Recordar Natália Correia [1]
Imagem: Natália Correia por Artur Bual, fotografia de Gisela Cañamero, Biblioteca Municipal de Ponta Delgada
Nesta Lusa farronca sem vintém
Nesta lusa farronca sem vintém,
Nesta muda que muda sem mudança,
Venha o que venha, há-de lixar-se quem
Do salsifré tiver a governança.
Quis o Caldas por Freitas dar Barbosa,
Mas de Lucas o verbo metafórico
Adriano abençoa, e a raposa
Tem nas direitas direito mais histórico
O PSD chorando o pai extinto
No Choupal crê achar líder a estalo;
Afinal só trocou pinto por pinto
E pintainho não dá cantar de galo.
Para São Bento, o Mário Triunfal
Lá em paris já encomenda os fraques;
Perde Zenha, Constâncio, etcétera e tal
Mas ganha Acácio, Simão e outros craques.
Vitalício o Cunhal manda o Vital
Das verduras purgar as loucas culpas;
Que artes de moço tão constitucional
Para afastá-lo, são boas desculpas.
Em conclusão: onde o maior partido
É o do ócio que causa inveja à lesma,
Ganhe quem ganhe, só muda o vestido
O génio de deixar tudo na mesma.
In O Bisnau, n.º2, 1983
Se Natália Correia ainda estivesse entre nós, é de crer que as [des]venturas de José Sócrates teriam sido uma fonte de inspiração [praticamente] inesgotável para a poetisa. São famosas [e notáveis] as suas incursões pelo campo da poesia satírica e humorística, onde se destacam: as «Cantigas de Risadilha», publicadas no jornal humorístico «O Bisnau» em 1983; e o «Cancioneiro Joco-Marcelino», publicadas em «O Corvo», o jornal de campanha eleitoral autárquica da Coligação por Lisboa em 1989. O que é interessante [e preocupante] é a actualidade que em muitos aspectos estes poemas ainda conservam apesar de já se terem passado mais de 20 anos sobre os acontecimentos. A recordar:
Nesta Lusa farronca sem vintém
Nesta lusa farronca sem vintém,
Nesta muda que muda sem mudança,
Venha o que venha, há-de lixar-se quem
Do salsifré tiver a governança.
Quis o Caldas por Freitas dar Barbosa,
Mas de Lucas o verbo metafórico
Adriano abençoa, e a raposa
Tem nas direitas direito mais histórico
O PSD chorando o pai extinto
No Choupal crê achar líder a estalo;
Afinal só trocou pinto por pinto
E pintainho não dá cantar de galo.
Para São Bento, o Mário Triunfal
Lá em paris já encomenda os fraques;
Perde Zenha, Constâncio, etcétera e tal
Mas ganha Acácio, Simão e outros craques.
Vitalício o Cunhal manda o Vital
Das verduras purgar as loucas culpas;
Que artes de moço tão constitucional
Para afastá-lo, são boas desculpas.
Em conclusão: onde o maior partido
É o do ócio que causa inveja à lesma,
Ganhe quem ganhe, só muda o vestido
O génio de deixar tudo na mesma.
In O Bisnau, n.º2, 1983
Etiquetas: Natália Correia, Poesia, Saudade
2 Comments:
andré,
bela lembrança, estou tentado a citar-te.
abraço.
Não te sabia apreciador de Natália Correia. Registo com agrado :-)
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