quinta-feira, agosto 31, 2006

Bush versus Ahmadinejad [2]


Na Europa ocidental, nos meios associados ao espectro político comummente designado por extrema-esquerda, esquerda radical ou conservadora, tradicionalmente mais críticos e agressivos para com as administrações norte-americanas, não se consegue disfarçar o regozijo sempre que um qualquer Mahmoude Ahmadinejad "confronta", na praça pública mundial, os "senhores do mundo".

Apesar de já estar farto de assistir a estas estórias, e de invariavelmente já saber qual vai ser o seu desfecho, ainda não consegui deixar de estranhar esta entronização lúdica levada sistematicamente a cabo por este espectro político, e que se fundamenta num preceito tão simplista quanto o do inimigo do meu inimigo, meu amigo será – tantas vezes reprovado por ser aplicado com demasiada frequência na política externa das administrações norte-americanas.

Na sua maioria, estes livres-pensadores europeus, apesar de não negarem as evidências – que esses estados são governados por tiranos mentores do terrorismo interno e internacional –, parecem conviver bem com essa certeza. Até aqui tudo bem (ou menos mal), não acontecesse mostrarem-se tão indignados quando algum estado, ou coligação de estados, decide recorrer à força por se sentir ameaçado por essas mesmíssimas evidências.

Na prática, estes críticos, quando confrontados com o terror e violência que estes pequenos ditadores pretendem fomentar a nível global, mostram-se sempre bastante benevolentes e compreensivos para com as suas causas. Porém, a indulgencia destes críticos desmorona-se quando o que está em causa é o recurso à força por parte de estados soberanos que se sentem ameaçados por estes ditadorezinhos de ocasião.

Continua…
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Integrar é preciso...

São precisos dois filhos por cada mulher para renovar as gerações nacionais.
Hoje em dia os números limitam-se a uma média de um filho por cada mulher.
Sem integração e políticas de natalidade é impossível inverter esta tendência de envelhecimento.
O multiculturalismo é necessário e inevitável.
São urgentes as políticas de integração e de não exclusão para estimular a competição no mercado laboral e na economia, o aumento dos níveis de vida, da produtividade nacional e do rejuvenescimento populacional...
Ponham os olhos no Canadá.
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dona melancia licenciando pensamento

Ela botando discurso - 'cê sabe porque é que eu gosto de ZéZé, benzinho?
Ele touro enraivecido - 'cê quer se divorciar, meu bem?
Ela sensibilizada - que disparate, benzinho, onde 'cê acha qu'eu ía encontrar alguém tão queridinho?
Ele aliviado - então, meu bem, porque é que 'cê gosta de ZéZé?
Ela filosofando - ZéZé é um cara meio simpático, meio antipático, e, acima de tudo, muito incorrecto.
Ele percebendo tudo - 'cê quer dizer que ZéZé não desdiz aquilo que pensa?
Ela concordando - é, benzinho, ZéZé não precisa de, ideologicamente, licenciar pensamento.
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A Jornada do herói


Joseph Campbell em O Herói das Mil Faces, 1949, publicou as suas conclusões sobre a estrutura das histórias.
Para Campbell a anatomia das histórias dividide-se em 12 etapas:

1 - Mundo normal - o herói é apresentado na sua rotina diária.
2 - Chamamento para a aventura - algo fora de comum acontece.
3 - Recusa do chamamento - o herói tenta esquivar-se de tomar uma atitude.
4 - Encontro com o mentor - uma situação que desencadeia no heróia superação do receio de agir.
5 - Travessia do limiar - o herói sai da rotina e entra num mundo de situações especiais.
6 - Testes, aliados e inimigos - o herói passará por testes, encontrará aliados e terá de enfrentar inimigos.
7 - Aproximação do objectivo - O herói aproxima-se do objectivo principal da sua jornada.
8 - Provação suprema - É o auge da crise, o herói enfrenta o seu maior desafio.
9 - Conquista da recompensa - o herói conquista a recompensa e esta etapa marca o final da crise.
10 - Caminho de volta - o herói inicia o caminho de volta ao mundo normal.
11 - Depuração - o herói poderá ainda ter de resolver uma situação secundária na história.
12 - Regresso transformado - o herói está de volta ao mundo normal, mas já não é o mesmo.

adaptação de:
BELLOTO, Sonia, Como Escrever um Livro, Lisboa, Texto Editores, 2005, pp. 75-79
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a Mãe Natureza...

A Mãe Natureza é uma mãe porreira que deixa o filho sair à noite mas com hora de chegada bem marcada e controlada à porta de casa. Se o miúdo abusa, está feito! Fica numa espécie de prisão domiciliária com trabalhos forçados por tempo indeterminado até recuperar a sua confiança. Está a fazer um ano que esta Mãe castigou o toda uma cidade porque ousou ir além dos limites permitidos. Agora o menino rebelde não sabe se se rende à força da sua mãe ou, fiel à sua rebeldia e empreendimento, tenta dar a volta a senhora mais uma vez.

"A cidade perdida de Nova Orleães" é um documentário que passou esta semana na dois: que reflecte sobre a reconstrução ou não da cidade realmente perdida...

Grande parte de Nova Orleães está/estava 2,5m abaixo do nível do mar, protegida por um sistema de diques anti-cheias teoricamente preparados para resistir a um furacão de nível 3. Ora o Katrina tinha nível 5 e, pelos vistos, os diques não resistiriam nem a um nível 1... Situada numa zona bastante dada a essas coisas de tempestades e furacões, um em cada trinta que por lá passe atinge (probabilisticamente) Nova Orleães. A zona sempre sofreu vários ataques da Mãe Natureza, mas antes também ela se encarregava da recuperação do local. O avanço do Homem foi ganhando terra ao mar, ao rio e aos pântanos, inviabilizando a protecção e recuperação natural deixada a cargo das plantas agora inexistentes. Esta deterioração do solo faz também com que a pouco e pouco a cidade se esteja a afundar por aluimento do solo.

Tudo isto é o porque não - o lado racional! Quanto ao porque sim, resta o lado emocional, a restituição da terra à sua gente, a vontade de recuperar o património perdido, o reabilitar da terra onde se cresceu... e o tal empreendimento do menino rebelde!

Ambos os lados têm custos, prós e contras mais racionais, mais emocionais, mais económicos, mais sociais,... mais políticos. Conclusão do documentário: é, sem dúvida, uma decisão politicamente complicada.
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quarta-feira, agosto 30, 2006

Passeando pelos media

A recente celebração com o anúncio nos Estados Unidos do desenvolvimento de células estaminais sem a destruição de fetos humanos foi uma rara ocasião para a unanimidade universal. O que não será com certeza unânime é o reconhecimento do papel decisivo que a proibição da utilização dos fetos teve na eclosão desta “descoberta”. A possibilidade técnica sempre lá esteve, apenas se considerava que não valia a pena o esforço. Afinal a proibição nem sempre é “contra o progresso”, porque neste caso ela deu azo a um progresso verdadeiro.
Manuel Queiró, Público de hoje.
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1º Aniversário: «A Origem das Espécies»





















Photographia

No escrever há um vagar supérfluo, uma
nitidez repetida do mundo, enganos
e ilusões que em qualquer outro lugar se perdem
de si mesmas. Mas nisso a que chamas,
incessante real, algum nome
para as coisas ou o amor delas,
está intacto o que a magia transforma.

Francisco José Viegas in Caligrafias, 1983

«A Origem das Espécies» é daqueles blogues que me dá um imenso prazer acompanhar diariamente. Apesar de ser uma individualidade dentro (e fora) da Blogosfera, Francisco José Viegas dá mostras no seu blogue de um despretensiosismo que só posso definir como exemplar.

Deixo aqui um abraço para o Francisco da equipa do «Geração Rasca», e o desejo que continue a partilhar connosco as suas letras e pensamentos por muitos e muitos anos.
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R.I.P.


D'O Independente, sentirei a falta de duas coisas: dos artigos de opinião e do estilo usado nas legendas das imagens. Mas nem tudo estará perdido no jornalismo português: afinal, vem aí o novo semanário de José António Saraiva.
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Bush versus Ahmadinejad [1]

Quer no contexto da nova, como da velha ordem mundial [é ao gosto do freguês], as recentes declarações do presidente do Irão, Mahmoud Ahmadinejad, até poderiam ter alguma lógica, não fosse o caso de terem sido proferidas por quem as proferiu.

É interessante verificar como déspotas - mais ou menos insanos, mais ou menos inteligentes -, se metamorfoseiam, com uma facilidade atroz, em grandes evangelizadores interplanetários das mais variadas liberdades indubitavelmente associadas à democracia, e contudo, para consumo interno, continuam a restringir, veementemente, aos seus próprios concidadãos o acesso a estes "bens" considerados vitais em qualquer Estado de Direito Democrático.

Inversamente, também se pode reconhecer a facilidade com que se travestem em déspotas alguns estados ocidentais, pronunciados democráticos, quando o que está em jogo na cena internacional são os seus invariavelmente sui generis interesses político-económicos.

Continua…

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Como é que é afinal?

Uma dúvida existencial que me incomoda há anos...
Qual a forma correcta?
"Obrigada por ter aceite o convite" ou "Obrigada por ter aceitado o convite"???
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dona melancia falando de... alguma coisa

Ela conjugando seu novo abc – interessantérrima essa versão nova de abecedário.

Ele caindo de Marte – ‘cê tá falando de quê, benzinho?

Ela rolando cabeça em rodo – sei não, meu bem, apetece-me falar de alguma coisa, mas… ‘tou sem assunto.

Ele subitamente entusiasmado – agora que toda a gente já falou tudo o que tinha a falar, podemo nós puxar desse assunto? podemo?

Ela arregalando olho discordante – ‘cê nem pense! nem sonhe! nem ouse!

Ele amimando sua perna de beicinho – vá lá, meu bem, deixa seu benzinho brilhar.

Ela sorrindo – ‘cê é um baita dum macho, mas… aqui quem esplandece sou eu!

Ele puxando corda d’assunto e falando muito sabiamente – por mim… eu… nem uns, nem outros.

Ela largando braço no desconsolo – ‘cê sabe, meu bem, é ser humano apenas. Um carregando razão às costas, outro acarretando motivo, e o resto do mundo amontoando raciocínio.

