Dona melancia canonicando…
Ela – Você acha as histórias de Flannery O’Connor tão violentas assim?
Ele - Se, para si, violência equivaler a sangue jorrando pelas paredes, talvez não!
Ela – Sabe bem que não! A estrutura não me parece complicada…
Ele – Sim, meu bem, acontece que no escrever não passeia só a estrutura.
Ela – Parece-me qualquer coisa como: Personagem principal, caracterização psicológica, tema, personagens clarificadoras do tema, caracterização psicológica das personagens, final.
Ele – Contudo o mais estranho na escrita de Flannery é a violência, como você diz atrás, mas a violência psicológica, as personagens principais das histórias: Um bom homem é difícil de encontrar, O rio, A vida que salvar pode ser a sua, Uma visita da boa sorte, Um templo do espírito santo, O preto artificial, até são pessoas moralmente íntegras.
Ela – O mais desconforme é a violência psicológica para a qual caminham indiferentemente…
Ele – A avó e o homicida é, a esse nível, um conto exemplar.
Ela – Não concordo! Talvez o de Ruby* seja, para mim, o mais desconcertante. Ruby rodeada de uma família fascinante, o medo de envelhecer paralelo à crescente dificuldade na subida dos degraus, e a magnífica introdução do tema: Ponce de Leon, e, finalmente, a confrontação com o motivo do medo do envelhecimento. Extraordinário! Um conto perfeito.
Ele – Você acha que aquela pistola é de brincar?
Ela – Claro que é de brincar! Contudo a ideia é de jogar ao gato e ao rato com o leitor, Flannery é magnífica nesse jogo!
Ele – Você tá farta de fazer esquemas e mais esquemas para entender esses conto, meu bem.
Ela – Você quer frases ontológicas?
Ele – Não me mace com isso, meu bem.
Ela - «Eram avô e neto mas eram suficientemente parecidos para parecerem irmãos, e irmãos de idade não muito afastada, porque Mr. Head tinha uma expressão juvenil, enquanto que o rapaz tinha um olhar antigo, como se já soubesse tudo e gostasse de poder esquecer o que sabia»** ou então a ironia de «Os seus olhos (…) tinham uma expressão de compostura e de sabedoria antiga, como se pertencessem ao maior dos guias da humanidade. Poderia ser Virgílio acordado a meio da noite para ir ter com Dante, ou, melhor ainda, Rafael, acordado por uma explosão de luz de Deus para voar para junto de Tobias»**
Ele – Deixe isso pra lá, meu bem, isso não é mais conversa d’assunto!
* O'Connor, FLANNERY, Uma Visita da Boa Sorte in Um Bom Homem é Difícil de Encontrar, Lisboa, ed. Cavalo de Ferro, p. 65-80
** O'Connor, FLANNERY, O Preto Artificial in Um Bom Homem é Difícil de Encontrar, Lisboa, ed. Cavalo de Ferro, p. 97-123
Ele - Se, para si, violência equivaler a sangue jorrando pelas paredes, talvez não!
Ela – Sabe bem que não! A estrutura não me parece complicada…
Ele – Sim, meu bem, acontece que no escrever não passeia só a estrutura.
Ela – Parece-me qualquer coisa como: Personagem principal, caracterização psicológica, tema, personagens clarificadoras do tema, caracterização psicológica das personagens, final.
Ele – Contudo o mais estranho na escrita de Flannery é a violência, como você diz atrás, mas a violência psicológica, as personagens principais das histórias: Um bom homem é difícil de encontrar, O rio, A vida que salvar pode ser a sua, Uma visita da boa sorte, Um templo do espírito santo, O preto artificial, até são pessoas moralmente íntegras.
Ela – O mais desconforme é a violência psicológica para a qual caminham indiferentemente…
Ele – A avó e o homicida é, a esse nível, um conto exemplar.
Ela – Não concordo! Talvez o de Ruby* seja, para mim, o mais desconcertante. Ruby rodeada de uma família fascinante, o medo de envelhecer paralelo à crescente dificuldade na subida dos degraus, e a magnífica introdução do tema: Ponce de Leon, e, finalmente, a confrontação com o motivo do medo do envelhecimento. Extraordinário! Um conto perfeito.
Ele – Você acha que aquela pistola é de brincar?
Ela – Claro que é de brincar! Contudo a ideia é de jogar ao gato e ao rato com o leitor, Flannery é magnífica nesse jogo!
Ele – Você tá farta de fazer esquemas e mais esquemas para entender esses conto, meu bem.
Ela – Você quer frases ontológicas?
Ele – Não me mace com isso, meu bem.
Ela - «Eram avô e neto mas eram suficientemente parecidos para parecerem irmãos, e irmãos de idade não muito afastada, porque Mr. Head tinha uma expressão juvenil, enquanto que o rapaz tinha um olhar antigo, como se já soubesse tudo e gostasse de poder esquecer o que sabia»** ou então a ironia de «Os seus olhos (…) tinham uma expressão de compostura e de sabedoria antiga, como se pertencessem ao maior dos guias da humanidade. Poderia ser Virgílio acordado a meio da noite para ir ter com Dante, ou, melhor ainda, Rafael, acordado por uma explosão de luz de Deus para voar para junto de Tobias»**
Ele – Deixe isso pra lá, meu bem, isso não é mais conversa d’assunto!
* O'Connor, FLANNERY, Uma Visita da Boa Sorte in Um Bom Homem é Difícil de Encontrar, Lisboa, ed. Cavalo de Ferro, p. 65-80
** O'Connor, FLANNERY, O Preto Artificial in Um Bom Homem é Difícil de Encontrar, Lisboa, ed. Cavalo de Ferro, p. 97-123
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