segunda-feira, dezembro 12, 2005

Homem não chora

Há estórias que não têm qualquer razão de ser, mas para as quais nós, homens, por algum motivo de origem ainda desconhecida, parecemos bastante interessados em as querer fazer perpetuar até à eternidade.

Todos sabemos que o choro é algo de comum nas crianças, e que à medida que nos vamos aproximando da idade adulta, esta forma de reagir a uma adversidade tende a dissipar-se. Isto é tão verdade para os homens como para as mulheres e não tem só a ver com a maior ou menor sensibilidade de cada indivíduo. Perante uma situação realmente dramática [variável de indivíduo para indivíduo], não me parece que haja alguém que consiga evitar naturalmente as lágrimas.

Podemos afirmar que na nossa sociedade é muito raro ver um homem a chorar, mas a verdade é que, o que é raro, é ver um adulto [de qualquer sexo] a chorar, pelo menos em público.

Se é evidente que verter lágrimas é algo de natural no ser humano e há pessoas que só choram em situações de sofrimento próprio e extremo, outras há que também o fazem quando são confrontadas com o sofrimento dos outros. Contudo, uma bem conseguida ficção do género dramático, seja um filme, uma peça de teatro, um livro, ou mesmo uma música, também fazem lacrimejar muito boa gente. Não é raro ver uma criatura a chorar compulsivamente pela emoção provocada por um filme, por um romance, etc.

Confesso que me custa manter os olhos completamente secos quando oiço o Hino Nacional, e que a última vez que me lembro de ter chorado compulsivamente foi ainda em criança, no cinema Tivoli, e assistia ao filme Bambi da Walt Disney Pictures. Fiquei de tal forma traumatizado que ainda hoje me custa soletrar o nome “b-a-m-b-i”, sem me virem as lágrimas aos olhos. Estive muito perto de uma cena similar, quando na minha adolescência assisti a uma derrota do Sporting na Luz, por cinco a zero. Só recuperei deste trauma anos mais tarde, quando os cilindrámos em Alvalade por sete a um. A estupidez disto tudo é que já em adulto, quando perdi um familiar que me era muito próximo e ao qual era muito ligado, quase não verti uma lágrima. A única conclusão que posso retirar da minha experiência é que as lágrimas não são proporcionais à emoção.

Ao meditar sobre este tema, e a propósito de "sensibilidades", lembrei-me logo do estereótipo gay, contudo, os últimos homens que vi chorar não eram, de certeza, gays. Se os gays choram com mais facilidade que os heterossexuais, não sou a pessoa mais indicada para o confirmar, mas de qualquer forma, o estereótipo do “gay” é completamente diferente do estereótipo de “homem”. Ou não será?

Se levarmos em linha de conta algumas das ideias difundidas por sectores ainda mal identificados da nossa sociedade que nos parecem querer impingir nos últimos tempos conceitos como o de, "metrosexual", podemos ficar com bastantes dúvidas acerca da pretensa evidência da minha última distinção.

Eu sou bastante liberal, mas não me venham com aquelas tretas que um homem tem de rapar os pelos do corpo por uma questão de higiene ou por uma questão desportiva. A questão da higiene é facilmente destronada com um bom banhinho de água quente e muito sabãozinho. A questão desportiva baseia-se na teoria que a ausência de pelos diminui o atrito com a água e melhora a performance do atleta. Isto é obviamente falso, porque um gajo bastante peludo, pode funcionar como um Overcraft e deslizar muito melhor na água. Para além do mais, mesmo que fosse verdade, são tão poucos os atletas de alta competição que praticam natação que o número de homens que teria de recorrer a esta prática feminina seria escassíssimo.

Resta a sempre discutível questão estética. Quanto a mim, e por muito moderno e liberal que pretenda ser - e porventura por ter pouco pelo e ainda querer manter o que tenho - acho completamente ridículas estas novas “tendências” que nos querem impingir. Não vejo qual é a "beleza" de um gajo ficar parecido com um frango depenado.

Se duvidas ainda tivesse, depois de ouvir a novelista cor-de-rosa Margarida Rebelo Pinto a afirmar num programa de televisão que o primeiro metrosexual em Portugal foi Manuel Maria Carrilho, percebi logo que essa tal de coisa “metrosexual” não era, definitivamente, para mim.

Como as problemáticas e os mitos teimam em persistir torno da vida quotidiana da espécie masculina, principalmente da subespécie made in Portugal, sou forçado a voltar a este tema, e com alguma regularidade o tratarei aqui no «GR», sem tabus, pois, como quem não quer a coisa, os "outros" sexos parecem estar a ganhar alguma preponderância na sociedade portuguesa, e isto tem de ser evitado a todo o custo. :)
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6 Comments:

Blogger sabine said...

Essa história de só os gays terem sensibilidade para chorar é um mito. Mas a verdade é que em Portugal o que é mais comum é o homem machista que tem á mania que não chora e que não precisa da mulher para o aconselhar - uma herança do Estado Novo. Ainda bem que não és assim.
Pessoalmente não acho o Manuel Maria Carrilho um metrosexual nem acho a maioria dos ditos metrosexuais bonitos.

segunda-feira, dezembro 12, 2005 8:27:00 da tarde  
Blogger Dinada said...

Num registo lamechas, que não costuma ser o meu (porque muito bem escondido), digo a propósito do título deste post:

O Homem que mais amei até hoje foi aquele que, na hora da despedida, soube chorar comigo!

segunda-feira, dezembro 12, 2005 8:55:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Se continuo a ler os teus posts, ainda acabo por mudar de nick. :)

terça-feira, dezembro 13, 2005 12:40:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Então e a derrota este fim-de-semana em Alvalade com o Estrela, não te fez chorar? ;)

terça-feira, dezembro 13, 2005 8:12:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

-- "A única conclusão que posso retirar da minha experiência é que as lágrimas não são proporcionais à emoção."

- As lágrimas são reflexo inconsequente de emoções do momento: música, filme e [seja!] futebol. A perda de alguém chegado entra num outro patamar, mais reflectido. Não são emoções maiores ou menores, são emoções diferentes - vividas de modos inevitavelmente diferentes!


-- "de qualquer forma, o estereótipo do “gay” é completamente diferente do estereótipo de “homem”. Ou não será?"

- É claro que é diferente! - o estereótipo, entenda-se... O estereótipo gay, habitualmente, aproxima o dito da mulher, também estereotipadada como um bicho mais sensível, e, portanto, mais dado a essas emoções do momento. Mas isto de estereótipos é quase como as sondagens: "valem o que valem..."


-- "acho completamente ridículas estas novas “tendências” que nos querem impingir. Não vejo qual é a "beleza" de um gajo ficar parecido com um frango depenado."

- Mas uma gaja já se pode parecer o dito frango?!!! Aí, já é "beleza"?!!! São, de facto, tendências impigidas - a ver vamos se essa vai colar...


-- "os "outros" sexos parecem estar a ganhar alguma preponderância na sociedade portuguesa"

- :)

sábado, dezembro 17, 2005 2:52:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Cara Cristina,

Como sempre... uns comentários bem "tirados".

Só que desta feita não tenho muito a dizer, porque o que pretendo com esta rúbrica é "brincar" um pouco com algumas situações... e já estava à espera de uma referência à depilção feminina. :)

terça-feira, dezembro 20, 2005 6:11:00 da tarde  

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