Ele anuindo – xi, meu bem, isso um dia deste vira problema de coluna.

Ela num esgar esfregando seu dorso – é, benzinho, o velho Marx sabia que só se combate religião com religião.

Ele virando página de «A Bola» - agora desentendi de todo!

Ela filosofando – ‘cê sabe, ideologia é formatação de pensamento, tal qual religião.

Ele se erguendo energicamente e empunhando seu exemplar dos «Escritos da Juventude» – ‘cê é uma burguesinha, baixinha e estrofezinha!

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terça-feira, agosto 29, 2006

E se uma mulher lhe disser: "eu logo vi qu'isso era uma proposta indecente!"

... isso é impulse!
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Há vida para lá das grades





















Goya, A Lunatic behind Bars , 1824-28
Black chalk, 1913 x 145 mm
National Gallery of Art, Washington

Por completo desconhecimento da realidade vivida no nosso meio prisional, quando tomei conhecimento que o governo estava a considerar de introdução de caixas de troca de seringas nas prisões, nem sequer me lembrei destas questões pertinentes que estão a ser agora colocadas pelo presidente do Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional – apesar de também ter considerado [por outros motivos, agora irrelevantes] a medida governamental completamente absurda.

O que parece desde já evidente é que temos gente mais competente e capaz no Sindicato Nacional do Corpo da Guarda Prisional do que no Governo.
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Ser xiita no Líbano [2]

Ao contrário do que se passa em países democráticos (como Israel), deve reconhecer que não é todos os dias que se lê um texto profundamente crítico para com os regimes totalitaristas do Mashrek, escrito por uma xiita, do sexo feminino, natural e residente no Líbano. Quando nem sequer o próprio Daniel Oliveira, que é descrente, do sexo masculino, ocidental, que vive fora do Líbano, e me parece ser uma pessoa versada e interessada nestas matérias, foi capaz de reconhecer no seu «Arrastão» [nem, pelo que tenho lido, no «Expresso»] metade das evidências que esta xiita libanesa teve a coragem de escrever.

E, não foi por este artigo publicado no Na-Nahar que Mona Fayad passou a ser pró-israelita.

Apetece-me agora também fazer minhas, as suas palavras: «Quando se começar a olhar para o Médio Oriente com os olhos da justiça, sem judeus nem árabes nem cristãos, só da justiça, talvez muita gente perceba como andou a defender o indefensável.»
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" e esta ein ?..."

O outrora planeta Plutão, após sua despromoção controversa, aguarda a deliberação que decidirá afinal se também joga contra o Benfica.
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sempre ao dispor

Sentou-se calmamente à mesa descansando o queixo na mão esquerda, expressão passeando ónibus. O seu pensamento disperso por intenções gratificantes «sempre lhe apetecera matar o gajo gordo do espelho». O gajo gordo osculando ele reconhecido «’cê é um anjo». A mesa recheada de malmequeres e girassóis, crisântemos e rosas vermelhas da China, esperava-o atenciosamente, era uma espécie de mesa circunspecta, pensando antes «esse cara está precisando de exercício físico» e só falando depois «ei cara s’anime a vida é pra ser vivida com gosto!». O cara, de animação dançando no rosto, media a delicadeza do girassol sussurrando: «tu não mereces ser comida! tu não mereces ser comida!». Não, não vociferou! Nem sequer lhe esfregou no rosto a «necessidade premente de se alimentar, pois a primeira refeição é a mais importante do dia» e caminhando elegantemente com suas quatro pernas torneadas, atrás dele e sempre à sua disposição «quem sabe, pode ser que entretanto lhe apeteça algo».

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admiro o código da estrada...

O Código da Estrada é uma excelente convenção. Não estou a falar das multas e penalizações, dos limites e catalogações. Estou a admirar a intervenção das regras especialmente em cruzamentos. Aquelas situações que nos descreviam quando estávamos a tirar o Código: num entroncamento querem-se cruzar dois carros e uma mota, o carro vermelho vem da direita e quer virar à esquerda mas tem STOP, o carro azul quer virar à esquerda e a mota quer seguir em frente; indique a ordem de passagem dos veículos. Acho estas convenções qualquer coisa de fabuloso. Dá gosto ver um cruzamento com vários carros em que cada um passa atempadamente na sua vez, sem confusões, sem choques e sem palavrões. Estou a falar a sério! Há alturas em que fico maravilhada com a capacidade humana de criar regras de organização completamente abstractas – principalmente quando resultam...
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segunda-feira, agosto 28, 2006

Toda a arte é absolutamente inútil





















Diego Velazquez. Las Meninas; 318x276cm; óleo sobre tela; Museu do Prado, Madrid

O artista é o criador de coisas belas.
Revelar a arte e ocultar o artista é o objectivo da arte.
O crítico é aquele que sabe traduzir de outra maneira ou com material diferente a sua impressão de coisas belas.
A mais alta, assim como a mais baixa, forma de crítica é uma autobiografia.
Aqueles que encontram feias significações nas coisas belas são corruptos sem serem encantadores. É um defeito.
Aqueles que encontram feias significações nas coisas belas são cultos. Para esses há esperança. São os eleitos aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza.
Não há livros morais nem imorais, Os livros são bem ou mal escritos. Nada mais.
A vida moral do homem faz parte do assunto do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito dum meio imperfeito. Nenhum artista deseja provar o que quer que seja. Até as coisas verdadeiras se podem provar.
Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um imperdoável maneirismo de estilo.
O artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo.
O pensamento e a linguagem são para o artista instrumento de arte.
O vício e a virtude são para o artista materiais de arte.
Sob o ponto de vista da forma, o tipo de todas as artes é arte do músico. Sob o ponto de vista do sentimento, o tipo é a profissão de actor.
Toda a arte é ao mesmo tempo superfície e símbolo.
Aqueles que descem além da superfície fazem-no com risco seu.
O mesmo acontece àqueles que lêem o símbolo.
É o espectador, e não a vida, que a arte realmente reflecte.
A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte mostra que a obra é nova, completamente vital.
Quando os críticos divergem, o artista está de acordo consigo mesmo.
Pode-se perdoar a um homem o fazer uma coisa útil, enquanto ele a não admira. A única desculpa que merece quem faz uma coisa inútil é admirá-la intensamente.
Toda a arte é absolutamente inútil.

Prefácio de Oscar Wild in O retrato de Dorian Gray
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Ser xiita no Líbano

Depois de ler no Courrier Internacional desta semana o corajoso artigo de Mona Fayad [uma xiita libanesa], publicado no jornal diário libanês Na-Nahar, lembrei-me logo de determinadas opiniões de alguns livres-pensadores da blogosfera lusa.

«Dizer em voz alta o que muitos de nós pensamos baixinho talvez possa evitar a descidas aos abismos e contribuir para que os nossos dirigentes tomem as decisões necessárias para por o fim a esta guerra infernal qualquer que seja o preço a pagar. Que significa ser xiita hoje, neste momento específico, para a maioria dos membros desta comunidade? Significa que prescindem de tratar dos seus assuntos e os confiam a uma direcção sábia e infalível. Significa que não ousam fazer a mínima pergunta. (…) Significa que acreditam que ganharam a guerra porque o Presidente sírio declarou à BBC que Israel sofreu uma derrota. (…) Significa que dão provas de espírito de resistência enquanto restarem mísseis capazes de atingir Israel, sem vacilar e sem se interrogarem sobre o porquê e o como, sobre a escolha do momento ou sobre os objectivos que se esperam atingir. Significa que aceitam sacrificar tudo enquanto houver um doador respeitável que os indemnize da destruição sofrida. (…) Ser xiita significa que fiquemos calados, em silêncio, sem nos questionarmos se o papel da resistência será aniquilar tudo o que tínhamos reconstruído [depois da guerra civil] e facilitar o regresso de tropas de ocupação. (…) Ser xiita significa ficar em êxtase ao ouvir os elogios colectivos e populistas que nos são dirigidos e que, no passado, eram destinados a esse outro herói, Nasser, ou ao ver as lágrimas que continuam a ser vertidas por Saddam Hussein, por esses que estão prontos a bajular quem quer que lhes elogie os instintos. Ser xiita significa não fazer perguntas a esses dirigentes para saber se as infra-estruturas estavam preparadas para suportar a guerra tão devastadora, para saber onde estão os hospitais, as ambulâncias, os abrigos. Ser xiita significa neutralizar a inteligência e deixar o senhor Ali Khamenei [o chefe de Estado iraniano] ditar-nos os desejos e as ideias sobre a utilização das armas do Hezbollah, para nos conduzir a uma “vitória” que equivale a suicídio. Ser xiita significa defender o direito de ingerência nos assuntos internos libaneses por parte dos iranianos, que advertiram dois ministros libaneses acerca do perigo de colocarem a sua identidade libanesa acima da sua fidelidade ao Irão, e de defenderem os interesses e vidas libanesas em vez do programa nuclear do Irão e do propósito do Irão se tornar uma grande potência xiita da região. (…) Seremos cidadãos libaneses? (…) Não teremos direito à liberdade de expressão e de opinião? Não teremos direito a pensar pelas nossas cabeças (…)? Ser xiita e ousar escrever estas coisas significa ser traidor e agente estrangeiro, ser pró-israelita e justificar a sua loucura política, os assassínios e ocupações. Pouco falta para ser mesmo acusada de responsável pela destruição das casas que se desmoronaram sobre a cabeça dos residentes.»
Mona Fayad,
An-Nahar (excertos)
Beirute

Via Edição impressa do Courrier Internacional (Nº 73)
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região de turismo qwerty3001 #2

Call center – Bom dia, cê tá ligando prá região de turismo de qwerty3001 em que lhe posso ser útil?

Turista de direita, solteiro, heterossexual, acompanhado – pretendia um restaurante – falando sozinho enquanto compõe cabelo no retrovisor - desculpe, ‘tou reflectindo – ar reflexo enquanto interroga carinhosamente sua acompanhante de momento – querida, que tipo de restaurante vamos querer?

Turista sem ala, solteira, bissexual – Não faço a mínima ideia, querido, mas… talvez restaurante para heterossexual, interior revestido a pedra, com lareira verídica, sem criança - ‘cê sabe o quanto elas são maçadoras - sem velho - ‘cê sabe o quanto eles são irritantemente… velhos - com fumador de cachimbo - gosto desse perfumado no ambiente - ah… e fundamental, querido, sem gordo - gordo é insuportável!

