quarta-feira, dezembro 21, 2005

A Hora da Literatura. Efeméride

A 21 de Dezembro de 1805, morreu Bocage. Muito mais do que a personagem de anedotas populares, um dos maiores poetas portugueses de sempre. Multifacetado, ei-lo em duas facetas, afinal, complementares e humanas:

Fiado no fervor da mocidade,
que me acanava com tesões chibantes,
consumia da vida os meus instantes
fodendo como um bode, ou como um frade:

Quantas pediram, mas em vão, piedade
encavadas por mim balbuciantes!
Fincado a gordos sessos alvejantes
que hemerróidas não fiz nesta cidade!

À força de brigar fiquei mamado:
vista ao caralho meu, que de gaiteiro
está sobre os colhões apatetado:

Oh Numen tutelar do mijadeiro!
Lever-te-ei, se tornar ao teso estado,
por oferenda espetado um parrameiro.
In Poesia Erótica (organização de Fernando Pinto do Amaral), D. Quixote


A frouxidão no amor é uma ofensa,
ofensa que se eleva a grau supremo;
paixão requer paixão; fervor, e extremo;
com extremo e fervor se recompensa.

Vê qual sou, vê qual és, vê que diferença!
Eu descoro, eu praguejo, eu ardo, eu gemo;
Eu choro, eu desespero, eu clamo, eu tremo,
Em sombras a razão se me condensa:

Tu só tens gratidão, só tens brandura,
e antes que um coração pouco amoroso
quisera ver-te uma alma ingrata, e dura:

Talvez me enfadaria aspecto iroso;
mas de teu peito a lânguida ternura
tem-me cativo, e não me faz ditoso.
In Antologia Poética, Ulisseia
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2 Comments:

Blogger André Carvalho said...

Pode ser um bocado piroso dizer isto mas... foi o primeiro poeta que li com gosto.

quinta-feira, dezembro 22, 2005 1:59:00 da tarde  
Blogger sabine said...

Também gosto do Bocage. Outra efeméride recente: Fernando Lopes Graça.

quinta-feira, dezembro 22, 2005 5:50:00 da tarde  

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