terça-feira, dezembro 13, 2005

Um rhinocerus chamado Ganga


















Esta pode parecer uma estória de pura ficção, mas posso-vos garantir que é completamente verídica...

No início do século XVI, Afonso de Albuquerque, no regresso de uma viagem à Índia, trouxe na sua carga uma invulgar oferta para o Rei de Portugal: um rinoceronte.

D.Manuel adorou a oferenda do Afonso. O seu novo animal de estimação foi “baptizado” de Ganga, e instalado na então recém-construída Torre de Belém.

A notícia da presença deste fantástico animal em Lisboa correu meio mundo, e chegou até ao famoso pintor renascentista alemão Albrecht Dürer, por intermédio de uns amigos portugueses. A descrição desses amigos portugueses foi de tal forma explícita que Albrecht Dürer, sem nunca ter visto um rinoceronte na vida, conseguiu recriar o animal na famosa xilogravura de 1515 que apresento no topo deste texto.

A imagem foi subscrita mais ou menos desta forma: "A 1 de Maio do ano 1513 depois de Cristo, trouxeram da Índia para o todo-poderoso rei de Portugal em Lisboa um animal a que chamavam rinoceronte. Aqui encontra-se retratado por completo. É da cor de uma tartaruga pintalgada e coberto de espessas placas muito duras e é do tamanho de um elefante..."

Mas esta estória não se fica por aqui. O nosso todo-poderoso rei Manel, como gostava de espectáculos, achou por bem mandar organizar um combate, numa arena, entre o Ganga e um elefante, para saber qual dos dois animais seria o mais vigoroso. Os cronistas não foram muito explícitos neste ponto, mas porventura, naquela época os espectáculos com judeus e leões já não cativavam as audiências, e com católicos, não pareceria nada bem.

Segundo rezam as crónicas, o combate teve lugar perto do Mosteiro dos Jerónimos, e o Ganga venceu, por desistência do elefante anónimo, que fugiu a sete pés [mais precisamente, quatro] mal viu o rinoceronte.

Insatisfeito com o espectáculo, e cansado do seu novo brinquedo, o nosso Manel resolveu oferecer o bichinho ao Papa, mas a embarcação que o transportava naufragou ao largo da costa italiana, e o pobre Ganga nunca chegou a conhecer o Sumo Pontífice da facção romana.
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3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Tadinho do bichinho.

quarta-feira, dezembro 14, 2005 12:00:00 da manhã  
Anonymous Anónimo said...

Estória fixe! Não sabes mais destas? :)

quarta-feira, dezembro 14, 2005 1:52:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Também gostei desta estória. Já tinha ouvido falar disto, mas já não me lembrava bem.

quinta-feira, dezembro 15, 2005 12:16:00 da manhã  

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