Vale a pena ler, no Público de ontem, a crítica de Vasco Pulido Valente ao "Rio das Flores" de Miguel Sousa Tavares.
Dedicar quatro páginas de um jornal a uma crítica "literária" é a cereja em cima do bolo, pelo menos para quem aprecia o género. Parabéns ao "
Público" pelo facto jornalístico.
Notas em relação a Vasco Pulido Valente:
- é intelectualmente arrogante e como qualquer intelectual arrogante pressupõe que a sua especialização profissional é de importância vital para a humanidade, quem não sabe tão intensamente sobre determinada época histórica é um "iletrado", consultar P2, página 9, coluna dois, segundo parágrafo, diz VPV: "Imagino que um iletrado (a maioria dos leitores) acredite piamente em Sousa Tavares". Suponho que um "iletrado" para VPV sejam todos os leitores de MST e não os seus (VPV).
- gostaria de perguntar a VPV se considera que não existem outras especializações interessantes, outras áreas culturais dignas de apreço, outros estilos de vida, outras experiências profissionais, outras trocas, outras qualquer coisa.
- os leitores de MST, não pretendem discutir história com quem quer que seja a partir da leitura de um romance histórico. É que têm plena consciência de que um romance histórico é apenas um romance e não uma biografia.
- esclarecimentos de VPV acerca da sua crítica: "Numa entrevista ao
Expresso, MST, contou um caso, inteiramente imaginário, da minha suposta desonestidade (teria criticado o
Equador sem o ler) (...) Como é natural desmenti. Isto bastou para que ele anunciasse por SMS à minha mulher e, a seguir, no
Diário de Notícias que "ia dar cabo de mim". (...) Ficou pelo insulto e pela injúria; e pela ameaça implícita de que, se quisesse revelaria episódios da minha vida pessoal (cinco ou seis) para liquidar a minha figura pública. Nestas digressões MST não falou uma única vez de um livro meu ou do meu jornalismo.", Introdução ao artigo do Público, P2, p.6,
"quando aqui me refiro a Miguel Sousa Tavares deve ser claro que me refiro ao narrador", idem, p.7, coluna 1, parágrafo 1, ou
"uma última observação: discuti neste artigo um livro e um autor, não estou disposto a discutir a pessoa ou a pessoa de Sousa Tavares", idem, último parágrafo do artigo, p.9.
Não se está a discutir a pessoa? Serei uma ignorante em artifícios de linguagem?
- VPV deverá ter consciência do seguinte: os leitores do Público aceitam a sua crítica histórica, quanto à literária seguem em frente. Há sempre um "gosto" "não gosto" a gritar dentro de nós e esse grito é incomensuravelmente livre e não permeável aos "gritos" particulares de cada um.
Em relação a Miguel Sousa Tavares:
- MST é tão arrogante quanto VPV, tem um pequeno problema não possui a densidade de um especialista, daí as suas crónicas e os seus romances serem "eivados" de "preconceitos" ideológicos, generalidades e "irrealidades" (a sua crónica do Expresso da semana passada é disso um excelente exemplo).
- a falta de densidade das personagens de MST, com a qual eu concordo em relação ao "Equador", pois ainda não li "Rio das Flores", residirá na sua míngua de generosidade em relação ao que o rodeia? (Tolstói
dixit: se queres tornar-te Universal começa por pintar a tua aldeia).
- a sua estratégia: "a melhor forma de defesa é o ataque" foi, decididamente, um tiro no pé.
Tanto VPV como MST recrearam em muita gente o não óbvio: ora bolas, até os "opinion makers" são permeáveis às fraquezas humanas.
De resto, os leitores de ambos são pouco generosos e irão comprar o romance de um, ora aí está uma óptima prenda de Natal e a biografia de outro, uma excelente prenda para o primo licenciado em história, mas ainda bastante iletrado.
E no fundo, no fundo, seremos todos muito felizes e para sempre.
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