segunda-feira, maio 28, 2007

Descubra a diferença

Há uma diferença entre um telejornal português do canal público e o de Espanha. Não há um sub-secretário de Estado a falar para os industriais de um qualquer ramo, não há reportagens sobre o corte de fita de uma ponte, não há directos marcados para as oito para desalinhar o alinhamento inicial do noticiário. As notícias duram dois minutos, e são dadas sempre na óptica do acontecimento.
Dois exemplos: este fim de semana, realizaram-se as eleições regionais em Espanha. Na sexta-feira, durou cerca de três/quatro minutos o «fecho de campanha» no telediário da televisão pública espanhola. E é bom não esquecer que a Espanha, além dos municípios, tem as regiões. Em Portugal, nunca em menos de meia hora se faz um fecho de campanha num telejornal: directos em todas as capelinhas, com todos os partidos, coligações, independentes, previsões sobre o fecho da campanha, ver se os pavilhões onde os mesmos se realizam já estão cheios, enfim, um sem número de minudências que acabam por desviar do espectador do essencial para se centrar no acessório.
Um outro exemplo: durante este fim de semana, morreu um soldado espanhol no Afeganistão vítima de acidente rodoviário. Em dois minutos, disseram o que se tinha passado, uma breve biografia do sinistrado e passou-se a outra notícia. Em momento algum apareceu um político a dizer, como em Portugal é hábito, que o País tudo fará para trasladar os restos mortais com a dignidade que merece alguém que arriscou a vida pela Pátria (como se se estivesse a fazer um favor ao malogrado por trasladar «com dignidade»).
Como dizia no início, há uma diferença entre um telejornal português e um espanhol. Parece mínima e, em meu entender, é abissal: no de Espanha, o Poder não entra.
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8 Comments:

Blogger cristina said...

Os directos são um exagero! Principalmente quando são para dizer coisa nenhuma...

Viva o Jornal 2!

terça-feira, maio 29, 2007 10:06:00 da manhã  
Blogger james stuart said...

Caro amigo.
Em verdade nunca submeti os telejornais de ambos os países que refere a uma análise comparativa como a que apresenta, e por tal prefiro não apresentar opini4ao de acordo ou desacordo com as suas palavras.
Mas uma coisa tenho a informar:
Habitualmente, quase diáriamente vejo a RTPinternacional e não raras vezes a TVEinternacional. (os noticiários não são coincidentes por fuso horário diferente).
A RTPi pouco vale, excepção aos noticiários, aos programas de Hermano Saraiva, entrevista a Ant. Vitorino, prós e Contras, ocasionalmente o eurofestival e um ou outro joguito de futebol (muito raro, o que é absolutamente injusto e ilógico)... o resto da programação é enfadonha, curriqueira, provinciana e sectarista. Nomeadamente: As novelas da TVI passam neste espaço (aquelas, irritantes quanto baste, que nunca mais terminam, onde a estupidez é aliada da intriga), as manhas com jorge gabriel e sonia araújo (manhas inteirinhas) as festinhas da comunidade portuguesa de "Texas de baixo" com o cantor "Manél tózé" a animar o baile ou o dia da gastronomia portuguesa em "cabeceiras de Versailles" onde as sardinhas assadas são temperadas com Mayonaise ou "moustard de Dijon" e enfiadas dentro de baguette.

Não sou o maior amante da RTPi mas deve haver quem goste, que o bom que lá passa até consegue superar e olvidar o menos bom.
Olha, é o que há cá! ou RTPi ou nada...

Mas a TVE é uma vergonha... horas sem fim em concursozecos de chachada, onde só importa é mostrar as "potencialidades" do decote da apresentadora, horas e horas a fio de "consultório"... velhotas a falar dos calos, das apendicites, da menopausa, da diabetes, médicos a opinar. Ou horas a fio de "vidas reais"... crimes domésticos... a mulher que levava tareia do marido mas vingou-se com a machadinha, o marido que sempre bêbado foi esfaqueado pela cunhada, o bebé que foi raptado pela sobrinha que era amiga da cigana que o vendeu a um monhé que o devolveu à procedência...
Uma vergonha... a TVE, muito diferente da RTPi, propaga e espectra universalmente uma emissão que espelha uma Espanha ridícula, pequenina, cheia de problemas sociais, crimes de esquina, conversas de algibeira.

terça-feira, maio 29, 2007 10:55:00 da manhã  
Blogger NancyB said...

