domingo, novembro 25, 2007

Dez textos sobre Economia(s) (iv)

Os dois problemas económicos mais graves são o desemprego e a inflação. O primeiro diminui a receita fiscal do Estado, aumenta os gastos do mesmo com o pagamento de subsídios, não permite que as empresas escoem os produtos tão bem devido à quebra do poder de compra, o que faz diminuir ainda mais a receita do Estado, e, mais importante do que isso, é passível de gerar convulsões sociais e coloca a maioria os cidadãos por ele afectados com problemas de auto-estima, desinteresse geral pela vida, mais sujeitos a depressões e a possibilidade de conflitos e rupturas familiares aumenta.
O aumento da inflação, por outro lado, corrói o rendimento das famílias, o seu efeito de encarecimento dos produtos faz com que estes não se escoem tão bem, a moeda desvaloriza, retrai a economia, porque as taxas de juro tendem a subir, provocando menos investimento por parte dos empresários, menos consumo e mais poupança por parte das famílias e exige dos governos políticas de contenção que vão agravar a desaceleração da economia.
Temos portanto aqui dois males a evitar. Contudo, e estudos de Phillips, Fisher, Sollow e Samuelson provam-no, não se podem evitá-los simultaneamente. É fácil deduzir tal conclusão: com mais desemprego o poder de compra desce, há menos procura, logo, menos pressão sobre os preços e estes tendem a estabilizar. Com mais emprego, há mais inflação porque como o rendimento é maior, há maior propensão para o consumo, mais pressão sobre os preços.
Os políticos sabem desta armadilha económica. Nunca se deram ao trabalho de dizer aos cidadãos que tinham de escolher uma das hipóteses - mais desemprego ou mais inflação. Prometem menos desemprego e menos inflação. Enfim, querem tentar contrariar pessoas, como as que acima referi: lá por terem ganho uns Nobel´s da economia, não têm o direito de exigir que eu deixe de prometer uma utopia económica ou o Paraíso na Terra.
Por outro lado, os jornalistas, cada vez com mais formação na área económica, nunca lhes perguntaram como é que iriam resolver esse contra-senso. Um exemplo: numa entrevista da campanha para as legislativas que deram a vitória a Sócrates estavam dois jornalistas: um da área política e outro da área económica. Sócrates, muito determinado, anuncia que vai criar 150 mil empregos até ao final da Legislatura. O jornalista pergunta «Como?», e o futuro PM responde algo que já não me recordo. Mas não pergunta aquilo que é essencial: e como vai combater o efeito inflacionista que a diminuição do desemprego vai gerar?
O problema económico que hoje aqui explanei não é nenhuma tese de doutoramento: aprende-se no décimo primeiro ano. Os portugueses, como noutras áreas, também na Economia têm pouca cultura. Ou seja, por maior que seja a barbaridade que os políticos prometam, os portugueses têm mais propensão a acreditar nela.
No meu caso particular, sou sempre a favor da descida do desemprego mesmo sabendo que isso tem como consequência o aumento inflação: é que entre o aumento do preço de um produto e tirar o emprego a uma pessoa a escolha até nem é assim tão difícil de fazer. Tanto mais para quem tem orgulho em pertencer à escola que defende que a Economia é uma ciência social, que visa em primeiro lugar o bem-estar da sociedade, e só depois e como consequência, o equilíbrio dessa coisa chamada "mercado".

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2 Comments:

Blogger VeraC said...

No outro dia ouvi alguém dizer que o desemprego era uma solução não um problema. Pelo q eu percebi, segundo ele, o desemprego era a solução q os estados europeus tinham encontrado para o preço mais elevado da mão de obra na Europa e a consequente deslocalização das empresas. Está um pouco confuso mas não posso explicar muito mais pois não percebi mto bem as suas conclusões e tb não estava com tempo para as questionar. Mas já ouviste alguém com uma tese semelhante?

quarta-feira, novembro 28, 2007 11:00:00 da manhã  
Blogger VeraC said...

errata: onde está estados europeus, leia-se estados.

quarta-feira, novembro 28, 2007 11:01:00 da manhã  

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