sexta-feira, janeiro 30, 2009

uma casa portuguesa: João Aguardela


Eu acho que o contributo que nós podemos dar é de assumir que temos coisas absolutamente fabulosas em termos de tradição seja na música seja noutras áreas e que é preciso perdermos o medo de mexer com elas, ou seja, pegar nelas, trazê-las para o quotidiano e construir uma nova identidade a partir delas. Penso que a haver uma lição se assim se pode dizer - e isso também é uma lição que já partilhamos há uns anos - a lição é essa, ou seja, temos de deixar ,de uma vez por todas, de termos vergonha de sermos portugueses.
[João Aguardela, recordado no Portugália de 19/Jan]
Estão a passar duas semanas sobre a morte de João Aguardela. O acontecimento foi assinalado aqui pelo André, mas, e como disse na altura, o músico é muito mais que a voz dos Sitiados... Para a maioria das pessoas, acredito que João Aguardela seja simplesmente a voz da Vida de Marinheiro, do Vamos ao Circo... No entanto, o músico assumiu uma posição bem particular no mundo da música, posição essa mais marcada em todos os seus restantes projectos: Megafone, Linha da Frente, A Naifa.

A importância da tradição, em especial da música tradicional portuguesa, é a base dos projectos de Aguardela. O músico referia que neste momento já não existe uma música tradicional activa, pois a música desligou-se da actividade quotidiana das pessoas. E, portanto, a existir uma música tradicional portuguesa ela tem de ser re-inventada. Desta forma, ele não canta a tradição, não mostra a tradição, acolhe-a e reinventa-a. As recolhas já documentadas, os contactos mais pessoais, a memória da memória, aliam-se a outras sonoridades, a outros instrumentos e tecnologias. O resultado são diferentes abordagens em diferentes contextos sonoros, que podem chocar pelo confronto, mas também surpreender pelo conjunto.

Neste campo, Megafone é o projecto mais arrojado, cruzando as recolhas com música electrónica.
O Megafone é tradicional de mais para o circuito electrónico e é electrónico de mais para o circuito tradicional.
Megafone teve quatro volumes e Aboio (do terceiro, 1999) deve ter sido a música mais divulgada [na Antena3]. Portanto, para juntarem ao vídeo do André, fica agora outro, assinalando uma vertente do músico desconhecida por muitos.



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