Turista de direita, solteiro, heterossexual, acompanhado, virando-se para menina do Call Center - ouviu o que a menina disse?

Call center acordando e deixando turista em linha ao som de “I started a joke”, versão erudita de Richard Clayderman – obrigada por ter aguardado! as informações que temos são as seguinte…, tem caneta e papel?

Turista de direita, solteiro, heterossexual, acompanhado, e abrilhantando seu ar de rei da China – Sim, Mont Blanc, modelo Dalí, notebook Moleskine, pretendendo algo mais, meu bem?

Call Center – Rua Dr. Francisco Sá Carneiro, n.º 82, restaurante “Augustus”.

Turista de direita, solteiro, heterossexual, acompanhado – perfeito, meu bem, poderá fazer a reserva para hoje às 21 horas, em nome de - soletrando - Bernardo de Carvalho e Nogueira de Azeitão, por favor?

Call Center – Richard Clayderman, You're beautiful – obrigada por ter aguardado, reserva efectuada em nome de Bernardo de Carvalho e Nogueira de Azeitão para as 21 horas, pretende mais alguma informação?

Turista de direita, solteiro, heterossexual, acompanhado - anexe 10 euros de gorjeta, ‘cê fez um óptimo trabalho. Como tem gente eficiente nesse call center - mirando uma vez mais o retrovisor - ‘cê não acha querida?

Turista sem ala, solteira, bissexual, com ar contrafeito – não sei, querido, como ‘cê sabe a eficiência ‘tá na imagem e eu só tó vendo o rosto da menina.

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domingo, agosto 27, 2006

Eu também queria um MAI que me desbloqueasse umas quantas situações

Segundo o Público de hoje, Manuel Monteiro falou com o Ministério da Administração Interna, para que fosse desbloqueada a situação de um comício que Monteiro queria realizar, e para o qual não tinha as devidas autorizações.
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Sugestões para o contingente português no Líbano (I)



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Coisas estranhas

Quando vivia em Londres gostava de encontrar portugueses, agora gosto de encontrar britânicos.
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Região de turismo qwerty 3001(TM)

Ele decidiu falar com ela em Italiano para puxar estilo ela fez o mesmo.

Passados alguns minutos ele não se aguentou e confessou ser um patrício.

Ela ajeitando o top numa pose indignada: Ai és português?!
Ele passando a mão pelo cabelo para disfarçar o nervosismo com uma falsa descontração: Sim, sou!
Ela com o sorrisinho matreiro de quem vence uma mão, numa noite de póquer: Pois, eu também!
Ele atirando o baralho para a mesa: da-se, já podias ter dito!!!
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região de turismo qwerty3001 #1

Call center – Bom dia, cê tá ligando prá região de turismo de qwerty3001 em que lhe posso ser útil?

Turista de esquerda, solteiro, heterossexual – benzinho, cê vê aí no computador um restaurant com os seguintes requisitos: clientela heterossexual, sem criança, sem velho, low cost, cozinha tradicional, não fumadores.

Call center deixando turista em linha ao som de “Flauta de Andes” – obrigada por ter aguardado. As informações que temos são as seguinte…, tem caneta e papel?

Turista de esquerda, solteiro, heterossexual – Sim, meu bem tenho caneta e papel – ar de enfado - e a populaça não lê, não sabe escrever, não pensa! ­esta country é uma country d’inculto!

Call Center – Rua Dr. Álvaro Cunhal, n.º 74, restaurante “Katekero”, preço médio 15 euros.

Turista de esquerda, solteiro, heterossexual – qu’horror meu bem, cê não arranja coisa com nome mais apropriado?

Call Center – Flauta de Andes versão 2 – com seus requisitos temos ainda na mesma rua, n.º 85, “Rosa de Alexandria”.

Turista de esquerda, solteiro, heterossexual – Sim, meu bem, esse tá na mouche! Já agora, meu bem, qual é o low cost?

Call Center – Flauta de Andes versão 3 – obrigado por ter aguardado! O preço médio por refeição são 90 euros.

Turista de esquerda, solteiro, heterossexual – qual é mesmo o número do “Katekero”, benzinho?

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Noites Ritual

Hoje foi a segunda das Noites Ritual Rock, nos jardins do Palácio de Cristal - bem no centro do Porto. Em época de festivais, este apresenta-se com um conceito diferente: dois palcos que se completam sem concorrerem entre si. Em cada uma das duas noites, seis grupos actuam alternadamente no palco principal, montado no "átrio da entrada", e no palco ritual, que ocupa a concha acústica do jardim. Enquanto num palco se toca, no outro fazem-se as montagens do material para o grupo seguinte, o que elimina, por completo, os tempos mortos de espera entre bandas, e cria uma espécie de romarias de um palco para outro. A envolvência nocturna do jardim é também um ponto a favor. Quanto ao cartaz, prima - digo eu! =) - por ser, sempre, 100% português.

Este ano, não achei o cartaz nada de especial, mas, tendo em conta que, quando comprado com uma certa antecedência, o bilhete custava 6€, lá rumei eu ao Palácio. Ontem não pude ir. Hoje tivemos no palco principal uns cumpridores Quinteto Tati, uns barulhentos Pop Dell' Art e uns enérgicos Blasted Mechanism; no palco ritual, foi noite hip-hop com DJ's e MC's a desfilar. E o juri composto por mim, eu mesma e a minha pessoa declarou que o vencedor é... Quinteto Tati! Conheço de "outras paragens" (Belle Chase Hotel) pouco mais que o nome de J.P.Simões e do Quinteto só lhes conhecia, da rádio, duas músicas... Cumpriram as expectativas! Cinco músicos (guitarra, teclas, bateria, contrabaixo e trompete) e a voz de J.P.Simões - é um quinteto de seis! - criaram ritmos envolventes com letras em português - eu gostei!

PS: no youtube podem ouvir "Suor e Fantasia".
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sábado, agosto 26, 2006

Dona melancia canonicando…

Ela – Você acha as histórias de Flannery O’Connor tão violentas assim?
Ele - Se, para si, violência equivaler a sangue jorrando pelas paredes, talvez não!
Ela – Sabe bem que não! A estrutura não me parece complicada…
Ele – Sim, meu bem, acontece que no escrever não passeia só a estrutura.
Ela – Parece-me qualquer coisa como: Personagem principal, caracterização psicológica, tema, personagens clarificadoras do tema, caracterização psicológica das personagens, final.
Ele – Contudo o mais estranho na escrita de Flannery é a violência, como você diz atrás, mas a violência psicológica, as personagens principais das histórias: Um bom homem é difícil de encontrar, O rio, A vida que salvar pode ser a sua, Uma visita da boa sorte, Um templo do espírito santo, O preto artificial, até são pessoas moralmente íntegras.
Ela – O mais desconforme é a violência psicológica para a qual caminham indiferentemente…
Ele – A avó e o homicida é, a esse nível, um conto exemplar.
Ela – Não concordo! Talvez o de Ruby* seja, para mim, o mais desconcertante. Ruby rodeada de uma família fascinante, o medo de envelhecer paralelo à crescente dificuldade na subida dos degraus, e a magnífica introdução do tema: Ponce de Leon, e, finalmente, a confrontação com o motivo do medo do envelhecimento. Extraordinário! Um conto perfeito.
Ele – Você acha que aquela pistola é de brincar?
Ela – Claro que é de brincar! Contudo a ideia é de jogar ao gato e ao rato com o leitor, Flannery é magnífica nesse jogo!
Ele – Você tá farta de fazer esquemas e mais esquemas para entender esses conto, meu bem.
Ela – Você quer frases ontológicas?
Ele – Não me mace com isso, meu bem.
Ela - «Eram avô e neto mas eram suficientemente parecidos para parecerem irmãos, e irmãos de idade não muito afastada, porque Mr. Head tinha uma expressão juvenil, enquanto que o rapaz tinha um olhar antigo, como se já soubesse tudo e gostasse de poder esquecer o que sabia»** ou então a ironia de «Os seus olhos (…) tinham uma expressão de compostura e de sabedoria antiga, como se pertencessem ao maior dos guias da humanidade. Poderia ser Virgílio acordado a meio da noite para ir ter com Dante, ou, melhor ainda, Rafael, acordado por uma explosão de luz de Deus para voar para junto de Tobias»**
Ele – Deixe isso pra lá, meu bem, isso não é mais conversa d’assunto!

* O'Connor, FLANNERY, Uma Visita da Boa Sorte in Um Bom Homem é Difícil de Encontrar, Lisboa, ed. Cavalo de Ferro, p. 65-80
** O'Connor, FLANNERY, O Preto Artificial in Um Bom Homem é Difícil de Encontrar, Lisboa, ed. Cavalo de Ferro, p. 97-123
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sexta-feira, agosto 25, 2006

Tertúlia de bloggers















Hoje tive o privilégio de almoçar com a Carlota e o Espumante, dois autores de blogues que acompanho com regularidade, e que ainda não tinha tido o prazer de conhecer pessoalmente.

Com vista sobre o rio Tejo, durante umas horitas, lá fomos trocando umas opiniões, cruzando muitas impressões, e tomando conhecimento de algumas novidades. Foi uma conversa agradável, tipicamente blogoriana, com muito html, java script, site meter, ipês, e cusquice q.b. pelo meio.

Se por mero acaso alguém sentiu um sobreaquecimento das orelhas no período da hora de almoço/princípio da tarde, já sabem o motivo, estivemos a falar de vocês.
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dona melancia prezando insecto

passeiam alegremente pela atmosfera.
e toda a gente os considera.
existem os pretensamente unicelulares e felinos.
os peregrinos.
mas…protozoário é protozoário e ponto final… pequenino.
ele os há em estilo heterotrófico e puro.
temperando, qualquer coisa, simplesmente.
os linkados são os mais imaturos, os deslinkados cheiram a cozinhado… destemperado.
mas também fazem de conta, no sendo.
pois sendo podem fazer de conta incongruências várias.
podem até nem não perceber nada.
e respeitar a deselegância abstracta de um cometa, sem asa.
e sim senhor percebem quando a classe dirigente… os dirige.
pois se até apagam incêndios e, nem por isso, se afligem!
e há uma verdade universal e correcta: um protozoário asseado preza gostar de se ver… publicitado!
e quanto vale um pseudópodes acariciado?
Ela - flagelo é flagelo memo, meu bem, flagelo não toma jeito! é um faz-de-conta-que-sabe-verdadeiramente.
Ele - o probrema, benzinho, é que pensa que pensa, mas quando pensa... já a gente foi comido de... todo!
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Mais uma dúvida existencial

Caro João Fernandes, já que não tem dúvidas, explique-me se puder, conseguir, ou quiser: porque é que considera que o «Governo tem todo o direito de propor às televisões que passem menos fogo nos telejornais»?

