sexta-feira, outubro 30, 2009

Oui, chéri, c'est vendredi


MiCkey[3d] - Respire

Partilhar

Blitz, adolescência, religião e música

O jornal Blitz está para a minha adolescência tardia como a Bíblia para a religião católica.
Não, juro que não estou a brincar com assuntos sérios.
Não, não é verdade e peço desde já desculpa pela heresia.
Não, não pretendo, de todo, brincar com crenças e tradições seculares.
Não, não há certos senhores, por aí, que pensam ser mais crentes do que eu.
Não, não os corro com fonéticas escarpadas ao vento
- é pá, vai mas é pregar para outra freguesia, pois na minha quem manda sou eu!
Não é que se resolve desde logo a aleivosia e sem recurso a caçadeira, enxada, ancinho, arma branca ou conluio com um agente de comunicação à paisana, político ou empresário com desaguisados e/ou desinteresses?
Sim, e sem atritos ou desconfianças mútuas, cada um segue o seu caminho desrespeitando o do outro.
Sim, provavelmente fui mais fiel ao Blitz do que a outros pasquins, igualmente canónicos.
Sim, recorri muitas vezes à confissão, onde foi limado o meu analfabetismo.
Não, não seria vidrada nos Smiths, António Variações, Pop Dell'Arte, Joy Division, Essa Entente, Rui Veloso, Bob Dylan, Carlos Tê, Jafumega, Anamar, Mler If Dada, Sérgio Godinho, Beatles, Rolling Stones, Neil Young, Bob Marley, Bauhaus, David Bowie, Police, Zeca Afonso, Tom Jobim, Ella Fitzgerald, Essa Entente, música soul, entre outros.
Não, não teria conhecido o MEC, a Escrítica Pop e a New Wave.
Não, nada de música moderna portuguesa.
Sim, teria tido uma adolescência literal e metafórica nos confins do interior, sem pastorícia, mas com rio.
Não, jamais me teria cruzado com outros sacramentos religiosos: rádio pirata, Penedo de Castro, motorizada casal de 5 velocidades, dossier com poesia manuscrita.
Não, jamais teria sido defrontada com uma alegoria: nevoeiro, silêncio, palavras e música.
Sim, jamais teria dedicado tempo a outro tipo de parábolas: bordados, renda, estudos e introspecção filosófica.
Sim, jamais teria sido uma adolescente arrebatada, fanática, expansiva, avessa ao enclausuramento interior, impulsões idílicas, estados de alma insignes e delírios psicóticos.
Sim, as semelhanças/diferenças entre as adolescências está nas suas relações (desrelações) com a religião.
Sim, as semelhanças são simples, todas as adolescências são adornadas com pitadas de luta geracional e desrespeito pela autoridade, a verdadeira diferença reside na presença (ou ausência) de um Deus (ou vários) para servir de consolo perante as injustiças.
Sim, nenhuma religião convive com outras sem duas articulações harmoniosas: autoridade e discriminação.
Sim, a verdadeira essência de qualquer religião é a construção de um argumentário em torno da insignificância das suas concorrentes.
Sim, também praticámos determinados rituais. O Blitz era uma espécie de Bíblia interactiva, discutíamos metáforas e leituras literais directamente com os profetas. Como? Através de epístolas, troca de ideias e/ou histórias alegóricas nas páginas dos leitores.
Sim, foi através dessa secção que troquei correspondência com crentes de todo o país e com interpretações metafóricas (ou literais) comuns (música moderna portuguesa e música popular).
Sim, era através desse manancial primordial que alimentava um programa de rádio para leigos.
Sim, participei activamente na renovação da igreja, pois dei voz a novos profetas dando a conhecer melodias que ansiavam pregação.
Sim, entrementes surgem dois templos, um chamado Rock Rendez-Vous e o outro Ama Romanta, os dois são responsáveis pelo rejuvenescimento da celebração eucarística.
Sim, foi nessa altura que surgiram representantes de novas ideias, concursos de música moderna e fanzines dedicados a outras interpretações do cânone musical.
Sim, as adolescências são mortificação, renúncia, tormento, condenação e suplício.
Sim, entre adornos, crenças e muita devoção.
Sim, dos confins das minhas memórias blitzianas surge alguém com uma expressão relativamente séria, sardónica e exclamativa: sabes bem que o carteiro raramente toca duas vezes.
Sim, talvez aquele indivíduo (o carteiro) seja responsável por um certo preconceito.
Sim, se há um intérprete incompetente, logo há uma incompreensão latente perante crises existenciais alheias.
Sim, o Blitz foi a minha Bíblia durante anos e anos e só há coisa de pouco tempo consegui atirar para o papelão resmas de papel amarelado e recalcitrante que teimaram em acotovelar-se no sótão da minha casa.
Sim, cortar amarras com o passado custa.
Sim, apagarei as velas do Blitz.
Não, nem uma pitada de desressentimento juvenil.

