domingo, maio 27, 2007

Esperando os bárbaros









Mas que esperamos nós aqui n'Ágora reunidos?


É que os bárbaros hoje vão chegar!


Mas porque reina no Senado tanta apatia?

Porque deixaram de fazer leis os nossos senadores?


É que os bárbaros hoje vão chegar.

Que leis hão­‑de fazer os senadores?

Os bárbaros que vêm, que as façam eles.


Mas porque tão cedo se ergueu hoje o nosso imperador,

E se sentou na magna porta da cidade à espera,

Oficial, no trono, co'a coroa na cabeça?


É que os bárbaros hoje vão chegar.

O nosso imperador espera receber

O chefe. E certamente preparou

Um pergaminho para lhe dar, onde

Inscreveu vários títulos e nomes.


Porque é que os nossos dois bons cônsules e os dois pretores

trouxeram
hoje à rua as togas vermelhas bordadas?
E porque passeiam com pulseiras ricas de ametistas,

e
porque trazem os anéis de esmeraldas refulgentes,
por
que razão empunham hoje bastões preciosos
com
tão finos ornatos de ouro e prata cravejados?

É que os bárbaros hoje vão chegar.

E tais coisas os deixam deslumbrados.


Porque é que os grandes oradores como é seu costume

Não vêm soltar os seus discursos, mostrar o seu verbo?


É que os bárbaros hoje vão chegar

E aborrecem arengas, belas frases.


Porque de súbito se instala tal inquietude

Tal comoção (Mas como os rostos ficaram tão graves)

E num repente se esvaziam as ruas, as praças,

E toda a gente volta a casa pensativa?


Caiu a noite, os bárbaros não vêm.

E chegaram pessoas da fronteira

E disseram que bárbaros não há.


Agora que será de nós sem esses bárbaros?

Essa gente talvez fosse uma solução.


Konstantinos Kavafis
(1863-1933)

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