Também acha que o governo pode propor às televisões que passem menos assaltos? Menos sequestros? Menos acidentes de viação? E já agora... o governo também pode propor "coisas" a outros media, ou esta ideia só é aplicável às televisões?
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Teleoásis

Partindo do princípio lógico que a direcção de informação da RTP não pode ter considerado pouco relevantes os incêndios do passado dia 12 de Agosto, só consigo deslindar dois motivos plausíveis para lhes terem dedicado somente 110 segundos no seu espaço informativo em horário nobre: ou cederam a pressões do governo; ou não têm competência para gerir a informação da televisão pública.

Em qualquer um dos casos, Eduardo Cintra Torres tem toda a razão em exigir a demissão da direcção de informação da RTP.

Porque - se não cederam a pressões do governo -, para serem coerentes, teriam de aplicar a mesma regra a todas as peças informativas que passam no Telejornal, passando a relevar muitos fait-divers em detrimento dos problemas sérios e que afectam directamente a vida de muitos portugueses.
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quinta-feira, agosto 24, 2006

Dúvida existencial






















Serão os mesmos comunistas portugueses que em Julho de 2004 advogavam a convocação de eleições antecipadas em nome da sagrada democracia?
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quarta-feira, agosto 23, 2006

O critério da consonância

Face à seriedade das acusações, parecer-me-ia de todo recomendável que o gabinete do primeiro-ministro tivesse tentado esclarecer a opinião pública mais cedo. A não ser que, ao contrário do que presume Vital Moreira, a nossa televisão pública já esteja de tal forma governamentalizada que o gabinete de José Sócrates tenha começado por considerar suficientes e satisfatórias as reiteradamente infelizes intervenções públicas do director de informação da RTP.

Como suponho que os elementos da direcção de informação da RTP, face às funções que exercem, dominam os conceitos de gatekeeping, newsmaking, e agenda-setting, esperaria que Luís Marinho, mais do que se limitar a um "simples" processo de morosas intenções judiciais, justificasse de alguma forma o enigmático alinhamento do referido Telejornal, e o diminuto valor-notícia conferido aos desastrosos efeitos dos fogos florestais no nosso país, em detrimentos de outros fait-divers.

Depois de ter lido o polémico artigo de Eduardo Cintra Torres, e ao contrário de outros, também eu fiquei com a "ligeira" sensação que o critério a que o gatekeeper recorre para seleccionar as notícias na RTP é o da consonância.
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Faker (Revisitado)

No seguimento do post que escrevi sobre o faker que se fazia passar por Miguel Esteves Cardoso, recebi da autora do blogue "7 Pecados/7 Virtudes" o seguinte e-mail, que passo a reproduzir na íntegra:

A propósito do post que dedicou ao 7Pecados/7Virtudes, só lhe digo que, para Sherlock Holmes lhe falta em talento o que lhe sobra em imaginação. Nem o blogue foi o primeiro a noticiar o MEC, nem está envolvido na conspiração a que, provavelmente por influência da silly season, lhe atribui autoria e "mérito". Apesar do seu "pecado" ter sido grande, pratico a virtude da generosidade e deixo-lhe o meu perdão. Avaliando bem, a publicidade saiu de graça e qualquer blogue recente agradece que falem dele, sobretudo se for para dizer mal!
Marina
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terça-feira, agosto 22, 2006

Instantes doutro mês

por muito menos. notariam um manifesto e ferino atentado à democracia e vasto leque de liberdades.

por esta hora. já teriam organizado uns quantos ajuntamentos espontâneos defronte ao edifício ministerial mais a jeito para armar banzé.

no horário mais apropriado. cidadãos inquietados de semblantes carregados desfilariam compactamente na justa medida dos nossos ecrãs alardeando garridos cartazes cálidos do prelo. apregoariam palavras de ordem condicentes com os opróbrios da tradição de Abril.

troços de jornalistas velariam a tempo inteiro pelo mediático caso. aniquilariam todo e qualquer ministro que desse sinal de vida com rajadas de perguntas em nome de um metafísico interesse público.

não há muito tempo. por muito menos. desmultiplicar-se-iam nos media em depoimentos e considerações ostentosamente perturbadas. tudo por Abril.

onde andam agora os fortuitos do costume? rtp eduardo cintra torres
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O que Darwin diria sobre isto?

ou até joe rosenthal.


Pegando no post "Imagens que valem mil palavras" que o filipe colocou hoje ....

  Posted by Picasa
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Narrativas do Poder - 2

O meu pai, saiu de casa pela madrugada. Aconselhou-me, a meio da noite, junto a minha cama, a seguir os elementos e os sinais dados pelo mundo. São esses os marcos que conduzem à praça abstrata de cadeiras, onde possivelmente ainda se encontram cadeiras vazias, ou na pior das hipóteses, uma fila de gente que aguarda que se vaguem – pela força ou pela persistência ou pelo conhecimento que se foi fazendo pela estrada.

Sussurou-me ao ouvido que não deveria ter medo de matar e pediu desculpa pelo conselho que me dava.

A época dos comícios fervilhava na altura, apinhavam-se multidões junto a palanques feitos das madeiras que se dispersavam muitas vezes junto a edifícios em contrução. As vozes hipnóticas só eram interrompidas por massacres silenciados pela multidão executados a uma ou outra voz que iniciava discordante e se calava abrupta.

As rivalidades e os problemas daí decorrentes eram vulgares, a opinião mascarava-se de livre servindo a um deus de objectivos definidos, refugiado pelas vozes dos lacaios. Ninguém era inocente.

O meu pai e mais três tios meus, fizeram-se explodir no meio de uma concentração de três mil pessoas. No dia anterior um deles tinha jogado à bola comigo. A perna que me marcou um golo foi metida num saco misturado com outras amalgamas de carne e osso.

Hoje em dia a facção que representava aliou-se estratégicamente à facção que atacou. Fazem força e ataques diplomáticos à facção que hoje apoio.

Resta a questão, que se caso o meu pai estivesse vivo, eu me faria explodir perto dele e contra ele...

“ ... não deves ter medo de matar, desculpa, mas é assim o mundo em que vives!”

a meio da noite disse antes de partir com as convicções no peito e explosivos no cinto.
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Narrativas do Poder - 1

Invariávelmente, a guerra aconteceu, o poder inicialmente concentrado num só quebrou com os anos e com a morte física de um antigo e sempre esquecido ( ou não ) instigador original. A sua vida e legado – mais espiritual do que doutrinário – foi interpretado, consoante os objectivos dos pretensos seguidores de novas ideias e objectivos de poder. Inevitávelmente a guerra prosseguiu.

Nos tempos de caos, os crentes na vida de paz sabem que esta surgiu dos horrores e privações dos conflitos e só depois se consolidou em acções resultado de objectivos traçados. Não tardou que armas se juntassem e que a paz se procurasse pelos maneirismos e tacticas da guerra. E o conflito continuou, mas enriquecido pela variedade de vozes que argumentavam pontos de vista e caminhos que tomar. Mas sempre com a espada como batuta a comandar uma sinfonia de sangue.

Objectivos e interesses, que por sua vez levam a contrapartidas e distribuição dos despojos de guerra são sempre as maiores forças que levam ao feudalismo periclitante das falanges de apoio, de alianças. E por sua vez – em modo piramidal – a base popular de cada uma dessas forças é condicionada psicológicamente através de estímulos passionais, ou de visões de um futuro de oportunidades – ou ainda – por uma caminho de pura repressão. A primeira é casualmente minada com desilusão de não cumprimento para todos, a segunda é carcomida por revolta e desespero. Em ambas- e em tudo - o elemento mais perigoso é precisamente o palaciano e o político. O estabelecimento de linhagems ou lobbys... ou mesmo de linhagens de lobbys e vice versa.

O que importa é que o apoio popular ou o mais elitista e próximo do agente central do poder, deriva sempre da contrapartida.

O que é que eles tem para oferecer para que eu apoie. O que é que eles tem para dizer que eu acredite e... o que é que eles tem para me impedir de ser como eles ou do que realmente sou capaz, para ser considerado o suficientemente perigoso para que me queiram como aliado... o que sei eu que eles não sabem


mantém os teus inimigos bem perto
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Imagens que valem mil palavras

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segunda-feira, agosto 21, 2006

Faker

O primeiro blogue a noticiar e a linkar o falso blogue do MEC, tenderia a ser completamente desconhecido - criado à medida para a ocasião. O intento da sua produção teria como intuito lançar o boato e libertar o caminho ao verdadeiro autor (ou autora) da "brincadeira" de mau gosto. A mecânica intrínseca à própria Blogosfera acabaria por fazer o resto.


Informação via: Bomba Inteligente
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Uma certa quantidade















Mais simplex que isto deve ser difícil de inventar. E o Presidente da República, das Bananas, interrompe as suas ricas férias para isto?

A situação está a ficar de tal forma surrealista que só me apetece frasear Mário Cesariny:

Uma certa quantidade de gente à procura
de gente à procura duma certa quantidade
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domingo, agosto 20, 2006

Passeando pelos media

«É difícil gerir uma instituição nestes tempos e desta maneira, e o mais fácil é descartarmo-nos das peças mas frágeis, que são os docentes com contratos a termo, em muitos casos há vários anos(...). O pior de tudo é que não há subsídio de desemprego para investigadores e docentes do ensino superior. Este direito que assiste a qualquer trabalhador fora da admnistrção pública, e que já é considerado para os docentes dos ensinos básico e secundário, não chegou ainda ao ensino superior. (...) Para um gestor pós-moderno, frio e eficiente, é tudo uma questão de números, e se os docentes são supérfluos, provavelmente o facto de terem ou não subsídio de desemprego não lhe afecta o sono, mas para um docente como eu ou qualquer outro docente que faça parte da direcção de uma escola do ensino sperior, já não é assim. (...) quando se aproxima a data da não renovação dos contratos, estes ETIs [docentes que estão a mais] tornam-se pessoas, são colegas com os quais convivemos durante anos, e é cada vez mais difícil conciliarmos o sono.»

