Blitz, adolescência, religião e música
O jornal Blitz está para a minha adolescência tardia como a Bíblia para a religião católica.
Não, juro que não estou a brincar com assuntos sérios.
Não, não é verdade e peço desde já desculpa pela heresia.
Não, não pretendo, de todo, brincar com crenças e tradições seculares.
Não, não há certos senhores, por aí, que pensam ser mais crentes do que eu.
Não, não os corro com fonéticas escarpadas ao vento
- é pá, vai mas é pregar para outra freguesia, pois na minha quem manda sou eu!
Não é que se resolve desde logo a aleivosia e sem recurso a caçadeira, enxada, ancinho, arma branca ou conluio com um agente de comunicação à paisana, político ou empresário com desaguisados e/ou desinteresses?
Sim, e sem atritos ou desconfianças mútuas, cada um segue o seu caminho desrespeitando o do outro.
Sim, provavelmente fui mais fiel ao Blitz do que a outros pasquins, igualmente canónicos.
Sim, recorri muitas vezes à confissão, onde foi limado o meu analfabetismo.
Não, não seria vidrada nos Smiths, António Variações, Pop Dell'Arte, Joy Division, Essa Entente, Rui Veloso, Bob Dylan, Carlos Tê, Jafumega, Anamar, Mler If Dada, Sérgio Godinho, Beatles, Rolling Stones, Neil Young, Bob Marley, Bauhaus, David Bowie, Police, Zeca Afonso, Tom Jobim, Ella Fitzgerald, Essa Entente, música soul, entre outros.
Não, não teria conhecido o MEC, a Escrítica Pop e a New Wave.
Não, nada de música moderna portuguesa.
Sim, teria tido uma adolescência literal e metafórica nos confins do interior, sem pastorícia, mas com rio.
Não, jamais me teria cruzado com outros sacramentos religiosos: rádio pirata, Penedo de Castro, motorizada casal de 5 velocidades, dossier com poesia manuscrita.
Não, jamais teria sido defrontada com uma alegoria: nevoeiro, silêncio, palavras e música.
Sim, jamais teria dedicado tempo a outro tipo de parábolas: bordados, renda, estudos e introspecção filosófica.
Sim, jamais teria sido uma adolescente arrebatada, fanática, expansiva, avessa ao enclausuramento interior, impulsões idílicas, estados de alma insignes e delírios psicóticos.
Sim, as semelhanças/diferenças entre as adolescências está nas suas relações (desrelações) com a religião.
Sim, as semelhanças são simples, todas as adolescências são adornadas com pitadas de luta geracional e desrespeito pela autoridade, a verdadeira diferença reside na presença (ou ausência) de um Deus (ou vários) para servir de consolo perante as injustiças.
Sim, nenhuma religião convive com outras sem duas articulações harmoniosas: autoridade e discriminação.
Sim, a verdadeira essência de qualquer religião é a construção de um argumentário em torno da insignificância das suas concorrentes.
Sim, também praticámos determinados rituais. O Blitz era uma espécie de Bíblia interactiva, discutíamos metáforas e leituras literais directamente com os profetas. Como? Através de epístolas, troca de ideias e/ou histórias alegóricas nas páginas dos leitores.
Sim, foi através dessa secção que troquei correspondência com crentes de todo o país e com interpretações metafóricas (ou literais) comuns (música moderna portuguesa e música popular).
Sim, era através desse manancial primordial que alimentava um programa de rádio para leigos.
Sim, participei activamente na renovação da igreja, pois dei voz a novos profetas dando a conhecer melodias que ansiavam pregação.
Sim, entrementes surgem dois templos, um chamado Rock Rendez-Vous e o outro Ama Romanta, os dois são responsáveis pelo rejuvenescimento da celebração eucarística.
Sim, foi nessa altura que surgiram representantes de novas ideias, concursos de música moderna e fanzines dedicados a outras interpretações do cânone musical.
Sim, as adolescências são mortificação, renúncia, tormento, condenação e suplício.
Sim, entre adornos, crenças e muita devoção.
Sim, dos confins das minhas memórias blitzianas surge alguém com uma expressão relativamente séria, sardónica e exclamativa: sabes bem que o carteiro raramente toca duas vezes.
Sim, talvez aquele indivíduo (o carteiro) seja responsável por um certo preconceito.
Sim, se há um intérprete incompetente, logo há uma incompreensão latente perante crises existenciais alheias.
Sim, o Blitz foi a minha Bíblia durante anos e anos e só há coisa de pouco tempo consegui atirar para o papelão resmas de papel amarelado e recalcitrante que teimaram em acotovelar-se no sótão da minha casa.
Sim, cortar amarras com o passado custa.
Sim, apagarei as velas do Blitz.
Não, nem uma pitada de desressentimento juvenil.
