segunda-feira, abril 02, 2007

A Memória dos Dias (Fausto)

Correste a dizer que o dia vinha às portas da saudade
E cobriste de mil flores as varandas da cidade

Ao cantar enrouqueceste mil canções feitas à toa
Dançaste todas as ruas embriagadas de Lisboa

Leste os clássicos do tempo como toda a novidade
E a sonhar adormeceste no prazer da liberdade
Inventando mil amigos
Esquecendo velhos perigos

Acordaste em sobressalto do teu sonho meio ferido
Dos confins do pesadelo, no limite dos sentidos

Soçobrado na ideia mais ou menos dolorosa
Que te necavam medonhos o teu plano cor-de-rosa

E na fúria dos enganados, na febre dos desvalidos
Na razão dos maltratados entre abraços desabridos
No delírio prematuro
Ainda foste forte e duro

Roda a espiral da história entre as garras da agonia
Diz adeus, ó meu amor, que eu hei-de voltar um dia

E deixo-te uma palavrinha para te lembrares de mim
Perfumada pelo cravo, amanhã pelo alecrim
Deixo-te uma palavrinha
Para te lembrares de mim

Fausto Bordalo Dias, "A Memória dos Dias" do álbum "O Despertar dos Alquimistas" (1985)

Cá estou, também a participar no Mês da Poesia. Antes de mais, eu, pecadora, confesso que não tenho por hábito ler poesia... Por outro lado, como já devem estar cansados de saber, tenho uma empatia particular com a música na língua de Camões. Desta forma, são esses os poemas que se me ocorrem mais facilmente e com os quais tenho maior ligação... Será isso poesia menor?...

Portanto, ainda embaladada pela Festa da Música terminada há pouco, estreio-me nesta, exactamente, como terminei naquela... Este nem é dos poemas que mais aprecio em Fausto, mas cumpre a promessa feita da transcrição da letra e deixa no ar um cheirinho a Abril (que agora começa) - cumprido ou por cumprir...

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