Etiquetas:

Partilhar

quinta-feira, outubro 29, 2009

coisa nenhuma...

Não escrever é uma grande responsabilidade. Faz com que o pouco que se diz tenha de ser realmente significativo. E essa significância leva a que se pense cada vez mais no que se vai dizer. E a falta de tempo de escrita inicial fica agravada por todo este complot de circunstâncias.

Venho por isso, desta feita, dizer coisa nenhuma, para quebrar o crescendo expectante da ausência de escrita.

Etiquetas: ,

Partilhar

quarta-feira, outubro 28, 2009

200.000 visitas

O Sitemeter indica que o Geração Rasca superou a barreira psicológica das 200.000 visitas.
Obrigado a todos.

Etiquetas:

Partilhar

segunda-feira, outubro 26, 2009

Sempre Ausente

Li recentemente alguém que afirmava, peremptoriamente, que a população portuguesa se poderia dividir em meia dúzia de quadrantes, entre os quais:
- os republicanos ressentidos (anti-católicos);
- a esquerda ressentida (anti-Salazarista);
- a direita ressentida (anti-comunista);
- os retornados ressentidos (anti-25 de Abril);
e a população em geral conjugando vivências, deturpando socialização com má-língua, concreto com satisfação das necessidades do dia a dia. Enrodilhados num saber tradicional, informal, desprezando largamente o saber formal, os doutores de meia tigela, etc e tal.
Basicamente somos um país de ressentidos e de ignorantes, ao que parece.
Efectivamente seria bem melhor se os tipos humanos de um país se pudessem encaixotar em gavetinhas, conforme anseiam alguns teóricos das mais variadas áreas do desconhecimento.
Independentemente de todas as perspectivas, há uma característica interessante e comum a meia dúzia de portugueses que eu conheço: a de desejarem estar sempre noutro local. Ao que parece poderemos fazer então o mesmo tipo de exercício, aparentemente será essa ânsia de partir voltando e de voltar partindo a verdadeira essência da alma portuguesa.


Etiquetas:

Partilhar

domingo, outubro 25, 2009

350.org

Partilhar

Canções.Mais.Que.Imperfeitas@34

Provocações ao rei da folk?
A de Syd Barret é uma das melhores.

Etiquetas:

Partilhar

sexta-feira, outubro 23, 2009


Partilhar

Oui, chéri, c'est vendredi


Editors - Papillon

Partilhar

quinta-feira, outubro 22, 2009

Do bom


Quem perdeu a prestação de ontem do Professor Marcelo, clique aqui e depois aqui.
Partilhar

Síndroma Roman Polanski

Sou um apreciador da obra de Saramago e confundo facilmente “Caim” com uma onomatopeia reveladora de um canídeo em sofrimento. Mas apesar do meu mais profundo agnosticismo, considero as declarações do escritor a [des]propósito do seu último romance, completamente dispensáveis, e que podiam ser – como acabou por acontecer - facilmente interpretadas como ofensivas pelos crentes. Como Saramago afirma não ter procurado a polémica, a minha única dúvida é se as suas afirmações se devem a uma insanidade temporária com origem na sua já avançada idade, ou ao efeito dominó do prémio Nobel da Literatura que lhe foi atribuído em 98 e que agora lhe voltou a subir à cabeça.