Não, juro que não estou a brincar com assuntos sérios.
Não, não é verdade e peço desde já desculpa pela heresia.
Não, não pretendo, de todo, brincar com crenças e tradições seculares.
Não, não há certos senhores, por aí, que pensam ser mais crentes do que eu.
Não, não os corro com fonéticas escarpadas ao vento
- é pá, vai mas é pregar para outra freguesia, pois na minha quem manda sou eu!
Não é que se resolve desde logo a aleivosia e sem recurso a caçadeira, enxada, ancinho, arma branca ou conluio com um agente de comunicação à paisana, político ou empresário com desaguisados e/ou desinteresses?
Sim, e sem atritos ou desconfianças mútuas, cada um segue o seu caminho desrespeitando o do outro.
Sim, provavelmente fui mais fiel ao Blitz do que a outros pasquins, igualmente canónicos.
Sim, recorri muitas vezes à confissão, onde foi limado o meu analfabetismo.
Não, não seria vidrada nos Smiths, António Variações, Pop Dell'Arte, Joy Division, Essa Entente, Rui Veloso, Bob Dylan, Carlos Tê, Jafumega, Anamar, Mler If Dada, Sérgio Godinho, Beatles, Rolling Stones, Neil Young, Bob Marley, Bauhaus, David Bowie, Police, Zeca Afonso, Tom Jobim, Ella Fitzgerald, Essa Entente, música soul, entre outros.
Não, não teria conhecido o MEC, a Escrítica Pop e a New Wave.
Não, nada de música moderna portuguesa.
Sim, teria tido uma adolescência literal e metafórica nos confins do interior, sem pastorícia, mas com rio.
Não, jamais me teria cruzado com outros sacramentos religiosos: rádio pirata, Penedo de Castro, motorizada casal de 5 velocidades, dossier com poesia manuscrita.
Não, jamais teria sido defrontada com uma alegoria: nevoeiro, silêncio, palavras e música.
Sim, jamais teria dedicado tempo a outro tipo de parábolas: bordados, renda, estudos e introspecção filosófica.
Sim, jamais teria sido uma adolescente arrebatada, fanática, expansiva, avessa ao enclausuramento interior, impulsões idílicas, estados de alma insignes e delírios psicóticos.
Sim, as semelhanças/diferenças entre as adolescências está nas suas relações (desrelações) com a religião.
Sim, as semelhanças são simples, todas as adolescências são adornadas com pitadas de luta geracional e desrespeito pela autoridade, a verdadeira diferença reside na presença (ou ausência) de um Deus (ou vários) para servir de consolo perante as injustiças.
Sim, nenhuma religião convive com outras sem duas articulações harmoniosas: autoridade e discriminação.
Sim, a verdadeira essência de qualquer religião é a construção de um argumentário em torno da insignificância das suas concorrentes.
Sim, também praticámos determinados rituais. O Blitz era uma espécie de Bíblia interactiva, discutíamos metáforas e leituras literais directamente com os profetas. Como? Através de epístolas, troca de ideias e/ou histórias alegóricas nas páginas dos leitores.
Sim, foi através dessa secção que troquei correspondência com crentes de todo o país e com interpretações metafóricas (ou literais) comuns (música moderna portuguesa e música popular).
Sim, era através desse manancial primordial que alimentava um programa de rádio para leigos.
Sim, participei activamente na renovação da igreja, pois dei voz a novos profetas dando a conhecer melodias que ansiavam pregação.
Sim, entrementes surgem dois templos, um chamado Rock Rendez-Vous e o outro Ama Romanta, os dois são responsáveis pelo rejuvenescimento da celebração eucarística.
Sim, foi nessa altura que surgiram representantes de novas ideias, concursos de música moderna e fanzines dedicados a outras interpretações do cânone musical.
Sim, as adolescências são mortificação, renúncia, tormento, condenação e suplício.
Sim, entre adornos, crenças e muita devoção.
Sim, dos confins das minhas memórias blitzianas surge alguém com uma expressão relativamente séria, sardónica e exclamativa: sabes bem que o carteiro raramente toca duas vezes.
Sim, talvez aquele indivíduo (o carteiro) seja responsável por um certo preconceito.
Sim, se há um intérprete incompetente, logo há uma incompreensão latente perante crises existenciais alheias.
Sim, o Blitz foi a minha Bíblia durante anos e anos e só há coisa de pouco tempo consegui atirar para o papelão resmas de papel amarelado e recalcitrante que teimaram em acotovelar-se no sótão da minha casa.
Sim, cortar amarras com o passado custa.
Sim, apagarei as velas do Blitz.
Não, nem uma pitada de desressentimento juvenil.
Etiquetas: 25 anos de Blitz
1 Comments:
Também fui "crente".
O Blitz marcou, pronto, nada a fazer.
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