Manuela Vaz Velho, Presidente do Conselho Directivo da ESTG de Viana do Castelo, sobre os problemas decorrentes da falta de alunos no ensino superior, situação que conduz ao despedimento de docentes; Público de hoje.
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A eterna parábola do cisco no olho do vizinho

Certa Faranaz Keshavjee, identificando-se como "membro da comunidade ismaelita", assina uma prosa no Público de hoje queixando-se da intolerância Ocidental sobre os muçulmanos. O artigo em nada destoa de muitos que por aí correm (há excepções, naturalmente). Contém partes lírico-doces, destinadas a proclamar a necessidade de paz e harmonia entre os povos, bem como a condenar o emprego abusivo e generalizado de nomes como Islamismo ou Muçulmanos; e contém partes raivosas e espumosas, falando genericamente em Ocidente e chamando "fascistas" a George Bush, Vasco Pulido Valente e todos aqueles que alinham em certas interpretações. É um fenómeno bem conhecido, este. Há muita gente que, ao mesmo tempo que proclama a paz, a harmonia e o perigo das generalizações, desata aos berros e recorre ao ódio e às generalizações quando se trata de atacar quem pense de maneira diferente da deles. Haverá leis psicológicas que expliquem isto. Entretanto, seria bom que a Senhora Faranaz meditasse nas suas próprias palavras: "As opiniões facciosas e falaciosas que acabam por moldar o senso-comum têm o perigo de provocar a violência sistémica, porque a esta se responde ainda com maior violência".
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sábado, agosto 19, 2006

Porque não?

Rui Tavares faz uma proposta no Público de hoje (artigo brevemente disponível aqui): que Israel, o Líbano e a Palestina entrem para a União Europeia. Por mim, atrevo-me a propor outra coisa: que se mude o nome da ONU para "União Europeia". Simples e universalista. Os estatutos mudar-se-iam depois. Porque não?...
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O estado em que se encontrará esta ala do blogue durante uma semana

Até daqui a uma semana.
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O que é ser-se português?

peço-lhe desculpa pela esquizofrenia intelectual de dona melancia, mas ela é uma dona bastante indomável e nos dias de hoje, dama indomável, é coisa de não se trazer por casa.

você poderá exclamar: meu bem, dama indomável deverá ser estimada por qualquer intelectual que se preze!

mas aí, meu caro, é seu desentendimento falando e sua sede politicamente correcta.

o seu artigo "o rei vai descalço" é a essência das essência numa cabeça se pretendendo bem pensante.

veja o descarnado da coisa:

- quem mais que um estrangeiro e, de preferência, com a áurea neerlandesa?

- quem mais que um estrangeiro e, de preferência, com a áurea neerlandesa, falando de um “nativo” como o português?

- e quem mais que um estrangeiro e, de preferência, com a áurea neerlandesa, falando de um “nativo” como o português, sendo um nativo português o autor do escrito?

- e last but not least quem mais que um estrangeiro e, de preferência, com a áurea neerlandesa, falando de um “nativo” como o português, sendo um nativo português o autor do escrito e lambuzando seu ego com meia dúzia de lugares comuns sobre a avenida da liberdade? outrora seria a avenida de Roma... e porque lambuzarão a esquerda e a direita, politicamente correctas, os seus egos com as exuberâncias dos ricos, dos pobres, dos medianamente ricos, dos que andam de Mercedes, dos que andam de carocha, dos que... dos que... e de uma forma extraordinariamente polite pretendendo fazer a plebe acreditar:

nós, sei lá, estamos MUITO acima d’isso tudo!

diga-me lá, meu caro, aqui que toda a gente nos lê:

o seu artigo era sobre “o rei vai descalço” ou sobre o senso comum mais hiper in tanto de uma certa actual esquerda como de uma certa actual direita?

o problema não residirá nessa coisa estranha para muitos:

afinal o que é ser-se português?

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dona melancia folheando marx

Ele apreensivo – meu bem, cê precisa de ter cuidado com seu excesso de profundidade.

Ela franzindo sua fronte – xiça benzinho, e onde cê acha qu’o desregramento bate mais fundo?

Ele exclamativo – ouça, meu bem, pra mim você devia tomar em atenção suas nádega!

Ela aflita virando a cuca e dando palmadinha nela – benzinho, cê desculpe, mas essa bundinha revolve o pensamento de qualquer intelectual.

Ele franzindo o cenho e anuindo com o olhar perdido nas perna da menina jogando bola – sei não, meu bem, gostaria que cê tentasse um regime, talvez o da prof.ª Isabel do Carmo.

Ela assoprando o fumo de seu cigarro – desculpe, meu bem, mas tenho uma certa dificuldade em aceitar conselho de pessoa sem míngua de profundidade.

Ele revoltado – cê não ouse dizer essas coisa da professora, benzinho!

Ela indiferente – não ouso, porquê? cê pensa que tem o pack final e absoluto sobre profundidade?

Ele encolhendo o ombro e se concentrando no pedaço – é, meu bem, não tou virado pra desconversar, no hoje.

Ela folheando seus escritos da juventude de estimação e exclamando pra seus botão - cê é um deus, marxinho! cê consegue ler a arrogância das profundidade e nos dias de hoje, meu bem, isso dá nó no correcto do entendimento... de qualquer um!

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Relevância(s)


No Público de ontem, Constança Cunha e Sá considera, entre outras coisas, irrelevantes, palhaçadas e ridículas as movimentações de Ribeiro e Castro, Manuel Monteiro e Ferraz da Costa sobre uma hipotética reflexão em torno da Direita. Não digo que não sejamos obrigados a subscrever o que diz Constança Cunha e Sá. Mas não deixa de ser estranho que CCS dedique três colunas a palhaçadas, ridículos e irrelevâncias...
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Directo ao assunto

«chegou o momento de uma opção crucial, uma vez que a UE não poderá estabelecer uma inimaginável política de equidistância ou de "equiproximidade" entre esta nova central do ódio e do terror organizado [fundamentalismo islâmico e regimes populistas sul-americanos] e os seus seus aliados tradicionais [EUA] que, mesmo que se tenham enganado, lutam presentemente contra o terrorismo e a barbárie daqueles que negam o direito à vida e à liberdade de todos».

Magdi Allam (escritor e jornalista egípcio), citado por José António Carvalho, Público de ontem.
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Daniel Oliveira, o Irão e a Síria

"Em um post de leitura quase impossível pelo peso das inúmeras imagens de alta definição apresentadas, Daniel Oliveira insiste pelo menos duas vezes no relato da sua viagem pela Síria que a ligação deste país com Irão é apenas estratégica e não religiosa, e no entanto isso não é de todo verdade, nem muito menos. Os alawitas, a que pertence a família Assad no poder sírio, são na práctica uma seita xiita, tal como estes acreditando na tese fundamental de que Ali (de onde vem o nome alawita), primo e genro do Profeta, viu a sua herança de poder roubada pelos três califas, em oposição clara aos sunitas.

Também, se bem que oficialmente não se admita, os alawitas ocupam posições de poder no governo, no exército, etc, desproporcionais com relação à sua demografia relativa: pouco mais que 10% da população síria. Os alawitas sírios possuem um largo historial de conflicto com a maioria sunita do país. Ajudaram os franceses no mandato destes útlimos a reprimir a insurgência sunita no país. E já com Assad no poder a revolta islâmica contra a ditadura elegeu os alawitas como um dos alvos preferenciais. Por outra parte é verdade que os Assad demonstraram grande sabedoria ao longo dos tempos recentes na gestão do problema, nunca fazendo alarde da sua identidade religiosa específica e incorporando vários sunitas em posições de poder neste país, onde são a grande maioria, claramente em oposição a política por exemplo seguida por Saddam no Iraque, de repressão e humilhação sistemática da maioria xiita. Essa sabedoria é a grande responsável pelo facto de que a eternamente esperada (por israelitas e americanos, mas não só) guerra civil síria até agora não tenha chegado. De qualquer forma a afiliação dos Assad aos xiitas por via alawita não pode ser desprezada assim tão levianamente quando queremos compreender a relação íntima entre os governos sírio e iraniano, e também a cooperação total que ambos partilham com o Hezbolah libanês, também xiita.

Estes factos muito importantes para entender tanta coisa sobre o Médio Oriente não aparecem na foto-viagem do Daniel (que tem por outro lado muitas coisas, entre fotos e descrições de lugares, que a mim me gostaria conhecer de perto já que do mundo islâmico ainda não fui, para muita pena minha, mais além de Marrocos, Tunisia e Turquia, e tal como no seu caso, imagino, eu também sinto muito maior interesse pelos países árabes que por conhecer mais Europa) mas podem ser encontrados, quase tal qual como as apresento admito, no muito interessante livro de Robert Fisk: The Great War for Civilisation: The Conquest of the Middle East. Imaginando provavelmente ser mais sensível que o Daniel Oliveira à algumas, apesar de tudo poucas, parcialidades do jornalista de guerra inglês, sei que ele também aconselhou a leitura do livro no programa de televisão em que participa, e entendo que no entanto não o tenha lido inteiro, ou então que não se recorde de tudo. Ninguém o poderia já que falamos de um verdadeiro "calhamaço" de mais de mil páginas. Um conselho portanto, se ainda não o fizeram e quiserem, comprem, mas deixem para ler depois de Agosto e depois das praias..." Rui Fernandes
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O bico de obra

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sexta-feira, agosto 18, 2006

holókauston



















Do ponto de vista estritamente linguístico, a questão da utilização do "h" maiúsculo ou minúsculo no início do vocábulo holocausto não é particularmente relevante. Já do ponto de vista extralinguístico, parece-me salutar utilizar sempre o "h" maiúsculo quando nos referimos ao Holocausto enquanto tenebroso acontecimento histórico. Repito, "salutar", mas não obrigatório. E o artigo de Isabel do Carmo, intitulado "Resposta a Esther Mucznik", publicado no passado dia 14 no jornal Público, apesar de eu discordar (naturalmente e profundamente) da sua opinião, é uma prova disso mesmo. A expressão "horror do holocausto" utilizada por Isabel do Carmo, parece-me ainda mais eloquente que a falta do sempre respeitoso "h" maiúsculo em Holocausto.