Etiquetas:

Partilhar

quarta-feira, outubro 21, 2009

Dona Melancia e religião

Dona Melancia - roendo unha em seu banco de jardim de Avenida Almirante Gago Coutinho - meu bem, 'cê entende as reacções de alguns meninos e meninas da blogosfera?
Dom Melão - franzindo sobrolho - benzinho, 'cê tá fazendo uma pergunta muito útil e clara.
Dona Melancia - meu bem, 'cê considera ou desconsidera Bíblia?
Dom Melão - Bíblia é mesmo p'ra se reconsiderar, meu bem, 'cê não vê qu'até Costinha lhe considera?
Dona Melancia - Benzinho, Deus é um pai compreensivo, deixa crescer seus filho, e até lhe dedica fidelidades, veja só Job, é um exemplo de benevolência.
Dom Melão - É, meu bem, Benfica também nunca me fez passar provações, talvez seja por isso que não me deixo tentar por metonímia de Bentinho.
Dona Melancia - Pensando bem até lhe desconsidero atenção, enfim Eclesiastes ou Babel são exemplos de dessabedoria.
Dom Melão - Babel, benzinho, 'cê tá louca? Já viu Bentinho falando mesma língua de Jesus? Em nome do pai e do filho e do espírito santo, 'cê não entende nada de religião.
Dona Melancia - Pois é, benzinho, são tantos os adversários, são tantos os que se levantam e dizem: Nem Jesus o poderá salvar!
Dom Melão - 'cê, tá sendo inconveniente, 'cê tá pecando, 'cê não lhe merecia nacionalidade portuguesa, amanhã mêmo vou lhe denunciar no Serviço de Estrangeiro e Fronteira, 'cê é uma besta quadrada e não lhe merece espaço no GR, aliás ainda hoje lhe envio uma queixa p’ra ERC e lhe proíbo de reinventar calúnia.
Dona Melancia - esbugalhando sorriso, descruzando perna e retemperando fala - benzinho, 'cê precisa de qu$nto p'ra assistir a compra de bilhete de próximo derby?

Etiquetas: ,

Partilhar

segunda-feira, outubro 19, 2009

Ministeriáveis ou Não, eis a questão

Em todo o espectro mediático há sugestões acerca do novo governo. No contraditório da Antena 1 Luís Delgado gostaria de ter um governo forte e pequeno (o Correio da Manhã ao que parece também). Carlos Magno desiludido com os meios de comunicação social vaticina que os patrões já terão o seu lobby bem armado em determinadas pastas. Um dos presentes ainda ousou uma expressão lírica, qualquer coisa como: já não sei se a má moeda não estará em Belém.

Um pouco espalhada em todos os jornais jogam-se expectativas e sugestões e ainda indicações (ou não) a seguir. Ao que parece estarão de saída os ministros mais contestados pelas corporações:
Jaime Silva
Maria de Lurdes Rodrigues
Alberto Costa
Mário Lino (este por vontade própria)

As opiniões (sugestões) transformam alguns nomes em incógnitas:
Mariano Gago
José António Pinto Ribeiro
Francisco Nunes Correia
Rui Pereira Nuno
Severiano Teixeira

Outras apostam em certezas absolutas:
Pedro Silva Pereira
Augusto Santos Silva (noutro cargo, onde não se "malhe na oposição, agora não convém")
José Vieira da Silva
Ana Jorge
Luís Amado Teixeira dos Santos

