Falar de Blogues na primeira pessoa - Parte II
Dirigi-me novamente para o meu lugar na esplanada e sentei-me. Estiquei as pernas, deixei-me escorregar lentamente pela cadeira como se estivesse a descontrair, e resguardei as mãos por debaixo da mesa. O objectivo era ganhar ângulo suficiente para conseguir observar as minhas mãos de uma forma "discreta", não fosse o homem ainda estar a olhar, e desconfiar da "estória" que eu lhe tinha acabado de contar. Enquanto constatava aliviado que as trepidações estavam a abrandar, assustei-me com a proximidade de um vulto no meu lado esquerdo. Olhei, e era a minha mulher. Encontrava-se de pé, ligeiramente inclinada de lado, com a cabeça quase junto à minha, e olhava também para debaixo da mesa. Antes mesmo de me dizer olá e de me cumprimentar, perguntou-me o que é que eu estava a fazer. Tentei-lhe explicar o motivo de, aparentemente, tão estranho comportamento, mas ela fez uma expressão esquisita, e disse-me logo que eu estava cada vez mais maluco e que não via melhoras. Parte de mim até concordou com ela, contudo, a outra parte, porque já eram 18h40, concentrou-se o mais que podia nas anotações. Depois daquela reacção, achei por bem não lhe contar a "estória" do adeus, não fosse ela ficar ainda mais preocupada com a minha saúde mental, e começar a pensar que eu estava mesmo a precisar de ser internado com urgência.
Sentou-se, pediu um café, e perguntou-me se estava preparado. Encolhi os ombros com um ar despreocupado, contei-lhe que já tinha escrito várias vezes sobre o assunto no «Geração Rasca», e que só teria de procurar evitar repetir-me, apesar de saber que a maioria das pessoas que iriam estar na Almedina não teriam conhecimento dos meus posts. Para além do mais, as pessoas queriam era ouvir os outros convidados, mas que procuraria dizer, em pouco tempo, algumas coisas interessantes e tentar animar o ambiente. Quando olhei para o relógio, já eram 18h45. Acenei com a cabeça na direcção da escadaria, para dizer que tínhamos que ir andando, levantámo-nos, e seguimos na direcção da Almedina. Estava a sentir-me muito melhor, e até a música já era outra.
Subimos os dois lances de escadas e às portas da Almedina já se encontrava um aglomerado de pessoas, todas a conversar em grupinhos. A esmagadora maioria eram mulheres. Olhei em redor e não vi ninguém que eu conhecesse pessoalmente. De vez em quando, ouvia no meio do burburinho alguém a pronunciar o meu nome. "O André Carvalho"... qualquer coisa, ou, qualquer coisa... "o André Carvalho". Pensei para com os meus botões, "É o preço da fama”.
Antes de entrarmos, e enquanto dividíamos um cigarro, acordámos que deveria tentar sentar-se o mais à frente possível, para me dar algum feedback. Como ela ainda tinha de passar no escritório, deliberámos que mal o último orador terminasse de falar, ela sairia. Como a parte das perguntas e respostas costuma ser mais ou menos longa e o escritório era ali perto, ainda voltaria a tempo, e depois, poderíamos ir jantar com alguns amigos e dar um pezinho de dança a qualquer lado.
Com as combinações todas feitas, apaguei a beata no único cinzeiro das redondezas, e mal entrámos, reconheci logo a voz grave e colocada, tipo locutor de rádio, de José Carlos Abrantes. Encontrava-se entretido, junto a um balcão, a falar com um funcionário da livraria. Passei de fininho em direcção à sala, de forma a ainda tentar arranjar um lugar lá à frente para a Cristina. Pelo caminho cruzámo-nos com o Pedro Mexia, mas só eu é que reparei. Não havia sinais do Francisco José Viegas e quanto à Rita e à Sofia, não fazia ideia de quem seriam.
No auditório, os lugares da frente estavam quase todos vagos, marcámos o lugar mais central da primeira fila com um dossier, e dirigimo-nos novamente para a saída. Só lá estava há 1 minuto e já estava mesmo... mesmo, a precisar de apanhar ar. A meio do caminho ia chocando com José Carlos Abrantes. Cumprimentos e apresentações feitas, virou-se para a minha mulher e perguntou-lhe num jeito claramente introspectivo: "Também se queixa muito dos blogues?” Felizmente que, antes de lhe responder, ela olhou para mim de soslaio. Abri muito os olhos com um ar grave... e ela respondeu-lhe com um encolher de ombros e um sorriso conformado. Fiquei bastante aliviado por ela se ter conseguido conter. Cada vez que alguém lhe fala em blogues, diz sempre que odeia blogues, e que são uma coisa para pessoas com problemas psicológicos que não têm mais nada de interessante para fazer. O pior desta conversa toda é que eu costumo arranjar argumentos para todos os gostos mas, nem sei bem porquê, cada vez que ela diz isto, dou sempre comigo a pensar se não será mesmo assim.
