quarta-feira, agosto 16, 2006

Nos 106 anos da morte de Eça de Queirós

Não gosto de falar da minha carreira sentimental - mas creia você que que ela tem sido triste, há uma ano para cá: tenho sido, através do sentimento, como uma péla: ora botilhando pela lama, ora tentando pular para as nuvens: e de cada vez - tédio ou desilusão. As duas últimas experiências foram tristes: uma ligação com uma desavergonhada (apesar da sinceridade animal do seu instinto amoroso, o rigor da crítica obriga-me a chamar-lhe uma desavergonhada) ia-me complicando a vida. Partida esta chaine de fleurs, qui n'était au fond qu'une sale ficelle - quis, por tendência reactiva da péla, passar da lama ao Céu. Achei-me com uma devota - que, quando eu imaginava que me ia levando para a felicidade, me ia arrastando simplesmente para a missa! Para evitar a indignidade da hipocrisia - ou a tentativa grotesca de converter uma Santa Teresa ao racionalismo, plantei-a lá, com grande alívio dela, creio.
Eça de Queirós, carta a Ramalho Ortigão
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