quarta-feira, dezembro 28, 2005

Opções

Nas décadas imediatas ao pós- 25 de Abril, o discurso ideológico do nosso País esteve dominado pela Esquerda. Tanto e de tal forma, que o próprio PPD se declarava favorável à construção de uma Sociedade sem Classes (eufemismo epocal). Em parte devido a meio Século de uma ditadura de Direita, em parte devido ao fascínio dos intelectuais por ideias mais ou menos colectivistas, em parte por isto, em parte por aquilo. A partir daqui, a Esquerda criou uma espécie de maniqueísmo operacional: ser bom era ser de Esquerda, ser mau ser de Direita. O processo foi de tal forma eficaz que, ainda hoje, muitos jovens se veêm presos neste esquema simplista. Entretanto, a Direita deste Pais foi reagindo. E, sobretudo nos últimos anos, fê-lo de duas maneiras. A primeira dessas maneiras tem sido pensar, discutir, argumentar e ponderar. É a via seguida, por exemplo, por Jaime Nogueira Pinto, Adriano Moreira, ou, de entre os mais novos, alguns blogues que, com eficiência, trouxeram ideias para a praça pública. A segunda dessas maneiras tem sido a via terrorista. Que consiste em fazer à Direita o que, normalmente, se fazia à Esquerda. Onde o "terrorismo" de Esquerda dividia o mundo entre bons (Esquerda) e maus (Direita), vai este "terrorismo" de Direita dividir o mundo em bons (Direita) e maus (Esquerda). Se antes era pecado ser de Direita, agora parece que é pecado ser de Esquerda. Se antes a Direita era monstruosa e a Esquerda, simplesmente, "cometia desvios", agora é a Esquerda que é monstruosa, e a Direita que "comete desvios". Se a Esquerda sabia salvar o mundo, agora é a Direita quem sabe como salvar o mundo. Se antes o Socialismo era o Futuro Éden, agora o Capitalismo é o Futuro Éden. Se antes os profetas estavam à Esquerda, agora os profetas estão à Direita. Esta segunda maneira observa-se em certo PP, em certos blogues e em certas revistas mais ou menos semi-clandestinas. Mas é profundamente grotesca. Em primeiro lugar, porque a maior parte das pessoas, pura e simplesmente, está-se nas tintas para saber se tal ou tal política é mais de Lenine, Burke, Reagan ou nórdica. Havendo sol no Verão e chuva no Inverno, 60 e muito % da população mundial passa bem sem discussões intelectuias sobre o neo-liberalismo ou o socialismo democrático. E, vejamos: o comunismo ruiu, as teocracias ruiram (vão ruindo...), o capitalismo, provavelmente, vai ruir. Quem nos pode garantir o que quer que seja? Em muito que pese aos velhos profetas de Esquerda, ou aos novos profetas de Direita, a humanidade patenteia uma imprevisibilidade desconcertante, de mistura com uma acentuada propensão para a mudança. Claro que, em tudo isto, o Sr. Ribeiro e Castro é só uma peça insignificante num Pais já de si insignificante. Mas, nos limites do nosso quintal, cabe ao PP do Sr. Castro uma opção de fundo: ou a primeira ou a segunda via. Ou o debate inteligente, ou o bloquismo em segunda mão.
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2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Ainda que pareça mal, esse niilismo soa a conveniente. Isto está como está e mais nada há a fazer. Cada um desenrasca-se e vai à sua vidinha que o que é preciso é saudinha. Pois bem, o capitalismo provou que tem mais que uma vida e também provou que regressa sempre cada vez mais assanhado. Olhar para o que foram as experiências socialistas e avaliá-las pelo seu desfecho, e erros, equivale a dizer que a democracia ateniense tinha escravos, logo era um sistema injusto, ainda para mais engolido por um império autocrático e militarista, logo um exemplo a seguir. A história é como a vida, dialéctica. Nada tem de metafísico.

sexta-feira, janeiro 06, 2006 1:58:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

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quinta-feira, dezembro 07, 2006 9:17:00 da manhã  

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