segunda-feira, março 30, 2009

Portugal no estrangeiro


Abriu um novo restaurante português em Bruxelas. Se é que devo chamar-lhe restaurante. Se calhar era melhor dizer que abriu mais uma tasca portuguesa em Bruxelas. Por ser isso que me ocorreu, no domingo de manhã, quando espreitei lá para dentro e vislumbrei, de um lado, um balcão atrás do qual se apresentava uma vasta colecção de bebidas espirituosas e aguardentes para o cheirinho da bica e, do outro, umas quantas mesas corridas, ornamentadas de pratos, talheres e guardanapos.

Do lado do balcão, em pé ou sentadas, uma dezena de pessoas com ar domingueiro. Os homens, feios, alguns barrigudos, outros com bigode, de cabelo esticadinho porque ainda molhado pela água do banho domingueiro, como se tivessem sido lambidos por vacas, já experimentavam o sabor amargo da Sagres e da Super Bock. As mulheres, de meias de vidro e saltos altos, beberricando cafés em pequenas chávenas onde deixavam marcas de baton, não se atreviam a tirar os casacos, pois se há coisa que se cumpre nas tascas portuguesas em Bruxelas é a tradição, e a tradição lusitana manda que se passe frio dentro de casa.

Afastei o nariz da montra da tasca, meio desiludida, mas nem sei por que motivo alimentei, por instantes que fosse, a esperança de que iria encontrar algo diferente.

Salvo as honrosas excepções, Portugal no estrangeiro continua a ter aquele ar da pronvíncia da última metade do século XX (anos noventa fora). Aquele café-restaurante novo foi decalcado do café da aldeia ribatejana onde eu passei os fins-de-semana e as férias da minha época juvenil. Clientela e tudo.

Apesar de não ter visto nenhuma, era capaz de jurar que a um dos cantos, suspensa a partir do tecto, estava uma televisão sintonizada num qualquer canal desportivo ou até, quem sabe, na RTP Internacional. Aí, seria ouro sobre azul. Uma televisão sintonizada na RTP Internacional e mergulhávamos nos idos anos setenta; a harmonia seria quase total.

Não, não encontrei nada naquele estabelecimento que me desse a mais ténue pista sobre a primeira década do século XXI. A não ser talvez as folhas A4 coladas na montra, exibindo fotografias a cores dos pratos servidos às refeições (francesinhas, leitão, cozido à portuguesa e afins). E a comida será com certeza a única coisa que me fará lá voltar.

Ilustração do Bruno Rafael, descoberto há minutos no Google Images, que tem um blogue cheio de desenhos giros.
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sábado, março 28, 2009

Sócrates vaiado no CCB

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sexta-feira, março 27, 2009

Oui, chéri, c'est vendredi




Tears for Fears - Pale Shelter


Do álbum The Hurting (1983), o primeiro desta banda e um dos primeiros discos que me lembro de ter pedido emprestado, gravado numa cassete audio e ouvido até à exaustão. Ainda hoje sei quase todas as letras de cor.

Os temas dos Tears for Fears envelheceram muito bem. Entre eles, também destaco Head over Hills, do segundo álbum Songs from the Big Chair (1985), apesar de Shout e Everybody Wants to Rule the World terem conhecido maior sucesso. No terceiro álbum desta banda, The Seeds of Love (1989) foram lançados os temas Sowing the Seeds of Love e Woman in Chains.

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quinta-feira, março 26, 2009

Amanhã é dia Mundial do Teatro

Alguém faça o obséquio de informar o senhor ministro da Cultura. Ou muito me engano, ou ele é bem capaz de ser menino para se esquecer e deixar passar a data em claro.

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Há males que vêm por bem

A partir de agora, e por mérito próprio, o SLB ganhou o direito a ser roubado por arbitragens indecentes sem poder fazer grande frenesim. Pelo menos… enquanto eu for vivo.

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quarta-feira, março 25, 2009

Uma questão de azar

Hoje, dois casos distintos mostraram, infelizmente, que até num qualquer assalto é preciso ter sorte.

Ao início da tarde, em São Pedro da Cadeira (concelho de Torres Vedras), uma dependência bancária foi assaltada à mão armada. O que a notícia não diz é que os assaltantes estiveram dentro do banco cerca de 40 minutos, fugindo depois sem qualquer ferido a registar. É de realçar o sangue frio dos funcionários daquele banco, e até dos assaltantes, porque em 40 minutos muita coisa pode correr mal, sobretudo quando existem armas pelo meio.

Pouco tempo depois, em Oeiras, um homem morre atingido por um tiro disparado por assaltantes de uma estação dos CTT. Foi, alegadamente, confundido com um polícia.

Dou comigo a pensar que, nos dias de hoje, até para se ser assaltado é preciso ter sorte com quem nos assalta.
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Entre uns e outros venha Nosso Senhor e escolha...

Assisto, com alguma calma, à desmontagem dos argumentos filantrópicos de um certo estudo, patrocinado pela CIP, tendo em vista a defesa da localização do novo aeroporto de Lisboa em Alcochete.

Factos:
- notícias sobre o estudo da CIP, Junho 2007, por exemplo;
- notícias sobre empréstimos do BPN a uma empresa que investiu largos milhões de euros na compra de terrenos em Alcochete em 2003, Março de 2009;

Em 2007, se bem se lembram, os pouco filantrópicos eram os defensores da localização do novo aeroporto de Lisboa na OTA.

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terça-feira, março 24, 2009

Lagartos Caviar

Eu ate tinha dito a mim próprio: oh MRP tu não vais postar nada sobre a final da Taça porque nem o assunto merece nem o ponto a que a coisa chegou deixa espaço para uma argumentação minimamente racional. Mas esta historia da lagartagem está-se a tornar insuportável. As piadas ainda vai, mas agora quererem pegar numa certa moralidade (com um ligeiro odor a hipocrisia) para se armarem aos cucos e em paladinos da verdade desportiva..... E pá vejam se crescem!

Não sei porquê mas fazem-me lembrar outros pretensos paladinos da moral que andem ai...
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BE Gato Fedorento style

O original da Antena 1:



A adaptação do Bloco de Esquerda:

Anúncio da Antena 1 alternativo

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Não Lhes Perdoem, Porque Eles Sabem Muito Bem o Que Andam a Fazer

Lembro-me que há algum tempo o Governo anunciou orgulhosamente que Portugal tinha o sistema de e-Government mais sofisticado da União Europeia (mais coisa menos coisa). O caso foi naturalmente motivo de satisfação, não só pelo orgulho que sempre sentimos ao ver Portugal no topo de qualquer ranking, mas também porque o e-Government é de facto uma ferramenta poderosa e eficaz na luta contra a burocracia do Estado, maleita que nos afecta a todos e que, sobeja e frequentemente, é amaldiçoada por todos nós.

Espantei-me por isso ao deparar hoje com este gráfico que nos põe no fundo da tabela dos países cujas populações efectivamente usam os serviços de e-Governement. E não só o número actual em si nos coloca junto aos últimos, como a própria taxa de crescimento nos últimos 3/4 anos é das mais baixas do grupo de países com valores semelhantes ao nosso (ver aqui a tabela completa).



Não estou a dizer que o anúncio foi falsificado ou que os dados foram manipulados. Acredito que o certificado corresponda à realidade. A crítica aqui vai para o facto de eu achar que criar o sistema de e-Government mais sofisticado não devia prevalecer sobre o educar a população a usar essas ferramentas.