Já a nota complementar ao artigo colocada pela Redacção do Público é completamente despropositada e, mais grave, não é inocente e está pejada de má-fé.

Como leitor ocasional do Público e intransigente defensor da liberdade de expressão, resta-me desejar que, com os avisos à navegação lançados dos mais distintos sectores políticos e socioprofissionais, casos verdadeiramente surrealistas como este não se voltem a repetir.
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Diz o roto ao nu: Quem mata mais, eu ou tu?

Depois desta extraordinária recontagem de cadáveres em diferido, da Síria, quase que aposto que o Daniel Oliveira não abandona o médio oriente sem ser condecorado por Bashar al-Assad com a Grã-Crescente da Ordem do Ayatollah Ali Khamenei.

Se, por infeliz acaso, a cadeira em Belém estivesse agora ocupada por Mustafá Soares, o Daniel Oliveira, com toda a certeza, também já teria reservada, e à sua espera, a nossa U2síssima Ordem da Liberdade.
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Reflexologia com introdução à obra de Saramago

Está ali um jovem reflexologista que anuncia que já ajudou pessoas a ter filhos.

Será que alguém aí tem uma cópia do Memorial do Convento do José Saramago para emprestar a esta alminha.
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dona melancia c'os pés de fora

Ela relendo o franco atirador - "O medo de cometer um faux pas horroriza a nossa classe média-alta, e contribui para o seu ar apinocado e engomadinho, para o vício do name dropping e para a falta de sentido de humor. Em Portugal as pessoas olham-se, julgam-se e condenam-se por coisas ridículas."

Ele sorrindo - craro meu bem, Portugal = Lisboa, o resto é paisagem!

Ela tirando a areia da toalha - quem já viveu no estrangeiro, sabe que a classe média-alta é, tal-qualmente, imprevisível...

Ele piscando o olho à menina jogando bola - deixe pra lá meu bem, são meia dúzia de palavra circunstanciais...

Ela compondo o chapéu Versage e os óculo Ray Ban - meu bem, essa sua postura, m'irritare! tou farta de mentalidade comezinha sobre o melhor mesmo são os de fora, lá! se fosse por mim eu mandava esse pessoal pró escambal!

Ele continuamente observando a menina e interrompendo o olhar num sopro sussurrado - é escusado, benzinho, cê hoje tá nos acordando, c'os pé de fora!
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dona melancia se aniquilando demais

Ela – você sabe, meu bem, o post do Eduardo sobre Marcelo Caetano, é uma notável evidência das letras, ao serviço da boa fé.

Ele – ai é benzinho, e que cê quer dizer com isso?

Ela – preto no branco?

Ele – craro!

Ela – e se daqui a 40 anos o Eduardo for reduzido a “Quem se preocupa com o Who's Who não deve ser visto no Algarve depois do meio-dia de 15 de Agosto. No limite, um almoço tardio no Gigi. Tem hoje a sua derradeira oportunidade, minha cara. Depois é tudo ao molho e fé em Deus. Silly? Não diria tanto. As corporações têm regras. Eu, se fosse a si, ia para a Riviera italiana.”?

Ele – e daí meu bem? não vejo qual é o mal no escarnecimento da afectação, principalmente quando se trata dos desgosto dos outro! e depois não tá sendo justa, cê descontextualizou!

Ela - benzinho, mas cê não pode esquecê-lo enquanto crítico literário*!

Ele - deixa pra lá meu bem, ele há dia em que seu neurónio se aniquila demais!

*dona melancia ainda não leu Eduardo Pitta enquanto poeta, daí só falar na sua pertinência enquanto crítico literário.

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ESOPO

O asno comendo capim-de-burro

Na época da colheita, um asno carregava para o campo uma carga de boa comida de todos os tipos, para o dono e o ceifeiro se alimentarem. No caminho, encontrou um capim-de-burro bonito e grande, e, estando com muita fome, começou a comê-lo. Enquanto o mastigava, meditou: quantos epicureus gulosos se sentiriam felizes com tanta comida gostosa que carrego agora! Mas, para mim, este capim-de-burro amargo é mais saboroso e agradável do que o banquete mais fino e abundante.

BLOOM, Harold, contos e poemas para crianças extremamente inteligentes de todas as idades, Volume 1, Primavera, Rio de Janeiro, Objetiva, 2003, p. 41
outras fábulas aqui
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morangos vs flor

Esta semana vi, finalmente, um episódio (quase) completo da Floribella. Aquilo pareceu-me demasiado infantil para novela da noite... Para quem ainda não sabe, aquilo é uma mistura de "Ana e os Sete" - o "Música no Coração" dos tempos modernos - com "Anjo Selvagem" - a saga interminável da empregada insubordinada. Resultado: uma miúda - do nuorte, carago! - com um feitio especial, empregada numa casa com montes de crianças (todos irmãos) que morre de amores pelo irmão mais velho que, por sua vez, está para se casar com uma mulher detestada pelas criancinhas. A mulher-noiva e a sua mãe são apelidadas de "bruxas", achava eu que por serem más para as crianças, mas aquilo dá mesmo lugar a mezinhas e rezas completamente absurdas! As crianças mais novas deixam muito a desejar na credibilidade da representação - mal generalizado pelos petizes na tv do nosso Portugal (apesar de já haver progressos consideráveis). Aguentei quase até ao fim do episódio...

Quanto aos Morangos com Açucar, confesso que tenho seguido desde o início - o enquadramento escolar chama-me à atenção. A primeira série acho até que seguia com regularidade, o que fez com que ficasse por dentro da história e do esquema da novela. Deste modo, apesar de agora ver apenas 10min de longe a longe, é bastante fácil de encaixar o enredo - isto, claro, porque a coisa repete bastante e também não muda muito! Então, para quem não sabe... - o que é que eu estou p'raqui a dizer?!... haverá ainda alguém que não saiba?!!! Bem, de qualquer modo, aqui fica, também, um resumo: é a NewWave cá do sítio, ou seja acompanha o dia-a-dia dos alunos de um colégio. Logo no início foi criticada porque seria uma imitação barata da série brasileira, e aí eu achei que tanta indignação e repulsa estariam a ser exagerados: estávamos a começar a fazer uma novela juvenil com audiência que aos poucos, quem sabe, se tornaria mais nossa e menos brasileira. Acho que isso foi conseguido. Põe-se em causa a qualidade da representação dos actores, os critérios dos castings, a moralidade dos guiões, o realismo (ou falta dele) do retrato social,... - eu também questiono isso tudo, mas mesmo assim...

morangos: 1 - 0 :flor

[E agora, com vossa licença, vou a banhos...]
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Que um gajo se afirme como exemplo moral é de se elogiar, agora que um gajo me venha com desculpas já é mais chato. É que para isso já cá estou eu.
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Gunter Grass diz que: se todos os que se assumiram como resistentes ao nazismo depois de 1945, o fossem de facto não teria havido III Reich ...

... só pode ser um grande filho da mãe.
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quinta-feira, agosto 17, 2006

o blogue do MEC

ELA - nos anos oitenta você não andava meio perdido, benzinho?
ELE - não meu bem, eu andava até bem procurado.
ELA - eu pensava qu'era a única pessoa no planeta qu'ouvia o Ian Curtis, o Virgin Prunes, você lembra do "betrayal"?
ELE - não tou lembrando não, meu bem. eu curtia Luciana Vendramini, Xuxa,
Magda Cotrofe, Luiza Brunet ..., grandes dama.
ELA encolhendo os ombro incomodada - você é mesmo um canastrão.
ELE mudando o plasma de canal e gritando - gggggggoooooooolllllllll.
ELA chegando um pouco pra lá e virando a página de seu «escrítica pop» - não sei o porquê do quando a gente s'encontrou meu bem.
ELE ajeitando seu calção florido no sofá imitação de pele - cê tava dizendo o quê, benzinho?
ELA com ar levemente sonhador - você sabe, meu bem, nós nos lambuzando de cultura...
ELE alegre e compincha - é meu bem nós somo um casal intelectual modelo. o que cê tá lendo?
ELA escondendo o livro e exclamando afetada - o último do Dan Brown meu bem.
ELE - depois cê m'empresta?
ELA levantando e espreitando as tampa dos tacho, cozinhando - meu bem a janta tá aprontando, você pode por a mesa?
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... tive um pesadelo com Hugo Chávez. Sonhei que estava doente e que ele vinha de propósito da Venezuela visitar-me, tipo lambe-botas como fez a Fidel Castro. Eu, como não sou Fidel, piorava, entrava em choque anafilático mal o visse e caía para o lado inanimada. Entretanto, entrava o Dr. House e fazia-me uma punção lombar (não há episódio em que o homem não faça uma punção lombar ao doente, é impressionante!) e nada descobria. Chávez sempre à minha cabeceira, a segurar-me na mãozinha e a tirar fotografias comigo e eu já a bater a bota, muito branca com os olhinhos revirados. Recebia telegramas de Lula, de Kirschner e sempre a piorar, sempre a piorar. O Dr. House e a sua equipa finalmente proibiam as visitas e os telegramas e, milagrosamente (ou nem por isso) começava a melhorar. Mas eis se não quando, concedem a Saddam Hussein uma autorização especial para me ir visitar à clínica. Abria já mais os olhos, quando o vejo à minha frente, com muito bom aspecto, bem vestido, bem tratado, com o cabelinho pintado de preto, um brinco! Recaída total, hemorragias internas e externas, as máquinas descontroladas, tudo a apitar e aquele médico louro giro a fazer-me respiração boca-a-boca. De repente, acordo e digo: "Ouça lá, o senhor sabe que eu sou casada?"

Confesso que gostei do sonho húmido da Charlotte, também não é tarefa muito difícil, acima de tudo se a coisa for adocicada com uma fotografia da Linda Evangelista. Há no entanto um conjunto de detalhes sobre os quais gostaria de alertar a nossa Bomboca.

