Esquerda / Direita: um depoimento pessoal
Na adolescência, não tinha dúvidas: não só a Esquerda era a melhor solução possível, como a existência de uma coisa chamada Direita me era inexplicável. Não era a Esquerda pela igualdade, pela liberdade, pelo fim da pobreza, pelo fim das desigualdades sociais? E não eram esses objectivos os mais nobres dos objectivos? Armado destas certezas, convenientemente regadas pela arrogância típica da juventude e pela ignorância em que então navegava, o meu mundo era claro como a água. De um lado, os bons: a Esquerda. Do outro, os maus: a Direita. O único senão deste esquema eram os regimes comunistas, que, à época, eram uma memória recente. Via-os como uma degenerescência dos ideais da Esquerda, mas, por qualquer razão obscura, não os ligava às ideias em si, mas aos homens que as levaram à prática. Entretanto, ia lendo coisas. Porém – e aqui está o problema -, como dava por adquirido que a Esquerda estava certa e a Direita errada, limitava-me a ler obras de Esquerda, ignorando as de Direita. Por três ou quatro anos, encharquei-me de obras originais ou manuais de divulgação sobre a Esquerda, o marxismo, a Social-democracia, o Socialismo democrático, etc, etc, etc. Certas distinções mais ou menos metafísicas enchiam-me o olho. Da palavra "Socialismo", por exemplo, encontrei dezenas e dezenas de definições. E, como é evidente, quanto mais eu lia obras esquerdistas menos percebia o que fosse a Direita. Mas o que é curioso é que também menos percebia o que fosse a Esquerda. E acabava por refugiar-me no subconsiente: se determinadaa ideia era boa, é porque era de Esquerda. Douta ignorância! Até que encontrei a minha estrada de Damasco. Não propriamente a que me converteu, mas a que me educou. A que me ensinou que Esquerda e Direita eram só diferentes, sem que o Senhor Deus se tivesse alguma vez pronunciado sobre a validade absoluta de ambas. Esse momento, consigo-o precisar com relativa facilidade: tratou-se da invasão do Iraque. Quando se começou a falar no assunto, aí por 2002, indignei-me. Guerras, nunca. E, como mais ou menos isto era defendido pela Esquerda, isso era mais uma prova de que era a posição correcta. Acontece que, então, tentei esta coisa medonha: ler o que diziam aqueles que eram potencialmente favoráveis. Sobretudo no Expresso, cujos textos comentava com os meus colegas da Residência Universitária. Paulatinamente, apercebi-me desta coisa tremenda: do lado dos “belicistas” havia ideias, argumentos, ponderações de riscos e cálculos para o Futuro, enquanto que os “pacifistas” pouco mais apresentavam do que uma simples ladainha: “guerra não, porque não”. Tornei-me, aos poucos, partidário da estratégia americana. Às vezes, discute-se se os artigos de opinião podem influenciar alguém. Naquela altura, pelo menos a mim influenciaram. Entretanto, à volta do assunto, ainda que de forma um tanto ou quanto abusiva, ia-se discutindo a questão de Esquerda vs Direita. O que me interessou. Pouco depois, comprava e lia o livro que, definitivamente, me influenciou: uma coisa chamada A Direita e as Direitas, de Jaime Nogueira Pinto. Bem podem dizer que é um livro interessado (e qual não o será, nestes assuntos?). O certo é que, se não fez de mim uma pessoa de Direita, levou-me a esta simples conclusão: ser de Direita é só pôr os problemas de determinada(s) maneira(s), e dar-lhes determinada(s) resposta(s). Só. E se isto não chega para me converter, chega, pelo menos, para fazer de mim, como aqui já referi, uma pessoa do Extremo-Centro. Assumida e convictamente. Como é que isto se coaduna com o sistema partidário português, é assunto para outras conversas.
6 Comments:
Que livros de teóricos de esquerda leste? E de direita, só leste o Jaime Nogueira Pinto? Quanto tiver tempo, tenho de ler sobre isso!
Pois eu nunca consegui concordar com a invasão do Iraque. Revoltavam-me muito os métodos do regime de Sadamm Hussein: a chantagem à população, as purgas, a distribuição da riquesa por uma elite. Hoje revolta-me muito a forma (e as deculpas) como os EUA invadiram o Iraque. E o fundamentalismo cada vez mais forte no Iraque.
jaime nogueira pinto: é um tipo brilhante, e tem o mérito de desmontar certos mitos ligados ao 24 de abril, como o de humberto delgado.
MAS, CUIDADO, CARO FILIPE. o jaime nogueira pinto tem como actividade principal fazer lobbie, servindo de ponte entre políticos africanos corruptos e a direita norte-americana (mas não neocon).é além do mais extremamente desonesto enquanto docente universitário. «ensina» numa universidade pública. tem uma única cadeira semestral, da qual dá apenas 2 ou no máximo 3 aulas. para ter boa nota no exame, é preciso dizer bem do salazar e dos americanos. para brilhar no exame, convém ir ao site da heritage foundation, e decorar tudo o que lá vem.
quanto à estratégia americana, o pedro silva tem toda a razão. a estratégia americana é tão má que até os neocons estão a fazer marcha atrás, a ver como é que se safam da embrulhada em que meteram o país.
Depois do 11 de Setembro, estavam à espera de quê? Quem se mete com os americanos, leva! E nem podia deixar de ser depois do que aconteceu.
mac, se é assim que achas que se resolvem os problemas do mundo, tudo bem...
não está dar resultado. mas enfim...
cão rafeiro,
Não é assim que eu espero que se resolvam os problemas. Mas já não conhecem a política externa norte americana? pergunto outra vez, estavam à espera de quê? De falinhas mansas?
Enviar um comentário
Voltar à Página Inicial