sábado, março 21, 2009

Georges! anda ver meu país de romarias

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Georges! anda ver meu país de romarias
E procissões!
Olha estas mocas, olha estas Marias!
Caramba! dá-lhes beliscões!
Os corpos delas, vê! são ourivesarias,
Gula e luxúria dos Manéis!
Têm nas orelhas grossas arrecadas,
Nas mãos (com luvas) trinta moedas, em anéis,
Ao pescoço serpentes de cordões,
E sobre os seios entre cruzes, como espadas,
Além dos seus, mais trinta corações!
Vá! Georges, faz-te Manel! viola ao peito,
Toca a bailar!
Dá-lhes beijos, aperta-as contra o peito.
Que hão-de gostar!
Tira o chapéu, silêncio!
Passa a procissão

Estralejam foguetes e morteiros.
Lá vem o Pálio e pegam ao cordão
Honestos e morenos cavalheiros.
Altos, tão altos e enfeitados, os andores,
Parecem Torres de David, na amplidão!

Que linda e asseada vem a Senhora das Dores!
(...)

António Nobre
(1887-1900)

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1 Comments:

Blogger Freire de Andrade said...

Permita-me uma correcção:

No 7.º verso, em vez de
"Têm orelhas grossas arrecadas,"
deve ser
"Têm nas orelhas grossas arrecadas,"
(Só, edição Europa-América, colecção Livros de Bolso, n.º 253)

sábado, março 21, 2009 9:03:00 da tarde  

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