terça-feira, maio 29, 2007

Perfumes

- Seu filho está doido – disse ela, de noite na varanda, sem saber que eu estava escutando.
- Ele não larga os livros. Hoje ele estava os livros daquela estante que vai cair para cheirar.
- Que é que tem isso? É normal, eu também cheiro muito os livros daquela estante. São livros velhos, alguns têm um cheiro óptimo.

João Ubaldo Ribeiro, Um Brasileiro em Berlim, Editora Nova Fronteira


É normal, claro, que é normal. Apanho-me sozinha, numa livraria ou em casa e o cheirinho dos livros é como perfume para alma. Pelo cheiro se identificam: se são novos, ou mais vetustos, se acabaram de sair da gráfica ou estão encafuados num local recôndito, se foram à praia, assim cheirarão também, se estiveram ao sol, assim libertarão o odor das páginas secas. Os livros não são apenas letras, os livros são também cheiros e os cheiros são a memória de quem somos.

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