Entre o crepúsculo e a alvorada
Diz Wolfgang Becker que Good Bye Lenin! não é um filme sobre a Ostalgie - mais uma das palavras difíceis de traduzir e em que nenhuma outra língua me soa tão bem como em alemão - a nostalgia dos tempos da Ex-RDA e que surge do casamento entre as palavras Ost e Nostalgie.
Sobre o que é então Good Bye Lenin!? Sobre o amor, o desmoronar de um sistema, uma cidade em mudança, sobre o fim do comunismo, sobre o assalto impiedoso do capitalismo? Certamente sobre tudo isto. Good bye Lenin! é também um filme sobre a mudança que se opera na esfera pública e privada e sobre a mudança que se repercutiu na Europa e no mundo desde 1989.
Da sinopse sabe-se que a Christiane Kerner, mãe de Alex, entra em coma depois de ter sofrido um ataque cardíaco quando se preparava para participar no 40º aniversário da RDA. Oito meses depois regressa da ausência a que a obrigou o estado de vacuidade temporário. Durante esses oito meses, a RDA deixou de existir, um golpe duro para quem vestia com convicção a camisola do seu país. Alex, filho extremoso, tenta a todo o custo manter viva a RDA dentro dos 79m² a que estava confinada a mãe, com o intuito de lhe prolongar a vida e evitar o desgosto, demasiado penoso para o seu coração debilitado, de ver o seu país adquirir todas as cores da paleta capitalista com cadeias de fast food a crescer como cogumelos, a água suja do capitalismo a correr como um rio e as marcas ocidentais repentinamente omnipresentes em Berlim, provavelmente a mais emblemática cidade do século XX.
Os episódios oscilam entre a comicidade e a tragédia da angústia de um filho para salvar a sua mãe, pervertendo e invertendo o fluxo da mudança nos simbólicos 79m² do seu apartamento de Berlim – tanto haveria a dizer sobre Édipo entretanto – e mesmo Wolfgang Becker refutando que este não é um filme sobre a Ostalgie, a verdade é que todos os objectos característicos da RDA e que se transformariam em culto e negócio anos após a sua dissolução estão presentes: os pepinos de conserva do Spreewald, o café Mocca Fix, o Sandmännchen, os Trabant, por exemplo.
Salientar o desempenho de apenas um actor seria injusto. No filme tudo parece perfeito e cada uma das personagens, desempenhando não só o seu papel mas também contendo a carga simbólica intimamente ligada ao tempo histórico, deambula com excelência num percurso volátil e volúvel na senda do seu lugar num mundo tão excitante quanto incerto ao som da música de Yann Tiersen, enquanto Lenine sobrevoa o céu de Berlim para desaparecer no crepúsculo que se anuncia na cidade, na vida de Christiane e na própria RDA.
Sobre o que é então Good Bye Lenin!? Sobre o amor, o desmoronar de um sistema, uma cidade em mudança, sobre o fim do comunismo, sobre o assalto impiedoso do capitalismo? Certamente sobre tudo isto. Good bye Lenin! é também um filme sobre a mudança que se opera na esfera pública e privada e sobre a mudança que se repercutiu na Europa e no mundo desde 1989.
Da sinopse sabe-se que a Christiane Kerner, mãe de Alex, entra em coma depois de ter sofrido um ataque cardíaco quando se preparava para participar no 40º aniversário da RDA. Oito meses depois regressa da ausência a que a obrigou o estado de vacuidade temporário. Durante esses oito meses, a RDA deixou de existir, um golpe duro para quem vestia com convicção a camisola do seu país. Alex, filho extremoso, tenta a todo o custo manter viva a RDA dentro dos 79m² a que estava confinada a mãe, com o intuito de lhe prolongar a vida e evitar o desgosto, demasiado penoso para o seu coração debilitado, de ver o seu país adquirir todas as cores da paleta capitalista com cadeias de fast food a crescer como cogumelos, a água suja do capitalismo a correr como um rio e as marcas ocidentais repentinamente omnipresentes em Berlim, provavelmente a mais emblemática cidade do século XX.
Os episódios oscilam entre a comicidade e a tragédia da angústia de um filho para salvar a sua mãe, pervertendo e invertendo o fluxo da mudança nos simbólicos 79m² do seu apartamento de Berlim – tanto haveria a dizer sobre Édipo entretanto – e mesmo Wolfgang Becker refutando que este não é um filme sobre a Ostalgie, a verdade é que todos os objectos característicos da RDA e que se transformariam em culto e negócio anos após a sua dissolução estão presentes: os pepinos de conserva do Spreewald, o café Mocca Fix, o Sandmännchen, os Trabant, por exemplo.
Salientar o desempenho de apenas um actor seria injusto. No filme tudo parece perfeito e cada uma das personagens, desempenhando não só o seu papel mas também contendo a carga simbólica intimamente ligada ao tempo histórico, deambula com excelência num percurso volátil e volúvel na senda do seu lugar num mundo tão excitante quanto incerto ao som da música de Yann Tiersen, enquanto Lenine sobrevoa o céu de Berlim para desaparecer no crepúsculo que se anuncia na cidade, na vida de Christiane e na própria RDA.
Etiquetas: Mês do Cinema
2 Comments:
James Stuart tem um Trabant.
Actualmente existem mais automóveis destes na Hungria do que na Alemanha (porque a Hungria foi o maior mercado importador, tornando-se o segundo maior cliente, logo apos o mercado da RDA, sendo que nos últimos anos foram criados programas de "abate" deste usado na Alemanha unificada).
O Trabant de James Stuart é lindíssimo, azul bébé, caixa semi-automática (modelo Ikomat, raro) impecável. Custou-lhe uns 35 contos em Janeiro, mas gastou uns 300 a deixá-lo impecável (catalisador, pintura, reparaçoes de chapa, pneus, alternador, travoes, faróis... etc, etc...) Os seus 600 cc em motor a dois tempos são poderosos (26 cv) pois o carro é pouco pesado (feito de papel e algodao com resina).
Os Trabi são lindos! Já estive em Budapeste e reparei que havia alguns Trabis, além do do Parque das Estátuas.
Resta-me dizer que adorei a cidade, mesmo a braços com a língua magiar :)
Cumprimentos
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