Eu sei que estas historias já não surpreendem ninguém porque já todos nos habituámos aos projectos das auto-estradas mais lindas em trajectos onde não há carros, aos aeroportos mais modernos onde não vão aterrar os aviões necessários para os justificar ou aos comboios mais rápidos para viagens em que não há passageiros suficientes para os rentabilizar. E sei que é em vão que ainda espero que apareça alguém que se proponha em vez disso a arranjar os buracos das estradas, a melhorar as salas de espera do aeroporto da Portela ou a por mesmo em funcionamento linha do Tua. Mas uma coisa é certa: esta gente está a fazer mal ao país!

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Novo reforço do Benfica

















* Imagem recebida por e-mail de autoria desconhecida

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Dona Melancia desconstruindo sua ma-schamba

Ah, como ciência s’amista em cientificação exemplar de minha gente!

Gente minha nasceu p’ra desaprender desfazendo
E em desconstrução sobressaltando universo e suas contrariedade.
Ciência pratica detestação sobre realidade
Esgana sua emoção em capricho
E se desconsola com imaginação costumada.
Minha gente é bricabraque em desinstalação
S’amiga por desconveniência social
Pratica progenitura excluindo escassez
Desacata jogo do conta
Age e se desatormenta em bang bang de metal.
Perante divindade minha gente aferroa plasticidade
Ajunta direito e cientifica iludimento
Enquanto isso ciência enlaça pretexto com desconhecimento.

Cientista digerirá estranhidade e desgastará sua sapiência em religião nova sobre o arraial?

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segunda-feira, março 23, 2009

Roubos de Igreja

A Anatomia Humana segundo Lucílio Baptista:

A zona imediatamente acima da cintura, e até ao pescoço, chama-se braço.

O jogador do Sporting Pedro Silva percebeu claramente esta noção já que fez questão de dar um abraço ao árbitro antes de abandonar o terreno de jogo.

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Frases

A Sinapse, entre o bebericar de um Margarita numa esplanada da Ocean Drive e um tête-à-tête com o Robert Redford, ainda arranja tempo para nos agrilhoar na mais famosa corrente blogosférica: a da página 161.

Como recusar! Por isso aqui vai:

“Isto está é tudo maluco.”
5ª frase da página 161 da Fenomenologia do Ser, Sartre et al.

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domingo, março 22, 2009

Canções.Mais.Que.Imperfeitas@8

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sábado, março 21, 2009

Portugal

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
surdo e miudinho,
moinho a braços com um vento
testarudo, mas embolado e, afinal, amigo,
se fosses só o sal, o sol, o sul,
o ladino pardal,
o manso boi coloquial,
a rechinante sardinha,
a desancada varina,
o plumitivo ladrilhado de lindos adjectivos,
a muda queixa amendoada
duns olhos pestanítidos,
se fosses só a cegarrega do estio, dos estilos,
o ferrugento cão asmático das praias,
o grilo engaiolado, a grila no lábio,
o calendário na parede, o emblema na lapela,
ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!

*
Doceiras de Amarante, barristas de Barcelos,
rendeiras de Viana, toureiros da Golegã,
não há "papo-de-anjo" que seja o meu derriço,
galo que cante a cores na minha prateleira,
alvura arrendada para ó meu devaneio,
bandarilha que possa enfeitar-me o cachaço.

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...

Alexandre O’Neill
(1924-1986)

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Pátria

Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro
Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Dum longo relatório irrecusável

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento

Pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

— Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro

Eu minha vida daria
E vivo neste tormento

Sophia de Mello Breyner Andresen
(1919-2004)

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O Guardador de Rebanhos

VIII

Num meio-dia de fim de primavera
Tive um sonho como uma fotografia.
Vi Jesus Cristo descer à terra.
Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino,
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de modo a ouvir-se de longe.
Tinha fugido do céu.
Era nosso demais para fingir
De segunda pessoa da Trindade.
No céu era tudo falso, tudo em desacordo
Com flores e árvores e pedras.
No céu tinha que estar sempre sério
E de vez em quando de se tornar outra vez homem
E subir para a cruz, e estar sempre a morrer
Com uma coroa toda à roda de espinhos
E os pés espetados por um prego com cabeça,
E até com um trapo à roda da cintura
Como os pretos nas ilustrações.
Nem sequer o deixavam ter pai e mãe
Como as outras crianças.
O seu pai era duas pessoas
Um velho chamado José, que era carpinteiro,
E que não era pai dele;
E o outro pai era uma pomba estúpida,
A única pomba feia do mundo
Porque não era do mundo nem era pomba.
E a sua mãe não tinha amado antes de o ter.

Não era mulher: era uma mala
Em que ele tinha vindo do céu.
E queriam que ele, que só nascera da mãe,
E nunca tivera pai para amar com respeito,
Pregasse a bondade e a justiça!

Um dia que Deus estava a dormir
E o Espírito Santo andava a voar,
Ele foi à caixa dos milagres e roubou três.
Com o primeiro fez que ninguém soubesse que ele tinha fugido.
Com o segundo criou-se eternamente humano e menino.
Com o terceiro criou um Cristo eternamente na cruz
E deixou-o pregado na cruz que há no céu
E serve de modelo às outras.
Depois fugiu para o sol
E desceu pelo primeiro raio que apanhou.

Hoje vive na minha aldeia comigo.
É uma criança bonita de riso e natural.
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães.
E, porque sabe que elas não gostam
E que toda a gente acha graça,
Corre atrás das raparigas pelas estradas
Que vão em ranchos pela estradas
com as bilhas às cabeças
E levanta-lhes as saias.

A mim ensinou-me tudo.
Ensinou-me a olhar para as cousas.
Aponta-me todas as cousas que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.

Diz-me muito mal de Deus.
Diz que ele é um velho estúpido e doente,
Sempre a escarrar no chão
E a dizer indecências.
A Virgem Maria leva as tardes da eternidade a fazer meia.
E o Espírito Santo coça-se com o bico
E empoleira-se nas cadeiras e suja-as.
Tudo no céu é estúpido como a Igreja Católica.
Diz-me que Deus não percebe nada
Das coisas que criou —
"Se é que ele as criou, do que duvido" —
"Ele diz, por exemplo, que os seres cantam a sua glória,
Mas os seres não cantam nada.
Se cantassem seriam cantores.
Os seres existem e mais nada,
E por isso se chamam seres."
E depois, cansados de dizer mal de Deus,
O Menino Jesus adormece nos meus braços
e eu levo-o ao colo para casa.
.............................................................................
Ele mora comigo na minha casa a meio do outeiro.
Ele é a Eterna Criança, o deus que faltava.
Ele é o humano que é natural,
Ele é o divino que sorri e que brinca.
E por isso é que eu sei com toda a certeza
Que ele é o Menino Jesus verdadeiro.

E a criança tão humana que é divina
É esta minha quotidiana vida de poeta,
E é porque ele anda sempre comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja do que for,
Parece falar comigo.

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

A Criança Eterna acompanha-me sempre.
A direção do meu olhar é o seu dedo apontando.
O meu ouvido atento alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz, brincando, nas orelhas.

Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a esquerda.

Ao anoitecer brincamos as cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa,
Graves como convém a um deus e a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande perigo para ela
Deixá-la cair no chão.

Depois eu conto-lhe histórias das cousas só dos homens
E ele sorri, porque tudo é incrível.
Ri dos reis e dos que não são reis,
E tem pena de ouvir falar das guerras,
E dos comércios, e dos navios
Que ficam fumo no ar dos altos-mares.
Porque ele sabe que tudo isso falta àquela verdade
Que uma flor tem ao florescer
E que anda com a luz do sol
A variar os montes e os vales,
E a fazer doer nos olhos os muros caiados.

