quinta-feira, setembro 10, 2009

Os cónegos do mercado e a via láctea

E se de repente um daqueles defensores acérrimos da liberalização dos mercados, flexibilidade e desregulação do mercado de trabalho fosse confrontado com a diminuição do seu ordenado em 20,6%? E se de repente ou aceita ou vai para o "olho da rua"?
Será que o cónego do mercado continuará a dizer que é o mercado em competição saudável, a mão invisível a dar uma ordem natural ao mercado de trabalho?
Será que continuará a dizer que são os trabalhadores que têm de regredir nos seus direitos, pois esta é a ordem natural das coisas, não temos senão que nos adaptar?
Será que quando for amigavelmente "expulso" do mercado de trabalho dirá, como os rapazinhos e rapariguinhas que são impelidos a saber o livro religioso de cor e a morrer pela causa, que terá à sua espera, no céu, uma vida cheia de conforto e não uma mas bastantes mais vidas púdicas?
Um defensor acérrimo do mercado é um fundamentalista como outro qualquer, a causa cega-o, as vítimas são um meio, os fins? Bem, entre a (ir)realidade e a hipoteca.

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4 Comments:

Blogger Joao com til no a, se faz favor. said...

Eu já disse ao meu patrão: "Vou-me embora". Passado 15 dias, fui-me e mudei de empresa. Porque me apeteceu.

Não vejo porque o meu patrão não me pode dizer o mesmo. Se lhe apetecer.

Quem acha que empresas com lucro não podem despedir, também deveria dizer que quem tem os salários em dia não se pode ir embora sem pagar uma indemnização ao patrão.

Um defensor acérrimo do mercado é um fundamentalista da liberdade.

sexta-feira, setembro 11, 2009 5:37:00 da tarde  
Blogger Nuno Jordão said...

Caro Joâo (com til)

E que tal a liberdade de não trabalhar?
O mercado dá-lha.
Dá para alguns poucos, é certo.

sábado, setembro 12, 2009 11:21:00 da tarde  
Blogger VeraC said...

Caro João com til,
- enquanto a sua liberdade e a do seu patrão se articularem estará, certamente, feliz da vida,
- quando a "liberdade" do mercado lhe bater à porta a realidade deixará de ser tão utópica, nada como a realidade para abalar algumas das nossas crenças.
- A ideologia do mercado entra perfeitamente num modelo de pensamento do ser humano: a utopia. Estamos perante uma determinada ironia é que a utopia foi a palavra que a ideologia do mercado pretendeu varrer do horizonte humano.

Caro Nuno,
A liberdade de não trabalhar é a tal utopia que os fundamentalistas do mercado visam atingir.

domingo, setembro 13, 2009 9:13:00 da manhã  
Blogger Nuno Jordão said...

Cara Vera (NancyB que também é bonito)

Os seus “posts”, a sua escrita, são tão intelectualmente estimulantes, que não resisto a complementar o meu comentário com alguma achegas.
Não, não me identifico com os anarco-mercantilistas, essa corrente do pós-modernismo, que vê a utopia no mercado.
Usei a palavra trabalho, que é bem dúbia, porque não encontro outra melhor em português (o trabalho parece ser inerente a todos os serves vivos, como dizia Juvenal Antunes no seu “Elogio à preguiça,” a digestão do bolo alimentar é já trabalho)
Quando refiro, não trabalhar, refiro-me apenas a relações contratuais no mercado.
A minha utopia é aquilo que Agostinho da Silva considerava ser o sonho português: “a vida gratuita” utopia inacessível aos Homens mas acessível a todos os seres vivos chamados irracionais, desde as formigas aos pardais e aos cães vadios.
E dessa utopia não desisto tão facilmente, daquele mundo que Jorge de Sena desejava para os seus filhos “Um simples mundo, onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido”.
O meu “coment” tentava apenas sugerir que é uma falsa liberdade, a capacidade de me despedir, quando ela só é possível, quando e para aqueles, que têm acesso a outras fontes de rendimento, ainda que essas sejam proporcionadas por um novo emprego.

domingo, setembro 13, 2009 2:28:00 da tarde  

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