quarta-feira, março 11, 2009

No mundo das sanduíches

Era apenas mais uma sanduíche dentro de uma caixa, a montante e a jusante outras sanduíches.
Era uma sanduíche com um prazo específico, na caixa não existia outra sanduíche com um prazo igual ao seu.
A montante as suas colegas de caixa possuíam validade mais recente, a jusante validade mais antiga.
As sanduíches daquela caixa eram diversificadas, umas com ovo, outras com queijo (de espécies variadas), outras vegetarianas e outras light, entre muitas outras.
Aquela caixa tinha cerca de muitas sanduíches.
Perguntava-se, amiúde, porque razão as observavam de passagem (ou não) aqueles seres estranhos, de estatura desconforme, mãos desadequadas, olhar assustador, neutro, e muitas mais variedades de inquirir. Não percebia porque se relacionavam consigo ou com as suas colegas de forma tão absolutamente redutora.
Uma redução a uma determinada finalidade, enfim os olhares daqueles seres reduziam-nas a um fim demasiado determinado.
Não percebia, afinal eram apenas sanduíches com óptimo aspecto.
Sentia-se triste pela inexistência de qualquer tipo de relação interpessoal entre as habitantes daquela caixa.
Era uma sanduíche verdadeiramente sociável, os lugares frios deprimiam-na.
As mais recentes consideravam-se donas da verdade, sem terem uma percepção exacta da complexidade da realidade envolvente; as mais antigas profetisas do apocalipse, tendo perdido a verdadeira percepção entre a necessidade de ler a realidade à luz de novas matrizes de certificação ou de qualidade.
Ela sentia-se certamente "ensanduichada", certamente com sede, certamente com um ligeiro amargo de boca, certamente com necessidade de ouvir o que cada qualidade poderia acrescentar à certificação de todas.

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