segunda-feira, agosto 28, 2006

Toda a arte é absolutamente inútil





















Diego Velazquez. Las Meninas; 318x276cm; óleo sobre tela; Museu do Prado, Madrid

O artista é o criador de coisas belas.
Revelar a arte e ocultar o artista é o objectivo da arte.
O crítico é aquele que sabe traduzir de outra maneira ou com material diferente a sua impressão de coisas belas.
A mais alta, assim como a mais baixa, forma de crítica é uma autobiografia.
Aqueles que encontram feias significações nas coisas belas são corruptos sem serem encantadores. É um defeito.
Aqueles que encontram feias significações nas coisas belas são cultos. Para esses há esperança. São os eleitos aqueles para quem as coisas belas apenas significam Beleza.
Não há livros morais nem imorais, Os livros são bem ou mal escritos. Nada mais.
A vida moral do homem faz parte do assunto do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito dum meio imperfeito. Nenhum artista deseja provar o que quer que seja. Até as coisas verdadeiras se podem provar.
Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista é um imperdoável maneirismo de estilo.
O artista nunca é mórbido. O artista pode exprimir tudo.
O pensamento e a linguagem são para o artista instrumento de arte.
O vício e a virtude são para o artista materiais de arte.
Sob o ponto de vista da forma, o tipo de todas as artes é arte do músico. Sob o ponto de vista do sentimento, o tipo é a profissão de actor.
Toda a arte é ao mesmo tempo superfície e símbolo.
Aqueles que descem além da superfície fazem-no com risco seu.
O mesmo acontece àqueles que lêem o símbolo.
É o espectador, e não a vida, que a arte realmente reflecte.
A diversidade de opiniões sobre uma obra de arte mostra que a obra é nova, completamente vital.
Quando os críticos divergem, o artista está de acordo consigo mesmo.
Pode-se perdoar a um homem o fazer uma coisa útil, enquanto ele a não admira. A única desculpa que merece quem faz uma coisa inútil é admirá-la intensamente.
Toda a arte é absolutamente inútil.

Prefácio de Oscar Wild in O retrato de Dorian Gray
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3 Comments:

Blogger julia said...

"Toda a arte é absolutamente inútil "

ao todo de uma frase
=]

terça-feira, agosto 29, 2006 12:01:00 da manhã  
Blogger [A] said...

e que assim continue porque quando é útil torna-se um bibelot...
(claro k se poderia falar na utilidade financeira...mas fico por aqui.)

terça-feira, agosto 29, 2006 10:46:00 da manhã  
Blogger cristina said...

Descupem lá, essa frase é, sem dúvida, poética, mas não me parece realista. Todo o texto citado é poético, no sentido de ser cativante e admirável, mas é também realista. Frases como:
"Revelar a arte e ocultar o artista é o objectivo da arte."
"É o espectador, e não a vida, que a arte realmente reflecte."
parecem-me coisas bonitas e, apesar de não o serem totalmente, têm o seu fundo de verdade - se não na prática, pelo menos no espírito. Mas chegados às frases finais, a coisa fica propositada e poeticamente deturpada. É uma boa conclusão para o texto, mas não é algo com que se deva concordar quando dito de forma solitária.

E, ao contrário da Ana, parece-me que a arte se transforma num mero bibelot, precisamente, quando perde a sua utilidade.

terça-feira, agosto 29, 2006 6:39:00 da tarde  

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