Depois ele adormece e eu deito-o.
Levo-o ao colo para dentro de casa
E deito-o, despindo-o lentamente
E como seguindo um ritual muito limpo
E todo materno até ele estar nu.

Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
......................................................................
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua casa.
Despe o meu ser cansado e humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu brincar
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.
.....................................................................
Esta é a história do meu Menino Jesus.
Por que razão que se perceba
Não há de ser ela mais verdadeira
Que tudo quanto os filósofos pensam
E tudo quanto as religiões ensinam?

Alberto Caeiro
(1889-1915)

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Crise Lamentável

Gostava tanto de mexer na vida,
De ser quem sou - mas de poder tocar-lhe...
E não há forma: cada vez perdida
Mais a destreza de saber pegar-lhe.

Viver em casa como toda a gente
Não ter juízo nos meus livros - mas
Chegar ao fim do mês sempre com as
Despesas pagas religiosamente.

Não Ter receio de seguir pequenas
E convidá-las para me pôr nelas
- À minha Torre ebúrnea abrir janelas,
Numa palavra, e não fazer mais cenas.

Ter força um dia pra quebrar as roscas
Desta engrenagem que empenando vai.
- Não mandar telegramas ao meu Pai,
- Não andar por Paris, como ando, às moscas.

Levantar-me e sair - não precisar
De hora e meia antes de vir prá rua.
- Pôr termo a isto de viver na lua,
- Perder a “frousse” das correntes de ar.

Não estar sempre a bulir, a quebrar coisas
Por casa dos amigos que frequento
-Não me embrenhar por histórias melindrosas
Que em fantasia apenas argumento

Que tudo em é fantasia alada,
Um crime ou bem que nunca se comete
Por meu Azar ou minha Zoina suada...

Mário de Sá Carneiro
(1890-1916)

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A Educação pela Pedra

Uma educação pela pedra: por lições;
Para aprender da pedra, frequentá-la;
Captar sua voz inenfática, impessoal
[pela de dicção ela começa as aulas].
A lição de moral, sua resistência fria
Ao que flui e a fluir, a ser maleada;
A de poética, sua carnadura concreta;
A de economia, seu adensar-se compacta:
Lições da pedra [de fora para dentro,
Cartilha muda], para quem soletrá-la.

Outra educação pela pedra: no Sertão
[de dentro para fora, e pré-didática].
No Sertão a pedra não sabe lecionar,
E se lecionasse, não ensinaria nada;
Lá não se aprende a pedra: lá a pedra,
Uma pedra de nascença, entranha a alma.

João Cabral de Melo Neto
(1920-1999)

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Georges! anda ver meu país de romarias

3

Georges! anda ver meu país de romarias
E procissões!
Olha estas mocas, olha estas Marias!
Caramba! dá-lhes beliscões!
Os corpos delas, vê! são ourivesarias,
Gula e luxúria dos Manéis!
Têm nas orelhas grossas arrecadas,
Nas mãos (com luvas) trinta moedas, em anéis,
Ao pescoço serpentes de cordões,
E sobre os seios entre cruzes, como espadas,
Além dos seus, mais trinta corações!
Vá! Georges, faz-te Manel! viola ao peito,
Toca a bailar!
Dá-lhes beijos, aperta-as contra o peito.
Que hão-de gostar!
Tira o chapéu, silêncio!
Passa a procissão

Estralejam foguetes e morteiros.
Lá vem o Pálio e pegam ao cordão
Honestos e morenos cavalheiros.
Altos, tão altos e enfeitados, os andores,
Parecem Torres de David, na amplidão!

Que linda e asseada vem a Senhora das Dores!
(...)

António Nobre
(1887-1900)

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Regresso ao lar

Ai, há quantos anos que eu parti chorando
Deste meu saudoso, carinhoso lar!...
Foi há vinte?...há trinta? Nem eu sei já quando!...
Minha velha ama, que me estás fitando,
Canta-me cantigas para eu me lembrar!...

Dei a volta ao mundo, dei a volta à Vida...
Só achei enganos, decepções, pesar...
Oh! a ingénua alma tão desiludida!...
Minha velha ama, com a voz dorida,
Canta-me cantigas de me adormentar!...

Trago d'amargura o coração desfeito...
Vê que fundas mágoas no embaciado olhar!
Nunca eu saíra do meu ninho estreito!...
Minha velha ama que me deste o peito,
Canta-me cantigas para me embalar!...

Pôs-me Deus outrora no frouxel do ninho
Pedrarias d'astros, gemas de luar...
Tudo me roubaram, vê, pelo caminho!...
Minha velha ama, sou um pobrezinho...
Canta-me cantigas de fazer chorar!

Como antigamente, no regaço amado,
(Venho morto, morto!...) deixa-me deitar!
Ai, o teu menino como está mudado!
Minha velha ama, como está mudado!
Canta-lhe cantigas de dormir, sonhar!...

Cante-me cantigas, manso, muito manso...
Tristes, muito tristes, como à noite o mar...
Canta-me cantigas para ver se alcanço
Que a minh'alma durma, tenha paz, descanso,
Quando a Morte, em breve, ma vier buscar!...

Guerra Junqueiro

(1850-1923)

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Duda Veio

duda veio de Brasília
veio no tapa
sem grana nem mapa
o cabelo crespo cresceu
na viagem
ele dizia vem cara
vamos transar essa miragem

rogério nunca teve parada
um ponto aqui um pé ali
na barra pesada
e dizia vem cara

paulete teve uma crise
e virou homem
como já se chamava carlos
nem mudou de nome
e dizia vem cara

lou se amarrava num talco
à noite no medieval dançava dançava
era um grande palco
e dizia vem cara vem

chico falava o dia todo
em nova consciência
o planeta precisa mesmo é de muita penitência
e dizia vem cara vem
marcelo queria ser poeta
escrevia escrevia mas não era o mickey
era somente o pateta
e dizia vem cara vem

Régis Bonvicino
(1955)

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Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões
(1524-1580)

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Vou-me embora pra Pasárgada

Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada


Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconseqüente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vem a ser contraparente
Da nora que eu nunca tive


E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada


Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar


E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada

Manuel Bandeira
(1886-1968)

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Receita para fazer um herói

Tome-se um homem,
Feito de nada, como nós,
E em tamanho natural.
Embeba-se-lhe a carne,
Lentamente,
Duma certeza aguda, irracional,
Intensa como o ódio ou como a fome.
Depois, perto do fim,
Agite-se um pendão
E toque-se um clarim.

Serve-se morto.

Reinaldo Ferreira
(1922-1959)

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Poemas apolíticos

Filhos da época

Somos filhos da época
e a época é política.

Todos os teus, nossos, vossos
problemas diurnos e nocturnos
são problemas políticos.

Quer queiras quer não,
os teus genes têm passado político,
a pele um tom político,
os olhos um aspecto político.

O que dizes tem ressonância,
o que calas tem expressão,
seja como for, política.

Mesmo passeando pelo campo,
dás passos políticos
em solo político.

Poemas apolíticos são também políticos
e lá em cima brilha a lua,
unidade que deixou de ser lunar.
Ser ou não ser, eis a questão.
Que questão, diz, querido.
A questão política.

Nem é preciso ser humano
para ganhar importância política.
Chega de seres petróleo,
ração composta ou matéria reciclavel.

