sábado, maio 26, 2007

As verdades do marketing

N, director de marketing, tem conhecimento que a revista X, está prestes a publicar um dos seus importantíssimos artigos anuais:
as 20 melhores empresas para se trabalhar em Portugal.
N, um homem que defende a máxima: o que é verdade hoje, não é verdade amanhã, resolve fazer uma busca na Internet e chega à conclusão que é aconselhável um perfil um nadinha idêntico à empresa Y, top 20, do ramo, na Conchichina. Nada de copy/paste da tal empresa Y, da Conchichina, afinal o perfil da sua empresa é um perfil revolucionário.
Para já, a sua empresa, de lucros nada exorbitantes - diria até mesmo, pouquíssimos perante a escala mundial do ramo - tem a virtude de não explorar os seus colaboradores - trabalhadores ou funcionários são termos fora de moda - pois dá-lhes a possibilidade de gozarem, por ano, 28 dias de férias - bem, quando falamos em 28 dias de férias, são 28 dias úteis, não seja cínico, Caríssimo Leitor - e para além dos 28 dias de férias - úteis, não esqueça - possibilita-lhes uma vida de família normal, bem como a possibilidade do fortificante "imersão de trabalho em família", ou ainda o extravagante subsídio de incentivo à Natalidade de indivíduos nada individualizados, ou até a obrigação de desinibições individuais no ambiente de trabalho: 5 minutos de "esbofeteamento", ou a inevitável obrigação - esta arrumará com os concorrentes - de todos os colaboradores praticarem Ioga.
Depois das ideias individualizadas passou a pasta ao embeiçador da coisa, o individualista mor: E, webdesigner, e toca de enviar a Newsletter para a revista X.
O título era deveras eclesiástico: X, a empresa que abre as portas ao descanso.
N sentiu-se um homem feliz, e pelas 21h30, partiu, de consciência limpa, para mais um fim-de-semana em indivíduo.
Terça-feira de manhã, acordou bem-disposto, disse a si mesmo: hoje, apesar de tudo, vou ser feliz! e, depois dos individualismos resolvidos, sai de casa com a sensação que o mundo é um lugar compensador.
E, em cima da mesa de escritório, lá está ela, a revista X, e um título tão inesperado: as 20 melhores empresas para se trabalhar em Portugal.
Sim, a sua empresa, era uma das individualizadas e o engenho era todo seu.
TOC, TOC, TOC
- Entre - disse um tanto enfadado.
B entrou, sentou-se e exclamou:
- Escuta lá, onde é que estavas com a cabeça? Tu sabes quantos emails já recebi hoje?
A directora de Recursos Humanos, hoje, particularmente, parecia-lhe uma indivídua ligeiramente individualizada.
- Que queres dizer com isso?
- Para a próxima, quando nos colocares em rankings, avisa, p'ra eu tirar férias. Sabes quantos indivíduos perguntaram se já tinha aprendido a última posição de Ioga? E quantos perguntaram se podiam tirar férias o resto do ano? E imaginas quantas se tinham direito ao subsídio da Natalidade em caso de trigémeos?
Mas, naquele dia, nada o faria perder as estribeiras, naquele dia o mundo era um indivíduo perfeito.
- querida, fecha o email e diz à Margarida que durante esta semana vais estar em formação, vais ver que toda a gente se acalma. E agora desculpa, mas tenho uma reunião importante com o Lucas, parece qu'o homem precisa de um produtor para uma nova trilogia: o Indivíduo das Estrelas.

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