terça-feira, maio 29, 2007

Debilidades semânticas

Os meus alunos são alunos como os demais, e como os demais, suponho, têm uma falta de vocabulário pungente. Coloquial, corrosivo, pudor, pudico ou magnânimo são entradas a que tive de dar significado no seu dicionário. Se deixados ao acaso escreverão livremente em linguagem sms. A questão é a de sempre: a que se deve esta ausência de pressupostos outrora tidos como garantidos? Não sendo nem mais nem menos capazes do que os alunos de outrora, algo se terá passado ao longo do caminho que terá determinado esta lacuna lexical e semântica, transversal a todas as disciplinas e, de resto, uma ferramenta fundamental de orientação, relação e contacto com o mundo exterior.
Partindo do princípio de que a escrita e a leitura andam definitivamente de mãos dadas, não posso deixar de constatar o que já tivera antes como certo, que o Ministério também terá as suas culpas no cartório ao permitir que nas provas de aferição os erros de ortografia não sejam penalizados. É certo que de acordo com os objectivos assim os critérios de correcção, não é novidade, qualquer professor saberá disso, mas, exactamente pela mesma razão, urge a penalização dos mesmos em gradação diversa à de uma tarefa de desenvolvimento das competências de escrita. E se na compreensão poderão escrever como lhes aprouver, como exigir que na produção escrevam com correcção e rigor? A escolha múltipla não deverá ser usada como fond de teint miraculoso para ocultar os sinais da incapacidade. Certamente os resultados serão menos desastrosos, a taxa de insucesso menos dramática e o Ministério poderá então alardear os números de que tanto gosta. Quantidade e qualidade são duas entradas no dicionário do Ministério de Educação que conviria clarificar, ao que parece as debilidades semânticas não se ficam pelos alunos.

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5 Comments:

Blogger ELA said...

Quando o ministério da educação tem a "lata" de fazer provas de aferição que não servem para mais nada a não ser avaliar escolas e professores. Quando todos sabemos que aos alunos cada vez menos se pede, já nada me surpreende, nem um despacho da Ministra com erros ortográficos!!! como diria um amigo meu: "é portugal"!!!

terça-feira, maio 29, 2007 11:35:00 da tarde  
Blogger MPR said...

Aferir professores com provas a que os alunos ligam peva! Se não conta para nada porque carga de água hão-de os meninos estudar?

quarta-feira, maio 30, 2007 11:41:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Mas será que o ME sabe o que é avaliar? Será que sabe o significado de ensinar e aprender? Como podem saber se toda a sua vida profissional esteve confinada a gabinetes? Mudam-se os nomes mas tudo continua igual - laissez-faire, laissez-passer! Para não dizer que interessa continuar a cultivar uma geração de analfabetos alfabetizados - quanto mais ignorante for o povo, "melhor se governa"!

sexta-feira, junho 01, 2007 12:44:00 da manhã  
Blogger joshua said...

Concordo inteiramente, mas suponho que concordarás comigo que em face da tendência SMSica em quaisquer enunciados dos nossos alunos é preciso investir de tal modo na produção cuidada e fundamentada de enunciados próprios até que esse nobre hábito se converta não numa necessidade, mas num prazer dentre prazeres.

Aqui julgo que a literatura é um filão impactante completo que este ME nos está a roubar, que alguém está a esbater dos programas tornando ainda mais oco que por força da realidade envolvente já o vai sendo de sobra.

PALAVROSSAVRVS REX

sexta-feira, junho 01, 2007 1:13:00 da manhã  
Blogger LeonorBarros said...

Exactamente, Joshua, por isso também digo que ler e escrever andam de mãos dadas. Eu compreendo que na compreensão não se avalia a produção, mas uma penalização mínima ou adverter que não podem escrever com abreviaturas ou linguagem sms é o contributo para se escreva com correcção sempre.

Obrigada a todos pelo contributo.

sábado, junho 02, 2007 12:21:00 da tarde  

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