Mário de Carvalho decididamente
Estava a premir a tecla F 11, quando um homenzinho magro, de fato escuro completo e chapéu fora de moda emergiu atrás do teclado e começou a fazer esforços para se içar para o tampo superior, onde se agigantam monitor e impressora. Assim começa Mário de Carvalho o conto de abertura de Contos Vagabundos. Personagens e narrador interagem no espaço privilegiado pelo escritor para o labor da escrita. O narrador adianta não ter sido esta a primeira vez que foi assediado por personagens, mesmo longe do espaço referido inicialmente, e uma vez que o assédio se prolongara das formas mais variadas e as personagens continuavam a surgir e a atormentar incessantemente, o narrador decide recorrer aos conselhos de um escritor sábio, provavelmente mais vetusto, madrugador É um escritor dos diurnos, nove às cinco, que para felicidade dos amantes da literatura, apesar da sugestão inicial Atira-as pela janela, lhe dá o conselho dos conselhos Faz o seguinte: aprisiona-as ao texto. E este conto podia muito bem ser autobiográfico: o escritor que, depois do chamamento das tantas personagens, decide prendê-las pela escrita e dar-lhes uma existência entre páginas e uns passeios prolongados pelas (re)leituras sucessivas de quem mergulha no livro. Mário de Carvalho é detentor de uma escrita bem-humorada, rica, irónica, fantasiosa, muito imaginativa e muito divertida, e, pese embora a diferença entre a crónica e o conto, o único escritor que conheço no panorama nacional capaz de ombrear com Mário Prata, Pedro. Obrigada pela resposta ao repto aqui lançado.
2 Comments:
Concordo contigo, Leonor.
Mas não deixa de ser curioso que o Mário de Carvalho seja quase o único, Pedro.
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