Ou a mesa de debate,
cuja forma foi discutida meses a fio:
em que mesa se negoceiam a vida e a morte?
Redonda ou quadrada?

Entretanto pereciam os homens,
morriam animais,
ardiam casas,
tornavam-se os campos bravios
como nos tempos antigos
e menos políticos.


Wisława Szymborska in "Alguns gostam de poesia", Ed. Cavalo de Ferro, 2004, p.211-212

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Poemas bomba















O terrorista – ele observa

A bomba vai explodir no bar às treze e vinte.
Agora são treze e dezasseis.
Alguns terão ainda tempo para entrar,
outros para sair.

O terrorista atravessa a rua.
A distância salvaguarda-o do perigo
e pode observa tudo como no cinema:

Uma mulher de casaco amarelo – ela entra.
Um homem de óculos escuros – ele sai.
Jovens de jeans – eles conversam.
Treze horas, dezassete minutos e quatro segundos.
O mais baixo – está com sorte, sobe para uma scooter,
mas o mais alto – ele entra.
Treze horas, dezassete minutos e quarenta segundos.
Passa uma rapariga com uma fita verde no cabelo.
De repente, fica oculta por um autocarro.

Treze e dezoito.
A rapariga desapareceu.
Terá sido estúpida a ponto de entrar, ou não?
Logo se vê, quando retirarem os corpos.

Treze e dezanove.
Parece que mais ninguém quer entrar.
Em contrapartida sai um careca obeso.
Remexe os bolsos como se procurasse algo
e quando faltam dez segundos para as treze e vinte -
ele volta a entrar por se ter esquecido de umas reles luvas.

São treze e vinte.
O tempo, como demora a passar.
Está na hora.
Ainda não.
Sim, agora.
A bomba – ela explode.

Wisława Szymborska


in «Wielka liezba»

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Recordar Natália Correia [Reloaded]

Imagem: Natália Correia por Artur Bual, fotografia de Gisela Cañamero, Biblioteca Municipal de Ponta Delgada

Se Natália Correia ainda estivesse entre nós, é de crer que as [des]venturas de José Sócrates teriam sido uma fonte de inspiração [praticamente] inesgotável para a poetisa. São famosas [e notáveis] as suas incursões pelo campo da poesia satírica e humorística, onde se destacam: as «Cantigas de Risadilha», publicadas no jornal humorístico «O Bisnau» em 1983; e o «Cancioneiro Joco-Marcelino», publicadas em «O Corvo», o jornal de campanha eleitoral autárquica da Coligação por Lisboa em 1989. O que é interessante [e preocupante] é a actualidade que em muitos aspectos estes poemas ainda conservam apesar de já se terem passado mais de 20 anos sobre os acontecimentos. A recordar:

Nesta Lusa farronca sem vintém

Nesta lusa farronca sem vintém,
Nesta muda que muda sem mudança,
Venha o que venha, há-de lixar-se quem
Do salsifré tiver a governança.

Quis o Caldas por Freitas dar Barbosa,
Mas de Lucas o verbo metafórico
Adriano abençoa, e a raposa
Tem nas direitas direito mais histórico

O PSD chorando o pai extinto
No Choupal crê achar líder a estalo;
Afinal só trocou pinto por pinto
E pintainho não dá cantar de galo.

Para São Bento, o Mário Triunfal
Lá em paris já encomenda os fraques;
Perde Zenha, Constâncio, etcétera e tal
Mas ganha Acácio, Simão e outros craques.

Vitalício o Cunhal manda o Vital
Das verduras purgar as loucas culpas;
Que artes de moço tão constitucional
Para afastá-lo, são boas desculpas.

Em conclusão: onde o maior partido
É o do ócio que causa inveja à lesma,
Ganhe quem ganhe, só muda o vestido
O génio de deixar tudo na mesma.

In O Bisnau, n.º2, 1983

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Quando o amor morrer dentro de ti

Quando o amor morrer dentro de ti,
Caminha para o alto onde haja espaço,
E com o silêncio outrora pressentido
Molda em duas colunas os teus braços,
Relembra a confusão dos pensamentos,
E neles ateia o fogo adormecido
Que uma vez, sonho de amor, teu peito ferido
Espalhou generoso aos quatro ventos.
Aos que passarem dá-lhes o abrigo
E o nocturno calor que se debruça
Sobre as faces brilhantes de soluços.
E se ninguém vier, ergue o sudário
Que mil saudosas lágrimas velaram;
Desfralda na tua alma o inventário
Do templo onde a vida ora de bruços
A Deus e aos sonhos que gelaram.

Ruy Cinatti
(1915-1986)

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Lisbon Revisited

NÃO: Não quero nada.
Já disse que não quero nada.
Não me venham com conclusões!
A única conclusão é morrer.

Não me tragam estéticas!
Não me falem em moral!

Tirem-me daqui a metafísica!
Não me apregoem sistemas completos, não me enfileirem conquistas
Das ciências (das ciências, Deus meu, das ciências!) —
Das ciências, das artes, da civilização moderna!

Que mal fiz eu aos deuses todos?

Se têm a verdade, guardem-na!

Sou um técnico, mas tenho técnica só dentro da técnica.
Fora disso sou doido, com todo o direito a sê-lo.
Com todo o direito a sê-lo, ouviram?

Não me macem, por amor de Deus!

Queriam-me casado, fútil, quotidiano e tributável?
Queriam-me o contrário disto, o contrário de qualquer coisa?
Se eu fosse outra pessoa, fazia-lhes, a todos, a vontade.
Assim, como sou, tenham paciência!
Vão para o diabo sem mim,
Ou deixem-me ir sozinho para o diabo!
Para que havemos de ir juntos?

Não me peguem no braço!
Não gosto que me peguem no braço. Quero ser sozinho.
Já disse que sou sozinho!
Ah, que maçada quererem que eu seja da companhia!

Ó céu azul — o mesmo da minha infância —
Eterna verdade vazia e perfeita!
Ó macio Tejo ancestral e mudo,
Pequena verdade onde o céu se reflete!
Ó mágoa revisitada, Lisboa de outrora de hoje!
Nada me dais, nada me tirais, nada sois que eu me sinta.

Deixem-me em paz! Não tardo, que eu nunca tardo...
E enquanto tarda o Abismo e o Silêncio quero estar sozinho!

Álvaro de Campos
(1988-1935)

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Poemas penhorados

a minha fábrica faliu

Agora a fábrica faliu,
e fiz eu um curso de informática
intensivo,
perdi o sol das manhãs, o ar, o rosto do entardecer,
frequentei o inglês do Wall Street Institute
intensivo,
e a fábrica faliu
enquanto um casamento se escoa pela cama abaixo
com um filho de três anos no infantário,
quarenta e sete funcionários despedidos,
sem funcionar,
além dos ordenados em atraso,

e eu com a alma em atraso
na corrida sem pernas de tanto caminhar
pelas ruas desta cidade que me enganou no salário,
o sal amargando-me os lábios,
apesar dos conhecimentos de informática,
dos jardins secretos do conhecimento
e de tantas horas a olhar a luz fria dum ecrã profundo,
o corpo arrefecendo no olhar colado aos números cabalísticos,
como sinais dos astros acesos nas noites de verão,
a fábrica faliu,

e eu que sonhei ter um carro de alto cilindrar o mundo
em vez deste utilitário em segunda-mão,
eu que sonhei ser respeitado pelas minhas ambições
até a casinha de campo no Minho litoral,
a fábrica faliu.