Depois há ainda quem defenda que irá ser criado um novo ministério para gerir os fundos comunitários; outros que Sócrates irá apostar mais na cultura; outros que irá reduzir o número de ministros; outros que etc e tal. A legislatura ocorrerá entre temas fracturantes tão caros ao Bloco de Esquerda; a definição do um PSD (à beira da canibalização ?) no qual alguns militantes exigem clarificação tanto do papel de Pacheco Pereira (ou líder da bancada ou outra coisa qualquer, defendido ontem no Eixo do Mal), como do de Marcelo Rebelo de Sousa (líder ou futuro candidato a PR?); o protagonismo do CDS aquecerá em temas como a Segurança, por exemplo; e o combate ao desemprego através das obras públicas, arrefecerá os neoliberais do CDS e do PSD e aquecerá o PCP e o Bloco.

Os que vaticinam o colapso do PSD devido às suas lutas fratricidas deverão estar com problemas de amnésia histórica ou gripe A adaptada ao comentário político, como se não soubéssemos que as conspirações políticas (à esquerda e à direita) sempre existiram, apenas mudando (de quando em vez) os seus protagonistas, enfim parece que querem convencer-nos que o fenómeno é novo e ainda por cima grave.

Posto isto eu cá por mim gostaria que permanecessem no governo Augusto Santos Silva, gosto de homens sem papas na língua e politicamente incorrectos, Pedro Silva Pereira, porque o homem tem um raciocínio lógico-dedutivo invejável, José Vieira da Silva, provou por A+B que certo 'peixe' era podre (falência da Segurança Social tão heuristicamente defendida pelos neoliberais),

Luís Amado e Teixeira dos Santos, são homens intelectualmente sérios, desarmam, com frequência, o terrorismo e os lobbys instalados nos meios de comunicação social, e são portugueses com muita pinta em qualquer lugar do mundo: sabem falar, expor ideias e tratam os adversários políticos com a dignidade que eles merecem.

José Sócrates reaparece recém-convertido, mas nós não esquecemos a sabedoria canónica "mudam-se os tempos, mudam-se as vontades", nada de novo no reino da Dinamarca.

Nos próximos tempos os media tornar-se-ão cada vez mais relevantes, tenderão a chamar a si a governação do país e, curiosamente, essa será mais uma farpa para a sua desvalorização e redignificação.

Nota final: sobre o papel dos media, as ligações perigosas entre a política e as grandes corporações vejam o último filme de Russel Crowe Ligações Perigosas (State of Play), é fácil perceber porque parece que a América está aqui tão perto...

Etiquetas: ,

Partilhar

domingo, outubro 18, 2009

Canções.Mais.Que.Imperfeitas@33

De repente descobri que um dos meus ídolos musicais ainda não tinha sido contemplado neste espaço.
Desde então as humilhações intelectuais que me impõe a minha consciência são infinitas.
Razão tinha o Freud, enfim a consciência (ou falta dela) é um dos grandes males da humanidade.
Ora vamos lá repor a justiça.

Etiquetas:

Partilhar

sexta-feira, outubro 16, 2009

Casamento gay

Afinal o que José Sócrates tinha para propor a Manuela Ferreira Leite não passava de uma espécie de casamento entre dois partidos do mesmo sexo, sem possibilidade de procriação, e sem futuro.

Etiquetas:

Partilhar

Engenharias sociais

Aparentemente parece que o responsável máximo da France Telecom é um cientista social.
Ao que parece a solução utópica de um mercado que regula neutralmente o Estado e a comunidade está à beira de um lay-off muito curioso: as vidas humanas.
Do curioso ranking da France Telecom emerge toda uma filosofia de gestão.
E ainda há por aí quem nos pretenda vender isto como o modelo ideal de contratualização.

Etiquetas:

Partilhar

quinta-feira, outubro 15, 2009

um quadrado e uma cruz...

... não pode ser assim tão complicado!

Assembleia de Apuramento Geral de Resultados - nome pomposo que me tem ocupado nos últimos dois dias, prolongando-se ainda por amanhã. Basicamente, verificam-se as actas, reunem-se os números e... analisam-se os votos considerados nulos.

