Depois de ter lido o manifesto, algo rapidamente (e portanto as minhas desculpas por alguma interpretação mais leviana), algumas questões:
- o desemprego não poderá ter sido um compromisso estabelecido entre o Estado e os grupos económicos, de forma a que a mão-de-obra menos qualificada e subsequentemente desempregada pudesse “sobreviver”?
- de que forma é que as políticas públicas poderão reforçar, por exemplo, a coesão territorial e social se as políticas do governo PS reforçaram o abandono de certos serviços públicos do interior, proporcionando o desenvolvimento de certos localidades em detrimento de outras?
- de que forma é que os projectos de combate ao desemprego nacional conseguirão implementar-se numa lógica de "regionalização" económica promovida pela região UE? Ou como poderão os interesses da UE direccionar tais políticas públicas nacionais tendo em conta interesses que beneficiem os estados mais fortes?
- de que forma é que a defesa de projectos de investimento como o TGV não proporciona a mobilidade da mão-de-obra, no sentido em que a sua fácil e livre circulação se possa converter, acima de tudo, na mobilidade da mão-de-obra mais barata e, ao mesmo tempo, a disperse no espaço regional com a consequente perda de vínculos nacionais, identidades e, consequentemente, dê azo à futura constituição de uma Europa federalista, sem nações e estados, numa lógica de Estados Unidos da Europa como convém às necessidades da economia?
Alguns exemplos de boas intenções que rapidamente se transformaram em problemas sociais e legitimaram políticas públicas que contribuíram para a fragilização das camadas mais desfavorecidas:
- defesa de políticas da educação como um direito básico do ser humano, que rapidamente se transformaram num campo de luta ideológica e contribuíram para a exclusão e fragilização social do seu público mais débil (os argumentos são vastos, não poderemos aqui explicitá-los) e cuja identidade cultural e dignidade social foram desconsideradas (abandono escolar ou exclusão?) de tal modo que o reverso da medalha foi a adopção, por alguns, de comportamentos perversos que os fragilizaram ainda mais? (utilização da escola pública como ocupação do tempo dos filhos, sem que se tenham apercebido que a mudança de paradigma económico exige escolaridade e, por isso, um projecto de vida consentâneo, como reverso vemos a adopção de políticas educacionais que contribuem para a desvalorização do conhecimento para alguns - escola pública - e valorização para outros - escola privada -, novas formas de polarização social?).
- defesa da modernização e das novas tecnologias que rapidamente causaram níveis drásticos de desemprego e problemas sociais graves, cuja resposta do Estado foi o subsídio do desemprego, transformando os elementos mais frágeis da sociedade em elementos ainda mais frágeis pela sua não fiscalização e consequente utilização fraudulenta dos bens públicos, rendimento mínimo e subsídio de desemprego, por exemplo, o que contribuiu para a validação do discurso de reforma do Estado (dos neoliberais) e os fragilizou ainda mais.
Notas finais:
Após quase um século de democracia Ocidental parece-me que a construção de uma sociedade mais justa e digna (para todos) só poderá ser erigida se articulada com a emancipação e autonomia de identidades e diversidades culturais, no espaço Nação, e o controlo saudável (de baixo para cima) e não asfixiante da sociedade democrática (direitos e deveres sociais, políticos e económicos). Para tal os nossos economistas e cientistas sociais já tiraram, certamente, as devidas ilações de determinadas instrumentalizações históricas (de determinados grupos de interesses em desfavor de outros).
Para bem da democracia penso não ser saudável a imposição de determinadas opções que comprometam a diversidade de identidades e culturas nacionais em prol de um interesse regional (seja ele económico, social e/ou político), sob pena de estarmos a ser ingénuos e instrumentalizados pelo verdadeiro interesse do lado de lá da barricada (regionalização económica).
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