Estava tão bem a pagar o lento andar
neste suburbano que me come o tempo
de viver a prazo,
ainda se fosse num sítio decente
onde moram os gajos que eu conheço de vista há tantos anos
e que não trabalham no escritório das fábricas
que foram à bancarrota de quem mente, BMW!
Assim fiquei de costas voltadas para o mar, para a urgência,
porque a minha fábrica faliu.

António Ferra, “a minha fábrica faliu”, in A Palavra Passe, Campo das Letras, 2006, pág.33/34

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Leilão de Jardim

Quem me compra
um jardim com flores?

borboletas de
muitas cores,

lavadeiras e
passarinhos,

ovos verdes e azuis
nos ninhos?

Quem me compra
este caracol?

Quem me compra um raio
de sol?

Um lagarto entre o muro
e a hera,
uma estátua da Primavera?

Quem me compra este formigueiro?

E este sapo, que é jardineiro?

E a cigarra e a sua canção?

E o grilinho dentro do chão?

(Este é meu leilão!)

Cecília Meireles
(1901-1964)

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A fábula

Menino gordo comprou um balão
e assoprou
assoprou com força o balão amarelo.

Menino gordo assoprou
assoprou
assoprou
o balão inchou
inchou
e rebentou!

Meninos magros apanharam os restos
e fizeram balõezinhos.

José Craveirinha
(1920)

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A Flor

Pede-se a uma criança: Desenha uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis. A criança vai sentar-se no outro canto da sala onde não há mais ninguém. Passado algum tempo o papel está cheio de linhas. Umas numa direcção, outras noutras; umas mais carregadas, outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas. A criança quis tanta força em certas linhas que o papel quase não resistiu. Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais. Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: Uma flor! As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor! Contudo a palavra flor andou por dentro da criança, da cabeça para o coração e do coração para a cabeça, à procura das linhas com que se faz uma flor, e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas. Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares, mas, são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor!

Almada Negreiros
(1893-1970)

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De mim não falo mais: não quero nada.

De mim não falo mais: não quero nada.
De Deus não falo: não tem outro abrigo.
Não falarei também do mundo antigo,
pois nasce e morre em cada madrugada.

Nem de existir, que é a vida atraiçoada,
para sentir o tempo andar comigo;
nem de viver, que é liberdade errada,
e foge todo o Amor quando o persigo.

Por mais justiça ...- Ai quantos que eram novos
em vão a esperaram porque nunca a viram!
E a eternidade...Ó transfusão dos povos!

Não há verdade: O mundo não a esconde.
Tudo se vê: só se não sabe aonde.
Mortais ou imortais, todos mentiram.

Jorge de Sena
(1919-1978)

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sexta-feira, março 20, 2009

Oui, chéri, c'est vendredi


Kerli - Walking on air

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um lugar bonito...

Pelo caminho, passo por duas meninas nos seus 10anos e um adulto que seria o pai de uma delas. Não sei o contexto da conversa, mas então falavam de um sítio muito bonito, com árvores...

- Assim como Tróia? - pergunta uma das miúdas.
- Ãh... sim, mais ou menos como Tróia... - acede o adulto.
- Mas sem prédios e sem hoteis - interrompe a outra criança - só com pouquinhas casas pequeninas.

Repito que não sei do que falavam, mas admirei a perspicácia das crianças: uma por reconhecer Tróia como um lugar bonito, outra por lhe apontar o crescimento urbano.

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quinta-feira, março 19, 2009

O cúmulo que se segue


Apanhada de surpresa por este cartaz e por este hino, só me ocorre citar Miguel Esteves Cardoso que, a propósito de outro assunto que não tem nada a ver, disse: Parece sempre que já atingimos o cúmulo, mas há sempre outro cúmulo ao virar da esquina.


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Dia do Pai

Aqui ao lado, na Galiza, hoje é feriado porque se comemora o Dia do Pai. Muito se fazia pela família se se trocasse um daqueles feriados carregados de significado para a sociedade portuguesa actual, como a Implantação da República ou a Ascensão da Virgem Maria num país legalmente laico, pelos feriados dos Dias do Pai e da Mãe. Mas como devemos ser ricos, atiramos dinheiro em forma de subsídios de paternidade para cima dos problemas, à espera que ele compre o tempo que as sociedades actuais [não] concedem às famílias. Como se vê, há soluções bem mais práticas e mais baratas de tornear a escassez de tempo.

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Dá-lhes Falâncio!

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quarta-feira, março 18, 2009

O início do fim

Três pequenas notícias/acontecimentos surgidas nos últimos dias, levam-me a concluir que se a crise no seu todo ainda não passou, pelo menos atingiu o fundo e agora vai começar a estabilizar. Primeiro: o aumento de 22% da construção de casas novas nos EUA, em Fevereiro, num valor global de meio milhão de novos edifícios iniciados é um excelente indicador para o sector que deu o tiro de partida para a imemorável crise que atravessamos.
Um outro sector muito responsável por esta miséria, o financeiro, também veio a terreiro dizer que os principais bancos mundiais, Citigroup, Bank of America, Deutsch Bank e alguns outros de semelhante porte, estão a registar lucros nos dois primeiros meses do ano, depois das perdas de triliões e das intervenções estatais para «estabilizar» os balanços, vêem finalmente uma ainda ténue luz ao fundo do túnel.
Por fim, o indicador moral: a crispação com que Obama exigiu o retorno dos milionários prémios entregues aos administradores responsáveis pela «falência técnica» da AIG faz-nos pensar que a impunidade na alta finança começa a ter os seus dias contados ou pelo menos é vigiada ao mais alto nível.
E depois de dois anos de más notícias, de autênticos atentados ao valor das empresas, por aqueles administradores que tinham por dever defender e criar esse valor, nada melhor que três ténues (só abarcam dois meses) mas importantes (são indicadores relativos aos sectores que criaram e espalharam a crise) sinais que a intensidade da crise vai começar a diminuir. Pelo menos nos EUA.

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a aula de matemática é difícil...

A senhora faz 50anos e parece que a idade não passa por ela. A propósito do aniversário, ouvi comentarem na antena1 que existiu nos anos 90 uma versão falante da boneca... Não fazia ideia... O que diria uma barbie?... Só me passaram pela cabeça coisas como:
Queres ser minha amiga?
Vamos às compras!
Gosto muito dos teus sapatos!

Parece que não andei muito longe, mas, no meio de frases como estas, estava também uma outra, que foi retirada devido a protestos: A aula de Matemática é difícil. A boneca dizia isso?!...

Eu tive uma barbie com um vestido de gala, que mais tarde se tornou estudante veterinária com uma bata e um cãozinho, tendo-se revelado, pelo caminho, uma grande bailarina, com uns sapatos de pontas azuis e uma saia que brilhava no escuro. É triste saber que, se a minha barbie falasse, era isso que diria...

Há momentos em que, realmente, abrir a boca estraga tudo!

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terça-feira, março 17, 2009

O Paradigma Low-Cost

A nossa sociedade habituou-se de tal maneira a ver as suas necessidades rapidamente satisfeitas (fossem elas as mais básicas ou as mais supérfluas) por um mercado sempre atento e pronto a dar-lhe aquilo que ela pedia, que agora exige que alguém invente também rapidamente um novo modelo de sociedade que a venha tirar da confusão em que se atolou. Que ele vai brotar por aí algures parece que já não há dúvidas, agora o que resta saber é a data prevista para o seu lançamento.

