Capitalismo e tradição
As contribuições da ética ascética do protestantismo para o aparecimento do espírito do capitalismo foram sinalizadas no início do século XX por Max Weber. A sua obra "A ética protestante e o espírito do capitalismo" publicada em 1904/5 (?), explica, de uma forma objectiva e clara, as características que contribuíram para o aparecimento de um novo sistema económico chamado capitalismo. No caso americano Weber explica que foi o cruzamento de determinados elementos existentes na tradição religiosa protestante (capacidade de renunciar às tentações, liberdade individual) com ideias novas (ganhar dinheiro de uma forma honesta propiciava a evolução da sua comunidade e consequentemente da instituição comunitária de suporte - igreja local) que colaboraram activamente para a formação de tal sistema (esta é uma explicação algo simplista). Não é, por isso, possível compreender integralmente a racionalidade do sistema capitalista e os seus contornos americanos sem revisitar a obra do mestre (Weber).Após a vitória incontornável (mas discutível) de um sistema económico que contribuiu (para o bem e para o mal) para uma progressão tão rápida da tecnologia, da ciência e alteração de costumes e tradições e, por fim, da evolução da qualidade de vida das pessoas (este argumento dos liberais é indiscutível para alguns -direita, e discutível para outros - esquerda), resta perguntar que motivos poderão estar na base para a viragem política nos EUA, quando, ao que parece, Bush e a facção religiosa fundamentalista que o apoiava dominavam o principal aparelho de reprodução ideológica (media, religião e, consequentemente, poder económico).Talvez Weber explique tal viragem de uma forma simples, talvez o pecado mortal de Bush filho e dos seus apoiantes tenha sido o de não se terem apercebido de que a sociedade americana já ultrapassou (aparentemente) uma determinada tradição: a cruzada do bem contra o mal poderá fazer valer todas as formas de luta (influência da Declaração Universal dos Direitos Humanos); ou que é sempre importante manter uma certa aparência cavalheiresca no acto de ganhar e usufruir do dinheiro. Aparentemente o sistema neoliberal não respondeu a este elemento da tradição: a capacidade de ganhar dinheiro de uma forma honesta equivale a não esquecer que há determinado tipo de comportamento a manter, um capitalista não deverá ultrapassar determinadas normas de conduta, o capitalista é um cavalheiro, ganha dinheiro mas comporta-se em sociedade de uma forma irrepreensível e honesta. A incapacidade de esconder a auto-confiança global e altamente agressiva dos seus agentes económicos, poderá ter sido uma das causas do fracasso da política neoliberal, assente na verdadeira ideologia da auto-confiança americana, mas com novos contornos: ganhar dinheiro de uma forma desregrada, ostensiva e agressiva e cuja competição desenfreada não soube esconder algo a que a tradição dá sempre valor: a aparência de que os fins não justificam os meios. A tradição americana actual cruza, assim, de uma forma complexa e, por vezes, contraditória: liberdade individual, multiculturalismo, dinamismo empreendedor e religião. A eleição de Obama poderá ter na raiz estes elementos (e outros) e foi um sinal inequívoco de que a tradição ainda é o que era!
Em Portugal tais contornos poderão ser extrapolados politicamente para as lutas internas no PSD (Luís Filipe Menezes versus Pacheco Pereira) /PS (Sócrates versus Alegre) e externas que se configuram de uma forma muito complexa (governo/oposição/lutas internas). As várias facções contribuem para fornecer elementos de combate e guerrilha entre si e a luta é travada fundamentalmente na comunicação social e nos grupos económicos que de alguma forma sustentam a legitimidade de certos profissionais do poder.
Contudo, há ainda outros aspectos a considerar: as famílias tradicionais da elite económico-política, os novos grupos económicos formados a partir dos novos contornos económicos e a pressão para a criação de novas elites e, consequentemente, novas tradições.
Quanto aos meios de comunicação de massas a luta entre a tradição/novos valores pareceu evidente nas lutas internas do Expresso e que propiciaram a criação do jornal SOL (tradição) e nova roupagem do Expresso (novos valores).
A luta pela conquista dos vários tipos de poder ocorre na comunicação social e faz-se pela tentativa de manipular a opinião pública, contudo contribuem drasticamente para o descrédito das mais variadas profissões que se digladiam entre si para atingirem o poder (seja ele qual for).
Em Portugal tais contornos poderão ser extrapolados politicamente para as lutas internas no PSD (Luís Filipe Menezes versus Pacheco Pereira) /PS (Sócrates versus Alegre) e externas que se configuram de uma forma muito complexa (governo/oposição/lutas internas). As várias facções contribuem para fornecer elementos de combate e guerrilha entre si e a luta é travada fundamentalmente na comunicação social e nos grupos económicos que de alguma forma sustentam a legitimidade de certos profissionais do poder.
Contudo, há ainda outros aspectos a considerar: as famílias tradicionais da elite económico-política, os novos grupos económicos formados a partir dos novos contornos económicos e a pressão para a criação de novas elites e, consequentemente, novas tradições.
Quanto aos meios de comunicação de massas a luta entre a tradição/novos valores pareceu evidente nas lutas internas do Expresso e que propiciaram a criação do jornal SOL (tradição) e nova roupagem do Expresso (novos valores).
A luta pela conquista dos vários tipos de poder ocorre na comunicação social e faz-se pela tentativa de manipular a opinião pública, contudo contribuem drasticamente para o descrédito das mais variadas profissões que se digladiam entre si para atingirem o poder (seja ele qual for).
Etiquetas: A minha modesta contribuição para uma breve História da crise político-económica
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