saudades do Filipe...
No sentido de... digamos, de me "cultivar politicamente", sempre li atentamente a opinião do Filipe, pois, sem qualquer pretensiosismo, ele falava de uma mudança pessoal de estádios, referindo claramente uma posição inicial - primária e natural - que eu sempre achei inevitável... Isto porque eu não acho natural nascer-se de direita! Numa inocente, ingénua ou mesmo ignorante teoria, tenho para mim que, em condições normais - seja lá o que isso for! -, todos somos inicial e naturalmente de esquerda... A força das circunstâncias - seja também o que isso for! - é que nos traz novas ideologias...
Mas dizia eu que tenho saudades do Filipe...
Integrando eu, infelizmente, os tais 60 e muito % da população e estando ainda a atravessar uma adolescência política tardia, continuo a perguntar-me quando é que as "ideias correctas" deixaram de ser comunistas... ou ainda quando é que as ideias comunistas deixaram de ser "ideias correctas"...
Mas dizia eu que tenho saudades do Filipe...
«Na adolescência, não tinha dúvidas: não só a Esquerda era a melhor solução possível, como a existência de uma coisa chamada Direita me era inexplicável. Não era a Esquerda pela igualdade, pela liberdade, pelo fim da pobreza, pelo fim das desigualdades sociais? E não eram esses objectivos os mais nobres dos objectivos? [...] o meu mundo era claro como a água. De um lado, os bons: a Esquerda. Do outro, os maus: a Direita. O único senão deste esquema eram os regimes comunistas [...] Via-os como uma degenerescência dos ideais da Esquerda, mas, por qualquer razão obscura, não os ligava às ideias em si, mas aos homens que as levaram à prática. [...] E acabava por refugiar-me no subconsiente: se determinada ideia era boa, é porque era de Esquerda. Douta ignorância! Até que encontrei a minha estrada de Damasco. Não propriamente a que me converteu, mas a que me educou. A que me ensinou que Esquerda e Direita eram só diferentes, sem que o Senhor Deus se tivesse alguma vez pronunciado sobre a validade absoluta de ambas.»
«a maior parte das pessoas, pura e simplesmente, está-se nas tintas para saber se tal ou tal política é mais de Lenine, Burke, Reagan ou nórdica. Havendo sol no Verão e chuva no Inverno, 60 e muito % da população mundial passa bem sem discussões intelectuias sobre o neo-liberalismo ou o socialismo democrático. E, vejamos: o comunismo ruiu, as teocracias ruiram (vão ruindo...), o capitalismo, provavelmente, vai ruir. Quem nos pode garantir o que quer que seja? Em muito que pese aos velhos profetas de Esquerda, ou aos novos profetas de Direita, a humanidade patenteia uma imprevisibilidade desconcertante, de mistura com uma acentuada propensão para a mudança.»
Integrando eu, infelizmente, os tais 60 e muito % da população e estando ainda a atravessar uma adolescência política tardia, continuo a perguntar-me quando é que as "ideias correctas" deixaram de ser comunistas... ou ainda quando é que as ideias comunistas deixaram de ser "ideias correctas"...
Etiquetas: Capitalismo, Comunismo, Direita, Esquerda, Política, Post com dedicatória
6 Comments:
até eu concordo
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On a slightly different matter, o que é que é feito desse gajo?
Tb tenho saudades dos posts do Filipe.
Muito obrigado a todos pelas palavras simpáticas!
Cristina: não será antes que as ideias comunistas nunca foram "ideias correctas"?
Luis: eu sou como o outro, pá: ando por aí...
Abraços
Filipe!!! Sejas, de novo, bem-vindo!
Quanto às ideias comunistas... Achas mesmo???... Mas então a «igualdade, a liberdade, o fim da pobreza, o fim das desigualdades sociais»... Em algum momento isso são/foram - têm de ser! - "ideias correctas", não?!...
Cristina: o problema é que essas não serão bem as ideias comunistas, nem serão só ideias comunistas. Pelo menos a parte da Liberdade e do fim da pobreza, é coisa que nunca se viu em nenhum local do mundo onde os partidos comunistas efectivamente governaram (bem pelo contrário). E, quanto a dizer-se que o problema esteve nas pessoas, e não nas ideias, parece-me que nem merecerá comentários...
Grande abraço. Eu ando por ai...
A parte do «essas não serão bem as ideias comunistas»... para eu perceber tem de ser melhor explicada... Quanto ao «nem serão só ideias comunistas», tudo bem!
Relativamente aos governos comunistas, às pessoas e às ideias, não acho que dispense comentários. É claro que dizer que o problema está nas pessoas e não nas ideias é querer tapar o sol com a peneira. No entanto, há, claramente, mais alguma coisa entre o comunismo "teórico" e o comunismo "prático", entre o comunismo idealista e o comunismo que governa...
Não me custa aceitar que as ideias comunistas sejam idílicas e não exequíveis, mas ainda não me habituei a ver essas ideias como algo mau... - coisa que parece estar cada vez mais "na moda"...
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