Eu sei que o voto nulo pode ser uma manifestação de intenção, de falta dela, um protesto, uma mensagem,... Eu sei isso tudo. Mas a par dos votos cruzados, riscados ou escritos, há também as bolas em torno do partido, as rodas dentro ou fora do quadrado, as cruzes ao lado do quadrado... Isto não são votos de protesto, não são votos nulos em consciência... são votos de ignorância.

Um quadrado e uma cruz... Não pode ser assim tão complicado!

Desculpem lá, mas é a primeira vez que me passam pela frente dezenas e dezenas de vontades políticas devidamente identificadas, mas que não são tidas em conta porque o eleitor não soube fazer uma cruz dentro de um quadrado.

Eu percebo que a nossa escolarização ainda não seja a desejada, que o analfabetismo ainda possa ser significativo, que popularidade da Geometria deixe muito a desejar. Mas... um quadrado e uma cruz?!... Não pode ser assim tão complicado!

Sugiro que nas próximas campanhas de sensibilização eleitoral o quadrado e a cruz, em vez de meros figurantes de anúncios publicitários, sejam explicitamente apresentados a toda a gente. Ponha-se o Goucha a brincar às cruzes com as tias, o Jorge Gabriel a mostrar quadrados às avós e promova-se uma tertúlia entre todos com a Fátima Lopes. Faça-se qualquer coisa!

... não pode ser assim tão complicado!

Etiquetas: ,

Partilhar

segunda-feira, outubro 12, 2009

Abstenção e democracia

A subida da abstenção é algo que deveria preocupar-nos. As razões são diversas:
- descredibilização irresponsável dos políticos por meios de comunicação social que respondem acriticamente às agendas ocultas das agências de comunicação e dos seus múltiplos clientes;
- naturalização do debate de ideias à escala privada e afastamento da maior parte da população do debate público, devido tanto a agendas ocultas dos diversos partidos, como a caciquismos locais ou outros fenómenos;
- interesses de esquizofrenia social de grupos diversos (políticos, económicos, culturais) nacionais e supranacionais;
- necessidade de educação e escolarização ainda não interiorizadas pela população que continua encostada a mensagens mistificadoras da superioridade da ignorância e do trabalho manual face ao trabalho intelectual, bem como incompreensão de que o trabalho intelectual é um tipo de trabalho como outro qualquer;
- sistema de ensino repleto de saber abstracto, teórico e que penaliza fortemente a camada da população mais ligada ao concreto. O mesmo não quer dizer que se aplique um conhecimento distinto para as diversas camadas das populações. Regresso de alguns velhos do Restelo travestidos de novas roupagens pretendendo instalar um determinado senso comum: as novas práticas pedagógicas significam menorização do saber e do conhecimento. Uma estratégia bem construída mas cujos resultados serão tão irresponsáveis como as das práticas pedagógicas que contestam;
- desvalorização da cultura popular e entronização de uma cultura de elite, cujo acesso pertence a estratos sociais específicos, articulação com tentativas de impedir o acesso das camadas populares à educação como património da humanidade. Criação de uma outra articulação já devidamente desocultada por pensadores do século XIX, mas cujos motivos ainda continuam fortemente enraizados nas elites e nos corredores dos diversos tipos de poder;
- discursos bafientos e pretensamente doutos, menorização de outros tipos de saber como desnecessários e incultos. Criação de regras homogéneas de saber, estar e ser potenciadoras de exclusão das camadas da população que não tiveram acesso a essas regras, e pedagogias inculcadas num saber que foi naturalizado e sem necessidades de desocultação crítica.
- apologia da passividade e conformismo.