O consumidor já definiu o produto: em linha com as novas tendências, o novo modelo deve acima de tudo ser barato e facilmente acessível, isto é, que não nos venha exigir grandes sacrifícios nem que implique grandes esforços. E de preferência que seja também amigo do ambiente.

Vá lá gurus do design, génios do marketing e feiticeiros da gestão: o mercado está maduro!

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Blog Convidado

O autor dispensa as apresentações.

A minha nota é somente para manifestar a minha admiração por um dos poucos intervenientes na coisa pública que ainda consegue manter algum bom-senso.

E mesmo tendo a consciência de que o Jacarandá não segue à risca os requisitos que tínhamos definido para a escolha do Blog Convidado (entre outros, actualizações frequentes e textos originais), estou disposto a cumprir a minha pena, que nunca será mais do que um sacrifício minúsculo quando comparado com a contribuição que eu possa ter dado para que os textos do António Barreto, concorde-se ou não com eles, se tornem de leitura universal.

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segunda-feira, março 16, 2009

Tirar a Maria da aldeia

Hoje de manhã cedo, durante o meu passeio higiénico, nada mais a propósito, deparei-me com estes grandes anúncios ali no início da Avenida Louise.



Gosto imenso de ver anunciados assim os produtos portugueses, pois alguns têm todas as qualidades para obter sucesso além-fronteiras.

Para além da Renova, outra marca que tenho a certeza teria imenso sucesso fora de Portugal é a Compal. Eles lá vão dizendo que já estão na Bélgica, mas eu ainda não os encontrei fora das pequenas lojas portuguesas.

Pequeno pormenor: a cor do céu hoje às 9h30 da manhã. Começo o dia logo com outra disposição..

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domingo, março 15, 2009

Canções.Mais.Que.Imperfeitas@7

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sábado, março 14, 2009

Agrilhoados à Literatura


Como na minha mesa-de-cabeceira só tinha dois livros de poesia com menos de 161 páginas e um outro de fotografia, fui forçado a virar-me para outra cabeceira porque não queria ser acusado de quebrar uma corrente literária blogosférica à qual fui simpaticamente agrilhoado pela Teresa Ribeiro. Porém, quando abri o livro na página 161 e comecei a ler a quinta frase, verifiquei que estava a ler precisamente o mesmo livro que a Teresa: Estrela Errante de J.M.G. Le Clézio. Passei de imediato ao plano três. Desloquei-me ao escritório e retirei da quinta prateleira da quinta estante, o quinto livro. Passo então a transcrever a quinta frase da página 161 de Morreram pela Pátria de Cholokov: Sou como me fizeram – replicou Nekrassov com um breve suspiro – e não serás tu que me mudarás, visto que chegas um bocado tarde e não vejo nada de extraordinário naquilo que digo.
Como qualquer corrente blogosférica que se preze deve ser constituída por aros suficientemente resistentes, passo a encadear nesta corrente o António de Almeida, a DPMadre, o Luís Rodrigues, a Luna, e a Rita Barata Silvério.

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Banca de jornais

1 - N'O Público de hoje lemos as preocupações de um académico com a adjectivação de Lello a Alegre, o digníssimo académico esqueceu-se (enfim, estamos no ano de Egas Moniz) da luta pouco "caracterizada" e algo recente no PSD. O digníssimo académico pretende construir o consentimento num determinado sentido de voto? Nã, a academia pratica o digníssimo método científico cujos critérios são rigorosamente objectivos e imparciais (bocejo).
2 - N'O Sol de hoje lemos as preocupações do director com o perigo apocalíptico do controlo da economia pelo Estado. O digníssimo director pretende dizer-nos o seguinte: a resposta para enfrentar a crise deverá pertencer às empresas, tributadas com adjectivos muito próximos da evangelização. Caríssimo director gostaria que me explicasse a articulação interessante entre os empresários do costume e os concursos públicos/pareceres, etc e já agora e se não o maçar a tal independência saudável das empresas e os grandes desígnios nacionais (leitura ligeiramente cúmplice).
3 - Nos dois jornais a relação que se estabelece com Portugal, o consentimento amplamente manufacturado de que nada produzimos, nada de jeito fazemos, enfim a corrupção alastra em todos os domínios, o poder político não tem credibilidade, a construção constante de um sentimento de vergonha, humilhação e auto-mutilação constante, dividindo para reinar, conflituar para dividir. Bocejando a construção de uma exígua identidade nacional e a descredibilização das principais instituições do país. Caríssimos directores, um Estado fraco efectivamente não fica à mercê dos Estados mais fortes, a pressão dos Estados mais fortes exerce-se exclusivamente pelo meio da política, o sr. Obama quando vem à Europa traz a América política consigo. Pois é! então não é que a motivação inerente à supremacia de um Estado é criteriosamente política e social? Efectivamente têm razão, enfim os leigos ignorantes também se enganam (piscadela de olho assaz cúmplice).

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sexta-feira, março 13, 2009

Fotos geniais [13]

[Clicar na Imagem para ampliar]
Wang Qingsong, Dormitory, 2005

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sexta-feira 13

José Sócrates queixa-se de forma constante das "campanhas negras" urdidas contra a sua pessoa. Hoje teve uma campanha negra muito clara da qual não se poderá queixar. Cerca de duzentas mil (200 000) pessoas - números da CGTP, já que Governo e PSP nada dizem - desfilaram em Lisboa. Admiro-me com o facto do trauliteiro-mor do actual Governo não ter ainda saído a terreiro para "malhar" na esquerda chique. Talvez porque não será boa política irritar ainda mais Manuel Alegre - o (e)terno dissidente -, talvez porque com Sócrates a distribuir Magalhães em Cabo Verde, as reacções ficaram mais suaves cá no burgo à espera do regresso do chefe, talvez porque até Mário Soares já reconheceu hoje que "há um grande descontentamento". Pessoalmente acho que o descontentamento não é apenas grande, é enorme, mas isto é só o meu mau feitio a falar.

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Está tudo explicado

Estádio do Bayern*















*Imagem recebida por e-mail de autor desconhecido

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Dona Melancia no mundo dos milhões

Dona Melancia - Meu bem, 'cê já se "despercebeu" de nossa sorte?
Dom Melão - Benzinho, é preciso fé, muita fé.
Dona Melancia - Se ao menos perspectiva de 4 zero.
Dom Melão - É isso aí, mas minha contentação requeria força replicadora de 6 zero, para além de tudo motivava minha anti-reflexão capitalista.
Dona Melancia - Benzinho, 'cê com 6 zero faria o quê?
Dom Melão - Meu bem, 6 zero + eu = introspecção, fundamento. Adeptos verdadeiramente capitalistas, verdadeiramente democráticos.
Dona Melancia - Benzinho, bem sei que 'cê s'inscreveu no partido Nova Esquerda e 'cê tá bem em arte de contar palavra, mas 'cê podia ir acertando o passo de minhas pergunta? Relembrando: 'cê com 6 zeros faria o quê?
Dom Melão - Com 6 zeros talvez inventasse vocábulo jazzístico, como "viajazzar", "ferrajazzar", "curjazzar", "intelectualijazzar". Ah, e depois reservaria um 5 zero p'ra minha velhice.
Dona Melancia - Reservaria 5 zero p'ra sua velhice?
Dom Melão - Meu bem, alguns zeros ficariam aguardando conforto no prazo, numa instituição financeira rentável. 'Cê sabe, há quem aprecie gozar velhice com milhão alheio, assim 'cê precisa assegurar velhice em local anti-roubo.
Dona Melancia - Benzinho, não 'tou te "desentendendo". Instituição financeira tem presidente e accionista entendido em jogo de conta milhão, mas enquanto conta ele s'engana e subtrai seu quinhão.

