uma casa portuguesa: os sobreviventes
É o primeiro álbum de Sérgio Godinho e data de 1972 - anos 70, portanto ;) Muitos anos passaram, muitos álbuns foram editados e muitas, muitas músicas/letras saíram da mão de Godinho. Mas «Os Sobreviventes» é, para mim, claramente um dos melhores álbuns do senhor. Canções de vivências, de amor, de protesto e retrato social - uma excelente amostra do que viria a ser um excelente percurso.
vim
ao mundo por acaso
em Portugal, não tenho pátria
sou sozinho e sou da cama dos meus pais
[DESCANÇA A CABEÇA (ESTALAJADEIRA)
Trazes em ti mais do que te deiao mundo por acaso
em Portugal, não tenho pátria
sou sozinho e sou da cama dos meus pais
[DESCANÇA A CABEÇA (ESTALAJADEIRA)
Paula até já
[PAULA
farto de voar
pouso as palvras no chão
[FARTO DE VOAR
nascidos do mesmo ventrepouso as palvras no chão
[FARTO DE VOAR
um vive de joelhos p’ró outro passar à frente
[CANTIGA DA VELHA MÃE E DOS SEUS DOIS FILHOS
olhai a linda Joana
que linda que ela vai [...]
olhai a feia Alcina
que feia que ela vai
[A LINDA JOANA
que linda que ela vai [...]
olhai a feia Alcina
que feia que ela vai
[A LINDA JOANA
Deste primeiro álbum, perduraram músicas como «O Charlatão», «Senhor Marquês», «Romance de Um Dia na Estrada» ou «Maré Alta». E, pessoalmente, "Que Força é Essa" - a primeira música do álbum - é das minhas indiscutíveis referências do músico (da qual há uma excelente versão no «Irmão do Meio», com a parceria perfeita de José Mário Branco).
que força é essa, amigo
que te põe de bem com os outros
e de mal contigo
[QUE FORÇA É ESSA
entre a rua e o paísque te põe de bem com os outros
e de mal contigo
[QUE FORÇA É ESSA
vai o passo de um anão
[O CHARLATÃO
olhe pra aqui uma vez
senhor Marquês
do bairro de lata
[SENHOR MARQUÊS
e eu que falava de estradassenhor Marquês
do bairro de lata
[SENHOR MARQUÊS
e só conhecia atalhos
e ela a mostrar-me caminhos
[ROMANCE DE UM DIA NA ESTRADA
aprende a nadar companheiro
que a maré se vai levantar
que a liberdade está a passar por aqui
[MARÉ ALTA
que a maré se vai levantar
que a liberdade está a passar por aqui
[MARÉ ALTA
Lançado num Portugal onde o lápiz azul era mais que um mero objecto de colorir, a venda legal do álbum foi autorizada e retirada consecutivas vezes... «Acho que não sabiam o que fazer com aquilo que outros tinham criado. Era um bocado o retrato do Marcelismo, um ziquezaguear entre aberturas e depois cobardias, afrouxar e voltar a apertar para provar que se está no poder.» [SG, in "Retrovisor" de Nuno Galopim, p.47]
vivo com uma faca enterrada nas costas, ai!
que bom que é
que bom que é
[QUE BOM QUE É
A-A-E-I-O bate na neta quem bateu na avóA-A-E-E-I bate na neta quem bateu em ti
A-E-I-O-U se a canção não te agrada mete-a no…
[A-A-E-I-O
Às minhas mãos o álbum chegou apenas há alguns anos, sem censura de qualquer espécie e já na versão CD. Ouvi-o repetidamente vezes sem conta. Apesar do álbum ter mais de 30 anos, para mim, o conjunto era novidade e algumas músicas eram verdadeiros inéditos! Uma obra enquadrada pelo seu tempo (com algumas músicas claramente datadas), mas um conjunto que lhe... sobrevive!
Sem dúvida, um álbum fundamental na discografia de Sérgio Godinho e no panorama geral da Música Popular Portuguesa (MPP).
imagens: capa e contra-capa do álbum
Etiquetas: Música, os anos setenta, uma casa portuguesa
1 Comments:
Foram as minhas canções de embalar.
Ainda hoje as sei todas de cor.
Cantei-as ao meu filho :)
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