quarta-feira, maio 14, 2008

Sinais

Quando um prémio Nobel, ex-funcionário do FMI, alerta para a influência catastrófica daquele organismo internacional em diversas economias, dando como exemplo paradigmático a Argentina, é bom que se lhe preste atenção, afinal Stiglitz pertenceu ao sistema.
Quando Vasco Graça Moura argumenta que o acordo ortográfico não assegura a unidade da língua portuguesa, é bom que se leiam outras fontes que corroboram este argumento e quando afirma: "Se Portugal vai precisar de muitos anos e de muitos milhões de euros para cumprir o acordo, entretanto, não deixará de haver grupos editoriais brasileiros que a grande velocidade lhe tomarão o lugar sem apelo nem agravo, uma vez que não têm de fazer absolutamente nada para se adaptar à situação!"* e aliar este argumento à criação de uma super editora em Portugal, por um lado, ou à compra da editora Guimarães por Paulo Teixeira Pinto**, por outro.
Quando assistimos à proliferação de notícias sobre crimes, violência doméstica, catástrofes naturais, futebol e/ou Fátima nos telejornais nacionais é caso para questionarmos a auto-estima dos responsáveis pelo noticiário?
Quando lemos as frases extraordinárias de Mira Amaral e do presidente do BES acerca da impertinência de Geldof, ficamos a perceber, afinal a ideologia ainda é o que era.
Quando ela se dirigiu à secção de poesia de uma grande editora/livraria ficou espantada, apenas meia dúzia de autores menores, uma grande edição e mais meia dúzia de obras notáveis. Espreitou despudoradamente para uma novidade, abriu o pequeno livro e deparou-se com as seguintes palavras:

Encantar-te-ás com os poetas até conheceres um.
Com calças de poeta, camisa de poeta e casaco
de poeta, os poetas dirigem-se ao supermercado.

As pessoas que estão sozinhas telefonam muitas vezes,
por isso, os poetas telefonam muitas vezes. Querem
falar de artigos de jornal, de fotografias ou de postais.

Nunca dês demasiado a um poeta, arrepender-te-ás.
São sempre os últimos a encontrar estacionamento
para o carro, mas quando chove não se molham,

passam entre as gotas de chuva. Não por serem
mágicos, ou serem magros, mas por serem parvos.
A falta de sentido prático dos poetas não tem graça.

PEIXOTO, José Luís (2008). Gaveta de Papéis. Lisboa: Quasi, p. 41

Saltou de contente, comprou o pequeno livro e os seguintes pensamentos conduziram-na até ao balcão da livraria, afinal, ela, uma rapariga tão comum, também tinha comportamentos de poeta.

*MOURA, Vasco Graça (2008). Acordo Ortográfico: A perspectiva do desastre. Lisboa: Aletheia, p. 16.
**Vasco Graça Moura é um dos 30 membros do futuro Conselho Editorial da Guimarães. Se não consigo imaginar Miguel Paes do Amaral a vender o seu acervo editorial ao melhor comprador brasileiro ou angolano, também não o consigo fazer em relação a PTP, são homens cujo valor pátria está pouco arreigado às investidas especulativas da globalização. Valha-nos isso!

Etiquetas: , , ,

Partilhar

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Paulo Teixeira Pinto afirmou publicamente, não sei se com candura, que não estava no negócio dos livros para fazer dinheiro.

Quanto a Paes do Amaral, é público que compra empresas quase falidas e que venderá o seu negócio à melhor oferta, depois de «passar a mensagem» de que o negócio pode ser altamente rentável, como de resto fez com a Media Capital -- primeiro o Big Brother, depois a Prisa.

segunda-feira, maio 19, 2008 12:41:00 da manhã  

Enviar um comentário

Voltar à Página Inicial