sexta-feira, março 21, 2008

A Política também pode ser Poesia

Angela Merkel é a governante internacional que mais admiro. Várias são as razões para tal eleição, mas desde logo a mistura de pragmatismo com humanismo, de saber muito bem o que é acessório e o que é essencial, e aquela imagem de uma liderança serena que transmite resultam na minha preferência.

Entre outras coisas, Portugal ficará a dever-lhe muito do Tratado de Lisboa. Sem a sua força negocial Sócrates não tinha «peso» para obrigar a cedências dos eurocépticos e o tratado teria hoje o nome de uma outra cidade.

Mas o que hoje aqui me traz é um outro assunto: Merkel tornou-se na primeira Chanceler a discursar no Knesset (Parlamento Israelita). Simbolicamente vestida de preto, fez o discurso em alemão e agradeceu a honra de o deixarem fazê-lo na língua materna. Mas abriu e fechou em hebraico – no final a proferir um significativo “Shalom” (Paz). Disse coisas tão fortes como esta: «A nós, alemães, a Shoah cobre-nos de vergonha. Inclino-me diante de suas vítimas, dos seus sobreviventes e daqueles que os ajudaram a sobreviver.» Foi calorosamente aplaudida pela sala. A Extrema-Direita israelita e o Hamas condenaram a iniciativa, o que me leva a aprová-la à priori. Merkel, mais uma vez, fez aquilo que deveria ser feito: não pediu perdão por uma monstruosidade imperdoável – disse é a nossa vergonha; não tentou branquear o passado - assumiu-o. E são atitudes como esta, quer do lado alemão quer do lado israelita, que dão alguma esperança ao futuro da Humanidade. Porque o que se passou na terça-feira no Knesset não foi política. Foi a escrita de mais um verso do «Poema da Esperança».
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