Enfim, deveríamos estar cada vez mais conscientes que a liberdade individual, a igualdade de direitos perante a lei e a democracia andam de mãos dadas. Mas para certas camadas da população educadas pela e na passividade, fortemente penalizadas por diversas circunstâncias históricas, as camisolas continuam a ser costuradas com tecidos velhos. Ironicamente são as camadas populares, preocupadas exclusivamente com a sua sobrevivência e a dos seus filhos, os alvos principais de discursos políticos irresponsáveis (CDS e extrema direita em geral) que pretendem criar um ambiente de legitimação de formas de governo "providenciais" e que contribuem para que a palavra discriminação se revista de contornos anti-democráticos. Enfim, manter na ignorância vastas camadas da população é, afinal, uma velha-nova estratégia e todos deveríamos preocupar-nos com os seus enviesamentos indesejáveis para a democracia.

Um dia destes um comentador assustou-me (Nuno Rogeiro). Afinal, parecia-lhe absolutamente normal um governo legitimado pelas eleições não poder governar, ao que parece havia dúvidas quanto à possibilidade do programa do governo poder ser chumbado pela oposição, daí ser até bastante legítimo (para NG) Cavaco Silva ver-se na contingência de nomear um governo da sua própria iniciativa.
O quê?
Como é que um comentador poderá ser irresponsável a este ponto?
O que significa para esta gente a expressão "eleições democráticas"?
Parece-me que uma postura ética e a decência intelectual são absolutamente necessárias nos tempos que correm.

"Só se obtém o maior efeito fortalecedor da liberdade sobre o carácter quando o indivíduo sobre o qual se actua ou é ou procura ser cidadão tão inteiramente privilegiado como qualquer outro. O que é ainda mais importante do que esta questão de sentimento é a disciplina prática que o carácter adquire pela solicitação acidental aos cidadãos para exercerem qualquer função social, por algum tempo e por sua vez. Não se considera suficientemente quão pouco existe na vida ordinária da maior parte dos homens capaz de lhes proporcionar qualquer largueza, seja de concepção seja de sentimentos. O trabalho deles é rotineiro, não trabalho de amor, mas de interesse próprio numa forma elementar, para satisfação das necessidades quotidianas; nem o que se faz nem o processo para fazê-lo leva o espírito a pensamentos ou a sentimentos que se estendam além de indivíduos; se lhes estão ao alcance livros instrutivos, não há estímulos para lê-los; em muitos casos o indivíduo não tem acesso a qualquer pessoa de cultura muito superior à que possui. Dar-lhe algo para fazer a favor do público supre, até certo ponto, todas essas deficiências. Se as circunstâncias permitirem que seja considerável o volume de obrigações públicas que lhe são confiadas, tornar-se-á educado."

MILL, S. (1967). O Governo Representativo. Lisboa: Arcádia, pp. 84-85.

Stuart Mill é o digno representante da democracia representativa. Apesar de alguns dos seus contestatários considerarem o seu discurso teórico algo ambíguo, nomeadamente no que diz respeito à capacidade económica do seu representante e ao poder legitimado por essa capacidade para participar na vida pública, verificamos nas linhas anteriores uma desocultação das razões que levam alguns representantes pretenderem manter os seus representados na ignorância. Obviamente que a leitura de Marx, o digno representante da democracia participativa, será algo diferente.

"Não é a consciência dos homens que determina o seu ser; é, pelo contrário, o seu ser social que determina a sua consciência."
MARX, K. e ENGELS, F. (1975). Ludwig Feuerbach e o Fim da Filosofia Clássica Alemã e outros textos filosóficos. Lisboa: Editorial Estampa, p. 62.
A adaptação do discurso de Marx na ex-URSS (e não só) foi drástico para a qualidade da democracia e para a vida das populações, ao que parece o bem-estar social tornou-se incompatível com o bem-estar político, económico e cultural (há quem lhe chame outros nomes).
A "ditadura" de um partido, seja ele qual for, torna-se um problema para a qualidade da democracia, talvez todos tenhamos a ganhar com um maior equilíbrio entre as diversas forças partidárias, apesar das inevitáveis debilidades, problemas e maior conflito de interesses. Em Portugal as duas maiorias (PSD e PS) potenciaram (ambas) climas autoritários e restrições à democracia substantiva, apesar de ambas as forças ideológicas pretenderem, em momentos distintos, reescrever a história.