1. A punch line sobre os seus laços matrimoniais está de facto uma reviravolta interessantíssima. Cumpre-me no entanto avisá-la que não deve tentar isso com o impoluto Lula ou o corrupto Saddam, que eles são bem capazes de não se deter com tão pouco.

2. Eu bem sei que isso de vir para o blogue relatar sonhos eróticos tem razões que a razão desconhece. Há no entanto um conjunto de cuidados que uma alma reaccionária deve manter: nunca citar no mesmo post F*del, C*ávez e o L*la isto se não quer acabar numa menage a trois blogosférica com o Luis Rainha e o Alexandre Andrade

Sem mais de momento despeço-me com saudações cordeais e desejos* de bons sonhos

o seu Luis Oliveira

*onde se lê desejo leia-se votos
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É preciso rebatizar o movimento neo-conservador em geral e o proamericanismo em particular

Aqui e aqui apregoa-se o fim do movimento neo-conservador. Quanto tempo é que faltará para dizerem que nunca concordaram com a invasão do Iraque? E depois de mandarem o movimento neo-conservador à fava, quando os Estados Unidos disserem "mata" será que eles vão todos continuar a dizer "esfola"? Eu não acredito. Têm um pensamento demasiado independente para que isso aconteça.
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o passado do patrício

Ela – você foi aceite na militância, benzinho?
Ele – terminados os exames, aceitado, meu bem.
Ela – e no durante cobrido de vergonhas?
Ele – não benzinho, confundido.
Ela – um pouco de confundido envolto em confuso?
Ele – ao que me parece, antes incluso.
Ela – você hoje tá numa de torcido?
Ele – não meu bem, uma espécie de invólucro, exprimido.
Ela – é benzinho, seu passado precisa de ser limpado.
Ele – não tou grato no onde cê quer chegar.
Ela – você tá suspendido, suspeito ou submetido?
Ele – benzinho, nosso papo é sobre a avozinha?
Ela – não meu bem, é sobre as saudade de uniformizado.
Ele – pronto meu bem, cê me convenceu, vamo lá nos acercando de Almeida!
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quarta-feira, agosto 16, 2006

Quem disse que o amor não tem preço?


Do Público de hoje:

Há nove milhões de celibatários no Reino Unido que gastam por ano cerca de 44,6 milhões de euros para... encontrar o amor. O que dá perto de cinco mil euros por celibatário. (...) Em média, os britânicos gastam cerca de 2488 euros para manter a magia - em restaurantes e vinho (cerca de 1400 euros por ano), em viagens (270 euros), em presentes (270 euros) e ainda em flores, chocolates, táxis. Os homens são, de longe, mais generosos nos primeiros seis meses da relação (2100 euros contra pouco mais de mil desembolsados pelas companheiras). Mas os gastos não só tendem a diminuir como a equilibrar-se à medida que o tempo passa.
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E há muito mais


Há a Somália, onde ninguém se entende com ninguém; há o Sudão, onde ninguém deve saber, ao certo, quanta gente já morreu; há as sempre interessantes Argélia e Rússia, cujas notícias têm sido nulas; o Sri Lanka, no qual um grupo terrorista cometeu, recentemente, a proeza de chacinar uma escola cheia de crianças, etc. etc. etc. Enfim, o mundo continua igual a ele próprio. Mas, já se sabe: não havendo ameaça directa, não havendo América para lançar as culpas e não havendo intelectuais para a indignação e poetas para a Ode, essas coisas não interessam nada.
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Nos 106 anos da morte de Eça de Queirós

Não gosto de falar da minha carreira sentimental - mas creia você que que ela tem sido triste, há uma ano para cá: tenho sido, através do sentimento, como uma péla: ora botilhando pela lama, ora tentando pular para as nuvens: e de cada vez - tédio ou desilusão. As duas últimas experiências foram tristes: uma ligação com uma desavergonhada (apesar da sinceridade animal do seu instinto amoroso, o rigor da crítica obriga-me a chamar-lhe uma desavergonhada) ia-me complicando a vida. Partida esta chaine de fleurs, qui n'était au fond qu'une sale ficelle - quis, por tendência reactiva da péla, passar da lama ao Céu. Achei-me com uma devota - que, quando eu imaginava que me ia levando para a felicidade, me ia arrastando simplesmente para a missa! Para evitar a indignidade da hipocrisia - ou a tentativa grotesca de converter uma Santa Teresa ao racionalismo, plantei-a lá, com grande alívio dela, creio.
Eça de Queirós, carta a Ramalho Ortigão
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e a história da canção, infelizmente, repete-se e repete-se...

[...]
A guerra deu na tv
foi na retrospectiva
corpo dormente em carne viva
revi p'ra mim o cheiro aceso
dos sítios tão remotos
e do corpo ileso
vou-te mostrar as fotos
olha o meu corpo ileso

Olha esta foto, eu aqui
era novo e inocente
"às suas ordens, meu tenente!"
E assim me vi no breu do mato
altivo e folgazão
ou para ser mais exacto
saudoso de outro chão
não se vê no retrato
[...]
Nesta outra foto, é manhã
olha o nosso sorriso
noite acabou sem sem preciso
sair dos sonhos de outras camas
para empunhar o cospe-fogo e o lança chamas
estás são e salvo e logo
"viver é bom" proclamas

Eu nesta, não fiquei bem
estou a olhar para o lado
tinham-me dito: "eh soldado!
É dia de incendiar aldeias
baralha e volta a dar
o que tiveres de ideias
e tudo o que arder, queimar!"
No fogo assim te estreias.
[...]
Nesta outra foto, não vou
dar descanso aos teus olhos
não se distinguem os detalhes
mas nota o meu olhar cintila
atrás da cor do sangue
vou seguindo em fila
e atrás da cor do sangue
soldado não vacila

O meu baptismo de fogo
não se vê nestas fotos
tudo tremeu e os terramotos
costumam desfocar as formas
matamos, chacinamos
violamos, ah, mas
será que não violamos
as ordens e as normas?
[...]
Álbum das fotos fechado
volto a ser quem não era
como a memória, a primavera
rebenta em flores impensadas
num livro as amassamos
logo após cortadas
já foi há muitos anos
e ainda as mãos geladas

Chega-te a mim
mais perto da lareira
vou-te contar
a história verdadeira

quando a recordo
sei que quase logo acordo
a morte dorme parada
nessa morada...

Sérgio Godinho, "Fotos do fogo" (1993)

Eu hoje vou deixar que o artista fale...
«Para mim é uma canção que me deu muito trabalho; ao mesmo tempo, foi gratificante fazê-la. A guerra tem de ser denunciada com veemência, labor e de uma forma eficaz. Há muitas canções em que sinto que fiquei aquém do meu propósito, nesta sei que o levei até ao fim. Fechei o "Tinta Permanente" com ela, cantei-a muito na altura e, mesmo que as guerras acabem todas, terá de continuar a ser cantada para fazer a chamada paz preventiva, essa sim, uma boa noção...»
Sérgio Godinho transcrito por Nuno Galopim, in "Retrovisor" (2006) p.181.
[O título do post também é uma citação de SG no mesmo livro, p.133.]
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prémio caralhos ma fodam que até eu que sou comuna concordo com este gajo

Voltando a mim próprio, que é o que me interessa: quando me lembro dos magotes de pessoas mortas no ex-Zaire ATÉ AO DIA DE HOJE, fico com ódio, talvez seja esta a palavra, ao caralho do conflito israelo-palestiniano mais a cona da mãe do caralho dos israelitas e dos filhos da puta dos palestinianos. Quanto mais preta uma pessoa é, menos a sua vida vale, eu sei, mas sugiro não exagerar tanto. É que parece que é preciso alimentar - com o génio mediático que se reconhece aos palestianos, e falta, por exemplo, aos Tigres Tamil, até há dois anos os campeões absolutos e destacados no campeonato dos atentados suicidas - o terrorismo internacional contra as nações ditas Ocidentais, para, por exemplo, merecer a citação de um texto chato no Causa Nossa ou, quem sabe, se não for pedir muito, ver hasteada uma bandeirinha no Arrastão.
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the thinking toolbox

isto de pensar é muito difícil!

a gente pensa na cama por fazer
alisando seus lençóis
na afectiva dessemelhança do casal
mas ainda assim excelentes no acto carnal

a gente pensa sobre a dificuldade de absorver um objecto
a mãe, o pai, o irmão, a família toda e mais alguns amigos
e se calhar ainda e também as angustiantes referências culturais
e seus equívoco

a gente pensa nas maledicências do meio intelectual
se és referência de alguma coisa ou se não és
se pretendem saltar-te para as costas da legitimidade
ou se as costas já não são suficientes
e pretendem coroar-te génio antes mesmo de seres alguém

a gente não pensa na importância da dança
e por isso as folhas do salgueiro twistando
sempre naquele movimento frenético
desinteressado de vento

a gente pode ser alguma coisa a caminho do nada
o tudo e o nada são as indecisões, os lapsos de tempo,
as oralidades virtuosas, a comunhão entre ser e não ser…
embora tudo possa parecer virtude!

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terça-feira, agosto 15, 2006

Next steps

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A vitória do terrorismo



















Israel não pode cantar vitória. O Hezbollah, a Síria, e o Irão, dizem que venceram a guerra. O Líbano perdeu.
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a junção de

há quem escreva por amor
mas eu não por dinheiro
sinto de satisfazer aquelas necessidade básica
e sempre me custeou
aquela pose artisticamente válida
de padecimento pelo padecimento alheio
mas… realmente não nasci
pra enfeitar borboleta de cânone ocidental
mas…só por acaso
e o acaso,
obviamente,
tem tudo a ver
com preguiça intrínseca de luso brasileirismo
e o que é essa casta raríssima de antiguidade?
é a junção de samba com saudade
de alegria com fatalismo
circunspectismo com exuberância
e o deixa andar empreendorismo
no fundo... bem lá no fundo...
apenas e só
junção de... nada a ver!
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desprezo do dia #3

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combater o tédio???!!!...

