que os defensores dos diferentes Sins se encontram por se terem apressado a anunciar uma estrondosa “vitória” que, como se nota, não passa de uma intricada vantagem política.

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