Etiquetas:

Partilhar

domingo, outubro 11, 2009

um momento de partilha...

Já tinha saudades das filas bichas nas mesas de voto! Nos últimos anos, a deslocação à escola para votar tem sido mais rápida que ir à esquina tomar um café. Hoje voltei a ter de esperar em fila bicha. Grande confusão no átrio do pavilhão da escola. Quatro mesas de voto e um emaranhado de pessoas de onde apenas se distinguem duas filas bichas. Questionando os finais das mesmas, constato que nenhuma delas é para a minha mesa... Vou-me aproximando da dita e volto a questionar as filas bichas... Percebo que as mesas 5 e 6 se confundem no espaço. Pessoal, a fila bicha da mesa 5 é junto à parede! - ou seja 50 cm ao lado que fazem toda a diferença. Pequenos protestos, comentários e desabafos, mas as coisas lá se organizaram. Com a minha fila bicha perfeitamente identificada, 15 min de espera foram o suficiente para o cruzamento com algumas caras familiares Já tinha saudades dessa cumplicidade de, de facto, nos sentirmos todos pertença de algo comum...

Entretanto, durante esses 15minutos houve quem, chegado à entrada do pavilhão, tivesse dado meia volta, por não estar na disposição de esperar... É triste...


EDIÇÃO: Atendendo aos reparos comentados, e dando razão aos meus digníssimos leitores, voltei a chamar as coisas pelos nomes... - e é mesmo uma falha indesculpábel.

Etiquetas:

Partilhar

Canções.Mais.Que.Imperfeitas@32

Partilhar

sexta-feira, outubro 09, 2009

Oui, chéri, c'est vendredi


Calvin Harris - I'm not alone

Partilhar

quinta-feira, outubro 08, 2009

Canções.Menos.Que.Perfeitas

Etiquetas: ,

Partilhar

O fundo era uma miragem

Suspeito que depois do próximo mandato de José Sócrates vamos ter de substituir o governo por um piaçá.

Etiquetas:

Partilhar

God Save the Republic

Partilhar

ser eleitor é complicado...

Na secretaria da Junta de Freguesia da terrinha, há duas semanas atrás:

- Bom dia! Queria saber onde posso consultar as listas concorrentes às eleições da Junta.

- (olhar preplexo-perturbado, com ar de quem não gostou de ser interrompido) As listas?! Quais listas?! Das mesas?

- Não. Dos partidos, das pessoas que concorrem à Junta.

- As pessoas que vão estar nas mesas?

- Não é das mesas! Os partidos em que podemos votar aqui para a Junta, as opções que vão aparecer nos boletins de voto.

- Ah, os partidos... Acho que não temos isso... Ó não-sei-quantas, nós temos as listas dos partidos para as eleições?
- As listas das mesas?
- Não! Dos partidos mesmo, para as eleições.
- Isso não temos, só temos as listas das mesas.
- É, não temos. (olhar alheado, com ar de fim de conversa)

Com muito pesar da senhora, a conversa ainda continuou mais dois minutos, durante os quais remexeu nuns papéis para procurar os contactos da Câmara - Ligue para lá que eles informam-na!

imagem

Etiquetas: ,

Partilhar

Noiserv!

David Santos com o projecto Noiserv é -na minha opinião- das iniciativas musicais mais originais e coerentes que surgiram recentemente da cada vez menos pacata cidade de Lisboa. Sozinho, ou melhor acompanhado por uma designer que vai desenhando durante os vários temas as histórias que David conta com música. Desenhos projectados numa tela branca por trás de si.
Noiserv abriu as três noites do Coliseu de Lisboa dedicadas ao projecto Amália Hoje.
"Ainda há uns tempos estava aí desse lado a imaginar como é que seria estar aqui e ...as pessoas estavam era de pé.... mas não deve ser diferente" declarou por entre a interpretações das suas composições. Noiserv, depois de uma digressão nacional e também por terras germânicas, conseguiu conquistar os Coliseu de Lisboa. É merecido!

