Quando o neoliberalismo assentou arraiais na UE (a partir dos anos 80) e em alguns organismos transnacionais de referência (OCDE, UNESCO) o panorama educacional na Europa era qualquer coisa como:
- Norte da Europa com a esmagadora maioria da população alfabetizada e educada, sem taxa de analfabetismo, salvo erro desde o início do século XX.
- Portugal, com a esmagadora maioria da população com défices de educação e com analfabetismo, a taxa actual de analfabetos em Portugal é de cerca de 8% (como os analfabetos já possuem uma determinada idade, quando morrerem acaba-se o analfabetismo, é uma solução a longo prazo, mas eficaz, passe o cinismo).
O discurso neoliberal na área da educação é simples:
- aprendizagem ao longo da vida porque precisamos de ter competências para competir, adaptarmo-nos ao mercado, enfim, às necessidades da economia.
- discursos educativos em prole do empreendedorismo, flexibilidade, adaptabilidade, eficiência, eficácia, tendo em vista uma Europa desenvolvida, uma sociedade da informação, do conhecimento,...
Tudo isto perante o panorama aflitivo da escola de massas, desautorização dos profissionais da educação, pressões políticas sobre a quantidade em detrimento da qualidade (aliás o discurso da ministra sobre o preço dos retidos, vai nesse sentido), falta de preparação de profissionais da educação, sistema burocratizado, heterogeneidade dos educandos, entre outras, transformam a educação num campo de batalha propício a discursos superficiais e fazedores de opiniões que contribuem para o desgaste da escola pública e do aparecimento de soluções milagrosas (a apologia do privado, a apologia de métodos de ensino ultrapassados, etc.).
As normas políticas transnacionais, discorrem em prole da eficiência, eficácia, adaptabilidade, adaptam-se (e mal) a um contexto de Norte da Europa, onde a sociedade civil está suficientemente informada e combativa para fazer face a normativos que impelem os seus filhos a transformarem-se nos novos servos: os lacaios da economia.
Um sistema educativo não fornece mão de obra fabricada às necessidades da economia.
Um sistema educativo deveria fornecer seres humanos educados, críticos, combativos, donos do seu destino e orgulhosos da sua cultura e do seu país.
Não lacaios, servos, seres humanos adaptados às necessidades de qualquer discurso político-económico-social de circunstância, em prole de interesses organizados e cíclicos, sejam elas quais forem.
Um país com 8% de analfabetos, não sei quantos por cento de analfabetos funcionais, com uma taxa de iliteracia elevada adapta-se, compete, é eficiente com que almofada crítica? Anda à mercê de que interesses? Como se defende dos interesses culturais dos outros? Como se defende dos discursos a favor de uma determinada cidadania, estilo de vida, norma cultural?
Daí que quando um político começa a importar ideias que já estão a ser postas em causa na Europa e no mundo em geral, vejam-se os trabalhos de Anthony Giddens, Zygmunt Bauman, Richard Sennett, entre outros, me ocorra amiúde a velha máxima de Cícero: "A verdadeira liberalidade consiste em dar com acerto".
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