Quando se falava durante o Mundial que o país parava, que não nos dávamos conta das decisões políticas e que nem sequer havia notícias de incêndios eu, na minha ingenuidade, pensava que não havia incêndios porque ainda não teria chegado a sua época: o Verão quente e seco. Sinceramente, nunca pensei que a ausência de incêndios pudesse, de alguma forma, estar relacionada com a distracção do "pobom". Pelos vistos andava enganada...

"Mas mais surpreendentes terão sido as razões que invocou para o fazer simplesmente combater o tédio, dar vazão ao seu fascínio pelas chamas e desfrutar de toda a agitação provocada pelos incêndios. Não existe qualquer indicação, soube o JN, de que o mesmo indivíduo sofra de qualquer doença mental."

A bem das nossas matas, há que iniciar mais um Big Brother, acompanhar as idas à casa de banho do Simão, repor os episódios do Anjo Selvagem, transmitir todos os treinos do Benfica... Depois podemos sempre alegar que não existe qualquer indicação de que a programação televisiva sofra de qualquer doença mental...
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segunda-feira, agosto 14, 2006

GRASS


Obviamente, o facto de Gunter Grass ter pertencido a uma organização nazi não me aquece nem me arrefece. Não valerá a pena repetir que a valia de uma obra de arte não tem nada a ver com a ideologia do seu autor, presente ou passada, e que um bom poema assumidamente facínora vale mais do que toda uma versalhada sobre a Liberdade, a Paz, etc. etc. . Mas há um facto que eu ainda não percebi, e, francamente, gostava de perceber. Grass alistou-se convictamente nas SS, ou foi a isso obrigado? Caso tenha sido convictamente, as indignações actuais tornam-se ainda mais obscenas, por negarem um dos nossos mais sagrados direitos: o direito ao arrependimento.
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Posicionamento(s)

Conheço a tua conduta: não és frio nem quente. Quem dera que fosses frio ou quente! Porque és morno, nem frio nem quente, estou quase a vomitar-te da minha boca.
Apocalipse, 3, 15-16
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Opinião Pública


Declarando-se amante da Paz, um espectador do Opinião Pública acaba de dizer que deseja que a Síria, o Irão e o Hezbollah tenham sucesso, e o estado de Israel seja exterminado ou (e o amante da paz espectador da SIC - Notícias faz questão de citar Ahamadinejad) "despareça do mapa". Pois eu aqui deixo uma palavra de louvor a este simpático amante da Paz. Sem ironia. Todos sabemos que há por aí muita gente que pensa o mesmo, mas não se atreve a dizê-lo. De modo que a intervenção deste amante da Paz revelou estas qualidades apreciáveis: clareza, sinceridade, precisão e coragem.
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Caixas de comentários

Infelismente as caixas de comentários do GR nem sempre são muito animadas.

Felizmente às vezes há discussões que valem a pena. Por exemplo esta.
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Boa acção da noite


Ensinar outra pessoa a usar o sitemeter para descobrir quem é que nos lê a que horas. Os leitores anónimos e mais cautelosos que não se preocupem que posso garantir que estão a salvo, os menos cautelosos o melhor que têm a fazer é criar um bookmark do GR e aceder ao site a partir do bookmark para evitar o aparecimento de links no sitemeter.

Áh, e o pervertido da Mealhada que acaba de chegar aqui pelo google à procura de "fotos de gajas de 11 anos" escusa de se esconder que já foi apanhado.
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domingo, agosto 13, 2006

2.ª Recriação Histórica do Cerco de Almeida

Ela - meu bem você me leva à recriação?
Ele - benzinho, mas em Almeida cê não tem praia, nem areia, nem chapéu de sol...
Ela - Você sabe... já estou a começar a ficar farta de caravanas estrangeiras... mal emporcadas.
Ele - É benzinho e essa gente aí, tão civilizadamente íntegra no seu país natal. mal chegam e se comportam melhor qu'os nativo.
Ela - é benzinho, nem jogam lixo na praia, nem cigarro, nem guardanapo das bolas de berlim...
Ele - Cê viu essa de bola de berlim sem creme?
Ela - é benzinho, não tá com nada! Mas... o qu'eu pretendo mesmo é viajar até Almeida, você tá falando no acessório.
Ele - e quando é o cerco, meu bem?
Ela - no último fim de semana de Agosto. Você nem imagina a quantidade de militar bem vestido pelas ruas, com canhão e tudo.
Ele - sei não, tou desconfiando dos seus interesse histórico!
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Lilith e a saúde mental no feminino (e no masculino)

A prosa é longa, mas na minha opinião merece ser editada na integra aqui no GR. Não é de resto a primeira vez que linko para esta coisa.

Film Title: Lilith
Director: Robert Rossen
Cast: Warren Beatty, Jean Seberg, Peter Fonda

Spider Webs
[Eu posso jurar que qualquer semelhança deste título com os títulos dos meus posts no daysofangst é pura coincidência, ainda assim digna de nota.]

Lilith is the last film by writer-director Robert Rossen, a Communist party member who eventually named names before the House Un-American Activities Committee in 1953 after suffering two years on the blacklist. And so, it's tempting to read this mental-institution drama as some kind of political allegory, especially considering Jean Seberg's radical politics and subsequent travails with the FBI, and Warren Beatty's future as a countercultural icon (not to mention his glamorization of communism in Reds [1981]).

But the punishment the film metes out to its naïve protagonist for his eager but misguided desire to "help people more directly" suggests disillusionment with politics of all kinds. It's infused instead with a sense of futility, ending with the authoritarian caretakers of the sanitarium maintaining the status quo in which little hope is held out for anyone being cured, and with the audience duped by the film's surface social critique which is ultimately a mirage.

Based on a novel by J. R. Salamanca, Lilith tells the story of Vincent (Beatty), a Korean War veteran who works as an occupational therapist at a sanitarium. There he falls under the spell of a charismatic schizophrenic, Lilith (Seberg), who inhabits a fanciful universe wherein angels speak to her in a made-up language and she has a god's prerogatives. In the opening titles sequence and an awkward expository scene with the institution's doctors, Lilith is likened to a deranged spider, whose chaotic web, spun without design or purpose, nonetheless retains its ability to ensnare. Despite this setup, the film labors to make her behavior predictable or explicable. "She wants to leave the mark of her desire on every living creature," Lilith says of herself, "If she were Caesar, she'd do it with a sword. If she were a poet, she'd do it with words. But she's Lilith, so she has to do it with her body."

All the heavy-handedness is a pity, because it undercuts Seberg's performance, which invests Lilith with a more provocative complexity. Lilith's seductive self-involvement, irresistible to fellow patients and doctors alike, and her childish eagerness to please are inseparable from her seething malevolence at the world's fundamental intractability. The film devotes a fair amount of time to studying Seberg's face, whose every expression seems made up of contradictory impulses. In her shifts among those impulses, you can see how Lilith's volatility makes her so compelling to her many lovers, including a frosty lesbian patient (Anne Meachum), the effete Stephen (Peter Fonda), and Vincent, who, as her therapist, abets her nymphomania [?!].

Despite such potentially lurid subject matter, however, the film's not out to exploit insanity for sensationalistic thrills. Rather, it seems almost to dramatize psychologist R. D. Laing's influential ideas about schizophrenia, first put forward in 1960. He saw schizophrenia as a desperate attempt at personal authenticity and a reasonable response to the corrosive effects of modern society, arguing that therapists should not challenge the schizophrenic's delusions, but indulge them and try to empathize with them.

This is certainly the approach Vincent is encouraged to take with Lilith, so that as the lack of boundaries in their relationship becomes more appalling, Vincent's bosses can't praise him enough. He begins to question whether Lilith's world, full of spontaneous whimsy, unfettered id, and unqualified emotional indulgence, isn't preferable to the "normal" world, depicted as shallow and corrupt, particularly in a scene where Vincent visits the home of an old girlfriend, now married to a boorish cretin (played memorably by a young Gene Hackman). After liquoring herself up, she makes herself available to Vincent, providing a dreary counterpoint to Lilith's more fanciful wantonness.

As Vincent vacillates between his disillusionment with everyday life and excitement over the alternative Lilith offers, Beatty captures his ambivalence perfectly. As Lilith draws Vincent in, you can see both the pleasure he takes in her flattery and the confidence it gives him. Even as he agonizes to his supervisors over his ethical quandaries, he condones her manipulations of fellow patients. Eventually, he loses his qualms and begins sleeping with her, arranging special field trips to afford himself opportunities.

This likely sounds sleazy and unsympathetic, and it is, kind of, but Beatty is able to rescue some of our emotional involvement with his character through sheer brooding charisma. Laing warned that therapists should be prepared to acknowledge their own "psychotic potential," which Beatty reveals adeptly here, despite occasionally clumsy dialogue (as when he calls Lilith "a dirty bitch"). Laconic almost to the point of somnambulism, he seems always slightly removed from his own actions, as if he is studying himself, trying to validate his own responses.

The film's episodic structure carries us along quickly, without trying to explain too much, allowing events to flow with a dreamlike inevitability that, unlike Lilith, feels convincing because it hasn't been overly dissected. All this makes the tidy explanations at film's end harder to stomach. When we suddenly learn their pathologies are specific to their family histories, what looked like a far-reaching critique of contemporary society suddenly looks banal. The characters become objects of pity, and we can exempt ourselves from any scrutiny.

Despite such limits, however, Lilith is pregnant with interpretive possibility. The cultural depiction of female madness has a long, dubious history, and as with most films about insane women, it's difficult to decide whether the film is a proto-feminist indictment of how a sexist culture drives women insane, or whether it actually embraces sexist notions of inherent female instability and narcissism. Does it proscribe female desire or strive to represent its revolutionary potential? At the beginning of the film, Vincent's boss asks, "Somehow insanity seems a lot less sinister to watch in a man than in a woman, doesn't it?" His question invites us to contemplate what is so threatening about female madness -- its subversiveness and intimations of voracious female sexual desire -- and why. Can one can hear echoes of Helêne Cixous's reason-defying "laugh of the medusa" subverting phallocentrism in Lilith's crazy cackle, or merely a parody of same? That both seem plausible is testimony to the film's enduring relevance.


[Os bolds são meus. Queria apenas acrescentar que a descrição do comportamento de Lilith como comportamento ninfomaníaco, me parece leviana, mesmo tendo em conta a contextualização que o resto do texto oferece.]
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