[continua…]
Falar de Blogues na primeira pessoa - Parte I
Sentou-se, pediu um café, e perguntou-me se estava preparado. Encolhi os ombros com um ar despreocupado, contei-lhe que já tinha escrito várias vezes sobre o assunto no «Geração Rasca», e que só teria de procurar evitar repetir-me, apesar de saber que a maioria das pessoas que iriam estar na Almedina não teriam conhecimento dos meus posts. Para além do mais, as pessoas queriam era ouvir os outros convidados, mas que procuraria dizer, em pouco tempo, algumas coisas interessantes e tentar animar o ambiente. Quando olhei para o relógio, já eram 18h45. Acenei com a cabeça na direcção da escadaria, para dizer que tínhamos que ir andando, levantámo-nos, e seguimos na direcção da Almedina. Estava a sentir-me muito melhor, e até a música já era outra.
Subimos os dois lances de escadas e às portas da Almedina já se encontrava um aglomerado de pessoas, todas a conversar em grupinhos. A esmagadora maioria eram mulheres. Olhei em redor e não vi ninguém que eu conhecesse pessoalmente. De vez em quando, ouvia no meio do burburinho alguém a pronunciar o meu nome. "O André Carvalho"... qualquer coisa, ou, qualquer coisa... "o André Carvalho". Pensei para com os meus botões, "É o preço da fama”.
Antes de entrarmos, e enquanto dividíamos um cigarro, acordámos que deveria tentar sentar-se o mais à frente possível, para me dar algum feedback. Como ela ainda tinha de passar no escritório, deliberámos que mal o último orador terminasse de falar, ela sairia. Como a parte das perguntas e respostas costuma ser mais ou menos longa e o escritório era ali perto, ainda voltaria a tempo, e depois, poderíamos ir jantar com alguns amigos e dar um pezinho de dança a qualquer lado.
Com as combinações todas feitas, apaguei a beata no único cinzeiro das redondezas, e mal entrámos, reconheci logo a voz grave e colocada, tipo locutor de rádio, de José Carlos Abrantes. Encontrava-se entretido, junto a um balcão, a falar com um funcionário da livraria. Passei de fininho em direcção à sala, de forma a ainda tentar arranjar um lugar lá à frente para a Cristina. Pelo caminho cruzámo-nos com o Pedro Mexia, mas só eu é que reparei. Não havia sinais do Francisco José Viegas e quanto à Rita e à Sofia, não fazia ideia de quem seriam.
No auditório, os lugares da frente estavam quase todos vagos, marcámos o lugar mais central da primeira fila com um dossier, e dirigimo-nos novamente para a saída. Só lá estava há 1 minuto e já estava mesmo... mesmo, a precisar de apanhar ar. A meio do caminho ia chocando com José Carlos Abrantes. Cumprimentos e apresentações feitas, virou-se para a minha mulher e perguntou-lhe num jeito claramente introspectivo: "Também se queixa muito dos blogues?” Felizmente que, antes de lhe responder, ela olhou para mim de soslaio. Abri muito os olhos com um ar grave... e ela respondeu-lhe com um encolher de ombros e um sorriso conformado. Fiquei bastante aliviado por ela se ter conseguido conter. Cada vez que alguém lhe fala em blogues, diz sempre que odeia blogues, e que são uma coisa para pessoas com problemas psicológicos que não têm mais nada de interessante para fazer. O pior desta conversa toda é que eu costumo arranjar argumentos para todos os gostos mas, nem sei bem porquê, cada vez que ela diz isto, dou sempre comigo a pensar se não será mesmo assim.
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Falar de Blogues na primeira pessoa - Parte I
5 Comments:
Quantas partes é que isto vai ter? É que já vais na segunda e a conversa ainda não começou!
Não sei se o meu coração vai aguentar tanto "suspense"...
E depois? o que aconteceu depois?
Beijos
Olá Pitucha,
Como já existem registos sonoros de todo o encontro, a "coisa" deve ficar resolvida com mais dois posts. ;)
OK, estamos bem embalados, sim senhor!
Esperando ansiosamente a continuação, deixo-te a costumeira beijola.
Como não fui e gostava de ter ido, também fico a aguardar o resto.
Cá esperamos a Parte II!
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