sábado, maio 05, 2007

José Mário Branco

Balanço d'a minha agenda...

A fechar o ciclo "Música e Revolução" da Casa da Música, subiu ao palco da repleta Sala Suggia José Mário Branco. Um espectáculo único (literalmente único, parece) tendo por base o seu álbum mais recente "Resistir é vencer", mas que foi muito além (e aquém) dele, com uma apresentação especialmente concebida para o ciclo da Casa da Música. "Mudar de vida" – chamava-se o espectáculo e "Mudar de vida" se chamava o texto longo tri-partido que Zé Mário foi declamando musicalmente ao longo da noite. A Palavra! A força das palavras! Uma mensagem – ainda! e sempre! – interventiva, delatora, inquietante, política, social e... actual! «Dava vontade de, ao sair dali, ir fazer a revolução outra vez!» – ouvi dizerem ao meu lado à saída... «O Zé Mário parece que ainda está em 74!» – ouvi também... Será isso bom? Será isso mau? E, a ser alguma coisa, fala-nos do músico ou do país?... Será ele que está deslocado ou o país que está acomodado?... «Mudar de vida e acordar o pensamento» – ouvia-se do palco...

Em palco, os instrumentos: teclas, guitarra, violoncelo, contrabaixo, sopros, precursões. Sentam-se também os Canto Nono, que completam o espaço musical vocal. Pelas escadas da plateia entram os Tocá Rufar, que preenchem todo e qualquer espaço musicável que possa ainda restar. Entrada forte e presença enriquecedora em todas músicas em que participaram. A força das precursões e a envolvência das vozes deram um tom quase épico àquela noite.

Foi o segundo concerto a que assisti de José Mário Branco. No primeiro, eu era pequena (ainda mais!) e fui por arrasto dos meus pais rumo ao Coliseu... não apreciei! Daquele trio, Godinho, Fausto e Zé Mário, este último era o que menos me dizia. Godinho... porque sim! Fausto pela sonoridade. Mas Zé Mário tem de ser ouvido nas letras e apreciado nos arranjos musicais – e isso não é tarefa de crianças! Desta vez, na Casa da Música, fui eu que arrastei os meus pais! E, agora sim, pude disfrutar da força das letras e da riqueza dos arranjos. E agora... acho que fui eu que apreciei mais!

O espectáculo termina com a Casa em pé num longo e sentido aplauso de reconhecimento. Em palco, o corpo cansado como que pede desculpa por ter de terminar ao fim daquelas intensas quase duas horas. Mas a alma activa volta para repetir, mais uma vez: «Mudar de vida!»

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