Uma oração por Portugal
Miguel Esteves Cardoso é o entrevistado do mês: revista Ler, Novembro 2008. MEC é uma pessoa de escrita alegre, escorreita e torrencial, é verdadeiro e avesso a truques de manipulação. Para MEC não é incoerente defender-se um determinado tipo de leitor e um determinado tipo de escritor, só lê génios embora escreva e não seja um génio. Os contemporâneos (só portugueses?) como grandes incógnitas não o seduzem. Um contemporâneo precisa de tempo para se afirmar, tempo que não se dispõe.
Li a entrevista duas vezes e haveria muito mais para desdizer.
Quando a escrita do MEC surgiu nos jornais era repleta de promessas e jovialidade, mostrou-nos a possibilidade de um certo optimismo, os grandes do pós-punk e a tristeza do não futuro.
Na entrevista MEC faz a apologia de um certo isolamento, para que os dislates de certos portugueses não contaminem o seu amor por Portugal. O amor por Portugal será compatível com o isolamento? O amor por Portugal não se praticará todos os dias e contra todos os portugueses cujo ideal de vida em comum é incompatível com o ideal de vida em comum de todos os outros portugueses? [Um amigo chamou-lhe a democracia do caos, aquela que corrói a alma de todos nós].
MEC a tua apologia do isolamento cheira-me a corrosão, deixaste-te avassalar pela mediocridade de um certo senso comum?
“Que o mal e o pouco do presente nos não deprimam nem iludam: são eles que confirmam o nosso raciocínio. Tenhamos a coragem de ir para aquela pouca alegria que vem das bandas para onde o raciocínio nos leva! Prepara-se em Portugal uma renascença extraordinária, um ressurgimento assombroso. O ponto de luz até onde essa renascença nos deve levar não se pode dizer neste breve estudo; desacompanhada de um raciocínio confirmativo, essa previsão pareceria um lúcido sonho de louco.
Tenhamos fé. Tornemos essa crença, afinal lógica, num futuro mais glorioso do que a imaginação o ousa conceber, a nossa alma e o nosso corpo, o quotidiano e o eterno em nós. Dia e noite, em pensamento e acção, em sonho e vida, esteja connosco, para que nenhuma das nossas almas falte à missão de hoje, de criar o supra-Portugal de amanhã.”
PESSOA, Fernando (2006). Fernando Pessoa. Crítica – Ensaios, Artigos e Entrevistas – Vol. I. Lisboa: Planeta DeAgostini (edição original de Assírio e Alvim), p. 17.
Li a entrevista duas vezes e haveria muito mais para desdizer.
Quando a escrita do MEC surgiu nos jornais era repleta de promessas e jovialidade, mostrou-nos a possibilidade de um certo optimismo, os grandes do pós-punk e a tristeza do não futuro.
Na entrevista MEC faz a apologia de um certo isolamento, para que os dislates de certos portugueses não contaminem o seu amor por Portugal. O amor por Portugal será compatível com o isolamento? O amor por Portugal não se praticará todos os dias e contra todos os portugueses cujo ideal de vida em comum é incompatível com o ideal de vida em comum de todos os outros portugueses? [Um amigo chamou-lhe a democracia do caos, aquela que corrói a alma de todos nós].
MEC a tua apologia do isolamento cheira-me a corrosão, deixaste-te avassalar pela mediocridade de um certo senso comum?
“Que o mal e o pouco do presente nos não deprimam nem iludam: são eles que confirmam o nosso raciocínio. Tenhamos a coragem de ir para aquela pouca alegria que vem das bandas para onde o raciocínio nos leva! Prepara-se em Portugal uma renascença extraordinária, um ressurgimento assombroso. O ponto de luz até onde essa renascença nos deve levar não se pode dizer neste breve estudo; desacompanhada de um raciocínio confirmativo, essa previsão pareceria um lúcido sonho de louco.
Tenhamos fé. Tornemos essa crença, afinal lógica, num futuro mais glorioso do que a imaginação o ousa conceber, a nossa alma e o nosso corpo, o quotidiano e o eterno em nós. Dia e noite, em pensamento e acção, em sonho e vida, esteja connosco, para que nenhuma das nossas almas falte à missão de hoje, de criar o supra-Portugal de amanhã.”
PESSOA, Fernando (2006). Fernando Pessoa. Crítica – Ensaios, Artigos e Entrevistas – Vol. I. Lisboa: Planeta DeAgostini (edição original de Assírio e Alvim), p. 17.
Etiquetas: A tristeza de uns é a alegria de outros, Olhar para o passado e ver o futuro
1 Comments:
A frase mais célebre do Maio de 1968 foi: "É proibido proibir". Que se pode interpretar como "Os jovens querem ser convencidos com argumentos e não com repressão".
Em educação era necessária uma nova abordagem.
É que surgiam novos problemas como a droga e criminalidade juvenil, e surgiam novos desafios com novos meios de comunicação e diversão que entretanto apareceram. Surgiram também tecnologias de ponta que proporcionavam aos jovens, novos modos de se exprimirem.
Por outro lado, as mães que tradicionalmente ficavam em casa para educar os filhos, passaram a trabalhar e as crianças foram para o infantário ou ficaram ao cuidado de avós que, muitas vezes, estão desfasados e ultrapassados.
A abordagem destes problemas tinha que ser feita com profissionalismo e por alguém dotado de capacidade de convencer e guiar os jovens.
A disciplina de Religião e Moral é desadequada e devia ser substituída por outra com um conjunto de saberes mais vasto que levasse os jovens a ser disciplinados e educados.
A Pedagogia falhou. Não criou os modelos adequados às necessidades que foram surgindo. A indisciplina e outros problemas que se vêm hoje nas escolas é muito consequência desse facto.
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