Carlos,
É pertinente a perspectiva do leitor anterior, pois eu estive há pouco tempo em Espanha e no hotel estive sintonizada num dos canais nacionais e foi precisamente essa a ideia com q fiquei da programação televisiva espanhola.
Mas foi interessante ouvir o Malkovitch em castelhano (O Ogre).
Qto ao telejornal, q é o assunto do teu post, não tive oportunidade de ver e portanto de comparar.

terça-feira, maio 29, 2007 11:58:00 da manhã  
Blogger james stuart said...

Quanto ao Malkovitch em castelhano....
Ás vezes nem sabemos apreciar bem o que temos e então só criticamos indescriminadamente...
Que em Portugal tudo é legendado... ou seja nada é deturpado (talvez nao seja justo para os analfabetos é certo).
Razão que em Espanha difícil é encontrar quem verbalize línguas estrangeiras, que a televisão nem sequer lhes ajuda a praticar o que eventualmente aprenderam na escola. Já ouviram um espanhol a falar inglês??? É de rebolar a rir... e se for francês dá para chorar de rir inclusivé.
Mas alguém imagina na televisão portuguesa, por exemplo, um Robert Niro a falar português? Imaginam isso? Certamente a maior parte dos espectadores destruía o televisor à sapatada e eu até admito que era "menino" para arrancar os cabos da TV-Cabo lá da minha rua (das poucas vezes quer regresso a casa, em Portugal)...
Mas não é só em Espanha... que aqui na Hungria é igual... nunca a minha família soube a verdadeira voz de qualquer actor estrangeiro. Um dia destes "passei-me" quando dei por mim a seguir na M1 o "leonardo di Caprio" no "Aviátór" a berrar em húngaro! Que nojo! acreditem

terça-feira, maio 29, 2007 6:30:00 da tarde  
Blogger Carlos Malmoro said...

Cristina,
Normalmente, os directos são para dizer que o pavilhão está vazio porque os apoiantes foram jantar ;)

Caro James,
Só me referi à informação do noticiário das oito da noite do canal público espanhol, comparando-a com o português. Porque no resto, subscrevo as suas observações quanto à programação da TVE e às dobregens do filme. Imagine o Johnny Deep, no filme Eduardo mãos de tesoura, um personagem sombrio, gótico e surreal dizer a seguinte deixa: «Por todos los santos...». Eu não achei nojento, mas ainda hoje não consigo conter o riso sempre que penso na cena... Um abraço e obrigado por ter deixado aqui o seu testemunho.

Nancy,
como eu já disse atrás, em nada discordo do que o James afirmou. O meu post referia-se à comparar telejornais, nada mais. Mas aquela cena do Johnny Deep a dizer «por todos los santos» merecia um post individual ;)

terça-feira, maio 29, 2007 10:58:00 da tarde  
Blogger LeonorBarros said...

O Leonardo di Caprio a falar magiar também deve ser lindo ;-)

terça-feira, maio 29, 2007 11:08:00 da tarde  
Blogger Carlota said...

Há que ver as vantagens! Se não tivéssemos sempre um repórter e uma câmera atrás de cada membro do governo ou político, iamos perder as maravilhosas bacoradas com que ultimamente temos sido brindados... :D
Beijola.

quarta-feira, maio 30, 2007 10:31:00 da manhã  
Blogger Carlos Malmoro said...

Leonor,
deve ter a sua graça, de facto ;)

Carlota,
Sim, tem sido um fartote ;)

Beijocas a «ambas as duas» ;)

quarta-feira, maio 30, 2007 11:04:00 da tarde  

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