domingo, novembro 09, 2008

Um circo decadente*

Ontem fui ao circo.
O palhaço tinha aquele ar de palhaço triste mas só ajeitava disparates, a maior parte dos disparates não tinham graça nenhuma;
A roupa do ilusionista era deprimente tal como a sua cartola preta sem brilho e o seu coelho branco anoréctico;
O domador de leões parecia um daqueles mafiosos d’O Padrinho. Um daqueles que beija a mão a Marlon Brando e a seguir o atraiçoa. O Leão obedece entre a preguiça e a fome.
Os acrobatas voam e de pirueta em pirueta inquietam o peso a mais e o início da decadência atlética;
A menina dos doces exagerou na maquilhagem, disfarça mal a idade, as suturas e a decadência financeira do circo;
O domador de cavalos é o único com futuro, é o símbolo de um certo jogo de faz de conta: entre a juventude, a arrogância, a beleza física e a generosidade.



*"Dizei, minhas filhas - uma vez que queremos despojar-nos do governo, dos territórios e dos cuidados do Estado -, qual de vós me quer mais? (...)
Kent tem de ser rude quando Lear está louco. Que queres fazer, velho? Cuidas acaso que o dever tem medo de falar, quando o poder se curva à lisonja? É honra ser franco se a realeza dá em loucura."
SHAKESPEARE, William (2002). O Rei Lear. Lisboa: editorial Caminho. (tradução de Álvaro Cunhal).

Reflexões avulsas (entre a monarquia e a república):

A decadência da monarquia é complexa, contudo as intrigas políticas e toda a sua parafernália circense envolvendo traições palacianas e mortes anunciadas cavaram a sepultura de um determinado sistema político.

A gula económica, as intrigas políticas, o alheamento da verdadeira finalidade da sua função irão ditar o fim da política conforme a conhecemos.

Os interesses ideológicos cíclicos tresandam a uso indevido tanto dos dinheiros públicos como dos privados.

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