quinta-feira, dezembro 29, 2005

Mónica, disse ela

Acabei de ler o Bilhete de Identidade, de Maria Filomena Mónica. Li-o em dois dias, de tal forma me apaixonei por ele.
Não concordo com quem pense que este é o livro português do ano. Mas dou-lhe grande crédito pela coragem da autora em se expor desta forma. Era, aliás, tempo de alguém o fazer. Neste livro podemos olhar Maria Filomena Mónica em estado puro: as suas aristocracias, as suas convencionalidades e as suas rebeldias. Este é um livro que se distingue pela crueza do que é dito. Maria Filomena Mónica "despe-se" perante quem lê. João Pedro George tem razão em relação à pobreza da linguagem da autora.
Pouco me espanta naquele livro: as relações da socióloga com a mãe são semelhantes a tantas relações mãe-filha; o sexo é encarado como algo natural e ainda bem; as traições de Maria Filomena Mónica são uma reacção ao facto de se sentir traída e seria de muita hipocrisia não expô-las e não dizer "foi bom"; a forma como fala de si mesma e dos outros é antológica: não esconde que nem sempre teve os melhores pensamentos e sentimentos pelas pessoas; Maria Filomena Mónica não se coloca grandes questões teóricas e acho que seria uma estupidez fazer isso: aquela é a sua vida.
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