quarta-feira, novembro 28, 2007

O amor é o "cagarra"

As tarefas diárias enferrujam-lhe os pensamentos, entre 2 paletes de tinta, uma ou outra encomenda de verniz, as dívidas dos clientes, a desarrumação no computador.
O dia a dia em etiqueta.
As horas em características.
Os segundos em aplicabilidade.
Jesus Cristo é um sólido em peso, uma espécie de massa volúmica: «não penseis que vim trazer a paz à terra; não vim trazer a paz, mas a espada. Porque vim separar o filho do seu pai, a filha da sua mãe e a nora da sua sogra; de tal modo que os inimigos do homem serão os seus familiares."
Meu Deus, uma espessura seca? que pretendeis com isto? Jesus veio ou não para nos salvar? E, mais uma vez, almoça sozinha, novamente seca e húmida. O marido num tempo de secagem indiferente, o filho sobrepintado, a filha superficial na sua profundidade.
Meu Deus, com quem tactearei as minhas interrogações?
Os pensamentos corroem-na como o brilho de uma película, dissolvendo a sua compatibilidade e a sua base de aplicação.
Dali a pouco, novamente, uma hora de almoço invulnerável.
Almoça sozinha, desembrulha lenta e morosamente a sua viscosidade, numa ou noutra consistência administrativa.
Arruma mais um pouco, um móvel opaco aderente ao pó, uma nódoa indelével na toalha, uma migalha de pão, uma teia de aranha.
Chega ao emprego reabilitada.
Enquanto arruma o balcão, a impermeabilização instala-se entre ela e os papeis e com ela convive durante toda a tarde, nenhum cliente lhe comprara a dúvida.
Ao final da tarde, a sua aparência era uma espécie de camada de tinta depois de seca.

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1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Regressado de um mês de férias, retomei a actividade blogueira
iniciada em Setembro em
cronicasdorochedoblogspot.com. Proponho uma troca de links
Um abraço
Carlos Barbosa de Oliveira

quarta-feira, novembro 28, 2007 1:06:00 da tarde  

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