Ora vejam: http://www.youtube.com/watch?v=44vdg1HJsE0



Partilhar

terça-feira, outubro 06, 2009

Canções.Mais.Que.Imperfeitas@31

Dez anos após a sua morte Amália continua a renovar-se enquanto símbolo nacional.
Amália foi das personalidades nacionais que mais contestou a dualidade intransponível entre a cultura popular e a erudita e identifica-se, por isso, com Portugal e com todos os portugueses.

Etiquetas:

Partilhar

segunda-feira, outubro 05, 2009

Implantação da República

"Não existe eschola alguma; existem apenas homens que sabem pensar e escrever com independencia. Todavia ha quem ache conveniente servir-se d'esta designação para comprometter esses homens tornando-os solidarios com as incoerencias e futilidades de gente que se dá por honrada em vêr-se reprovada em tão boa companhia."

As theocracias litterárias
Novembro de 1865,
Teófilo Braga

A teocracia literária é apenas uma forma de teocracia. Este texto é um excelente ponto de partida para uma reflexão mais ampla e significa tão só essa espécie rara de pensamento que pretende impor-se ao dos outros. A história da humanidade é repleta de equívocos de pensamento e respectivas teocracias. Contudo, também é verdade que um equívoco teórico só poderá transformar-se em verdadeiro equívoco após a sua implementação prática. A sua implementação prática corresponde a ganhos perante os concorrentes, caminho aberto para se transformar no pensamento dominante, logo a teocracia do momento.
Actualmente estamos em plena era de mudança, à teocracia do mercado pretende impor-se outra teocracia, as alternativas são distintas e antagónicas. Esperemos que os ganhos da nova ordem sejam mais substantivos que as perdas da anterior.

Viva a República!

Etiquetas:

Partilhar

domingo, outubro 04, 2009

O conflito de gerações há-de acabar!



Partilhar

Canções.Mais.Que.Imperfeitas@30

Partilhar

sexta-feira, outubro 02, 2009

Top GF Esmiúça os Entrevistados

No meu top, estão, por ordem de aparição, Garcia Pereira, Pedro Santana Lopes e Rui Rio. Foram os que melhor se comportaram durante as entrevistas. Não estavam borradinhos de medo de se entalarem no programa, não levaram gracinhas pré-cozinhadas e estiveram-se completamente nas tintas para o cenário.

Pedro Santana Lopes tem o bónus de ter levado gravata, acessório que todos os outros que habitualmente a usam deixaram no camarim para dar aquele ar do porreiro, pá!
Partilhar

Oui, chéri, c'est vendredi

Empire of the Sun - We Are The People
Partilhar

quinta-feira, outubro 01, 2009

uma música para hoje...

Dia Mundial da Música - tenho de publicar no GR! Na aparelhagem toca o piano de João Paulo... - não há vídeos... Um olhar rápido de alto a baixo na estante dos CD's... Vou falar de quem?... Alguém que eu ainda não tenha convidado... Já falei... já falei... já falei... - eh, pá, já falei de muita gente! E na prateleira da alegada world music - portuguesa! pois claro - ao lado de Isabel Silvestre está Dulce Pontes: O Primeiro Canto. É o único que tenho da senhora, mas recomendo-o do início ao fim.

Há uma certa relutância em relação a Dulce Pontes que nunca percebi muito bem. Tem uma voz peculiar, explorando num timbre muito próprio uma considerável extensão de escala. Respeito-lhe também a preocupação com a tradição, trazendo ao de cima cantares, poemas ou ambientes com memória. Mais que a voz lírica ou fadista, é esta voz miscigenada de mundos e sons que mais lhe aprecio. E deixo-vos com o tema que dá nome ao disco.



Etiquetas: , ,

Partilhar