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Tam-Tam-Tam, Tam-Tam TamTam

Durante um concerto do Frank Zappa e dos The Mothers Of Invention em Montreux (Dezembro 71) irrompeu um incêndio que destruiu todo o edifcio do Casino onde se realizava o espétaculo.

Meses depois os Deep Purple, que estavam em Montreux na altura do incendio, lançaram esta música fabulosa que é a prova que na maior parte das vezes são as receitas simples que funcionam melhor .


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Oui, chéri, c'est vendredi


George Michael - Flawless

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quinta-feira, março 12, 2009

Poemas que explodem
















urgente

As bombas matam porque sofrem de uma espécie de doença incurável
que as faz ganhar saúde quando as largam no ar
uma vez expostas à lei da gravidade
e por ela arrastadas para o mundo humano
as bombas precisam de explodir tal como uma criança precisa de urinar
até fazerem um lugar onde fiquem
que se não mova que seja
como um direito a isso
ao pé do deus que lhes deu comida

Mário Cesariny; "urgente", in Pena Capital, Assírio & Alvim, 2004, pág 146

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O imenso outdoor

Os consumidores não podem ficar pendurados mais de 60 segundos num call center, e durante o período de espera não podem ser massacrados com publicidade; os consumidores deixam de pagar comissões sobre a transferência de um PPR, excepto nos casos em que o PPR tivesse capital garantido (a comissão máxima é de 0.5% do capital); o Governo limitou as taxas de juros máxima para os contratos de crédito ao consumo e impôs a redução de comissões para a amortização antecipada dos créditos.
Todas estas notícias têm um lado bom e um menos bom. A parte boa da estória é o conteúdo dela: são medidas de bom senso, que só pecam por tardias, devido aos abusos que as empresas por vezes impõem aos consumidores. A parte má é a forma: o Governo, mais uma vez, esperou pelas comemorações do dia da defesa do consumidor para anunciá-las. Não resistiu à tentação de fazer mais um número de propaganda. Ou seja, fez uso de um expediente que veta - e bem - aos privados, a publicidade agressiva, para informá-los das medidas tomadas. Este Governo parece-se cada vez mais com uma agência de publicidade.

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quarta-feira, março 11, 2009

Magnificent

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Nestes dias aparece tudo

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No mundo das sanduíches

Era apenas mais uma sanduíche dentro de uma caixa, a montante e a jusante outras sanduíches.
Era uma sanduíche com um prazo específico, na caixa não existia outra sanduíche com um prazo igual ao seu.
A montante as suas colegas de caixa possuíam validade mais recente, a jusante validade mais antiga.
As sanduíches daquela caixa eram diversificadas, umas com ovo, outras com queijo (de espécies variadas), outras vegetarianas e outras light, entre muitas outras.
Aquela caixa tinha cerca de muitas sanduíches.
Perguntava-se, amiúde, porque razão as observavam de passagem (ou não) aqueles seres estranhos, de estatura desconforme, mãos desadequadas, olhar assustador, neutro, e muitas mais variedades de inquirir. Não percebia porque se relacionavam consigo ou com as suas colegas de forma tão absolutamente redutora.
Uma redução a uma determinada finalidade, enfim os olhares daqueles seres reduziam-nas a um fim demasiado determinado.
Não percebia, afinal eram apenas sanduíches com óptimo aspecto.
Sentia-se triste pela inexistência de qualquer tipo de relação interpessoal entre as habitantes daquela caixa.
Era uma sanduíche verdadeiramente sociável, os lugares frios deprimiam-na.
As mais recentes consideravam-se donas da verdade, sem terem uma percepção exacta da complexidade da realidade envolvente; as mais antigas profetisas do apocalipse, tendo perdido a verdadeira percepção entre a necessidade de ler a realidade à luz de novas matrizes de certificação ou de qualidade.
Ela sentia-se certamente "ensanduichada", certamente com sede, certamente com um ligeiro amargo de boca, certamente com necessidade de ouvir o que cada qualidade poderia acrescentar à certificação de todas.

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terça-feira, março 10, 2009

Mau de sete um





















É por estas, e por outras, que não quero nada com Maoístas.

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Ideias Precisam-se

Churchill foi o primeiro homem de Estado do pós-guerra a apelar para a criação dos Estados Unidos da Europa. No entanto esta Europa de Churchill deixava de fora a própria Grã-Bretenha que, na sua opinião, estaria mais próxima da Austrália ou dos Estados Unidos da América do que dos restantes países europeus. A sua participação nas entidades supranacionais deveria centrar-se primeiro na Commmonwealth e na aliança anglo-americana e só depois na nova Europa Federal. Esta atitude britânica não está assim tão longe da que mantêm hoje em dia.

Hoje o federalismo Europeu (ou pelo menos a via para) volta à actualidade, desta vez como resposta à actual crise mundial, quer na resolução dos problemas mais imediatos (através de uma resposta estratégica comum) quer como garante da futura estabilidade económica e financeira da Europa. As palavras de Chruchill são de novo actuais:

"Temos que construir uma espécie de Estados Unidos da Europa. Só assim é que centenas de milhões de seres humanos terão a possibilidade de recuperar as pequenas alegrias e esperanças que tornam a vida digna de ser vivida. Podemos chegar lá da maneira mais simples. Só precisamos da determinação de centenas de milhões de homens e mulheres em fazer o bem em vez do mal, para receber bênçãos em vez de maldições."

É óbvio que os obstáculos e as dificuldades são muitas, e que o actual cenário não deixa antever grandes possibilidades de sucesso para tal aventura. No entanto, nos dias de hoje as coisas acontecem muito depressa, e ninguém nos garante que um qualquer simples evento não possa criar a dinâmica necessária para que se comece a pensar mais seriamente no assunto. Lembro-me, por exemplo, da proposta dos círculos concêntricos do Guy Verhofstadt (à qual, na minha opinião, não foi dada a devida atenção), que poderia muito bem servir de base para avanços efectivos nesse sentido.

E Portugal? Devemos nós estar na primeira linha da causa federalista, ou privilegiar antes a nossa vocação além-mar e as nossas relações com os países da CPLP e, tal como a Grã-bretanha, pormos a nossa relação Europeia para segundo plano?
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É Pá Parem Lá Com Essa Mania das Revoluções

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Blog Convidado

Esta semana o Risco Contínuo é o convidado do GR. É um blog que vou seguindo pelas mais diversas razões. A simpatia da Ana Vidal e do Paulo Cunha Porto, com quem já tive a oportunidade de partilhar um belo repasto, e uma ainda melhor conversa, é talvez a principal - obrigado ao João Gomes pela sua série "Musa do Dia".
Este é um daqueles blogues de que gosto apenas porque sim.
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segunda-feira, março 09, 2009

Magalhães goes to China

O Governo e a J.P. Sá Couto parecem ter encontrado a solução para os erros de português do Magalhães.
Aposto que com o teclado em chinês ninguém dará pelas falhas e, com alguma sorte, quando surgir o Magalhães - versão marca branca Made in China - até o português aparece corrigido.
Ironias à parte, para quem quiser ler qualquer coisa sobre os erros de gramática e de sintaxe da aplicação do Magalhães, encontra aqui uma excelente leitura - e sem qualquer partidarismo pelo meio.
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domingo, março 08, 2009

a cp deseja...

