terça-feira, agosto 29, 2006

sempre ao dispor

Sentou-se calmamente à mesa descansando o queixo na mão esquerda, expressão passeando ónibus. O seu pensamento disperso por intenções gratificantes «sempre lhe apetecera matar o gajo gordo do espelho». O gajo gordo osculando ele reconhecido «’cê é um anjo». A mesa recheada de malmequeres e girassóis, crisântemos e rosas vermelhas da China, esperava-o atenciosamente, era uma espécie de mesa circunspecta, pensando antes «esse cara está precisando de exercício físico» e só falando depois «ei cara s’anime a vida é pra ser vivida com gosto!». O cara, de animação dançando no rosto, media a delicadeza do girassol sussurrando: «tu não mereces ser comida! tu não mereces ser comida!». Não, não vociferou! Nem sequer lhe esfregou no rosto a «necessidade premente de se alimentar, pois a primeira refeição é a mais importante do dia» e caminhando elegantemente com suas quatro pernas torneadas, atrás dele e sempre à sua disposição «quem sabe, pode ser que entretanto lhe apeteça algo».

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