quinta-feira, dezembro 22, 2005

A Hora da Literatura. Efeméride

A 22 de Dezembro de 1969, morreu José Régio. Embora geralmente conhecido como poeta, é como dramaturgo, ficcionista, ensaísta e um dos mentores da presença que merece lugar ao sol nas letras portuguesas do Século XX. Nota pessoal: Régio é um dos meus autores, e escreveu um dos livros que mais me marcaram: Jogo da Cabra Cega. Eis um apontamento do seu diário, que já aqui deixei:

«Coimbra, 4 de Novembro de 1924-Tenho passado noites horríveis. Assisti (e colaborei) a algumas sessões de espiritismo, entre rapazes. O que a eles passou quase indiferente perturbou-me a mim em excesso. Invocámos numa delas o espírito de António Nobre, que disse querer dirigir-se a mim. Transcrevo algumas perguntas:
Eu -Tens alguma coisa a dizer-me?
- Só.-Que queres tu dizer? referes-te a mim, ou a ti?
- A ti.
- Sabes porque gosto tanto de ti?
- Só.
- Queres dizer que sou só como tu? Qual é o nome da mulher que mais amaste?
- Jany.
- Onde a conheceste?
- Mar.
- Qual é a poesia do teu livro que preferes?
- Todas.
-Qual o poeta do teu tempo que mais amaste?
- Eu.
-Quem mora agora na Torre de Anto?
- Eu. etc.
Como se vê, são respostas dignas do meu Príncipe. Este in­errogatório chocou-me até às lágrimas. Deixei de assistir a estas sessões, porque elas me perturbavam extraordinariamente: Tive pesadelos e terrores nocturnos que me fizeram lastimar a ausênc­ia do meu companheiro de quarto.»

José Régio, Páginas do Diário Íntimo

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