Chegada a Campanhã ainda em estado semi-sonolento (intepndentemente de serem já quase horas de almoço). O bilhete. Uma sande para forrar o estômago. Hummm... linha 8... Comboio já estacionado. Entro, sento-me, acomodo-me... Partimos.
Comboio Intercidades número não sei o quê com destino a Lisboa Santa Apolónia. Tem paragem em blá, blá, blá e hora de chegada prevista 16h. A CP deseja a todas as mulheres um dia feliz!
Ããããh????! Ahhhhhhhhh!!!! Hoje é Dia da Mulher!!! Que bonito! Tão atenciosos! E isto dito assim, com voz de intercomunicador entre duas estações, tem outro encanto!...

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Canções.Mais.Que.Imperfeitas@6

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sexta-feira, março 06, 2009

Simplex

É excelente esta ideia do Ricardo. Mas depois de criarem essa tal Base Nacional de Comentadores de Blogues (BNCB) com os IP’s , e-mails, nomes, moradas, códigos postais e números de telemóveis de todos os comentadores da Blogosfera, sugiro ainda que lhes seja atribuída uma numeração, que o SNS lhes insira gratuitamente um chip na nádega esquerda*, e que adicionem mais esta funcionalidade ao Cartão de Cidadão.

*O SNS não comparticipa chipagens em nádegas direita.

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Mais um milagre

Clicar aqui.
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Oui, chéri, c'est vendredi


David Bowie - Cat People (Putting out fire)

À sexta, partilho a música de que gosto. E esta é que é um verdadeiro há que tempos que não ouvia isto.
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Na Corte do Rei Leão

L - Uma espécie em vias de extinção? Uma entidade semi-política, uma espécie de instituição semi-funcional, semi-administrativa, semi-base de dados, semi-faz, semi-não faz?
M - Nã, uma entidade com números, legitimada pela lógica matemática, uma espécie de leitura socialmente gráfica.
L - Sim, há leituras gráficas interessantes, mas na selva também existem espécies funcionais.
M - Francamente, é o possível!

Depois de umas quantas palavras de conta faz e meia dúzia de profilaxias políticas, sairam alegres e contentes. Afinal, tinham palavras de conta faz suficientes para trocarem com uma ou outra espécie em vias de extinção. Talvez aquela espécie resistente.
Vai daí - naquele dia - dormiram sem instintos.

L/M (em coro) - Na paz do senhor, Amén!

No dia seguinte partiram, novamente, alegres e contentes para uma outra entidade burocrática, pejada de coleccionadores de palavras de conta faz suficientes.

M - Ei, pessoal, quem quer trocar cromos com espécies indeterminadas?

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quinta-feira, março 05, 2009

Citizen Pereira

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O tempo a seu tempo

Ela critica a revisão das taxas moderadoras na Saúde só em 2010. Muitos, dentro do seu partido, criticam-na pela taxa demolidora que o PSD vai pagar já em 2009.

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As Crises Também Criam Oportunidades

A Playboy está à venda. Não há por aí voluntários para uma vaquinha?

Imaginem só os potenciais dividendos….

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quarta-feira, março 04, 2009

MARCELO É BOM BAILARINO






















A propósito de Marcelo Rebelo de Sousa já ter feito saber que não está disponível para encabeçar a lista do PSD para as eleições europeias:

É entrar, venham ver a maravilha
das variedades na feira marcelina!
e entre atracções à escolha a que mais brilha
é de Marcelo a fúria bailarina.

Do tango ao rock do chá-chá-chá ao samba,
dançando a valsa como quem flores pisa,
baila Marcelo até na corda bamba
e os alunos de Apolo inferioriza.

Topa, enfim, de cavaco o mafarico
do dernier cri da dança uma golpada:
rebola-se no novo sassarico
para no partido acabar tudo à lambada.

Natália Correia, Cancioneiro Joco-Marcelino*, Novembro/Dezembro de 1989

* In O Corvo, jornal de campanha eleitoral autárquica da Coligação por Lisboa.

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terça-feira, março 03, 2009

o blog convidado da semana...

A propósito de opiniões divergentes, convido ali para o cantinho da casa o Espumadamente pela mão do espumante Nelson Reprezas.
Neste momento deve estar a ver o Prós e Contras e a imaginar o que vai dizer de mal da Fatinha amanhã de manhã... depois da crítica ao programa matinal! É o puro auto-entretenimento - não há que enganar! Mas fala bem o senhor, e, sabendo ser descontraído, mantem uma capacidade de análise consciente. Pena que a consciência lhe berre politiquices da esquerda, o mito do aquecimento global, a perseguição americana and last but not least - em fim-de-semana de tréguas com um jogo para adormecer criancinhas - a imensa cabala portista e o incompreensível bairrismo portuense! ;)

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segunda-feira, março 02, 2009

Nada de novo debaixo do sol!

Vá lá, não te enerves!
Afinal o livro ilustrado pela Rebecca Dautremer é p'ra oferecer.
Os livros ilustrados pela Rebecca Dautremer até são livros banais.
E depois? Os livros p'ra oferecer não precisam de espaço no tecto.
Vá lá, afinal podes dormir descansada, um livro ilustrado pela Rebecca é apenas mais um livro de histórias para oferecer a uma criança.
Vá lá, toca a trabalhar, nada de novo debaixo do sol!
Cyrano, Ilustrado por Rebecca Dautremer, editora Educação Nacional.

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Assim Se Vê A Força Deste Pessoal

Confesso a minha dificuldade em encontrar as palavras certas para qualificar a história do burgesso a sair do tribunal, a rir-se dos 200 eurecos por dia e a dizer que vai continuar a fazer a mesma coisa.

Mas nesta história toda, o crime, crime, verdadeiro crime mesmo, foi o facto de terem acabado com a Feira Popular!

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domingo, março 01, 2009

Esquerda volver

Neste fim-de-semana de festim bloguístico sobre a reunião de família socialista em Espinho - há quem lhe chame Congresso - deixo para os analistas as questões políticas que envolvem as propostas que dali foram emanadas.
Deixo aqui duas dúvidas para quem souber responder:
1) - Pensará José Sócrates que promessas dignas de um partido de esquerda apagam quatro anos de uma governação PS tão à direita que nem o PSD o conseguiria?
2) - Edite Estrela estaria tão comovida, e com vergonha de chorar em público, que nem levantou a cabeça durante o discurso final de José Sócrates, ou estava mesmo a 'passar pelas brasas'?

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Acções de formação profissional

O congresso do PS foi uma excelente acção de formação.
Tema de fundo: "Motivação e Resiliência".

Certos jornalistas precisam de reciclar um velho estereótipo, para tal sugere-se a seguinte acção de formação: "O mau-estar do jornalismo contemporâneo: entre a liberdade de expressão, a deontologia e o $".

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Venham mais cinco

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Ir pelos ares


Não viajo na TAP porque os voos são geralmente mais caros do que os da SN Brussels e não creio que um jornaleco, uma sande a fumegar e um copo de água valham a diferença de preço. E isto é making a long story short.

Não viajo na Ryanair porque para além de esta companhia não ter voos para Lisboa, a verdade é que, por mais que digam o contrário, também não tem voos a partir de Bruxelas. Não é por a Ryanair querer passar a cobrar 1 libra cada vez que alguém utilize a casa-de-banho durante a viagem. Se bem que acho caro.


Notícia relembrada via O País do Burro.
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Canções.Mais.Que.Imperfeitas@5

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