sábado, março 21, 2009

Recordar Natália Correia [Reloaded]

Imagem: Natália Correia por Artur Bual, fotografia de Gisela Cañamero, Biblioteca Municipal de Ponta Delgada

Se Natália Correia ainda estivesse entre nós, é de crer que as [des]venturas de José Sócrates teriam sido uma fonte de inspiração [praticamente] inesgotável para a poetisa. São famosas [e notáveis] as suas incursões pelo campo da poesia satírica e humorística, onde se destacam: as «Cantigas de Risadilha», publicadas no jornal humorístico «O Bisnau» em 1983; e o «Cancioneiro Joco-Marcelino», publicadas em «O Corvo», o jornal de campanha eleitoral autárquica da Coligação por Lisboa em 1989. O que é interessante [e preocupante] é a actualidade que em muitos aspectos estes poemas ainda conservam apesar de já se terem passado mais de 20 anos sobre os acontecimentos. A recordar:

Nesta Lusa farronca sem vintém

Nesta lusa farronca sem vintém,
Nesta muda que muda sem mudança,
Venha o que venha, há-de lixar-se quem
Do salsifré tiver a governança.

Quis o Caldas por Freitas dar Barbosa,
Mas de Lucas o verbo metafórico
Adriano abençoa, e a raposa
Tem nas direitas direito mais histórico

O PSD chorando o pai extinto
No Choupal crê achar líder a estalo;
Afinal só trocou pinto por pinto
E pintainho não dá cantar de galo.

Para São Bento, o Mário Triunfal
Lá em paris já encomenda os fraques;
Perde Zenha, Constâncio, etcétera e tal
Mas ganha Acácio, Simão e outros craques.

Vitalício o Cunhal manda o Vital
Das verduras purgar as loucas culpas;
Que artes de moço tão constitucional
Para afastá-lo, são boas desculpas.

Em conclusão: onde o maior partido
É o do ócio que causa inveja à lesma,
Ganhe quem ganhe, só muda o vestido
O génio de deixar tudo na mesma.

In O Bisnau, n.º2, 1983

Etiquetas: , ,

Partilhar