domingo, dezembro 25, 2005

A Ler


Sendo a Idade Média ainda vista, em larga medida, como uma época de obscurantismo e trevas , é de louvar cada nova iniciativa que venha mostrar todo o brilho intelectual, artístico ou cultural de uma época que não foi nem mais nem menos rica do que qualquer outra. É o caso de Filosofia Política Medieval, de Paulo Ferreira da Cunha, o mais recente dos volumes da colecção "O essencial sobre...", da Imprensa Nacional Casa da Moeda, colecção que alia o rigor de especialistas à concisão destinada a largos públicos. Neste caso, Paulo Ferreira da Cunha leva-nos a percorrer um milénio de pensamento político, de Agostinho a Ockham. De recensão à obra não se trata aqui, que para tal não temos escopo. Contudo, seja-me permitido notar uma sua característica, não propriamente criticável, mas potencialmente desconcertante. É que, em várias ocasiões, o autor salta do pensamento medieval para a nossa época, assim operando uma como que actualização de problemas, a que junta a sua visão pessoal,o que poderá ser o seu tanto discutível. Veja-se este passo, a propósito da noção de Justiça em S. Tomás de Aquino, autor que ocupa(e bem) grande parte da obra:

«Nos tempos modernos, a igualdade foi pervertida pela ideia de uma igualdade concebida como "mesmidade" ou identidade (a que alguns adjectivam de aritmética), quando deve pensar-se como igualdade proporcional, de forma subtil, em termos hábeis. O igualitarismo é sempre quimérico ou semente de desigualdade violenta e despótica» (p. 45, itálicos meus).

Em todo o caso, um livro indispensável. Pela qualidade, pela clareza, pelo encanto da escrita, pelo preço: 5 euros.
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1 Comments:

Blogger André Carvalho said...

O preço e o tema fazem o casamento perfeito para eu o comprar brevemente... só por curiosidade. :)

terça-feira, dezembro 27, 2005 10:43:00 da tarde  

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